A TERCEIRA ESTUFA (PARTE 4)
#pratodosverem | Descrição da imagem: vê-se um cacho de uvas com frutas maiores que o normal seguradas por duas mãos que aprecem oferecer a fruta para o leitor.
***
OS OLHOS DO CÃO NÃO MAIS EXISTIAM, BEM COMO AS PATAS TRASEIRAS; o focinho virara uma maçaroca de tensões e ossos expostos como nas aulas de anatomia. Os dentes, porém, ainda tinham força para morder. Sâmia tentou puxar o casaco, sem sucesso. O cachorro parecia disposto a um último ato de lealdade ao Unagor. A garota chegou a pensar em cortar a roupa, mas o tecido feito de pelos era grosso demais para ser cortado apenas com as mãos. A opção de tirar o casaco era pior ainda: morreria de frio quando saíssem dali e, quando os guardas encontrassem o animal, empreenderiam uma busca pelo dono daquela roupa.
O cão balançou a cabeça em um rosnado e o pássaro agitou-se em seu poleiro.
Sâmia teve uma ideia.
O quinto andar da estufa era destinado às frutas mais raras do lugar. Soube disso ao ver uma videira cujas uvas tinham o tamanho da palma da sua mão.
— Phil, pega uma dessas.
Sem entender, ele puxou uma das uvas e a jogou para a garota. Antes de desistir da ideia, estendeu o braço e esfregou a fruta no focinho do cachorro. A uva ficou suja de sangue e gosma. Jogou-a de volta para o companheiro.
— Joga no pássaro.
— O QUÊ?
— Vai logo! O cheiro de sangue vai ficar no ar e ele vai vir pra cá.
— Aaah, que agradável... Grande plano, Sâmia. - sem acreditar no que estava prestes a fazer (e sem ter nenhuma alternativa melhor), Phil levantou-se e calculou o arremesso. — VIVA A PIOR DAS MORTES!
E atirou a uva ensanguentada.
A SUCESSÃO DE AÇÕES EM SEGUIDA FOI RÁPIDA.
Como dito por Sâmia, a uva embebida no sangue do cachorro atraiu a atenção do pássaro. A ave agarrou a fruta ainda no ar, levou-a à boca e, segundos depois, voava em direção à plataforma do quinto andar. Phil comemorou o sucesso da empreitada, mas arrependeu-se pouco depois: de fato, o pássaro foi para cima do cão e o prendeu entre suas garras. Contudo, quando foi levantado, o cachorro não soltou o casaco.
De uma hora para outra, Sâmia voava para o ninho da fera.
Phil correu pelas pontes entre os andares na esperança de segurar Sâmia em caso de queda. Ouviu os gritos dos guardas no térreo seguidos pelo zunido dos arpões lançados para cima. Pensou na ironia de usar arpões durante a temporada de pesca e agora ser "pescado" pelo Unagor.
Um dos disparos passou a poucos centímetros de onde ele estava.
A ave ganiu e Phil assustou-se quando ela perdeu altitude até ficar bem abaixo dele, na altura do terceiro piso. Sem acreditar no que estava prestes a fazer, o garoto Voggi foi para a borda e pulou para a plataforma do quarto andar e depois para a do terceiro. Recuperava-se do esforço quando ouviu o grito de Sâmia bem ao seu lado.
— SEGURA NA MINHA PERNA!
Um dos arpões atingira a asa do pássaro e ele voava por entre as plataformas e em direção às paredes. Sâmia estava a distância de um pulo. Drenton gritava e dava ordens. A saraivada de arpões e lanças prosseguia.
— PULA, SÂMIA! EU TE SEGURO!
— NÃO! OLHA PRA ONDE ESTAMOS INDO!
Duzentos metros à frente, estava a macieira.
Mais arpões foram disparados.
Drenton já estava no segundo andar e rumava para a ponte logo abaixo de Phil. O homem portava dois arpões e não parecia em dúvidas sobre disparar ou não à queima roupa.
O animal ganhava velocidade.
O rapaz tomou impulso e pulou de encontro às pernas da Sotein. Em outras circunstâncias seria uma situação constrangedora: um adulto agarrado à uma adolescente cujo o casaco estava na boca do cadáver de um cachorro preso às garras de um pássaro em fuga. Parecia uma anedota contada em algum bar. Contudo, mostrou-se uma ideia genial de Sâmia: em seu plano de voo de encontro ao vidro, a ave deu um último impulso e Phil se viu cara a cara com a copa da macieira.
Os galhos machucaram e o garoto perdeu o solado de uma das botas, além de quase ficar preso à árvore. Por sorte, em uma tentativa desesperada de conter o animal, Drenton disparou seus arpões e um deles assustou ainda mais o pássaro, fazendo-o voar mais alto e, desesperado, ter forças para quebrar a parede da estufa e ganhar liberdade.
#pratodosverem | Descrição da imagem: em um céu estrelado, vê-se um pássaro gigantesco carregando um cachorro ensanguentado que morde o casaco de uma garota. Abaixo dele,s um garoto se agarra às pernas da personagem.
***
— PHIL, VOCÊ ESTÁ BEM?
— SIM, ESTOU! - tinha um corte na testa e no canto da boca, perdera um dente e o dedo mindinho da mão esquerda retorcia-se contra as juntas. — PAISAGEM BONITA...
— VAMOS TER DE PULAR...
Phil olhou para baixo. Não era uma ideia muito sensata. Apesar do pássaro perder altitude metro após metro, ainda estavam alto demais para encarar uma queda. O jeito era esperar mais algum tempo e torcer para a mandíbula do cachorro segurar um pouco mais.
A nevasca dera uma arrefecida e apenas flocos de neve eram levados pelo vento. Passaram pelas grades da estufa, pela casa de Madame Lita e iam para sudoeste, em direção ao centro de Arcéh. Seria questão de minutos até avistarem a ponte, a Torre Sul e a baía de Glolk.
"E o continente...", concluiu Phil
Fitou a ave. Mesmo ferida, ela mostrava disposição para voar por quilômetros até sentir-se segura o suficiente para fazer sua refeição. Se não descessem logo, atravessariam o oceano, ganhariam terra firme e dali seria uma jornada rumo ao desconhecido.
Ou ao estômago do pássaro quando ele se desse conta da refeição tripla ao seu dispor.
— PREPARE-SE PARA PULAR QUANDO EU DISSER!
Sâmia apenas assentiu.
O movimento deveria ser certeiro.
A Torre Sul se aproximou. Aos seus pés estava o Mercado Central da cidade. Por isso, havia muitos galpões e estábulos naquela parte da cidade.
Era a única e última oportunidade.
Phil deu o sinal e soltou as pernas da garota.
Sâmia ergueu os braços, escorregou pelo casaco e ganhou os ares.
Ao longe, o sino da Torre Norte badalou uma vez.
Era uma hora da manhã.
Wow! Haja pássaro!
Aqui acaba o terceiro capítulo (sim, rapidinho! Não se acostume!). 😅❤
Sâmia e Phil conseguiram um dos ingredientes necessários, mas também despertaram o ódio do Unagor Drenton.
Como eu disse antes, as coisas só pioram... Que absurdo... 😢😠😊
Bom, obrigado pelo apoio, comentários e votos. Muito obrigado por você estar comigo nesta jornada! Um abraço!
Abaixo, segue uma prévia do próximo capítulo ("Nas Profundezas de Arcéh").
Até lá! 😊😊😊
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