Capítulo 01
Arlo encarava a vida com a leveza que ela merecia, por mais que sua história de vida sempre tentasse lembrá-lo do contrário. Foi enviado a um orfanato quando os pais perderam sua guarda porque eram viciados em drogas e ele era tão pequeno quando isso aconteceu que mal conseguia se lembrar do rosto deles. E mesmo que todos duvidassem de sua vontade de fazer diferente, de vencer na vida, havia conseguido se tornar um homem rico e conquistado seu lugar no mundo. Se orgulhava de quem havia se tornado e não se ressentia por ter crescido sem o amparo de uma família, pois havia encontrado uma quando a amizade lhe proporcionou uma vida menos solitária. Arlo e os amigos eram unidos por laços mais fortes que os sanguíneos. Todos eles, inclusive, apoiaram-se uns aos outros para que pudessem se tornar bem-sucedidos naquilo que escolheram fazer.
Alex Santos se tornou um astro do futebol e um dos jogadores mais bem pagos do mundo. E agora estava casado com uma mulher que merecia ser tratada como uma rainha.
Zyan Ribeiro usou os prêmios que ganhou como pugilista para abrir uma empresa de segurança que rapidamente se tornou referência no Brasil todo. E tal império tinha uma herdeira à altura da mulher maravilhosa a quem devotava a vida.
Elon Valente se lançou no mundo da publicidade, depois de se aposentar como modelo, e se tornou o queridinho da propaganda, colecionando contratos milionários. E sua felicidade havia se completado com a chegada da mulher de sua vida, com quem se casara.
Dimas Cardoso era o gênio da matemática e das finanças e trabalhar em um banco como estagiário só lhe aguçou a mente para abrir seu próprio negócio, permitindo-o acumular seu primeiro milhão aos vinte e seis anos como corretor de valores em um mercado ainda pouco explorado no Brasil. Mas foi em um reencontro daqueles impressionantes que teve o privilégio de viver o amor.
E Arlo Carvalho, bem Arlo era o homem das festas e fez disso seu ganha-pão ao se tornar o magnata do entretenimento; tinha sob seu comando uma rede de boates e bares espalhados pelas principais capitais do país.
Mas diferentemente de seus amigos ainda era solteiro e começava a se convencer de que não estava destinado a encontrar o amor verdadeiro. Ele olhava para seus amigos sentados ao redor da mesa na sala de reuniões da empresa de Dimas como se quisesse desvendá-los. Tudo havia começado com Alex, o mais romântico dos cinco, quando se apaixonou por Juliana para culminar em Dimas, o mais recente a reencontrar uma mulher de seu passado e com ela viver uma história de amor digna de filmes. Entre eles ainda teve Zyan e Elon que não escondiam a paixão que sentiam pelas esposas. Talvez por isso Arlo se sentisse deslocado nos últimos meses, como se não tivesse mais o direito de estar entre eles porque não tinha uma namorada.
— Foi uma pena que não conseguiu comprar o terreno – Dimas disse depois de encerrar a apresentação do projeto do ecoresort, um investimento que estavam fazendo em conjunto. — Deu para ver pelas fotos que você nos enviou que a região é perfeita para nosso empreendimento. Mas o outro terreno que você conseguiu também não é ruim e ainda tem vista para a queda d'água.
— Ao menos o novo terreno não tem herdeiras para complicar tudo – Arlo soltou. Admitir que havia fracassado o deixava de mau humor, principalmente quando se lembrava de Suzana Rizzo, a garota que empinou o queixo para desprezar sua proposta de compra e que era a herdeira das terras que considerava perfeitas para abrigar um ecoresort de luxo.
— Fez um excelente trabalho, Arlo. – Alex o elogiou.
— Eu preferia o terreno perto da queda d'água, mas é o que temos. – Arlo se esforçava para aceitar que havia perdido aquela batalha para Suzana Rizzo.
Elon estreitou os olhos e encarou Arlo por alguns segundos.
— E aquele outro problema? – perguntou.
— Está se referindo à entrevista sensacionalista em que Monique me entrega como frequentador de surubas com a clara intenção de me desmoralizar enquanto empresário? – Elon fez que sim. — Olha, Monique foi longe demais e sinceramente tenho vontade de esganá-la quando lembro que ela espalhou boatos de que eu a apresentei para a vida de devassidão quando a verdade é que a conheci em um clube de swing.
