4. Copo de lágrimas
O sol aquecia Seul naquela manhã, uma brisa fresca de verão agitava as folhas das árvores em uma dança sensual, pássaros cantarolavam no jardim da casa de repouso onde idosos conversavam alegremente. Era um dia bonito, o mundo parecia mais colorido, os sorrisos das pessoas eram calorosos, e Jungkook sentia-se leve como as folhas dançantes no ar. Duas semanas se passaram desde seu encontro turbulento com Jimin, e mesmo que sua rotina tenha voltado ao normal, algo ainda parecia fora de contexto. Como se faltasse algo nos seus dias, e seus olhos encarando sem parar o celular revelavam sua esperança em encontrar Park outra vez.
Um suspiro longo escapou por entre os lábios corados do advogado, suas lamúrias misturando-se com o ar quente da estação. Não fazia sentido sentir-se tão incomodado por um assunto que não lhe era de interesse, não deveria estar pensando tanto em um par de olhos castanhos, e precisava parar de encarar o celular com tanta expectativa quando ele tocava. Jungkook desviou os olhos do nada para encarar sua mãe, sentada ao seu lado, com uma expressão vaga. Haejin estava presa em seu próprio mundo, esquecendo-se completamente da presença do filho e Jeon apenas suspirou novamente ao perceber isso. Era rotineiro, ela sempre viajava para outra dimensão ao seu lado, e quando voltava, não falava nada coerente.
— Fico pensando no que diria se visse o que seus filhos andam fazendo, mãe.
Haejin finalmente desviou os olhos do vácuo, piscando várias vezes seguidas e migrou as orbes escuras para o filho de maneira curiosa. Voltando a si lentamente, permitiu-se analisar o homem ao seu lado com intensidade e sorriu largamente. Jungkook apenas admirou-a, os olhos fechados, as rugas nas extremidades, seu cabelo negro que ganhou uma tonalidade cinzenta. Tudo naquela mulher era admirável, e ele desejava apenas que pudesse ter a honra de ver aquele sorriso por muito tempo.
— Junghoon? Omo, como meu menino cresceu! — ela exclamou animada, tocando a face do filho com carinho. Seus olhos transbordavam amor, seu toque era tão singelo quanto as pétalas das flores caindo na primavera. Jungkook sorriu amável.
— Não, mãe. Sou eu, o Jungkook.
Haejin afastou-se apenas para dar um tapa no braço do filho, arrancando-lhe outro sorriso.
— Acha que não sei reconhecer meus próprios filhos, Hoon? — ela cruzou os braços, encarando o céu com um olhar distante e um sorriso nostálgico no rosto. — Você e seu irmão nunca me confundiram, sempre foram tão diferentes.
— É mesmo? — Jungkook decidiu não contestá-la, pois sabia como um choque de realidade poderia deixá-la abatida e ansiosa. Não queria estragar seu bom humor, assim como a calmaria daquele dia.
— Sim — ela riu, encarando um ponto qualquer à sua frente. — Jungkook era sempre calmo e obediente, aceitava tudo o que eu dissesse e qualquer roupa que eu escolhesse para ele vestir. Já você, sempre teve uma opinião forte desde cedo, nunca aceitava apenas um não como resposta e queria saber o porquê de tudo no mundo.
Ambos riram e Jungkook se pegou pensando na época em que sua vida era mais fácil, tudo era doce e colorido e Junghoon... Seu irmão era mais feliz, mais vivo.
— É, eu me lembro bem. — Jeon exclamou com sinceridade, sentindo um aperto no peito ao recordar-se de como Junghoon era uma criança brilhante, mas que perdeu-se no caminho escuro da vida.
— Sabe, filho — Haejin começou, em um tom de seriedade que atraiu as orbes escuras de Jungkook para si. Ela tinha os olhos tristes, encarando a grama aparada do jardim com certa melancolia. — Eu me culpo tanto pelo que aconteceu com você. — um suspiro. — Se eu tivesse sido mais atenta, uma mãe melhor, você não teria sofrido tanto. Nunca deveria ter soltado sua mão naquele parque, Junghoon.
— Mãe...
— Será que você conseguirá me perdoar algum dia? Acho que não, eu nunca me perdoaria se fosse você. — Houve um curto silêncio entre os dois, onde ouvia-se apenas os sons suaves do vento acariciando as folhas e o canto dos pássaros.
