Capítulo II
A jovem Higanbana estava perdidamente apaixonada, talvez esse fator a tenha levado a ignorar o péssimo humor que seu amado demonstrava para com os demais, Muzan a tratava como sua querida flor e era amável com ela, mas as dores que sentia em decorrência de sua doença, somada a sua personalidade difícil o levava a ter picos de extremo estresse e atitudes irracionais, então ele acabava por descontar nas pessoas a sua volta. Para Elif, lorde Muzan não era mau de fato, mas não dá para dizer se era realmente assim ou se o amor a cegou quanto a verdadeira face daquele nobre homem.
Os dias se passaram como folhas ao vento e Elif aproveitou cada um deles, ela adorava conversar com Muzan sob uma das árvores do jardim ou repousar a cabeça em uma das pernas do rapaz enquanto ele lia para ela perto da lareira. Aqueles eram dias tão mágicos que a fizeram esquecer de tudo, de suas responsabilidades e até mesmo da inevitável morte daquele homem que ela tanto amava, mas haviam dias em que ele tinha crises violentas e ela se via obrigada a recordar desse fato doloroso. A jovem entregou ao rapaz o seu coração, o amor que ela lhe dava era tão intenso que aqueceu aos poucos até mesmo o coração dele e aliviou um pouco da sua dor, ele passou até mesmo a tratar melhor seus funcionários e demais pessoas, tudo iria ficar cada dia melhor desde que Elif não deixasse o seu lado, o homem de natureza ambígua, que facilmente tenderia a crueldade, estava mudando lentamente.
Estar com o Muzan alegrava o coração de Elif, nos últimos seis meses o médico continuou a visitá-lo a fim de lhe fornecer um tratamento que prolonga sua vida, sempre direcionava um olhar inquisidor para a garota, mas nunca comentou com Muzan acerca do que descobriu sobre ela. A garota não podia deixar de se sentir péssima, a cada dia o que sentia por aquele homem moribundo se intensificava mais e mais, então chegou o dia em que decidiu escolher uma data para levar ao conselho e ao Kyer o seu desejo de ceder parte de seu sangue para o homem que veio a mar. Elif sabia que não seria recebida com muita festa, uma vez que passou muito tempo sem dar notícias, sabia também que seu pedido não seria bem recebido por ninguém, afinal, qual foi a última vez em que um humano comum e um Higanbana se casaram? Qual foi a última vez que um humano comum passou pelo ritual do sol? Além do mais, Elif sequer sabia se Muzan estaria disposto a se casar com ela, até porque não permitiriam que ele passasse pelo ritual de outra maneira.
Certo dia, sentada ao lado do futon no qual Muzan repousava, Elif decidiu finalmente lhe perguntar sobre a única coisa que lhe faltava saber para ir ter com sua tribo. Fazia bastante tempo que o homem não ia lá fora e a jovem sempre fazia companhia para ele.
– Muzan... – Chamou ela enquanto olhava para fora do quarto, portas de correr davam acesso a área externa, o tempo nublado tornava o ambiente mais escuro e úmido. – Você se casaria comigo? – Inquiriu.
O homem abriu seus olhos e fitou o teto, depois moveu seus globos oculares para onde Elif estava e tentou compreender o que se passava na mente dela ou o que havia por trás daquela pergunta, ele sabia que ela jamais perguntaria algo tão maldoso por capricho, afinal, que perspectiva teria alguém que está morrendo?
– No que está pensando? – Indagou gentilmente.
Elif o olhou finalmente, ela sustentou a troca de olhares o fazendo entender sem palavras que sabia exatamente o que estava fazendo.
– Eu te amo, Muzan. – Falou ela. – Talvez tenha te amado no instante em que te vi, quem sabe tenha te amado até mesmo antes de te ver, em uma vida passada, em uma eternidade passada. – A pouca luz fez parecer que seus olhos brilhavam e suas pupilas estremeceram um pouco. Sentada sobre os joelhos, vestindo uma das muitas yukatas com as quais seu amado lhe presenteou, Elif mantinha uma postura bela e digna. – Você... seria capaz de me amar também?
Muzan quebrou o olhar e voltou a fitar o teto escuro do seu quarto, após alguns segundos ele suspirou pesadamente, sentiu muita dor.
– Pensei que você já tivesse aceitado o meu destino. – Comentou mais para si que para ela. – Eu te fiz algo bem cruel, não é? – Perguntou em retórica. – Eu percebi a sua paixão e me aproveitei disso para aplacar aquilo que mais temo depois da morte... o meu medo de ficar sozinho. – Confidenciou. – Devo lhe pedir que se vá agora...?
