Capítulo 25
POV Natália
12 anos atrás
Quando vejo Isabela passando como um furacão, sei que alguma coisa aconteceu, então resolvo ir atrás da minha amiga. Levo um tempo até sair do sofá e ultrapassar algumas pessoas que estão na minha frente e ao chegar até a porta, vejo que alguns amigos que estavam no jardim correm para fora de casa. A música está alta, mas consigo ouvir alguns gritos e fico preocupada.
Corro até onde está uma aglomeração de pessoas e meu coração falha uma batida quando vejo Isabela caída no meio da rua. Um carro está parado e um homem muito nervoso não para de falar:
— Ela apareceu do nada na minha frente, não deu tempo de frear, eu juro!
Eu me abaixo imediatamente, tentando ver como minha amiga está e começo a chorar quando percebo que está desacordada.
— GABRIEEEL !!!!! — dou um grito e logo meu marido aparece.
— Meu Deus! É a Isabela?? — ele diz, me amparando.
— Já chamaram uma ambulância?? — ele questiona e consigo ouvir alguém dizer que já estão a caminho.
Quero tentar virar minha amiga, que está deitada de lado, mas sei que é melhor não mexer no seu corpo para não causar algum dano maior, então só sento no chão e continuo a chorar ao lado dela. Gabriel senta comigo e me abraça, tentando me tranquilizar.
— Aconteceu alguma coisa, Gabriel! Ela saiu de casa quase correndo, cadê o Rodrigo??
— Putz, preciso avisar, acho que ele tá apagado, lá em cima.
— Tenta descobrir o que aconteceu!
— Tá, vou ver se consigo falar com ele!
Poucos minutos depois, a ambulância chega e os paramédicos começam a remover Isabela do asfalto, colocando-a numa maca. Observo tudo com o coração apertado, rezando para ela não ter sofrido nada grave. Imploro para acompanhá-los na ambulância e acabaram permitindo. Eu ainda precisava avisar os pais de Isabela, era tanta coisa a ser feita que minha cabeça estava zonza.
Chegando ao hospital, Isabela é transferida para uma sala de exames, enquanto eu aguardo. Aproveito para chamar seus pais, tentando dar a notícia de forma mais calma possível, mas é muito difícil. Não demora para que eles cheguem, até a avó de Isabela veio. Em certo momento, meu celular toca e é Gabriel.
— Onde vocês estão, qual hospital? — ele pergunta e eu informo.
— O Rodrigo tá com você?
— Tá sim, mas ele... — meu marido começa a dizer, mas a voz do primo o interrompe, ele deve ter tomado o celular.
— Natália, como ela tá?? O que aconteceu?
— Não sei, Rodrigo, os médicos ainda estão examinando.
Escuto ele chorando e Gabriel volta a falar:
— Estamos indo, chegamos já.
Algum tempo depois, eles chegam e Rodrigo está com uma cara péssima, sua roupa está meio molhada e amarrotada, mas não tenho cabeça pra perguntar o que havia acontecido, só quero saber o que houve para minha amiga ter saído correndo da casa do Marquinhos daquele jeito.
— O que aconteceu, Rodrigo? A Isabela saiu correndo, vocês brigaram?
— Eu nem sabia que ela tava lá, Natália! Não tô entendendo nada! Eu passei mal, tava apagado no quarto.
Também não consigo entender o que houve, pelo jeito, vou ter que esperar minha amiga poder falar para dar uma luz. Nesse momento, uma lembrança cai como gelo no meu coração e não consigo segurar as palavras:
— O bebê!!
Gabriel e Rodrigo me olham espantados.
— O que você disse, Natália? — Rodrigo me pergunta.
— Meu Deus! Ela tá grávida, Rodrigo! Preciso falar pro médico, preciso... — digo, já me levantando e Rodrigo também fica em pé.
— Grávida?? Mas... quando ela descobriu isso??
— Já faz um tempo. Ela não queria falar pra você porque você tava indo embora, não sei se ia falar, quando...sei lá, não queria ter sido eu a dar essa notícia, dessa forma.
Rodrigo parece realmente chocado e Gabriel coloca uma mão nas costas dele. Eu me afasto e tento falar com a enfermeira, preciso dar essa informação ao médico. Cândida, a avó de Isabela, segura meu braço no caminho e me chama para conversar, ela parece bem abatida.
— O médico disse que ela perdeu o bebê, Natália. Nós falamos para ele que ela estava grávida, quando chegamos. — ela me diz, discretamente — Ele já sabia da gravidez? — ela questiona com um gesto em direção a Rodrigo.
— Soube agora... eu acabei lembrando e não consegui disfarçar.
Começo a chorar e ela me abraça. É tudo tão triste, por que isso teve que acontecer?
— O que aconteceu? — ouço a voz tensa de Rodrigo e saio dos braços de dona Cândida.
— Ela perdeu o bebê, meu filho. — ela diz.
— Meu Deus... Meu Deus... — ele diz levando as mãos à cabeça e sentando na poltrona mais próxima.
Gabriel se aproxima, fazendo uma indagação silenciosa com os olhos e eu só confirmo o que sei ser seu questionamento. Meu marido senta ao lado do primo e o consola. Eu também sento e fico com a cabeça caída entre as mãos. Algum tempo depois, um médico aparece e todos levantamos para ouvir o que ele tem a dizer.