Jungkook não sabia o que dizer, nunca teve essa conversa com sua mãe e não imaginava que ela se martirizaria tanto pelo que aconteceu com Junghoon na infância. Lembrar do ocorrido lhe trouxe um gosto amargo na boca, ainda lhe era vivida a imagem do seu irmãozinho deitado naquela calçada, quebrado e imóvel. Tinha apenas quatro anos, mas lembrava-se claramente do sangue, das lágrimas que eram incessantes, dos gritos da sua mãe. Junghoon se lembrava de todos os detalhes daquele dia maldito também? Ainda tinha pesadelos que faziam-no perder noites acordado?
Torcia muito para que não, mesmo que soubesse que, talvez, isso foi o grande motivo pelo qual Junghoon se perdeu.
Jeon Haejin elevou os olhos brilhantes para si, e Jungkook sentiu sua própria visão embaçar. Ela sorriu, um sorriso que misturava orgulho e tristeza. Era como os sorrisos que os personagens dos dramas dão antes de morrer, uma despedida dolorosa, mas bonita.
— Ao menos me conforta ver que você cresceu bem. — disse ela, emotiva e Jungkook quis cavar um buraco no chão e viajar para os confins da Terra. Ele deveria ter feito mais por Junghoon? Deveria ter insistido mais para tirá-lo de sua vida ilícita? O que sua mãe diria se pudesse ver a verdade? — Posso viver com a culpa e não ligo se me odiar, mas seja feliz, meu bebê.
Jungkook esforçou-se muito para não permitir que as lágrimas caíssem, segurou a mão da sua genitora e reuniu forças do além para proferir com firmeza:
— Você não teve culpa do que aconteceu, mãe.
Haejin sorriu, parecendo descrente, mas grata pelas palavras gentis. Juntos, mãe e filho permaneceram admirando aquela curta manhã de sábado tão bonita. Jungkook sentia-se prestes a transbordar, seu copo havia sido enchido até a borda pelas palavras de Haejin, agora ele se equilibrava em uma corda bamba enquanto o segurava. Assim como não era culpa da sua mãe aquele acontecimento, também não era sua. Contudo, ainda havia um aperto no peito, uma sensação de que poderia ter feito mais, falado mais, se esforçado um pouco mais. Jungkook suspirou, havia um copo de lágrimas na sua frente, e como sempre fez, beberia-o e ignoraria aquele sentimento ruim até que ele se tornasse inexistente.
Pelo menos era isso que ele esperava.
Nem mesmo o açúcar do seu café favorito foi capaz de adocicar o humor de Jungkook naquela tarde. Encarava o Macchiato Caramelo pela metade com amargura, como se ele fosse uma substância tóxica. Não conseguia apagar da mente a sua conversa com Haejin, assim como as imagens de uma época antiga onde o mundo era um lugar melhor pelos seus olhos. Doce infância, onde seus dias eram regados com chocolate e o riso escandaloso de Junghoon. Queria tanto poder voltar naquela época, apenas para aproveitar um pouco mais, abraçar o irmão com mais força e ter segurado sua mão naquele parque.
E então, ele não teria se perdido, um monstro não teria o encontrado, e eles seriam mais unidos.
Um suspiro cansado escapou pelos lábios bonitos, Jungkook deixou de lado o café para pescar o celular no bolso da calça social. Encarou com pesar a conversa com o irmão, sempre falando sozinho, se importando sozinho, nunca tendo nenhuma movimentação por parte de Junghoon. Queria muito odiá-lo, mas não conseguia. Não quando entendia as razões obscuras pelas quais ele se fechou para o mundo à sua volta. Seu coração se tornou negro como carvão, e seus olhos perderam o brilho, assim como sua inocencia de menino foi arrancada naquele dia maldito. Como poderia odiar sua família? Não conseguia, não era capaz de fingir que Junghoon não existia.
Você: Fiz Kimbap, deixei na sua porta. Não pule nenhuma refeição.
