Cara de um, focinho do outro
Casmurro se apaga a semelhança entre Ezequiel e Escobar como a verdadeira prova da traição, sendo ele o primeiro apontar esse fato, na época, sem demonstrar suspeitas: "...eu só lhe descubro um defeitozinho gosta de imitar os outros.
— Imitar como?
— Imitar os gestos, os modos, as atitudes; imita prima Justina, imita José Dias; já lhe achei até um jeito dos pés de Escobar e dos olhos..."
José Dias é outro que aponta a tal característica do garoto:"Tu como vais, meu anjo? Meu anjo, como é que eu ando na rua?
— Não, atalhou Capitu; já lhe vou tirando esse costume de imitar os outros.
— Mas tem muita graça; a mim, quando ele copia os meus gestos, parece-me que sou eu mesmo, pequenino. Outro dia chegou a fazer um gesto de D. Glória, tão bem que ela lhe deu um beijo em paga. Vamos, como é que eu ando?
— Não, Ezequiel, disse eu, mamãe não quer."
É visto que o menino tinha trejeitos semelhantes ao de Escobar, mas também é dito que imitava a todos os outros conhecidos: "Nós não podíamos ter os corações agora mais perto. As nossas mulheres viviam na casa uma da outra, nós passávamos as noites cá ou lá conversando, jogando ou mirando o mar. Os dous pequenos passavam dias, ora no Flamengo, ora na Glória.
Como eu observasse que podia acontecer com eles o que se dera entre mim e Capitu, acharam todos que sim, e Sancha acrescentou que até já se iam parecendo. Eu expliquei:
— Não; é porque Ezequiel imita os gestos dos outros."
Quando Casmurro passa a notar as supostas semelhanças física entre Ezequiel e Escobar, o mesmo se afasta dos familiares. Ele coloca Ezequiel para estudar em um colégio interno, faz de tudo para que outros não o vejam e, não sendo mais Escobar vivo, tudo o que teoricamente prova tal semelhança, é a palavra do próprio Dom Casmurro. A única pessoa para quem ele revela a sua suspeita, é para a esposa, Capitu: "— "Mamãe! mamãe! é hora da missa!" restituiu-me à consciência da realidade. Capitu e eu, involuntariamente, olhamos para a fotografia de Escobar, e depois um para o outro. Desta vez a confusão dela fez-se confissão pura."... Nada em sua fala dá significado a confusão de Capitu, a mulher pode ter estado confusa por não ver tal semelhança entre a criança e o retrato, mas ainda que ela concorde com o esposo, é no início do livro que Bentinho contradiz a própria certeza:
Gurgel, pai de Sancha, por certa vez mostra para Bentinho um retrato da falecida esposa: "Gurgel, voltando-se para a parede da sala, onde pendia um retrato de moça, perguntou-me se Capitu era parecida com o retrato.
...Então ele disse que era o retrato da mulher dele, e que as pessoas que a conheceram diziam a mesma coisa. Também achava que as feições eram semelhantes, a testa principalmente e os olhos. Quanto ao gênio, era um; pareciam irmãs.
— Finalmente, até a amizade que ela tem a Sanchinha; a mãe não era mais amiga dela... Na vida há dessas semelhanças assim esquisitas."
Ainda no capítulo em que revela a sua suspeita para Capitu, essa vai à missa com o filho e, ao se demorar a regressar, Casmurro diz: ""cheguei a temer que ela houvesse ido à casa de minha mãe, mas não foi.". Novamente uma declaração dúbia, a D. Glória poderia se posicionar tanto a favor quanto contra o filho e, no caso da suspeita ter fundamento, não seria melhor para si ter alguém de confiança que o apoia-se?... A recusa em se abrir com os familiares pode ser justificada com o fato do homem ver a traição com uma desonra, ainda mais uma que parte do melhor amigo e, se Dom Casmurro não deixasse outros tantos indícios ao longo da trama, tal explicação poderia botar fim a esta análise:
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