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O CHÁ DE AFASTA MORTE (PARTE 2)

A MÃE TALVEZ A MATASSE. Não. Neste caso, "talvez" é uma palavra incapaz de apontar o futuro. A garota reformulou a frase: a mãe com certeza a mataria. Duas vezes: uma por esconder a situação da avó e outra por, ao invés de chamar os pais, pedir ajuda a um estranho.

Não tão estranho, deve-se dizer.

Sâmia tivera a sorte (ou o azar, aos olhos de Margareth Sotein) de estudar com o garoto Voggi. Apesar da diferença de idade de oito anos, Phil virara um protetor e a ajudara a entender as matérias. Ir para a escola aos oito anos de idade e já se deparar com uma carga de tarefas não fora nada agradável.

#pratodosverem | Descrição da imagem: vê-se uma menina sentada em um banco com o rosto entre as mãos e, à frente dela, um rapaz sentado no chão tentado consolar a criança.

***

— Oi. Você está bem? - o adolescente aproximara-se da menina de olhos aguados sentada no canto da sala. As aulas daquele primeiro dia haviam terminado e deixado para trás dezenas de olhares assustados e feições de desespero na face dos alunos mais novos. — Vai ficar tudo bem. Posso me sentar aqui?

Sem esperar uma reposta, tomou lugar ao lado dela e disse aos amigos para esperarem um pouco. Ele os alcançaria logo.

— Meu nome é Phil. Phil Voggi. Qual o seu?

A garotinha não respondeu.

— Sabe, dá medo no começo. Eu sei como é... No verão passado, a minha avó até tentou me matricular na escola, mas ela viu como era pesado demais. Acabei esperando mais um ciclo para entrar. Quem sabe seus pais também não percebem isso e você retorne só no próximo verão?

Phil tentou sorrir. A menina permanecia com a cabeça abaixada, sem esboçar reação alguma. A tentativa de incentivo do garoto era um desastre. Algumas pessoas passavam por eles e soltavam sorrisinhos; outras tinham a desconfiança no olhar: não raro os alunos mais velhos assustavam os pequeninos. Os adolescentes, então, adoravam usar os menores para descarregarem neles suas frustrações. Uma senhora aproximou-se e perguntou se estava tudo bem e um homem ameaçou chamar o diretor. Phil desistiu. Não podia dar-se ao luxo de receber uma advertência no primeiro dia de escola.

Deu dois tapinhas na cabeça da pequena e levantou-se. Porém, ao dar o primeiro passo, sentiu um puxão na barra da calça.

— Eles não vão me tirar...

— Por que?

— Porque eu sou menina...

— E daí?

— A mamãe disse que meninas tem que aprender rápido para se casarem logo. - ela ergueu o olhar e nele estava algo além do mero medo do primeiro dia de aulas. Tinha ali uma energia de pureza. — Não quero me casar amanhã...

— A-Amanhã? Você não pode se casar tão cedo!

— Mas a mamãe disse "Sâmia, você vai aprender hoje para poder se casar bem amanhã!". Vou me casar amanhã, sim! Será um horror!

Phil não se segurou e caiu na gargalhada. Era filho único e, apesar de ter muitos amigos, sentia falta de um irmão mais novo; alguém de quem pudesse cuidar, ensinar, falar (e ouvir) frases como aquela. Olhou para a menina e ajoelhou-se na sua frente.

— Você não vai se casar amanhã! Isso é só uma... uma forma de falar, entende?

— Não...

— Bom, sabe quando a gente diz "Nossa, estou com tanta fome que comeria essa mesa inteira."?

— Eu falo isso quando estou com fome.

— Pois é, mas não é verdade. É só um jeito de falar para dizer que você está com muita, muita fome. O "amanhã" que a sua mãe disse significa o futuro, algo muito para frente. Quando você for mais velha, entende?

A garotinha fungou e limpou o ranho com a mão.

— Acho que sim...

— Que bom. Agora vá para casa e fique tranquila. Eu e aqueles bando de criaturas ali - apontou para um grupo de adolescentes no fim do corredor — iremos te ajudar com qualquer coisa. Certo?

— Certo.