Sem resposta, mesmo depois de lida. Jungkook apenas suspirou, sem saber o que fazer para se aproximar do irmão. Quando foi que deixaram de ser tão unidos? Talvez foi quando Jungkook não o abraçou enquanto ele chorava baixinho depois de ter pesadelos, ou quando teve medo dele quando o viu quebrar coisas, e consequentemente, se afastou. Sem dúvidas, deveria ter feito mais, deveria tê-lo agarrado e colorido seus dias cinzentos. Contudo, o que uma criança poderia entender disso? Era tarde para tentar uma aproximação?
— O mundo está perdido... — ouviu um senhor resmungar amargurado, trazendo Jungkook de volta à realidade. Ele desviou os olhos do ecrã do celular, decidido a deixar de lado o seu drama familiar por enquanto e focar no café na sua frente. Contudo, a voz do homem soou novamente: — Isso é um absurdo...
Franzindo o cenho, o advogado ergueu o olhar para o homem da mesa vizinha, curioso em descobrir o que ele via de tão horrendo. Seguindo o olhar do idoso, viu um rapaz fazendo seu pedido no balcão e não conteve o arquejo em surpresa ao reconhecê-lo. Jimin tinha uma expressão serena enquanto aguardava pela sua bebida, os dedos cheios de anéis batucavam o balcão, enquanto os olhos curiosos inspecionavam tudo ao redor. O homem preconceituoso continuou murmurando sandices, mas Jungkook nem se importou em lhe dar ouvidos. Sua atenção estava toda focada em Jimin, vestido numa camisa de seda roxa que o deixava ainda mais atraente do que já era. Se pudesse resumi-lo em poucas palavras seriam: Elegância, sensualidade e beleza. Park Jimin era a junção perfeita de tudo aquilo e mais um pouco, transpirava charme, seu magnetismo era tão palpável quanto o oxigênio pairando no ar.
E quando os olhos castanhos encontraram-se com o negro do olhar de Jungkook, ele arqueou as sobrancelhas em surpresa, mas sorriu docemente logo em seguida. Como se fosse um prazer rever o advogado, e Jeon não poderia se sentir diferente. Sem se conter, sorriu de volta, acenando com uma mão em um convite para ele sentar-se na sua mesa. Jimin assentiu, ainda com a expressão gentil. Era um contraste e tanto com a imagem que Jungkook tinha do seu rosto abatido e carrancudo, pois agora seu olhar era tranquilo e seus ombros não estavam encurvados em desamparo ao se sentar na frente de Jungkook.
Seu sorriso era tão bonito que Jeon poderia jurar que ele era a cura para todas as doenças e a salvação do mundo. Jimin estava tão mais lindo, e não se dava apenas ao fato dele estar bem vestido e sorrindo amigavelmente para ele. Algo na sua expressão demonstrava uma calmaria não vista antes em seu primeiro encontro.
— Jeon — ele saudou delicadamente, e Jungkook apenas sorriu ao retribuir a reverência educada que ele deu antes de se sentar. — Nos encontramos de novo.
— Culpe o acaso. — sem saber o que fazer perante ao olhar penetrante de Jimin, Jungkook bebericou seu café, sentindo-o aguado pois parte do gelo derretera. Conteve a careta desgostosa.
— De forma alguma, agradeço-o. — Park sugou o canudo do próprio copo, fazendo uma careta logo em seguida. — Droga, aparentemente, ele não gosta de café.
Jungkook piscou os olhos várias vezes seguida em confusão.
— Perdão?
— Ah, nada. Pensei alto. — ele abanou o ar com indiferença, abandonando o copo sob a mesa. — Enfim, quero agradecer pelo outro dia. Nem todo mundo faria o que fez por mim, então obrigado. De verdade.
— De nada, e é apenas o meu senso de dever que sempre fala mais alto. — Jungkook sorriu sem jeito, ostentando os dentes de coelho que tanto lutava para esconder. Sentiu o olhar de Jimin pesar sobre si, e isso o fez beber mais um gole do café sem graça. — E como tem passado, Park?
Jimin suspirou antes de responder, cruzou os braços e mirou a rua pela janela ao lado.
— Apesar da montanha russa de emoções, estou bem. Muito melhor do que imaginava, na verdade.
— Ah, que bom. Fico aliviado.
Os olhos intensos de Jimin voltaram-se para o advogado de forma analítica, e ele sorriu logo em seguida, como se pudesse lê-lo com facilidade.
