*Hirai Momo*

Acordei sentindo minha cabeça completamente girando.

Geralmente minha cabeça gira e tem uma dor infernal após uma noite de bebidas, a famosa ressaca.

Mas desta vez, não, desta vez é diferente, estou apenas meio tonta mas sem nenhuma dor.

Não lembro de ter tomado remédio, na verdade, não membro de absolutamente nada.

Aliás... Estou no meu quarto? Como eu cheguei aqui?

Sana?...

- Não, é impossível, ela estava brava comigo por sei lá o que... Ela não ia me ajudar.

Me levantei e finalmente percebi que estava de pijama e... Sem cheiro de álcool?

- Eu banhei? Mas como? Quando?

Tentei forçar minha mente a lembrar mas nada, simplesmente nada, nem sequer um flash passou por minha cabeça.

- Odeio quando bebo e não lembro de nada... Bom, espero não ter feito nenhuma merda.

Fui até o banheiro para tomar um banho e enquanto as gotas escorriam por meu corpo, eu tentava lembrar da noite passada.

- Será que ela me ajudou mesmo? Bom... Ela é minha anjinha da guarda... Mas ultimamente ela tem me tratado como lixo... Eu duvido que ela tenha se importado, mas o que aconteceu com Chaeyoung? Preciso falar com ela, vai que ela saiba de algo.

Sai do banho enrolada numa toalha e procurei por meu celular.

- Acho que ainda tá na minha bolsa.

Sai do quarto e fui para a sala onde encontrei Sana arrumando o colchão que ela dormia.

Sana notou minha presença e me olhou rapidamente antes de desviar o olhar.

Notei um leve rubor em sua bochecha, a garota levantou de maneira nervosa e saiu para a cozinha sem dizer nada.

Estranho.

- Ué... Essa garota é tão confusa as vezes - Neguei com a cabeça e peguei minha bolsa em cima do sofá.

Dei mais uma olhada para Sana que preparava o café da manhã, suspirei e segui meu caminho.

Tirei meu celular da bolsa e entrei no perfil de Chaeyoung logo ligando para ela.

- Hmm... Que é? - Chaeyoung resmungou com voz de sono.

- Chae, Como está? Muita ressaca?

- O que você acha? Acordei e nem consigo sair da cama, minha cabeça parece que vai explodir...

- Ainda bem que você tem sempre um estoque de remédios para ressaca em.

- Sim, só que eu não estou com coragem para ir buscar... Aff, desvantagens de morar sozinh- Espera... Tem um remédio bem aqui do meu lado... Ué... Eu não tinha visto isso aqui antes.

Mina. Com certeza foi a Mina.

- Você está bêbada ainda amiga? - Brinquei - Enfim, você lembra de alguma coisa de ontem? Tipo, como chegamos em casa?

- Pior que não, mano. Eu não sei nem como vim parar na cama e não no chão da sala como sempre - Ela riu - Mas diz aí... Você nem parece com ressaca.

- Ah... Isso...

- Geralmente você estaria xingando até a quinta geração, mas agora parece bem, o que rolou? - Cocei a nuca.

- Nem eu sei... Só sei que acordei de pijama deitada na cama e acho que até tomei banho ontem.

- Oxe... Como assim? Virou sonâmbula ou o quê?

- Sei lá... Mas eu também queria saber...

- Doidera, vou tomar meu remédio e fazer um lamen pra ajudar, te ligo depois.

- Beleza, se lembrar de algo me conta, melhoras anã.

- Teu cu, valeu, tchau.

Desligamos a ligação e se eu já estava confusa antes, agora estou ainda mais.

Se Chaeyoung não me trouxe... Quem me trouxe? Só pode ter sido a Sana...

- Será que estamos de bem de novo? Ela não parecia muito de bem comigo mas... Vai que seja mau humor matinal, anjos tem isso? Bem, Sana não é qualquer anjo.

Vesti uma roupa e fui tomar meu café da manhã.

