Capítulo 4 - Suposições
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— Eu ainda... Mal posso acreditar que minha bebezinha se foi. — a Sr. Wells enxugava as lágrimas com um lenço listrado, que combinava perfeitamente com suas roupas.
Naquele dia, os policiais haviam ido entrevistar a mãe de Charlotte, que estava em Nova Orleans, mas voltou após o ocorrido. Como seu emprego a exigia uma certa mobilidade, a única casa fixa que possuíam era em Nova York.
— Ela... Morava sozinha, de certa forma. — suspirou. — Mas ainda haviam vários empregados para auxiliá-la.
— Você acha que alguns deles...
— Não, não. — ela se enrijeceu. — Eu sempre tenho uma seleção rigorosa para escolher meus funcionários. E aqueles estão comigo a anos. São como uma segunda família pra ela.
Refletindo um pouco a pergunta, olhou diretamente para eles, desta vez.
— Então acham que foi um assassinato? — ela perguntou com uma das mãos no coração.
Sua luva era de seda e combinava com o vestido listrado. Seus olhos eram azuis escuros e os cabelos loiros meios presos, faziam parte de seu estilo. E apesar de tanta preocupação, mantinha uma beleza impecável.
— Segundo a autópsia, não. — Fred a respondeu rapidamente.
— Então...? — ela olhava desesperada para os dois.
— Acha que está preparada agora?
— É a minha filha. — afirmou com seriedade. — O que aconteceu afinal?
Os dois se entre-olharam concordando.
— Seguindo três fatores como base... — Jace dizia. — Acreditamos que tenham sido as duas coisas.
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Um dia atrás...
Eram cerca de Meio-dia em ponto. Sendo, uma das primeiras entrevistadas, decidiu tomar um ar fresco. Aquelas perguntas ainda rodeavam como notas musicais em sua mente.
Victória, nunca havia se sentindo assim. É claro que não é todo dia, que uma coisa daquelas acontece. Mas se sentir assim, tão viva, era quase impossível. Em uma rotina quase imperturbável, qualquer mínima mudança seria perceptível. E naquele momento, sua curiosidade era maior do que qualquer tipo de noção.
Passando pelo corredor, ao sair da sala, poderia dizer que a escola parecia um formigueiro. Era difícil reconhecer todos ali, mas aqueles não. Seguiam o olhar, com os passos dela.
Uma realidade diferente se passava fora do colégio. Como todos que conhecem Nova York, no verão. As gramas verdes, o sol radiante e as férias que haviam acabado de começar.
Se sentando em um banco na praça, avistou uma cena ao longe.
— Ravi? — perguntou a si mesma, se não estava tendo ilusões.
Estava conversando com um cara mais velho que ele. Mexendo em seu casaco e olhando para os dois lados, entregou um pequeno pacote.
E antes que pudesse gritar novamente o seu nome, se levantou e um policial os chamou atenção de longe.
— Ei! Seus...
Correndo rapidamente, virou a esquina. Victória tentando acompanhar, pegou um maço de dinheiro que havia caído do bolso dele e enfiou em seu bolso da saia.
Sua mãe havia chegado no mesmo momento, buzinando para que ela entrasse no carro.
— Victória... — ela dizia conduzindo o carro.
— Não é meu. — respondeu subitamente.
— É claro que não é! Onde conseguiu isso?
— Pode me deixar aqui. — ela disse rapidamente descendo do carro.
— Você está louca!? — ela gritou, enquanto a fileira de carros buzinava atrás.
— Jace vai te contar tudo hoje a noite, eu sei! — sua filha saiu correndo.
Enquanto olhava em que direção seguir, tentava se lembrar em que direção ele havia assumido.
— Ruela a direita! — disse a si mesma correndo.
Mesmo sabendo o quão perigoso era andar sozinha naquela cidade e principalmente naquele bairro, sua intuição a conduzia a continuar. Parando sem fôlego em um beco sem saída, ouvia a respiração pesada de um rapaz, que estava ao lado de uma lixeira.
Continuou andando com passos pesados, até encontrá-lo de frente. Ele, se assustando com o barulho, mirou a arma em sua direção.
— Ravi!
— Victória!?
Gritaram ao mesmo tempo. Foi por um tris que ele não atirou. Abaixando o objeto, com as mãos ainda tremendo, Victória se abaixou o abraçando. Lágrimas caíam de seu rosto e Ravi, caindo em si, jogou a arma para longe e retribuiu o abraço.
— Me desculpe... — ele disse chateado.
— Me diga... — se afastou um pouco, encostando no muro ao seu lado. — Que não está trabalhando para ele.
— Victória...
— Me diz que não está trabalhando pro meu pai! — gritou com raiva.
— Primeiramente fale baixo. Eu ainda não sei se estão me seguindo. E segundo... O que você está fazendo aqui?
— Não mude de assunto.
— Não devia estar aqui.
Suspirando, jogou o dinheiro em seu colo.
— Onde conseguiu isso? — ele perguntou, contando.
— Eu é que pergunto. Isso caiu do seu bolso.
Ele checou os bolsos vazios e relaxou, quando viu o dinheiro no colo. Depois, virando seu olhar para o céu, em um pedido de ajuda, tentou dizer da melhor forma, o que estava acontecendo.
— Sabe que eu fui expulso da casa dos meus pais, certo?
— Sim. E vive em uma Kombi caindo aos pedaços.
— Não precisava dizer isso da Lulu.
— Não acredito que colocou nome em um carro. — disse indignada rindo.
— Não é só um carro, gata... Agora é o meu novo lar. — retomando o que dizia, continuou. — Estou vendendo para sobreviver.
— Podia arrumar qualquer outro emprego. — olhou pra ele.
— Não é tão fácil assim... — suspirou. — Nova York ainda está se recuperando da crise e... Não iriam me aceitar.
— Porque não? — perguntou sem pensar.
— Talvez por que eu pareço um mendigo. — sugeriu.
— Eu curto seu estilo. — ela sorriu, o analisando.
Ele usava sandálias gastas e roupas largas. Suas enorme barba e seu cabelo castanho médio se destacava.
— Eu comecei com pequenas coisas... Mas agora não consigo parar. As vendas estão bombando! — continuou dizendo. — As coisas estão mudando. Pessoas que você nunca imaginou, são meus melhores clientes. Existe um novo produto que...
— Ravi... — pensou rapidamente. Uma ideia passava em sua mente. — Charlotte Wells. Vendia pra ela?
— Eu não sei pelo nome. Eu só entrego. — disse ríspido. — Mas quem é essa daí?
— A garota morta.
Uma forte ventania percorreu o corredor. Bagunçando o cabelo dos dois presentes e clareando a ideia de ambos.
— Eu não sei. Existem vendas que eu nem vejo o cliente. Só combinamos o local onde deixam o dinheiro e eu deixo a encomenda.
— Já entregou no meu colégio?
— É onde eu mais vendo.
— Merda...
Vendo a aflição em seu rosto, tentou acalmá-la, dizendo:
— Mas fica tranquila, isso não mata. Só deixa quem usa "piradão". — checando o relógio de pulso, se levantou. — Pausa pro almoço agora. Eu te deixo em casa. Vamos? — sugeriu uma das mãos para levantá-la.
Com o fôlego curto, se levantou com sua ajuda, dizendo e suspirando:
— Minha mãe vai me matar.
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