X - O Convite
"Não me importaria de ficar aqui com o senhor". As palavras ecoaram na mente de Gregory durante toda a madrugada. Havia sido sincero e aberto demais. Era perigoso. Mas a sensação eletrizante que sentia todas as poucas vezes que conversavam era suficiente para impeli-lo a continuar tentando. Tentando o que, exatamente, não saberia dizer.
A tempestade, com o decorrer das horas, melhorou, mas logo em seguida piorou novamente. Por isso, a insônia de Gregory chegou, impedindo-o de relaxar.
Aquela impossibilidade de dormir era angustiante, mas não havia nada que pudesse fazer para curá-la. O barulho da chuva batendo no telhado recomeçou, tornando-se ensurdecedor. Olhando para o teto, Gregory grunhiu e culpou Deus por conta daquele clima horroroso.
Virou-se no colchão algumas vezes, inquieto e, minutos depois, um trovão iluminou por completo o quarto. Os olhos arderam com a agressividade da luz e foi obrigado e levantar-se, praguejando de irritação.
Era a segunda vez que acordava naquele castelo e na mesma noite.
Acendeu uma das velas que repousava num dos castiçais espalhados pelas paredes e, com passos lentos, dirigiu-se para fora do quarto. Todo o corredor do segundo andar estava completamente escuro. Quase não conseguia enxergar a própria mão.
Bocejou no meio do caminho e caminhou até a porta do quarto principal do anfitrião. Os passos foram o mais leves que conseguiu dar e, quando chegou em frente à porta e encostou a mão na maçaneta, um relâmpago trouxe luz ao recinto.
Estar num castelo no meio de uma tempestade podia ser aterrorizante, especialmente quando não se podia dormir.
Ali estava, prestes a entrar no quarto do homem mais cobiçado do reino, apenas para saciar sua própria curiosidade. Como ele dormia? Com roupas ou sem? Um sorrisinho espalhou-se por seus lábios. Girou a maçaneta e a porta escancarou-se sozinha, pois um vento arrebatador cruzou pelo recinto com uma força estrondosa.
O assovio alto e longo não podia ser confundido, era algo vindo da natureza e, portanto, selvagem.
Assim que conseguiu enxergar melhor, distinguiu uma figura deitada na cama. Ao lado da cabeceira, a janela estava aberta. Aproximou-se, intrigado com aquele sono profundo em meio a tantos barulhos.
Por que a janela estava aberta?
Distinguiu os cabelos castanhos de Theodore em meio aos lençóis. Viu-o suspirar e agarrar-se ao tecido branco com força, murmurando coisas desconexas. Um suspiro ecoou pelo quarto, seguido de um soluço e uma fala sôfrega:
━Arthur, por favor, não me deixe!
Gregory franziu o cenho. Quem era Arthur? Seria o mesmo Sr. Richmond da dedicatória do livro?
Virou-se para fechar a janela, mas um toque na mão deixou-o estático. Os dedos de Theodore fecharam-se nos seus e os apertou ainda com os olhos fechados. Era como se ele estivesse tendo um pesadelo. A outra mão do Conde apertava o travesseiro.
━Não me deixe por ela. Não se case. Arthur!
A voz dele tornou-se mais sofrida ainda. Era demais para Gregory aguentar. Viu a face contorcida, a testa suada e a boca linda que ele possuía. Controlou o ímpeto de inclinar-se e beijá-lo ali mesmo, com o som da tempestade violenta ao fundo.
Para sua surpresa, foi Theodore quem disse, suspirando:
━Um último beijo.
Gregory arregalou os olhos, inclinou-se e perguntou:
━O que disse?
O Conde falou algo desconexo e puxou-o. Quando caiu em cima dele, Gregory controlou a vontade de rir e de xingá-lo ao mesmo tempo. Theodore remexeu-se na cama, esticou-se e, finalmente, pareceu relaxar.
━Preciso fechar a janela, Theodore, Greogry murmurou, como se ele estivesse acordado.
O Conde esticou um dos braços e deitou-o em cima do peito do convidado, impedindo-o de sair. O loiro ouviu a respiração pesada e sonolenta, em seguida o ronco baixo e suave. Respirou fundo e olhou para a janela, por onde entrava um vento ruidoso e agressivo.
Iriam pegar uma pneumonia se não a fechasse... Mas era bom estar ali, onde no fundo desejava: na cama com ele.
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No dia seguinte, Theodore não lembrou-se daquele encontro durante a madrugada em parte porque estava dormindo quando ele acontecera, mas também porque Gregory havia saído do aposento furtivamente antes que o sol nascesse.
A sra. Denvers acordou-o com um copo d'água, como em todas as manhãs, abriu as cortinas do aposento e, sorrindo largamente, disse:
━Uma carta foi entregue mais cedo.
━De quem é?
Enquanto ele bebia o líquido, ela respondeu:
━Do Rei.
Theodore quase cuspiu a água na cama. Franziu o cenho com aquela revelação. As cartas reais eram raras, pois o rei gostava de manter uma relação cordial e não muito íntima com os outros nobres. Receber uma correspondência dele era algo que lhe deixava honrado, mas também amedrontado. Havia feito algo de errado?
A sra. Denvers estendeu-lhe o envelope, que estava segurando atrás das costas durante o tempo inteiro.
Pegou-o rapidamente, mas lembrou-se da noite anterior, de Gregory e a conversa que tiveram e... Onde ele estava? Que péssimo anfitrião estava sendo! Afastou os lençóis e cobertas de cima do corpo e pôs os pés para fora; Deixou a carta em cima do colchão e, com pressa, murmurou:
━Vou fazer a higiene matinal e descerei em breve. Por favor, sra. Denvers, prepare o nosso desjejum e avise ao sr. Gregory de que logo comeremos.
Ela pareceu desapontada, mas assentiu e saiu do quarto. Theodore ia perguntar sobre Ben, visto que há tempos não via o amigo, mas não tinha tempo para aquilo.
Nem percebeu que estava dando mais atenção a Gregory do que ao rei.
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Na mesa comprida o clima tornou-se estranho com o passar do tempo. Gregory, que havia tido um sono terrível na noite anterior, não conseguia parar de lembrar-se da cena do Conde murmurando o nome do Sr. Richmond através de lamúrias sôfregas. Ao mesmo tempo a cabeça latejava por conta da falta de descanso, portanto, não estava no melhor humor para conversar (mas tentaria, afinal, era o convidado de outro nobre).
Na mesa haviam queijos, sucos, bolos, pães e uma variedade de salgados. Os empregados serviram os copos dos dois rapazes com suco e prostraram-se ao redor da mesa, esperando uma ordem.
Theodore tossiu e no mesmo momento a sra. Denvers aproximou-se, carregando nas mãos a mesma carta que ele havia deixado no colchão minutos atrás. Theodore agradeceu, mesmo sabendo que ela apenas trazia o papel por conta da curiosidade que sentia.
Gregory arqueou as sobrancelhas enquanto olhava-o abrir a correspondência. Aquilo era um selo real?
O rosto de Theodore, no início da leitura, fechou-se com confusão, mas em seguida relaxou ao entender as palavras ali escritas numa caligrafia elegante:
"Vossa Graça,
venho por meio desta carta convidá-lo para o Baile de Inverno no Castelo de Treevalon,
que acontecerá na próxima sexta-feira, às 18 horas.
Sinta-se à vontade para levar um acompanhante.
Aguardo a vossa estimada presença,
Vossa Majestade Real,
Rei Leon I.
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