— Dou graças a Deus que não sobrou para mim também! – Dimas comentou, estava aliviado por não ter sido citado na matéria, considerando que Arlo o arrastou para algumas noitadas antes de reencontrar Alyssa e com ela engatar um relacionamento.
— Vocês foram loucos em se envolver nessas coisas. – Zyan ficou sério de repente, talvez porque sempre tivesse preferido a discrição da monogamia.
— Ah, mas Monique fez de propósito porque não aceitei namorar com ela – Arlo explicou.
— Mulher rejeitada sempre pode se tornar um problema – Zyan avisou.
— Mas o pior é que virou notícia nacional e serão meses de fofoca até esquecerem de você – Alex disse por ter experiência com a imprensa sensacionalista.
— A não ser que você arranje uma namorada – sugeriu Elon.
Arlo olhou de soslaio para Elon e algo lhe passou pela mente.
— E se eu contratasse uma modelo para fingir ser minha namorada? Você poderia me indicar alguma agência, Elon. – Ele deu voz aos seus pensamentos. — Inclusive, ela poderia me acompanhar no casamento do Dimas, estou à procura de um par para ser madrinha.
Dimas arregalou os olhos.
— Alyssa vai matar você se escolher qualquer uma para ser madrinha do nosso casamento – ele avisou Arlo.
— Além disso, não tenho contato com esse tipo de agência – Elon avisou.
Arlo coçou a barba porque se sentiu cansado de repente. Ele tinha poucas semanas para encontrar um par e precisava abafar o escândalo envolvendo seu nome na imprensa se não quisesse prejudicar os negócios, principalmente aqueles que mantinha em sociedade com os amigos.
— Me digam uma coisa! – Ele chamou a atenção para si. — Por que as coisas precisam dar tão errado de uma hora para outra? Estou passando por uma maré de azar que nem sei o que dizer a respeito.
— Que é isso, Arlo? – Alex se esticou em cima da mesa para bater nas costas do amigo. — Você sempre foi o mais relaxado de nós cinco, não combina com seu estilo ficar estressado.
— Até os mais relaxados têm seus momentos de estresse, é o que acho – ele respondeu, já levantando-se para sair. — Preciso passar pela boate para assinar uma papelada da admissão dos novos funcionários. Vocês estão indo para casa? – perguntou por perguntar, pois era óbvio que homens casados encerrariam o expediente e correriam para suas mulheres. — Claro que sim! Todos vocês têm mulheres que os aguardam. Eu que sou o avulso do rolê.
Alex, Zyan, Elon e Dimas riram pelo drama que Arlo acabava de fazer.
— Arlo virou dramático de repente, além de estressado – Elon o provocou.
Arlo se virou e os encarou, estava chateado por virar motivo de piada.
— Gravem o que vou dizer: vou dar um jeito de desestressar ou não me chamo Arlo Carvalho.
— Que não seja em um clube de swing – Dimas o lembrou.
Arlo esticou os lábios em uma linha fina que revelava pouca paciência e deu as costas para os amigos, batendo a porta com força, mas acabou se detendo na frente do elevador para atender uma ligação.
— Alô! – ele disse.
— Estou falando com Arlo Carvalho? – Uma voz feminina perguntou do outro lado da linha.
— Sim, é ele! – Arlo confirmou.
— É Suzana Rizzo, Arlo! Você disse que eu poderia entrar em contato com você se mudasse de ideia quanto à venda do terreno que herdei do meu avô – a mulher explicou os motivos da ligação, além de se apresentar.
— Ah! – Arlo passou as mãos pelos cabelos. — Acabei comprando outro terreno.
— Tem certeza de que não tem interesse? Pode ser sua oportunidade de ouro – ela insistiu e isso o deixou curioso. — Estou em São Paulo, precisei vir para cá para tratar de assuntos da vinícola, e se quiser podemos marcar uma reunião. Peço desculpas pela forma como o tratei quando nos conhecemos.
Arlo deveria dispensá-la depois de o ter deixado no vácuo durante tantos dias, mas o desejo de descobrir o que havia acontecido para que Suzana mudasse de opinião quando se mostrou tão convicta em dispensá-lo o fez aceitar que se encontrassem.