Boo me esperava balançando o rabinho no final da escada, sorri e fiz um carinho em sua cabeça.

- Bom dia, amigão. Dormiu bem? - O cachorrinho latiu animado. - Vamos deixar nosso passeio para depois tá? A sua dona aqui está só o pó.

- Au au!

- Fofinho - Deixei um beijinho na cabeça dele e fui para a cozinha onde Sana já estava colocando as coisas na mesa.

Me sentei em silêncio e percebi que tinham duas tigelas de lamen em cima da mesa.

- Não sabia que você sabia fazer lamen - Comentei sem esperar uma resposta.

- Mina me contou que Chaeyoung come isso quando está de ressaca, então eu fiz.
- Ela respondeu e sentou-se de frente para mim.

Eu ainda tinha muitas perguntas, mas não sabia como exatamente iniciar elas.

Porém, de qualquer forma eu tinha que tentar... Essa tensão toda entre nós vem me incomodando a muito tempo, se vamos ficar juntas nessa casa, eu preciso ao menos me dar bem com ela.

E pensar que quando ela chegou aqui, eu pensava a mesma coisa só que de uma maneira mais fria... Será que estamos voltando a ser duas estranhas?

Eu não quero isso.

- Sana... O que aconteceu ontem a noite? Você que me trouxe pra casa? - Vi quando ela deixou o garfo cair no chão e o pegou rapidamente.

- Então... Você não lembra de nada? - Ela perguntou meio receosa.

- Não, eu não lembro, você pode me dizer? Fiz muita besteira? Eu dormi com aquela garota?

Eu torcia para que ela dissesse que não.

- Então dela você lembra? - Ela perguntou incomodada.

- Ah... Não é isso... É que eu não estava tão bêbada assim quando encontrei com ela... - Respondi nervosa, por alguma razão eu não queria que ela achasse que eu tinha interesse naquela garota.

- Hum sei... - Ela murmurou mexendo no lamen - Bem, você estava muito bêbada... Mina e eu levamos vocês embora.

- E o quê mais? Eu estava até de pijama quando acordei. - Sana pareceu respirar fundo.

- Eu troquei sua roupa e te coloquei na cama... Dei um jeito de você tomar o remédio, não queria ter que aguentar seu mau humor pela manhã. - Sorri sem graça.

- Faz sentido... Valeu por isso, eu estaria com uma dor de cabeça desgraçada se não fosse por você, quer dizer... Desculpa, eu falei palavrão de novo.

- Tudo bem... - Levantei a sobrancelha.

- O quê? Nenhuma reclamação? Nenhum sermão?

- Não... Acho melhor você comer.

Dei de ombros, ela com certeza é um anjo bem bipolar.

Provei meu lamen e está bem gostoso, como tudo que ela faz.

Comemos em silêncio, Sana terminou primeiro e levou a tigela dela até a pia.

Eu estava prestes a terminar quando de repente senti um zumbido na minha cabeça e flashs de noite passada passaram pela minha cabeça.

"Não estou bêbada!!!! Eu quero você!!!! Sana!!!!"

"Você... Eu gosto de Você... Eu gosto de você, Sana..."

"Sabe o quanto eu estou magoada com você?! Você me jogou no lixo! Eu estava gostando de você!"

"Eu te amo, Sannie..."

"Você me ama?"

"Sana... Por favor, eu já disse que te amo... Eu quero você. "

"Não quis aquela mulher! Porque eu quero você! Mas você não ajuda, porra!"

"Você é tão linda... A mais linda de todas..."

Soltei o garfo de uma vez e me engasguei.

- Cof cof cof cof!

Sana se virou para mim me olhando preocupada.

- Momo? Está tudo bem?

- Cof, está... - falei parando de tossir.

O quê?! Não é possível... Não não... Não pode ser!

Eu... Eu falei isso para ela? Merda merda merda!

Eu falei mesmo isso para ela?!

- Não... Não pode ser, que merda... - Falei para mim mesma, Sana ainda me olhava confusa.