— Muito bom. Então, vamos fazer as coisas direito. - ergueu-se, ajudou-a a se levantar e estendeu a mão:

— Olá, meu nome é Phil Voggi! Pode contar comigo!

— Oi, sou Sâmia Sotein.

A mão dela ainda estava suja de catarro.

A amizade estava selada.

Graças ao Voggi, Sâmia escapara sem problemas das atividades ao ar livre, conseguira resistir aos treinamentos de vigília na ponte e aprendera coisas ensinadas apenas aos homens. Ele e os amigos a protegeram dos outros alunos, tiraram-lhe de situações vexaminosas e a ajudaram a vencer diversas competições, indo da clássica "Corte & Costura" à perigosa "Tiro com arco e flecha".

Durante os quatro anos do colégio, Phil Voggi virara um pai, um amigo e um irmão.

Mas não para Margareth.

— Eu não gosto disso, Higor. Não gosto nem um pouco dessa amizade entre os dois... E você fique calada! - apontou para a filha, sentada em um banco enquanto ajudava o pai a raspar os cascos do potro. Já fazia dois anos desde o início das aulas e Sâmia virara o "mascote da turma Voggi".

— Querida, só porque ele é mais velho não significa que...

— Mais velho? Quem está falando de idade aqui? Todos nós estudamos com pessoas muito mais velhas na nossa época de escola. Idade... - Margareth revirou os olhos e parou de escovar a crina do cavalo. Ignorou a apreensão no olhar da filha e enumerou. — Eu falo de dignidade, respeito, confiança e bons exemplos, isso sim.

— Só por que ele é um Voggi?

— Hum... Não...

— Margareth, nós somos casados há mais de quinze anos! Não tente me enganar.

— Tá bom, Higor: sim, é porque ele é um Voggi. Ora, por favor, não faça essa cara de quem está entediado! Você sabe muito bem o que dizem por aí sobre a velha Voggi e o modo como ela cria o neto. Lembra do último inverno, quando ele e uns amigos invadiram a estufa dos Gran Forte e fizeram o maior alvoroço?

— Querida, ele era só uma criança...

— E quando ele pegou um dos barcos e saiu rumo ao continente, sozinho? Ele também era uma criança?

— Margareth, isso faz tanto tempo. A Sâmia não era nem nascida...

A mulher abriu um sorriso de vitória.

— Esse é o ponto onde eu queria chegar. Naquela época ele podia fazer o que bem entendesse, não era do nosso interesse. Mas agora nós temos a nossa Sâmia e o fato de alguém tão "peculiar", tão excêntrico, ajudar nos estudos da nossa filha é uma preocupação para mim. Eu nem consigo dormir direito! Você consegue dormir, por acaso?

Higor segurou o sorriso. Sem sono, Margareth passava a noite acordada pela cozinha e ele tinha a cama só para si. Gostava da esposa, é claro, mas ter todo aquele espaço só para ele era como rolar em um gramado feito de algodão. Nos últimos anos, dormir tonara-se uma diversão.

— Consigo descansar... um pouquinho.

— Ah, claro, se dormir "um pouquinho" significa passar a noite dormindo sem se importar com nada, então você é o campeão de dormir "um pouquinho". Eu mereço... Se não fosse eu cuidar dessa casa, não sei como seria...

— Normal.

— O que disse?

— Nada, querida. Nada...

— Bom, quer saber de uma coisa? Está decidido. - foi até a filha e agachou-se para encará-la olho no olho. — Sâmia, meu bem, você está proibida de andar com o menino Voggi.

— Margareth, que exagero!

— Exagero, não. Ela só tem dez anos e não quero minha filha andando pelas estufas ou então aprendendo a... Sei lá, atirar com armas de pesca, sair por esse mar afora, roubar barcos...

O rosto da pequena Sâmia se abriu em alegria. Por um segundo, animou-se para falar sobre o final de semana em que ela, Phil e o pai haviam saído de barco para caçar e ele os ensinara a atirar com o arpão. Mas, ao ver o desespero de Higor com movimentos para ela ficar calada, a menina apenas escutou o falatório da mãe, cuja conclusão final, após minutos e minutos de recomendações, podia ser resumida em apenas uma frase:

"Fique muito, muito longe dos Voggi."


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