Capítulo 11
POV Ludmilla
O tempo ia passando, parecia uma angustia sem fim, já completava a terceira hora desde que Dr. Casemiro saiu em direção a sala de cirurgia e nenhuma notícia havia sido dada.
Ludmilla estava desolada, tentava passar segurança para Lucas que revezava entre seu colo e o de Brunna, que aparentemente tinha maior controle emocional, embora também estivesse despedaçada por dentro.
O medo era real, foram meses se dedicando a uma família que nunca imaginaram conhecer e se apaixonar, e agora era difícil conviver com aquela palavrinha que encerrou uma conversa tensa... "Rezem".
Dona Eliana: - Lucas, quer ir na lanchonete me fazer companhia?
Lucas: - Não tia Eliana, quero esperar o médico vir me deixar ver a mamãe de novo.
Dona Eliana: - Mais pode demorar meu anjo, faz tempo que você não se alimenta. - Se abaixou e estendeu a mão para o menor.
Lucas: - Eu tô sem fome. - Escondeu o rosto no ombro de Brunna que lhe fez um carinho.
Brunna: - Meu amor, vai com a Eliana, nós vamos ficar aqui esperando e te avisamos. - Tentou convence-lo, pois não tinha noção de quanto tempo ainda iriam esperar.
Ludmilla: - Brunna está certa, nós não sairemos daqui até termos notícias de sua mãe, e quando ela sair da cirurgia, tenho certeza que não gostará de saber que se recusou a se alimentar.
Lucas: - Prometem me chamar mesmo?
Brunna: - Palavra de escoteiro. - Levantou a mão e piscou para o menor que repetiu o gesto da loira e se levantou para acompanhar Eliana.
Ludmilla: - E você princesa, não quer comer alguma coisa também?
Brunna: - Não minha vida. - Se aproximou da negra e a abraçou de lado. - Estou preocupada contigo.
Ludmilla: - Eu juro que tô tentando, não por mim, mais pelo Lucas, porém estou completamente apavorada. - Respirou fundo e se aninhou a amada.
Brunna: - Deus tem planos maiores que os nossos, minha mãe sempre me disse isso, vamos acreditar que ele fará o melhor. - Assentiu.
---
POV Dr. Casemiro
Talvez uma das cirurgias mais complicadas da vida de um médico tão renomado como era Casemiro. Embora tivesse tentado ao máximo não se comover com a situação da paciente, sua mente só pensava em não permitir que aquela criança da recepção ficasse órfã, pois isso parecia um peso maior do que ele poderia suportar. Tantos anos de experiência não importavam, não naquele momento.
Dr. Casemiro: - Aspira, tem muito sangue aqui e eu estou com a visibilidade bem debilitada.
Assistente 1: - Estamos a tempo demais tentando fechar essa fissura, o tecido está muito vulnerável.
Dr. Casemiro: - Não está nos meus planos desistir.
Assistente 2: - Os batimentos dela estão fracos, ela não vai aguentar muito tempo.
Dr. Casemiro: - Parece que consegui conter a hemorragia, vou tentar suturar.
Assistente 1: - Doutor, espere um minuto. - Apontou uma região do corpo de Madalena. - Estamos tentando resolver um problema, mas...
Dr. Casemiro: - Estamos lidando com uma fissura e uma metástase. - Suspirou derrotado. - Não acredito!
Assistente 2: - Doutor!! - Apontou o aparelho que indicava que o coração da paciente estava parando.
Dr. Casemiro: - Não não não... Fica comigo Madalena, você tem o Lucas, ele precisa de ti, não vai embora agora. - Fazia massagem cardíaca ao som ensurdecedor do aparelho que indicava em um único barulho, a ausência de vida. - Desfibrilador!!!
Um dos enfermeiros trouxe o aparelho as pressas e carregou em 100, em 200, em 300...
Dr. Casemiro: - Injeta adrenalina. - Olhou para o anestesista que não esboçava nenhuma reação. - O que está esperando aí, faça o que estou falando! - Assentiu e atendeu o pedido do doutor. - Vou manter a massagem manual e em 10 minutos faremos o choque de novo.
Todos acompanhavam as tentativas de Casemiro, o médico acreditava que além de faze-la voltar, ele ainda seria capaz de lhe proporcionar ao menos mais alguns dias de vida.
Dr. Casemiro: - Carrega em 200... - O corpo debilitado de Madalena sequer aguentava mais seções de choque, era visível. - Em 300...
Assistente 1: - Chega Casemiro, ela não está mais entre nós! - Pegou o aparelho das mãos do doutor que respirava fundo, tamanho esforço que estava fazendo. - Fizemos o máximo, mais não vamos traze-la de volta. - Suspirou. - Anuncie.
Dr. Casemiro: - Eu não posso... - Se apoiou na parede e olhou para o rosto da paciente com angústia.
Assistente 2: - Anuncie Casemiro.
Com uma tristeza imensa e um sentimento de derrota, o doutor terminou aquilo que começou.
Dr. Casemiro: - Hora da morte, 23h37.