— Vamos lá, pergunte. Sei que está curioso.
Era mesmo tão fácil descobrir o que Jungkook estava pensando ou foi apenas um chute certeiro? O homem engoliu em seco, tirou uma mecha negra da testa e fincou o olhar em Jimin ao questionar:
— Qual foi a sua decisão?
Jungkook teve medo da resposta, mesmo que ele não fosse o pai do bebê, mesmo que não fosse da sua conta se Jimin teria ou não aquela criança; ele teve medo da verdade.
— Eu vou ter o bebê, Jeon. — para a surpresa de Jungkook, Jimin soprou a resposta no ar com a delicadeza de uma flor, suspirando logo em seguida. — Não vou me basear no caráter do seu irmão para tomar decisões da minha vida, do meu corpo. E você tinha razão, afinal. — ele sorriu. — Eu não estou sozinho nessa.
— E você... — Jungkook soltou o ar que nem sabia estar segurando, meio que sorriu e Jimin riu disso. — Você pretende contar a ele?
— Sim, é o direito dele saber que tem um filho. Mas não estou contando que ele o assuma, não imagino Jeon Junghoon como pai.
— Sinceramente, nem eu. — ambos dividiram um riso soprado. Jungkook se pegou admirando o homem na sua frente, que ignorava os olhares preconceituosos das pessoas que passavam por eles, e teria um filho de um bandido sozinho. — Você é corajoso, Park. Isso é admirável.
— Você acha? Eu me sinto insano, mas gosto disso. — ele sorriu, e Jungkook não conseguia parar de olhá-lo como se ele fosse um herói.
— Posso te fazer um pedido? — o advogado permitiu-se ser ousado, fazendo Jimin encará-lo com curiosidade. Havia uma entonação temerosa no seu tom de voz, mais uma vez Jungkook temia uma resposta.
— Claro. — nem mesmo o tom de voz doce de Park fez com que Jeon se sentisse melhor. Ele sugou uma boa dose de oxigênio com o nariz, juntamente com um pouco de coragem.
— Eu posso... participar da vida dessa criança? Eu... eu gostaria de conhecê-la.
Não sabia ao certo de onde vinha aquele desejo, mas ele sussurrava no pé do seu ouvido desde que ouviu Jimin dizer que colocaria o filho de Junghoon no mundo. Talvez fosse a conversa com sua mãe, que despertara sentimentos antigos e engavetados a respeito do irmão, como o desejo de protegê-lo dos monstros embaixo da cama ou a vontade de se aproximar novamente. Queria saber se aquela criança também seria fissurada por dinossauros, ou gostasse tanto de Kimbap de atum. Ele ou ela iria gostar de dormir agarrado a alguma coisa? Ou talvez odiasse cenoura?
Estava procurando traços de Junghoon nela, desejando fazer por aquela criança o que não pôde fazer pelo irmão na infância.
Jimin suspirou, por um tempo apenas encarando os olhos negros e brilhantes de Jungkook com certa compaixão. Era como se estivesse se preparando para dar uma resposta negativa, mas apenas sorveu mais um pouco do conteúdo do seu copo de café antes de responder.
— Tudo bem.
— Oi?
— Você pode fazer parte da vida do meu filho, Jungkook.
#gemeobonzinho
eu sei que vocês estão felizes, bobinhos e radiantes com o andamento dos acontecimentos. eu sei, pode confessar aqui.
porque eu fiquei extremamente boiola escrevendo essas cenas *emoji chorando*
quero já adiantar, que o periodo da gravidez do ji será curto na narrativa, isso significa que não mostrarei tantos detalhes do pré-natal e tudo mais. por isso, não se assustem com os proximos capitulos, onde terão muitos saltos no tempo até o dia do nascimento do pequenino park. isso porque, os acontecimentos do conflito estão planejados para acontecer quando [nome censurado] tiver uns oito meses de vida, então não quero encher tanta linguiça até lá porque essa é uma shortfic. e também, céus, estou ansiosa para apresentar o nenem para vocês aaa
perguntinha do dia: qual foi sua cena favorita do capitulo e por quê?
não se esqueça do seu votinho, que ajuda muiiito no engajamento da fic. e claro, amo ler comentários, então lote minhas nots!
beijinhos de morango da vick e até semana que vem!
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