Capítulo 01
O dia havia amanhecido nublado na cidade que não dormia, seria um típico dia emburrado, como diziam os mais velhos. E Zyan estava mais agitado, apesar de ter acordado antes dos primeiros raios de sol para treinar. Gostava de correr no Ibirapuera antes de encarar o treino pesado dentro da academia de seu apartamento. Apesar de não subir a um ringue há anos, ele cuidava dos músculos com a disciplina de um monge. A prática esportiva ajudava a controlar o gênio rebelde que outrora o fizera se envolver em brigas desnecessárias.
Bem, nem sempre as brigas foram desnecessárias, como aquela primeira em que salvou uma garotinha cega de ser abusada.
Corina.
A menina cujo rosto sempre lhe fizeram lembrar um anjo, que havia crescido e se tornado a fonte de seus pensamentos mais impuros. Claro que Zyan não era um homem religioso e as aulas de catecismo a que foi obrigado a assistir enquanto vivia no orfanato não lhe deram uma exata compreensão da aparência de um anjo, mas se eles existissem, seriam todos com a aparência impressionante de Corina Lopes.
A reencontrou em uma loja de chocolates da Paulista e não conseguiu mais se afastar dela. Ela agia em seu juízo como um ímã, talvez porque despertasse seu lado mais protetor. Zyan não sabia dizer o que a fazia tão incrível, mas ela era; e o deixava ansioso quando não estavam juntos a ponto de ficar desesperado quando não respondia ou demorava para responder suas mensagens.
Como hoje em que não respondeu suas mensagens como costumava fazer todas as manhãs desde que se reencontraram. E o dia nublado não significava nada quando ela o estava matando de preocupação. Mas como não se preocupar quando vivia sozinha em um lugar não tão conhecido do bairro, cuja vizinhança não era das mais amigáveis, e que precisava pegar duas conduções para chegar ao trabalho? Se ao menos ela aceitasse sua ajuda, tudo poderia ser mais simples e fácil, para ela e para ele.
— Não prestou atenção em um gráfico que mostrei a você. – Dimas jogou a caneta em cima da mesa; o barulho tirou Zyan do transe em que havia sido colocado porque não conseguia parar de pensar em Corina. — Como pode decidir qual o melhor investimento se não presta atenção no que apresento para você?
Zyan girou na cadeira e passou a mão pela careca. Dimas costumava ser um homem frio e calculista, não por acaso o chamavam de coração de gelo, e ele precisava ser assim se quisesse ter sucesso na profissão que escolheu. A especulação de valores exigia nervos de aço e Zyan estava mais do que conformado de que não servia para se envolver muito além do que o amigo aconselhava. Era muito passional para isso.
— Você estuda e me aconselha – respondeu para Dimas. — É o gênio quando o assunto é fazer meu dinheiro triplicar.
Dimas se sentou em uma das cadeiras e relaxou por um instante. Ele não precisava agir sempre como um maldito homem de negócios perto daquele que sempre considerou como um irmão mais velho. Ele e Zyan tinham uma ligação especial, talvez porque haviam chegado juntos no orfanato, não que com os outros não acontecesse o mesmo, mas era com Zyan que mais dividia coisas em comum.
Alex, Elon, Zyan, Dimas e Arlo sempre foram muito unidos, e isso porque compartilhavam uma infância dividida entre orfanatos e famílias provisórias. Há muito tempo os cinco haviam feito um pacto para vencerem na vida e trabalharam de sol a sol, sem descanso, explorando suas potencialidades ao máximo para enriquecer e fazer com que esse sonho se tornasse realidade.
Zyan Ribeiro usou os prêmios que ganhou como pugilista para abrir uma empresa de segurança que rapidamente se tornou referência no Brasil todo.
Alex Santos se tornou um astro do futebol e era um dos jogadores mais bem pagos do mundo; mas era a filha e a noiva que o faziam um homem feliz.
Dimas Cardoso era o gênio da matemática e das finanças, e trabalhar em um banco como estagiário só lhe aguçou a mente para abrir seu próprio negócio, acumulando seu primeiro milhão antes dos 30 como corretor de valores em um mercado ainda pouco explorado no Brasil.
Elon Valente se lançou no mundo da publicidade e se tornou o queridinho da propaganda, colecionando contratos milionários.
Arlo Carvalho era o homem das festas e fez disso seu ganha pão ao se tornar o magnata do entretenimento com uma rede de boates e bares espalhados pelas principais capitais do país.
Eles eram ricos, poderosos e unidos por laços que o sangue não poderia macular. Eles eram família e sempre estariam disponíveis um para o outro.