– Não brinque comigo? – A jovem se exaltou.
O silêncio se fez presente por um tempo.
– Se não pode me amar, apenas me diga. – Pediu Elif.
Muzan pensou um pouco sobre o que ia dizer.
– Pensei que fosse óbvio aquilo que sinto por você. – Disse ele. – Não demonstrei o suficiente?
– Eu preciso que diga Muzan, é importante. – Falou ela sem olhar para ele, estava no meio de um dilema, sabia que não deveria fazer o que estava prestes a fazer.
– Eu te amo, Elif. – Muzan respondeu. – Mas é por te amar que não posso me casar com você. Não vou torná-la uma viúva. – O rapaz fechou seus olhos.
O silêncio preencheu o ambiente outra vez.
– O meu povo possui um segredo muito antigo. – Introduziu Elif. – Não posso lhe contar tudo, mas saber que me ama é o suficiente para lhe deixar saber ao menos isso. – Falou.
A jovem pegou o grampo que prendia seu cabelo e puxou, permitindo que ele caísse sobre seus ombros, rosto e escorresse para suas costas.
– Você me amaria mesmo se eu não fosse uma humana como você? Me amaria mesmo que fosse algo além da sua compreensão?
O homem não compreendia a intenção por trás da pergunta, mas decidiu respondeu com sinceridade.
– Não importa se você é uma deusa ou um demônio, eu ainda te amaria. – Disse Muzan. Os olhos dele não o deixava mentir, Elif viu o amor naquele olhar.
Elif pressionou então a ponta do grampo de cabelo na palma de sua mão e diante do olhar confuso de Muzan ela abriu um profundo tálio. O homem se sobressaltou, tentou se levantar, mas falhou miseravelmente, então usou o que tinha de forças para praticamente rastejar até ficar em uma posição na qual pudesse pegar a mão ferida da garota.
– O que está fazendo? – Perguntou atordoado e preocupado. – Por que fez uma coisa dessas?
– Está tudo bem. – Garantiu a jovem. Ela colocou sua mão sobre a dele para acalmá-lo e a seguir apanhou um lenço guardado em sua faixa, passando o tecido no local machucado para remover o sangue.
– Veja! – Pediu docemente. – Não está doendo. Eu estou bem.
– Mas... – Ele procurava pelo ferimento, contudo não era capaz de encontrar. – Estava aqui.
A expressão curiosa e surpresa de Muzan ao ver que o profundo ferimento tinha sumido por completo era o esperado, o que Elif não pôde enxergar no rosto dele foi seu pensamento intrusivo que lhe dizia que talvez suas chances de sobreviver ainda não tinham acabado.
– Muzan? – A garota o chamou, ele estava perdido dentro dos seus próprios pensamentos. – Muzan! – Ela o chamou um pouco mais alto.
O homem finalmente a encarou, suspirou e voltou ao seu lugar sob as cobertas.
– É isso? – Perguntou ela, tentava captar qualquer coisa que lhe dissesse que o homem não sentia nenhum tipo de aversão a ela.
– O que você esperava? – Respondeu com outra pergunta. – Isso foi surpreendente.
– Ainda me ama depois de ver isso? – Inquiriu Elif.
Muzan voltou a olhar para o teto, finalmente estava acomodado em seu futon outra vez.
– O que sinto por você não é tão frágil que vá se desfazer após descobrir que temos nossas... diferenças. – Falou ele. – Se estava tentando me testar mostrando que pode se curar é melhor tentar outra coisa. Sua constituição física não influencia no que eu sinto. Para mim pouco importa se você é uma divindade, um monstro ou um demônio. – Acrescentou.
– Que rude! – Disse Elif, suas bochechas estavam avermelhadas, e sua cara emburrada. – Pois fique sabendo que eu sou uma humana, ouviu? H-u-m-n-a. – falou ela.
– Soletrou errado. – Notificou ele.
– Você entendeu! – Rebateu ela.
Ele sorriu.
– Está me perturbando outra vez. – Bufou Elif.
– Desculpe, é que às vezes você é tão inocente que sinto vontade de mexer contigo. – Confessou.
A princesa estava satisfeita com a reação de Muzan, graças a ele ela se sentiu à vontade para permitir que ele finalmente a visse verdadeiramente. Os olhos de Elif brilhavam, mas não foi no sentido figurativo da palavra, eles literalmente brilharam um pouco para logo em seguida revelar a de um azul intenso com pontos brancos, semelhantes a um céu estrelado. Logo em seguida foi a vez do seu cabelo voltar para o azul escuro com as pontas arroxeadas, sua pele ganhou uma aparência mais saudável.
– Então você era ainda mais bonita... – Comentou Muzan com um sorriso e Elif enrubesceu.
– Permita que eu me apresente outra vez. – Disse Elif. – Sou Elif Higanbana, única princesa e futura Kyer do povo Higanbana.
– É um prazer, Elif. – Correspondeu Muzan, ainda estava levemente atordoado e cheio de perguntas, mas decidiu deixar que a mulher lhe revelasse as coisas em seu devido tempo.
Elif se sentou mais à vontade e abraçou as próprias pernas.
– Já me decidi. – Falou olhando para ele.
– O que você decidiu? – Ele já havia se habituado às ideias mirabolantes e inesperadas da garota.
– Vou me casar com você. – Disse resoluta.
Muzan suspirou outra vez, algo bem comum em quase todos os diálogos que tinha com Elif.
– Eu já lhe dis... – Ao olhar para Elif a fala de Muzan se foi, ele se viu perdido na intensidade daquele olhar.
– O doutor me pediu uma planta que só cresce em um um terreno montanhoso a oeste daqui, é um pouco longe, mas vou dar o meu melhor para voltar logo. – Anunciou ela.
– Você não precisa ir. – Falou ele.
– Preciso sim, é para fazer um remédio para você, vai precisar dele para suportar uma viagem. – O elucidou.
– E para onde seria essa viagem? – Indagou curioso, estava se deixando levar.
– Vamos para a minha aldeia, preciso te apresentar aos meus pais. – Informou.
– Devo preparar um dote? – Perguntou brincalhão.
– Eu falo sério Muzan. – Afirmou Elif. – Eu vou entregar a erva para um menino de recados e enquanto fazem o seu medicamento irei ver os meus pais primeiro, depois eu volto para te buscar.
– Elif... – Muzan começou, estava pronto para reavivar na mente dela a realidade que talvez ele não fosse durar até seu retorno.
– Apenas... – Ela o interrompeu. – Apenas me espere, certo? Eu voltarei para você. Eu definitivamente voltarei para você? É uma promessa.
Não havia outra coisa a se fazer além de aceitar, Muzan faria qualquer coisa para vê-la feliz, a esperança que Elif transmitia o fez até mesmo sentir que poderia melhorar no tempo em que ela ficaria fora e poder dizer a ela que tinha viajado sem necessidade, ele quis acreditar que poderia viver ao lado dela por um longo tempo, ele desejou isso mais do que tudo e até mesmo se convenceu de que estava disposto a pagar qualquer preço para viver, mas não como desejava antes, e sim viver ao lado dela pela eternidade. Muzan desejava passear sob o sol com Elif outra vez.
– Quero te dar uma coisa. – Expôs o homem. – Pode pegar para mim?
A garota se colocou de pé.
– Tem uma caixa no fundo daquele armário. – Informou e Elif foi até o móvel e o abriu, procurando pela dita caixa. – Dentro tem uma caixa menor, ela é preta. – Orientou.
A jovem abriu a caixa, apanhou o objeto requerido, guardou o restante no armário outra vez e caminhou até Muzan, se sentou sobre os joelhos outra vez e ofereceu ao rapaz o item em suas mãos. O homem pegou a pequena caixa e quando Elif fez menção de se levantar para retornar ao lugar em que estava, Muzan segurou em seu braço a fim de impedi-la.
– Por favor, fique perto. – Pediu.
Muzan havia pensado muito sobre o que estava prestes a fazer e já tinha até desistido de entregar aquilo para Elif, ele não queria dar a ela algo que poderia causar algum tipo de dissabor quando o pior lhe acontecesse, mas sentia que o arrependimento jamais o abandonaria se não o fizesse.
– Esse anel é uma herança de família, ele geralmente é entregue a senhora da mansão, mas como não me casei decide entregá-lo a mulher que amo. – Falou. – Eu não vou durar muito, então deixarei para você esse anel e já incluí em meu testamento que a mansão também será sua, uma vez que não tenho herdeiros. – Esclareceu. – Espero que possa aceitar.
Elif ficou quieta, parecia que tinha virado uma estátua.
– Então você tinha um anel de noivado preparado para mim. – Ela ignorou tudo o que ele disse. Muzan enrubesceu.
– Isso é.. – Ele preparava uma réplica.
– Eu aceito. – Elif estendeu a mão.
Derrotado, Muzan abriu a caixa e retirou de lá o anel prateado com uma pedra negra incrustada, então o rapaz tomou a mão dela e deslizou o objeto em seu dedo. A surpresa o atingiu quando sua mão foi agarrada de repente por Elif e ela passou a beijar o dorso dela ternamente.
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E vamos de mais um capítulo!
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