UM PEDIDO INESPERADO (PARTE 11)
A CHUVA CAIU COM MAIS VIGOR E LOGO TRANSFORMOU-SE EM TEMPESTADE. O temor pela chegada do inverno agora se intensificava devido aos telhados devastados pela ventania e as paredes das estufas prestes a irem ao chão. O deus ponderava cada uma das palavras de Sâmia e tamanho esforço castigava o planeta. Há séculos e séculos fizera a maldita promessa de realizar um desejo para quem resistisse aos seus poderes, um desafio sem fundamento proposto ainda no início das eras pelos outros deuses e aceito sem temor, afinal, nenhum ser humano seria capaz de tal feito.
"Nenhum ser humano..."
A frase agora tinha tanto potencial de ferir quanto os estilhaços de vidro levados pela enxurrada nas ruas de Arcéh.
Não havia saída. A promessa não podia ser quebrada.
O Universo não tolerava traições.
O deus ficou de pé, ergueu o braço direito e apontou para o alto. A tempestade cessou e as nuvens reagruparam-se em uma forma em espiral. À um movimento do dedo, uma fenda se abriu sobre a ponte e, além da barreira de nuvens, Sâmia pode ver o brilho do sol. Em uma espécie de transe, o deus balbuciou palavras em sua língua desconhecida, os olhos sem qualquer tonalidade; as roupas agitaram-se ao alto como se atraídas pelas nuvens. Ao pronunciar a última palavra, fechou os olhos, posicionou os braços em direção ao corpo da mulher e um feixe de luz desceu sobre a estátua.
#pratodosverem | Descrição da imagem: sob um fundo preto, à esquerda vê-se o deus com os braços erguidos em direção à estátua de gelo de Madame Lita, deitada aos seus pés. Uma aura dourada envolve o deus e emana em direção à idosa.
***
— Que o coração por mim congelado sopre vida novamente e a promessa feita não seja descumprida, pois tu, filha dos Homens, carregarás o fardo do teu desejo. Consequências e virtudes virão e tu as tomarás nos braços e caminharás rumo à promessa. Não há volta quando a morte chama, não há dúvida quando o Universo clama, não há poder além das palavras... - os raios cessaram, o céu voltou a se fechar, a chuva recaiu sobre Arcéh. Ali ao lado, Madame Lita tinha de volta seu tom de pele habitual e respirava em um sono profundo.
Com lágrimas de felicidade, Sâmia se virou para agradecer, mas o deus já havia desaparecido, tão silencioso quanto a brisa.
Ela aproximou-se da amurada e sussurrou para o horizonte.
— Obrigada...
Uma rajada de vento brincou em seus cabelos e se foi.
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