#pratodosverem | Descrição da imagem: vê-se a opulência da casa dos Voggi. Há uma lareira com arabescos dourados, tecidos finos no teto, um lustre de cristal, almofadas gigantescas por todo canto, cortinas e artefatos dourados espalhados pelas paredes.

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MARGARETH SOTEIN SE ARREPENDEU DA PROPOSTA LOGO AO PASSAR PELA PORTA DOS VOGGI. Para uma mulher de sutilezas, a birutice daquela casa era o cúmulo do ultraje: na sala, grande o bastante para comportar umas quinhentas pessoas sem causar nenhum desconforto, uma lareira tomava a parede dos fundos enquanto o chão de pedra era coberto por um emaranhado de almofadas multicoloridas, tapetes antigos e toda sorte de badulaques; no centro do aposento, uma fonte com carpas deixava o ambiente úmido e ainda mais estranho. Para completar o clima, havia a disputa de odores entre a fumaça dos incensos e as baforadas dadas por Madame Voggi em seu cachimbo. Em uma das almofadas maiores (Margareth imaginou quantas plantações de algodão seriam necessárias para encher tanto pano) Phil e Sâmia conversavam no auge da animação. Mais uma vez, o sorriso da filha deu forças para a sra. Sotein se sentir um pouco mais disposta a suportar toda aquela loucura. Já estavam ali a pelo menos uma hora e a maldita Torre parecia demorar para tocar seu sino.

"O que a gente não faz pelos filhos?!"

Ao desviar os olhos, Margareth se deparou com o rosto da velha Voggi voltado para cada gesto feito pela convidada. Emoldurada por um turbante multicolorido, colares de origens impensadas, um vestido tão preto quanto as fossas abissais do mar de Arcéh e de pés descalços, a mulher se sentava em uma poltrona feita com cordas trançadas e pedaços de galho, como uma rainha cheia de misticismos e mistérios.

— Se solte, querida, você está tão tensa. Eu sei que você é muito antiquada, meio metida, mas não fique intimidada pelo nosso jeito. - pediu para Margareth se achegar e sussurrou para ela: — A gente não morde!

A sra. Sotein sentiu a vergonha lhe subir pelo rosto e olhou para Phil. Aquela descrição "maravilhosa" e tão "delicada" sobre sua pessoa só poderia ter saído da mente do rapaz. Nervoso, o garoto convidou Sâmia para outro aposento para fugir de uma maldição da sogra. Quando Margareth fez menção de se levantar para seguir o casal, a senhora Voggi segurou seu braço.

— São apenas jovens, minha flor... Deixe eles irem, não vai acontecer nada. Na minha casa eu tenho quantos olhos eu quiser ter. Agora sente aí e coma alguma coisa.

— Mas...

— Confie em mim, tola. Eles ficarão bem! Eu garanto a você.

— Mas nós temos que ir embora...

— Não, querida, você não tem! - e puxou Margareth com toda a força. A sra. Sotein caiu sentada em meio às almofadas, os braços e as pernas para o ar. Às gargalhadas, Madame Voggi a ajudou a se recompor. — Oh, desculpe, desculpe! É que sou meio bruta às vezes... Muitas atividades, você sabe. Quando eu era mais jovem costumava carregar caixas e mais caixas nos ombros, olha só... - flexionou os músculos do braço e franziu as sobrancelhas. 

 — Quer chá, meu bem?

Por precaução, a Margareth decidiu aceitar: não queria testar a veracidade das histórias contadas pelo povo sobre aquela senhora de aparência tão cheia de bondade. Pelos boatos, a matriarca dos Voggi conquistara respeito e fortuna movida pela coragem de passar por cima de muitos homens durante suas andanças pelos quatro cantos do mundo.

Pelo sim, pelo não, era melhor não arriscar.

Como se um furacão tivesse passado em seus cabelos e com um rasgo na lateral do vestido, a sra. Sotein encheu a boca com bolo e fingiu prestar atenção à conversa da anfitriã. Porém, quando tinha oportunidade, varria a casa com os olhos à procura de Sâmia.