— Esteja daqui meia hora em minha boate. Passo o endereço por mensagem para você, ok? – ele propôs.
— Estamos combinados – Suzana respondeu e se despediu.
Arlo encerrou a ligação com um sorriso bobo amenizando seus traços que até a pouco revelavam preocupação e cansaço. E Dimas notou isso de imediato ao sair da sala na companhia dos amigos.
— Boas notícias? – Dimas perguntou.
Arlo abriu um sorriso de orelha a orelha.
— Talvez a solução para todos os meus problemas tenha chegado em São Paulo. – Arlo estufou o peito e piscou para os amigos, convencido de que o destino não colocaria novamente uma mulher em seu caminho para que não fosse a salvação que estava esperando.
***
Suzana olhava para os quatro cantos do escritório à procura de sinais que deletassem quem era Arlo Carvalho em sua essência. A haviam levado até ali para aguardá-lo, considerando que se atrasaria em razão do congestionamento. E ficou muito claro que ele era um amante de esportes radicais a julgar para as fotografias que enfeitavam as paredes.
— Desculpe o atraso! – Arlo adentrou na sala de repente, assustando-a. — Enfrentei alguns quilômetros de congestionamento e como estava de carro, já viu. Por isso prefiro minha velha e boa Harley-Davidson. – Suzana se levantou para estender a mão para um aperto, mas ele aproximou o rosto do dela e lhe deu um beijinho no rosto.
— Não tem problema! – Ela disse sem jeito por se sentir encalorada de repente. — Meu voo de retorno está marcado apenas para amanhã de manhã. Daqui eu vou direto para o hotel.
Arlo foi para trás de sua mesa e se sentou, fazendo sinal para que Suzana também se sentasse.
— Quer beber algo, talvez uma água? – Ele ofereceu, mas ela dispensou com um gesto de mão. — Preciso dizer que me deixou muito curioso, Suzana. O que a fez mudar de ideia depois de tanto tempo? Saiba que fiquei aguardando sua ligação.
Suzana evitou o olhar dele porque se sentia envergonhada, principalmente porque o havia tratado mal quando se conheceram. Mas não pretendia mentir quando ele era sua última esperança de conseguir quitar a dívida que impediria que a vinícola fosse à falência, era dali que ela tirava o sustento dela e de Marquinhos.
— Estou precisando de dinheiro para quitar uma dívida com o banco. Contava com o dinheiro de um acordo que estava prestes a fechar com uma grande rede de supermercados. Inclusive, vim para São Paulo para isso, mas deu tudo errado. – Ela foi direta e Arlo apreciou sua espontaneidade em admitir um fracasso. — Há uma década meu avô fez um empréstimo com a intenção de evitar que a vinícola fosse à falência, mas já faz mais de ano que as parcelas não são pagas, principalmente porque gastamos muito dinheiro com seu tratamento de saúde. Enfim, é uma longa história que não pretendo fazê-lo ouvir.
Arlo ficaria ouvindo-a por muito tempo e precisou piscar algumas vezes para sair do transe que havia entrado. Suzana tinha o dom de capturar sua atenção sem muito esforço e isso o deixava em alerta, até porque o que pretendia propor para ela não deveria envolver flertes e conquistas.
— Acontece que eu e meus amigos já compramos um terreno. Queríamos suas terras, Suzana, para construirmos um ecoresort. Você chegou um pouco atrasada – ele avisou.
Suzana soltou um longo suspiro enquanto jogava os cabelos loiros para trás das costas. E aquela reação espalhou seu perfume doce pelo recinto, provocando em Arlo uma comoção que o desestabilizou de repente. Ele precisava tomar cuidado com a garota ou acabaria enfeitiçado.
— Sinto muito em ocupar seu tempo – ela lamentou.
— Não sinta, Suzana, pois tenho uma proposta para você. – Arlo colocaria em ação o plano que havia traçado enquanto dirigia pelas ruas de São Paulo e que a transformava na protagonista da salvação de sua honra, que havia sido manchada por fofocas infundadas.
— Proposta? – Suzana o questionou com os olhos brilhando muito. Ele jamais havia visto aquela tonalidade de castanho-esverdeado em qualquer pessoa com que cruzou.
— Isso mesmo, uma proposta – ele confirmou.