---
POV Brunna
No saguão Ludmilla e Brunna ainda estavam abraçadas, pareciam buscar apoio uma na outra. Lucas e Eliana conversavam distraidamente e o garoto logo ficou em alerta ao ver se aproximar Dr. Casemiro e uma moça bem arrumada.
Ludmilla: - Casemiro, que demora meu Deus!
Brunna: - Podia ter pedido que alguém nos atualizasse a respeito. - Observou o semblante sério do doutor e sentiu seu corpo arrepiar por inteiro.
Assistente Social: - Olá rapazinho. - Abaixou-se para falar com Lucas que deu um meio sorriso. - Podemos dar um passeio?
Lucas: - Eu quero ver minha mãe.
Dr. Casemiro: - Pode acompanha-la Lucas, depois eu vou te buscar, está bem? - Assentiu.
O menor deu a mão para a moça e sumiu da vista dos demais que aguardavam informações.
Ludmilla: - Como foi a cirurgia? - Perguntou temerosa.
Dr. Casemiro: - Não foi fácil, o quadro da paciente era muito mais delicado do que imaginávamos. - Suspirou. - Ela apresentou sangramento durante alguns períodos da cirurgia, quando conseguimos conter a hemorragia deu pra visualizar que além de uma fissura pulmonar o câncer tinha tomado parte de seu pulmão. - Olhou triste para Brunna que já chorava.
Dona Nilza: - Meu Deus...
Dona Eliana: - Doutor, o que o senhor não está nos contando?
Nete: - Desembucha?
Dr. Casemiro: - Infelizmente ela não resistiu, fizemos o possível, mais ela foi perdendo as forças e teve uma parada cardíaca. - Engoliu seco ao notar o desespero de todos. - Eu lamento muito.
O silêncio do médico só não era pior que o som dos gritos que Ludmilla dava no hospital, seu choro era constante e digno de pena, era uma perda que doía mais do que pensava ser possível.
Dr. Casemiro: - Iremos encaminhar o corpo para o IML e seguir todos os procedimentos legais. - Se aproximou da negra e a abraçou forte. - Eu também estou despedaçado, acreditei ser possível, mais a vida infelizmente não foi justa com essa mulher, seja forte minha amiga.
Brunna: - Casemiro, onde levaram o Lucas? Precisamos conversar com ele de forma cuidadosa. - Olhou para Ludmilla que estava sendo consolada por Nete e ficou em alerta ao ouvir o nome do menor.
Dr. Casemiro: - Ele está com Denise, ela é Assistente Social do hospital.
Brunna: - Pode pedir pra que ela o traga?
Dr. Casemiro: - O procedimento infelizmente não é esse. - Pareceu pensar nas palavras. - Antes da cirurgia, de forma protocolar, ela fez uma entrevista com Madalena que declarou ser a única responsável legal do Lucas.
Ludmilla: - O que está querendo dizer Casemiro?
Dr. Casemiro: - Lucas acaba de ficar órfão, e como não possui parentes, será encaminhado ao orfanato mais próximo, onde deverá aguardar até que seja adotado ou que complete a maioridade.
Ludmilla: - Você sabe muito bem que nós estávamos cuidando dele e da mãe.
Dr. Casemiro: - Eu sou médico, a advogada aqui é você Ludmilla, caso eu esteja falando algo que não esteja de acordo com a Lei, por favor me corrija. - Viu a negra esmorecer. - Eu jamais faria isso com o garoto, a Denise já estava a minha espera na saída da cirurgia, sabendo a gravidade do caso, ela tomou a liberdade de se antecipar e infelizmente, neste quesito, ela está acima de mim.
Brunna: - Amor, diga alguma coisa. - Olhou para a esposa aflita.
Ludmilla: - Não há nada que possamos fazer, não agora. - Suspirou derrotada.
Brunna: - Mais ele precisa de nós, meu Deus, como é que vai receber essa triste notícia sozinho?
Ludmilla: - Se existe alguma responsabilidade emocional com esta criança que acabou de perder a mãe, por favor, nos deixe vê-lo. - Assentiu.
Dr. Casemiro: - Certo, vou conversar com ela e tentar fazê-la entender a delicadeza do assunto, me esperem aqui por favor.
Enquanto o doutor ia em direção a uma salinha do hospital, Ludmilla e Brunna deram um forte abraço e se permitiram chorar, o mesmo acontecia com Nete, Eliana e Nilza, de uma hora pra outra toda aquela magia entre mãe e filho tinha se quebrado, os sorrisos trocados não aconteceriam mais, a alegria do garoto seria tomada por uma tristeza que embora com o tempo cicatrizasse, jamais deixaria de existir, pois ele lutou pela mãe, e da sua maneira a manteve viva com a esperança que ela não o abandonasse.
Dr. Casemiro: - Ludmilla, Brunna, ele está no meu consultório, podem me acompanhar? - Assentiram.
A passos largos os três andaram pelos corredores do hospital até chegarem ao consultório que ambos relutaram em entrar.
Dr. Casemiro: - Ele já sabe, portanto, sejam fortes. - Entraram.