- Quê?

Corei violentamente e abaixei a cabeça olhando para a mesa.

Eu não conseguia encarar ela agora depois de ter lembrado, eu tinha mesmo que me declarar enquanto estava bêbada?

Que maravilha, Momo, você é uma idiota.

- N-nada, não é nada... - Gaguejei olhando para minha tigela quase vazia.

Sana veio até mim para pegar a tigela e lavar, era minha chance, eu tinha que resolver isso.

- S-Sana...- Murmurei olhando para ela com vergonha.

- Sim?

- E-eu... Eu....

Droga Momo! Não Gagueje agora!

- Você?

- Eu... Preciso ir ao banheiro! - Me levantei correndo dali deixando a garota ainda mais perdida.

Entrei na primeira porta que achei e me agachei no chão.

- Que porra... Eu não consigo nem falar com ela direito agora... Aish, ela deve me achar uma babaca... Se bem que... Pelo que eu me lembro... Eu não falei nada mal... Só me declarei, aí! Que porra!

Agarrei meus cabelos nervosa e então mais flashs passaram pela minha mente, aos poucos eu estava lembrando de tudo.

"É o meu Hiraizão! Legal né? Olha o que ele faz"

- Não... Eu não fiz a piadinha do helicóptero com ela... Aaaaaa! - Gritei de maneira audível. - Alguém me mata...

Cobri meu rosto sentindo meu rosto queimar ainda mais.

- Momo? Está tudo bem? Ouvi você gritar... - Sana perguntou do outro lado da porta, mas não tive coragem de responder nada - Momo? Eu vou entrar.

- Não! - A interrompi rapidamente - Não entra...

- Você disse que iria ao banheiro, o que está fazendo no quartinho de limpeza?

Olhei em volta, eu nem ao menos tinha percebido onde estava.

Suspirei, eu não podia ficar aqui para sempre... E ela só não entrou porque eu mandei ela não entrar... Porque ela facilmente pode atravessar essa parede a qualquer minuto.

- Momo, é sério, o que está acontecendo? - Sua voz estava mais nervosa.

Coragem, Momo, coragem.

Levantei do chão e abri a porta encontrando uma Sana apreensiva do outro lado.

- Finalmente, agora pode me contar o que aconteceu?

Ela até pode tentar ser fria, mas ela não consegue, seja por causa do cargo dela ou sua própria personalidade, ser fria não combina com ela.

- Sana... - Respirei fundo - Eu lembrei... Eu lembrei de tudo...

A garota loira arregalou os olhos e seu rosto se tornou mais vermelho que um tomate maduro.

- V-você lembrou?... - Assenti.

- Sim... Olha me desculpa se eu te deixei desconfortável, eu não queria que fosse assim... Bem... Eu queria mesmo dizer aquilo... Mas não estando bêbada... Ah sei lá... Eu sinto mesmo aquilo mas não aceitava ou não queria acreditar... Eu só... - Bufei - Você deve me odiar agora. - Abaixei a cabeça.

- Não, eu não te odeio. - Ela respondeu calmamente - Na verdade... Eu gostei...
- Levantei a cabeça em choque.

- V-você gostou?

- S-sim... Na verdade eu queria tanto quanto você...Mas eu não podia... É errado... Muito errado... Mas quando você começou... Eu não consegui te parar e acabei deixando.

- Você também queria se declarar?...

- Espera... Você estava falando apenas disso? - Franzi o cenho.

- Como assim? Teve mais coisa? - Ela desviou o olhar.

- N-não... Não é nada... Eu preciso ir.
- Segurei o pulso dela para impedi-la de sair.

- Sana... Por favor, não mente para mim... O que aconteceu ontem? - Ela mordeu o lábio inferior.

- Não... É melhor você não saber...  Aquilo foi um erro ainda maior...

- Sana... Mas o quê-

E então, o pedaço que faltava da minha memória voltou como um balde d'água jogado em mim.

- M-Momo?...

- Sana... Nós nos beijamos?