— Mas você ainda se interessa pelo terreno? – ela insistiu começando a desconfiar das reais intenções dele.
— Na verdade eu me interesso por você – ela arregalou os olhos —, mas não do jeito que você está pensando – ele se apressou em explicar quando percebeu que poderia estar sendo mal interpretado. — Bem, não gosto de ficar enrolando, por isso vamos direto ao ponto: eu preciso de uma namorada de mentira e estou disposto a pagar o que ela quiser para fingirmos sermos um casal.
Suzana soltou uma risada histérica, já que não esperava pela proposta que ouvira. Dentre tantas coisas que havia pensado, jamais poderia supor que um magnata esperasse que ela fingisse um relacionamento. E teria se ofendido se não estivesse correndo o risco de perder a vinícola da família.
— E posso saber o motivo para que precise de uma namorada? – Ela girou a cabeça e o analisou com o canto dos olhos.
— Preciso melhorar minha reputação. – Ele foi econômico nas palavras, mas mesmo assim ela pôde concluir que estava negociando com um mulherengo.
— Entendi! E você paga a minha dívida se eu aceitar fingir ser sua namorada? Toda ela, quero dizer, não apenas as parcelas em atraso. – Se ela aceitaria aquela loucura que fosse por um valor justo. Suzana era muito inteligente para negociar e não pretendia ser enganada.
— Toda a dívida! Além disso, suas despesas correm por minha conta enquanto fingirmos ser um casal – ele explicou. — Digo despesas com moradia, deslocamento, roupas, sapatos, cabelo e tudo mais que julgar necessário para ficar maravilhosa. Mas você terá que estar sempre disponível para me acompanhar em eventos e ser fotografada em minha companhia. Ah, e preciso que seja madrinha de casamento.
— Madrinha de casamento? – Suzana foi surpreendida com a exigência incomum.
— Sim, sim! Um dos meus melhores amigos irá se casar e me convidou para ser padrinho de seu casamento, mas eu preciso de um par para não fazer feio, já que os outros três padrinhos já são casados. Há algum problema em ser madrinha de casamento? Posso garantir que meus amigos são excelentes pessoas.
Suzana sacudiu a cabeça para dizer que não tinha problema em ser madrinha de casamento por mais que os noivos lhe fossem completos estranhos.
— Claro que não! Mas preciso deixar claro alguns detalhes, além do fato de que não vou admitir que eu e você possamos confundir as coisas. – Ela pretendia fazer suas exigências a fim de se assegurar que o filho ficaria amparado.
— Deve ter ficado preocupada com a vinícola, presumo – Arlo mencionou, estudando-a em cada uma de suas reações.
— Tenho ótimos funcionários que cuidarão da vinícola em minha ausência, embora talvez às vezes eu tenha que voltar para resolver alguma pendência. Estou me referindo ao meu filho. Eu tenho um filho de três anos, logo, logo, completa quatro e não posso deixá-lo sozinho.
Arlo se surpreendeu com a novidade de que ela tinha um filho, mas evitou de mencionar que era muito jovem para ser mãe, cada qual fazia o que queria com sua vida e ele não a conhecia o suficiente para tentar entendê-la melhor.
— Pode trazê-lo para cá, iremos contratar excelentes babás para ajudá-la – Arlo decidiu. — Uma criança jamais deve ficar distante de sua mãe. – Ele melhor do ninguém sabia disso. — Quanto a um possível envolvimento entre nós, fique tranquila, não pretendo passar o limite do estritamente profissional, até porque você não faz meu tipo mesmo. – Ele foi debochado de propósito.
Suzana se sentiu preterida e tal sentimento a deixou incomodada, mas se levantou e o encarou dentro dos olhos, para transparecer confiança e respeito. E verdade fosse dita, estava impressionada com a disposição de um homem em resolver os problemas, mas ele era milionário e talvez as despesas não passassem de trocados para ele.
— Então aceito sua proposta, Arlo. – Ela esticou o braço para selar o acordo com um aperto de mão.
Arlo segurou a mão dela e levou até seus lábios porque não resistiu ao desejo de tocá-la daquela maneira.
— Você tem minha palavra que tomou a melhor decisão em aceitar minha proposta, Suzana. Eu posso ajudá-la em tudo que precisar – e piscou para ela.
***
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