UMA VISITA AO NORTE DA ILHA (PARTE 1)
O NORTE DA ILHA DE ARCÉH...
Mesmo no princípio, quando as primeiras estufas surgiram, a região nunca foi cogitada para receber plantações. Se em pleno verão o lugar já apresentava temperaturas mais baixas, no inverno tornava-se insuportável. Mesmo assim, durante um par de centenas de anos, algumas pessoas tentaram viver naquelas terras e construíram vilas, o projeto de uma torre com sino e até um porto. Foram independentes da sede por muito tempo e conviviam em harmonia com o ciclo dual de estações. Porém, quando o Conselho de Administração foi instaurado e instituíram o princípio da "divisão de riquezas do comércio" como forma de contemplar todos os arcéh, esqueceram-se do Norte.
Houve reuniões, tentativas de aproximação, acordos e até festivais para celebrar a cultura "deles". A estrada pelo bosque e a importância dada à Estufa de Naus como símbolo de união do Sul com o Norte da ilha contribuíram para amenizar os ânimos e proporcionar alguns anos de boa convivência. Isso até acontecer a tragédia: quando houve o incêndio na estufa, tudo caiu por terra, o isolamento foi inevitável e, sob a alegação de "maiores prioridades na sede", o Conselho se esqueceu de uma vez por todas daqueles habitantes.
Pouco a pouco, os arcéh nortistas largaram suas casas e rumaram para o sul, o comércio da região diminuiu até se tornar quase inexistente e, em três décadas, todas as vilas estavam vazias. A região norte foi, por fim, esquecida.
E a vantagem de ter áreas ignoradas pelas pessoas é que elas se tornam lugares perfeitos para receber aqueles de quem se quer distância.
De ladrões à assassinos, de desafetos dos Unagor a pessoas consideradas "incapazes de se enquadrarem nas normas da cidade"; de filhos rebeldes "sem jeito" à idosos "rabugentos demais para conviverem em família", todos eram enviados para a antiga sede do Norte: um complexo de cinco prédios construídos em um vale e agora cercados por muros altos, fossos e armadilhas para servir de prisão.
Carruagens partiam da sede na calada da noite e, após cinco dias por estradas quase escondidas de tão pouco usadas, chegavam e atravessavam os portões no alto da colina. Lá de cima, era possível avistar a extensão da prisão e sentir os odores do esquecimento.
Os guardas, então, puxavam os presos e, sem se darem ao trabalho de ao menos retirarem as correntes de suas pernas, braços e pescoços, os jogavam lá de cima direto nas águas poluídas do rio. Se tivessem sorte, alguns dos prisioneiros correriam para salvar os recém-chegados do afogamento, isso se eles também estivessem dispostos a entrarem naquelas águas cheias de detritos.
Se tivessem muita sorte, morreriam na queda e se livrariam de anos banhados na sujeira, fome, violência e desespero daquele vale.
#pratodosverem | Descrição da imagem: vê-se um cenário de caos e fogo como se estivesse em um buraco entre montanhas. Há tores pretas em meio à fumaça, fogo e construções destruídas.
***
Por fim, os guardas voltavam às carruagens e iam embora sem remorso: as "vergonhas" da cidade estavam escondidas, faziam um favor para a ilha. Tão profundo quanto o inferno, ninguém nunca conseguira sair dali.
Todos os prisioneiros de Arcéh ganhavam aquela sentença – uma sentença de morte.
Ninguém se importava.
Não queriam lidar com aquilo.
Por que tentar corrigir as pessoas se podiam esconder o erro em uma cela e jogar a chave fora?
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