Isabela teve algumas fraturas e fora ter perdido o bebê, não havia ocorrido nada de mais grave. Eles iriam iniciar o procedimento de retirada do feto morto e ela iria precisar ficar em observação, por alguns dias. Eram palavras tão horríveis, meu coração estava em pedaços e eu sabia que os de todos ali também.
— Quando eu vou poder falar com ela? — Rodrigo pergunta.
— Ela está sedada, só amanhã poderá receber visitas.
Quando o médico sai, os pais de Isabela conversam um pouco conosco, tentando entender o que houve, mas é uma incógnita, ninguém sabe explicar o motivo da minha amiga ter saído tão transtornada daquele jeito, a ponto de não prestar atenção à rua.
No dia seguinte, estávamos de volta ao hospital para ter notícias dela. Rodrigo queria passar a noite lá, mas como estava com a roupa suja, Gabriel conseguiu convencê-lo a ir para casa, tomar um banho e descansar um pouco. Como não era permitido entrar várias pessoas ao mesmo tempo no quarto, a família da minha amiga foi primeiro e ficamos aguardando nossa vez.
Quando saem, Rodrigo logo fica em pé, ansioso para entrar, mas o pai de Isabela o olha de uma forma meio estranha e diz:
— Rodrigo... ela não quer ver você.
— O quê?? Mas por quê?? — ele não entende.
— Ela pediu pra eu não deixar você entrar e como está muito nervosa, é melhor não insistir.
Rodrigo fica apenas de boca aberta, sem saber o que dizer e certamente sem entender o que estava acontecendo, então eu digo:
— Eu vou lá, Rodrigo. Converso com ela e tento descobrir o que houve.
Vou até o quarto de Isabela e quando entro, vejo minha amiga deitada na cama com um olhar vazio para a janela. Ao ouvir o som de alguém se aproximando, ela vira o rosto rapidamente e quando percebe que sou eu, parece aliviada. Eu me aproximo da cama e seguro a mão dela, onde tem um acesso para o soro.
— Meu bebê, Natália... — ela diz com o queixo trêmulo e começa a chorar.
— Eu sei, amiga, eu sei... sinto muito.
Deixo ela chorar um pouco, apenas confortando e pergunto:
— O que aconteceu, Isabela? Vi que você passou como um furacão na casa do Marquinhos.
Ela fica alguns segundos em silêncio, até responder.
— O Rodrigo transou com a Verônica, Natália. — ela diz com uma voz fraca, mas cheia de raiva.
— O quê?? Você pegou os dois na cama??
— Vi a Verônica saindo de um quarto, aí quando entrei, ele tava só de cueca na cama. Acho que não precisa ser muito inteligente pra entender o que aconteceu, né?
— Isso tá muito estranho, Isabela! O Rodrigo tinha passado mal, ele vomitou na roupa, por isso subiu pra se limpar. O Gabriel disse que quando foi ver, ele tava apagado na cama.
— Eu sacodi o corpo do Rodrigo e ele falou o nome dela, Natália! Ele tava lá com ela!
— Mas o Gabriel...
— Para de querer defender o Rodrigo! Ele não presta! Me traiu com aquela vagabunda que sempre odiei! Claro que o Gabriel ia falar qualquer coisa pra defender o primo, né?
— Calma, Isa, não quero que você fique nervosa. — digo e depois de uma breve pausa, continuo — Ele tá aqui, você não quer conversar com ele, pra entender o que houve? Ele pode explicar, deve ter sido um mal entendido.
— Não! Não quero ver o Rodrigo, Natália! Ele não vai embora? Pode dizer pra ir logo, quero ele bem longe de mim!
— Ai, Isa... ele tá arrazado. Quando soube da gravidez, ficou louco.
O rosto dela se contorce numa expressão de dor e ela diz:
— Talvez tenha sido melhor assim, não quero nenhuma ligação com ele. Ainda vou ter outro filho, algum dia...
Sei que ela não pensa realmente dessa forma. Apesar do susto inicial, eu percebia que Isabela havia se apegado à ideia de ser mãe, até já havia comprado algumas roupinhas de bebê e as deixava escondidas. Minha amiga está tão triste que só posso compartilhar da sua dor. Seco minhas lágrimas e tento animá-la um pouco.
— Vai sim, claro que vai.
Nesse momento, uma enfermeira entra no quarto, aplica algumas medicações nela e afere a pressão, que está um pouco elevada. A mulher diz que é melhor deixá-la descansar e me despeço. Quando saio do quarto, a primeira pessoa que vejo é Rodrigo, me olhando ansioso.
— E aí?
— Melhor você me contar direitinho o que aconteceu ontem, Rodrigo! — digo, apontando para ele.
— O que ela disse??
— Que você transou com a Verônica.
— O quê?? Natália, eu juro que não fiz isso! Como ela pode pensar uma coisa dessas??
— Ela viu a Verônica saindo do quarto que você tava deitado na cama, só de cueca. — digo, com os braços cruzados e as sobrancelhas levantadas.
— Mas eu não tava lá com ela, fui sozinho!
— Bom, então ela apareceu em algum momento, pois a Isabela disse que a viu saindo do quarto e tem mais, ela disse que você falou o nome da Verônica.
— Mas que porra é essa?? Eu não fiquei com ela, Natália!
— A Isabela não acredita nisso, Rodrigo. Ela está bem nervosa, é melhor esperar que se acalme um pouco pra vocês tentarem conversar e esclarecer as coisas.
Ele passa as mãos no cabelo e suspira, impotente. Imagino o inferno que está vivendo agora, ainda mais com uma viagem marcada para a semana que vem.
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