IV - O Baile
Lavender viu o melhor amigo voltar para a mesa da família e não conseguiu controlar os próprios pés. Moveu-os para cima e para baixo numa ansiedade infantil para descobrir o que ele havia encontrado naquele cômodo. Logo alguns empregados começaram a caminhar entre as mesas levando bandejas com petiscos e taças de bebidas. Além disso havia uma mesa principal com sobremesas e ponches à vontade.
Lavender tentou levantar-se sem ser percebida pela mãe, mas teve o braço direito agarrado pela mesma. Grunhiu de dor e foi forçada a sentar-se novamente. A mãe deu um sorriso forçado e disse:
━Permaneça sentada, o Conde logo aparecerá.
━Ele está atrasado, mãe, sussurrou.
Rose, a irmã de Lavender, arqueou as sobrancelhas, inclinou-se na mesa e, como se estivesse contando um segredo, sussurrou:
━Ouvi dizer que ele é excêntrico.
━Sequer sabe o que esta palavra significa, Rose, a mãe resmungou com um tom irônico.
━Claro que sei! Rose ficou tão envergonhada que bufou e encostou-se na cadeira de braços cruzados, sentindo-se humilhada.
Lavender deu um sorrisinho e uma piscadinha para a irmã, esta disse, com uma expressão mal-humorada:
━Dizem que ele é um pouco rude também.
Dessa vez o olhar que receberam da mãe foi tão intenso que não se atreveram a abrir a boca.
Em poucos minutos todos os convidados se levantaram subitamente, pois o Conde apareceu, caminhando com passos elegantes até o centro do salão. Em sua mão havia uma taça triangular com um líquido borbulhante. Todos ficaram em silêncio para ouvi-lo e suas palavras ecoaram pelas paredes majestosas do castelo, ditas num tom imponente:
━Gostaria de agradecer a presença de todos aqui. É de conhecimento geral que eu não sou uma pessoa pública que gosta de aparições extravagantes, mas um baile é um evento necessário ocasionalmente.
O carisma e a simpatia que Lavender notou na voz e no sorriso sincero dele, de um garoto que parecia gentil e honesto, contradisseram as fofocas relatadas pela irmã momentos atrás. Percebeu, pela sobrancelha erguida de Rose, que ela também estava surpresa.
Ao invés de rude ou excêntrico o Conde parecia confiante e impecável em seus trajes negros e elegantes. A pele escura dele contrastava com os olhos âmbar e os cabelos cor de chocolate. Lavender reparou na beleza do anfitrião com bastante discrição, algo que havia aprendido a fazer após longas conversas com Gregory, que também adorava fazer aquilo e tratava o ato como um jogo; geralmente competiam um contra o outro para saber quem seria capaz de notar mais coisas sobre algum desconhecido sem ser pego em flagrante. Gregory sempre vencia e, além do jogo, ganhava a atenção do seu alvo que geralmente apaixonava-se por seus olhos azuis da cor do céu.
Agora, no entanto, não estava jogando e podia olhar para o anfitrião sem muito constrangimento, já que todos do salão estavam fazendo o mesmo. Mesmo que pudesse reparar em cada detalhe do Conde, não conseguiu fazê-lo, porque desejava prestar mais atenção ao que ele, o jovem misterioso que levantava boatos por onde passava, tinha a dizer.
━É com grande satisfação que declaro este o início de um dos Bailes de Pesley. Sei que meus pais estariam orgulhosos da decoração e, mais importante ainda, dos convidados. Espero que a noite seja agradável, se divirtam.
O olhar simpático dele percorreu várias moças, que coraram e abanaram-se com seus leques. Os olhos do Conde passearam por belas garotas e repousaram em Lavender, que sustentou-os com bastante dignidade e um pouco de vergonha.
Aquilo era interesse? A mãe tinha lhe dito que os pretendentes lhe cotejariam e pediriam danças, mas não entendia como aquela dança de atração e interesse funcionava de fato.
Todos bateram palmas e fizeram mesuras à figura nobre que estava cedendo seu castelo para uma noite tão agradável.
Lavender sentiu o toque da mãe em seu ombro e ouviu uma risadinha maliciosa em seu ouvido.
━Ele se interessou por você, Lavender.
━Dizem que ele é o solteiro mais cobiçado do reino, Rose comentou.
━Mais do que o príncipe?! Lavender indagou, finalmente respirando ao ver o Conde cumprimentando alguns convidados.
━O Príncipe nunca tem tempo para os eventos de prestígio, como bailes, a mãe das meninas comentou. Uma pena, pois se estivesse aqui teria ofuscado o Conde.
━Ele é tão bonito assim? Lavender indagou, curiosa.
A mãe apenas deu um sorrisinho de quem tinha conhecimento de mais segredos do que deveria.
━Uma vez eu esbarrei nele na rua, Rose murmurou. Eu quase caí, mas ele me segurou e, Deus... As bochechas dela ficaram vermelhas rapidamente. Nunca conheci um homem tão bem apessoado.
Lavender deu uma risada que logo morreu com a aproximação do Conde. Ele tinha cabelos marrons bonitos e lisos que, penteados para trás, pareciam seda. O tom castanho das mechas era claro e davam mais protagonismo à pele de tom marrom-escuro e os olhos... Os olhos dele deixaram Lavender boquiaberta! Eram de uma cor âmbar tão clara que pareciam dourados. Comparou-os com os objetos de ouro que decoravam as mesas e as paredes.
Recuperou-se do choque inicial assim que ele segurou sua mão para lhe cumprimentar. O toque foi gentil e delicado. Ele inclinou-se e beijou a parte de cima da sua mão rapidamente, o que o decoro permitia.
Lavender ouviu a mãe e a irmã suspirarem, pois o Conde fez o mesmo com elas.
Após trocarem os cumprimentos iniciais, Pesley inclinou-se na direção da matriarca e perguntou, com um sorriso gentil e cativante:
━A senhora me concederia a honra de dançar com a srta. Collins?
Lavender sentiu o rosto esquentar e encarou a mãe com os olhos arregalados, repletos de surpresa e euforia. Nunca tinha conversado com outro nobre que não fosse Gregory e poderia estragar as coisas para a família... Mas o Conde pareceu calmo, porque não havia razão para nervosismo.
━Com toda a certeza, Conde Pesley.
Ele segurou a mão de Lavender e guiou-a até seu braço, onde ela repousou-a sem ousar apertar os dedos no traje bonito dele. De longe viu Gregory bebericando uma taça de champanhe e conversando com um rapaz bonito.
Contudo, ao invés de prestar atenção à companhia que tinha, o sr. Lynch encarou a amiga e o parceiro de dança dela com uma careta confusa e estranha. Lavender deu de ombros e sorriu ao passar por ele.
Os olhares e todos os convidados do salão voltaram-se para o anfitrião e sua companhia. Em meio à música e aos barulhos de pés deslizando e batendo no piso brilhante, os cochichos começaram.
Teria o Conde Pesley encontrado na filha mais velha dos Collins uma futura esposa? Logo a inveja subiu à cabeça das mães de meninas disponíveis para casar. Por que os Collins, que eram nobres sem títulos, e não a filha de um marquês, visconde ou duque?
O que ninguém notou, entretanto, foram os olhares trocados entre Gregory e Theodore durante a dança.
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