— O que está acontecendo? – perguntou Dimas. — Desde a festa de noivado do Alex e da Juliana, você anda aéreo. É a loirinha, não é?
Não adiantava negar o óbvio e Zyan concordou com a cabeça.
— Estou preocupado com ela... E um pouco inseguro – admitiu. — Corina sempre responde minhas mensagens me desejando um bom dia e hoje não.
— Qual é, Zyan? Aprendi a paquerar com você – debochou o mais jovem, cuja mente era como uma complicada fórmula de matemática, quase indecifrável para quem não se esforçasse. — Sempre foi minha referência quando o assunto são as mulheres.
— Corina é diferente. – Fez uma pausa para beber um gole do café. — Gosto dela e não sei lidar direito com isso.
— Seja você, ué! – incentivou Dimas.
— Um ogro? – Zyan sacudiu a cabeça. — Não posso ser o que sempre fui, Dimas. Corina é delicada e preciosa demais. Olhe para mim – ele ergueu a mão e mostrou para o amigo —, uma mão minha é capaz de quebrá-la, além de ser muito mais jovem que eu.
— Como se você pudesse quebrar uma mulher. Aliás, devo lembrá-lo que Corina é uma mulher como outra qualquer. Não é mais aquela menina inocente, que precisava ser protegida o tempo todo. – Dimas foi prático.
— Não quero forçar – confessou o ex-pugilista. — Não quero que se sinta obrigada, entende?!
— Bem, daí são outros quinhentos. Mas não acho que você possa esperar que ela tome a iniciativa. Estão saindo há semanas, não estão?! Ela é tímida, Zyan. Mas eu entendo você! Parece que temos o dom de complicar tudo, talvez nossa criação entre orfanatos explique os motivos para acabarmos nos afastando de quem ameaça dominar nossos corações.
— Fala da filha mais nova do gerente, não é? – Zyan parou de olhar para o café dentro da xícara que estava entre suas mãos e encarou o amigo. — Aquela menina deve ter sido a única a chegar perto de derreter teu coração.
— É! – Dimas evitou o olhar do amigo, porque de Zyan ele não conseguia esconder os segredos da alma. — Não era para ser com ela, talvez com ninguém.
— Bem, você não tem muita moral para me dar conselhos, Dimas. Foi covarde quando eu disse para você tentar – retrucou Zyan ao lembrar daquela paixão platônica e atrapalhada que o amigo viveu quando estava na faculdade.
— Estraguei tudo e você sabe como me esforcei para que o estrago acontecesse. Mas deve seguir seus próprios conselhos, irmão. Vou repetir o que me disse a muitos anos atrás: arrisque.
— Talvez esteja certo, mas Corina é especial e como posso fazer dar certo sem estragar tudo? – retrucou ele.
— Alyssa também era especial – Dimas divagou saudosista, mas ao som do celular de Zyan se recompôs, retomando a postura de homem de gelo que o deixou com a fama de predador quando o assunto eram as finanças. — Que merda! Você sabe que odeio quando deixa o celular ligado. Aliás, onde se meteram Elon e Arlon? Sei que Alex tinha treino e não viria, mas estamos adiando essa reunião faz tempo, e possivelmente não vamos chegar em um consenso hoje.
— Devem estar chegando – respondeu Zyan, levantando-se da cadeira. Ele e os amigos iriam se reunir para decidir sobre um investimento em conjunto, mas diante do aviso de um dos seus seguranças de que Corina passava por dificuldades, ele não poderia ficar.
— Está indo para onde? – Dimas o encarou quando percebeu que ele se movimentava em direção à porta, sério.
— Corina precisa de mim – avisou. — Vocês podem decidir e depois eu só assino embaixo.
— Qual é, Zyan? – reclamou Dimas.
— Confio inteiramente no seu julgamento, Dimas. Pode decidir, depois eu faço a transferência – deu o assunto por encerrado e saiu sem perceber que Arlo e Erlon acabavam de chegar.
— O que deu nele? Parece que vai tirar alguém da forca ou apagar um incêndio – perguntou Arlo.
— Quase isso quando uma certa loirinha de olhos azuis que não enxerga está envolvida – avisou Dimas, conformado que teria que levar os planos por conta e risco, empenhando seu próprio patrimônio caso desse prejuízo o negócio que ele precisava explicar, embora em algum momento, Zyan teria que colocar a cabeça no lugar para ouvi-lo.
— Mais um apaixonado?! – Elon riu.
— Apostam quanto que Zyan vai se casar até antes do que Alex? – propôs Arlo, sorridente.
***
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