No sofá, ao lado de Denise, Lucas chorava com toda a força que possuía em seu pequeno corpo. O menor não notou a presença do casal, tinha os olhos fechados e a cabeça baixa no meio de suas pernas.
Brunna: - Ei meu amor. - Chamou a atenção de Lucas que correu para abraça-la e se derramar em lágrimas. - Vai ficar tudo bem, estamos aqui...
Ludmilla: - Ei carinha, não chora assim. - Abraçou os dois e por muitos minutos permaneceram assim.
Lucas: - Tia Lud, mamãe foi morar com papai do céu e me deixou aqui. - Falou aos prantos.
Ludmilla: - Ow pequeno, não fica assim, ela descansou de toda a dor que estava sentindo, porque papai do céu não permite que ninguém sofra.
Brunna: - Você se lembra quando rezamos para que ele cuide de toda a nossa família? - Assentiu. - Ele vai cuidar da sua mamãe e deixar ela forte de novo. - Sorriu tentando conforta-lo.
Lucas: - A minha mãe virou um anjo?
Ludimlla: - Sim, e sempre vai estar contigo, te protegendo e vendo seu crescimento.
Lucas: - Mais eu vou sentir saudades dela, eu não quero que ela seja só meu anjo. - Voltou a chorar em desespero.
Brunna: - Ei, me abraça forte, até essa dor amenizar, pode apertar que eu aguento.
Lucas: - Não vai passar tia, não vai passar... - Agarrou em seu corpo.
Ludmilla: - Nós estaremos sempre aqui por você ok? - Beijou sua testa.
Mais alguns minutos confortando o menor e ele tão cansado de seu próprio sofrimento, acabou adormecendo nos braços de Brunna.
Dr. Casemiro: - Meninas, precisamos resolver a papelada de Madalena e deixar Lucas com Denise pois agora ele está sobre tutela do Estado. - Ouviu Ludmilla bufar e deixar o consultório.
A loira o entregou para a Assistente Social e acompanhou a esposa.
Mais tarde, já em casa, Brunna e Ludmilla tentavam descansar, mais o sono era inimigo do cansaço físico e mental que sentiam. Os trigêmeos por fim acabaram ficando com Mirian e Jorge, já que Eliane, Nilza e Nete preferiram ficar com Lucas no hospital.
Ludmilla: - Amor, estou sentindo um vazio tão grande. - Se virou para a amada que chorava silenciosamente.
Brunna: - Eu também, Madalena era uma pessoa muito boa, com certeza merecia uma sorte melhor. - Suspirou.
Ludmilla: - Hoje mais tarde iremos nos despedir dela, alguém que com tão pouco tempo, nos ensinou tanta coisa.
Brunna: - Verdade... Ela foi uma guerreira e criou um lindo homenzinho.
Ludmilla: - Estou tão preocupada com ele. - Sentou-se na cama. - De uma hora pra outra está sozinho no mundo, em um lugar desconhecido, sem mãe, sem nós e tendo que lidar com toda essa dor tendo apenas 7 anos.
Brunna: - Ele é muito esperto e persistente, tenho certeza que vai ser forte, por ele e por tudo que a mãe o ensinou. - Olhou para a negra que parecia inquieta. - Não consigo imaginar o que ele está passando, mais não podemos deixa-lo, agora é o momento em que ele realmente precisa de nós. - Assentiu.
Ludmilla: - Princesa... - Olhou firme em seus olhos e ficou pensativa.
Brunna: - Que foi amor, tem algo que precisa me contar?
Ludmilla: - Madalena me fez prometer que jamais iria desamparar ele.
Brunna: - E tenho certeza que você garantiu a ela que isso sequer passou pela sua cabeça não é mesmo?
Ludmilla: - Não imaginei que ela iria nos deixar, mais prometi que cuidaria dele como um filho.
Brunna: - Um filho?
Ludmilla: - Eu não quero parecer precipitada, tão pouco tomar decisões sem te consultar, mais eu não vou deixa-lo naquele orfanato, a mercê de uma família que pode ou não chegar.
Brunna: - Você só me faz te amar cada vez mais, sendo tão perfeita desse jeito. - Se aproximou da esposa pegando em suas mãos e fitando seus olhos. - Termine o que tem pra dizer.
Ludmilla: - Eu prometi pra Madalena e quero sua ajuda para cumprir minha promessa. - Respirou fundo. - Bru, eu quero adotar o Lucas, por mim ele não passa mais nenhuma noite longe de nós e da nossa família.
Brunna: - Ele não pode mesmo ficar longe, pois já é parte desta família, vai ser o irmão mais velho dos nossos filhos e o nosso bem mais precioso, assim como são Perola, Jasmine e Michael.
Ludmilla: - Isso quer dizer que...
Brunna: - Que sim minha vida, eu apoio sua decisão e embarco contigo nessa aventura. Nós vamos adotar o Lucas!!! - Sorriu largo e selou seus lábios.
Um ciclo se encerrou para que uma nova etapa pudesse dar início na vida do casal Brumilla. Agora elas seriam mãe mais uma vez.
***
Beijosssss
Volteiiiiiiiii...
Comentem senão demoro mais!
Avisem dos erros!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro