
Capítulo 71
Igor guardou o telefone rapidamente antes de ser cercado pelos capangas de Sérgio. Ainda tentou escapar para tentar correr até seu carro, mas eles eram mais fortes e estavam em maior número. A desvantagem era gritante.
Pegaram-no pelo braço com brutalidade e o levaram para uma das partes laterais da casa; um beco pouco iluminado, longe da festa e das pessoas. Régis o empurrou com força contra o muro chapiscado e Igor sentiu sua cabeça rodar, enquanto Sérgio ordenava aos homens que o revistassem.
" Merda."
Sérgio não largou seu cigarro por um só segundo, enquanto os homens apalpavam cada milímetro do corpo do desconhecido. No entanto, nem foi preciso procurar muito. Em um dos bolsos, Régis encontrou algo e imediatamente o entregou. Sérgio olhou e viu a si mesmo. Claro que na foto seu cabelo ainda era escuro, antes de clareá-lo num banheiro público qualquer de beira de estrada. Suspirou, raivoso e jogou o cigarro no chão, pisoteando-o em seguida, antes de chutar a perna do rapaz, que cambaleou.
- Quem é você, imbecil? Você é da polícia? Por que se meteu na minha festa e por que está com uma foto minha? Responde, caralho! - Um novo chute foi desferido contra Igor, que se segurou para não gritar.
Régis e o outro homem o puxaram pela camisa, para que ficasse de frente para eles.
- Calma, cara - Igor disse, as mãos erguidas tremiam. O rosto lívido estava suado e arranhado. - Eu sou só um cliente...
- Cliente uma ova! - Sérgio bradou, furioso. - Eu não vou cair nesse seu papo. Só vou perguntar mais uma vez: por que você estava com uma foto minha?
- Eu já te expliquei, eu sou... um grande fã seu...
Ao contrário do que se podia esperar, a resposta gerou ainda mais raiva e indignação em Sérgio, que não hesitou mais uma vez em usar seus músculos fortes e trabalhados para encher de socos e pontapés o rapaz.
- Eu devo ter cara de otário pra você brincar assim comigo, né, seu filho da mãe? Mas olha só, eu sou um homem ocupado, não tenho tempo pra caras como você. - Olhou para os dois homens. - Régis, Flavinho, cuidem disso. Sumam com o celular dele e podem dar um fim nesse penetra. Tenho certeza de que ele é da polícia. Cuidem de tudo e não deixem pistas.
- Não! - Igor gritava, enquanto era levado pelos capangas. - Eu não sou da polícia, cara! Sou só um cliente.
Não deixava de ser verdade, embora fosse um falso cliente. Mas Sérgio jamais acreditaria, é claro. Embora verdadeiramente desesperado, Igor tentou se manter lúcido, para o seu próprio bem. Só esperava conseguir passar as informações que conseguira naquela noite para Lucas e Ítalo, antes de darem um fim à sua vida.
🍷
ALGUNS MINUTOS ANTES...
- Eu encontrei ele, Lucas. Finalmente.
- Sério? Ah, cara! Que ótimo saber disso. Como conseguiu?
- Me infiltrei em uma das festas dele. Eu já tinha um certo palpite de que poderia ser ele, por causa do nome. Mas até aí poderia ser qualquer um. A foto que vocês me entregaram estava comigo como sempre, e foi só colocar os olhos no cara, que eu percebi que era a mesma pessoa. Ele está um pouco diferente, pintou o cabelo. Mas é ele, tenho certeza. É o Foster.
- E não desconfiaram de você? - Perguntou Lucas.
Houve certa pausa.
- Eu... espero que não. Escuta, Lucas, já já te mando a localização exata do lugar, ok? Minha colaboração nessa investigação de vocês acaba aqui e... - houve um barulho estranho. - Meu Deus, cara... são eles! Eu preciso deslig...
Lucas permaneceu com o telefone no ouvido por cerca de um minuto, embora só ouvisse os bips da ligação encerrada abruptamente e nada mais.
- Ei, tá tudo bem? - Mariana quis saber, ao vê-lo fitar a mesa. - Parece preocupado com algo.
Lucas guardou seu telefone. Mariana não sabia sobre a investigação de Anabella - nem ela, nem ninguém além de Jader, Ítalo e a policial Paula - por isso achou por bem dizer a verdade superficialmente:
- Não, é que... era um cliente. Um caso delicado. Mas não é nada demais.
- Deve ser complicado ser advogado, né? - Ela disse. - Não basta os seus problemas, tem que se preocupar com os dos outros também.
- Nem me fale.
" Espero que o Igor fique bem. "
Era o aniversário de uma das crianças da ONG, uma garotinha recém acolhida, com uma história de vida difícil. A festa da pequena na verdade já havia terminado, mas ao entrar a noite, permaneceram por ali conversando, tomando refrigerantes e comendo salgadinhos.
- Eu fiquei muito feliz por você ter encontrado tempo pra vir comemorar com a gente. Não sabe como isso aqui é importante pra Clarinha. Pra todos nós, na verdade - disse Lucas.
- Eu sempre vou encontrar tempo pra essa ONG, Lucas. Por mais que tenha saído daqui e encontrado trabalho, aqui continua sendo a minha casa, de certa forma. Foi aqui que me acolheram quando eu não tinha pra onde ir. Esse lugar representa muito para mim.
Lucas sorriu, terno. Admirava-a tanto! Mariana mal tinha noção do quão especial e incrível era.
- Eu sei como você se sente, Mari. Embora seja um dos meus locais de trabalho, também me sinto em casa quando estou aqui na ONG. Deve ser a alegria e inocência contagiante dessas crianças que nos faz sentir assim.
Mariana concordava.
- Tem razão. Essas crianças são muito especiais...
Como que para comprovar o que diziam, um dos garotos menores foi correndo até eles e, deixando Mariana pasma, a entregou um belo buquê de flores composto por lírios e girassóis. Ela o pegou nas suas mãos, muda e encantada.
- Meu Deus, que coisa mais linda, Miguel. O - obrigada...
Porém o baixinho explicou:
- Tia Mariana, eu só entreguei. Quem trouxe o buquê está lá fora - e saiu correndo, sem dizer mais nada.
Mariana trocou um olhar confuso com Lucas e, com as flores em mãos, caminhou para a área externa da ONG. Sua surpresa duplicou ao ver Martín ali. Ele segurava Analu no colo e brincava com ela, mas ao vê-la, parou por uns instantes, sorrindo.
- Oi, Mari.
- Oi... Martín.
- Papá! - Analu gritou, ao mesmo tempo em que apertava com certa força as bochechas dele.
Martín riu, porém não quis conferir a reação de Mariana àquilo e foi até Lara, que esperava ali por perto para lhe entregar Analu, que expressava seu contentamento por ver a jovem babá com gritinhos e solavancos em seu próprio corpo.
- Vem aqui, sua sapeca! - Lara a pegou e se afastou.
Martín permaneceu olhando-as por alguns instantes, até se aproximar de Mariana, que estava encostada ao portão. Nenhum dos dois sabia exatamente como agir.
- É um belo buquê - foi ela quem tomou a iniciativa. - Obrigada, eu realmente gostei muito.
- Disse que eu teria que conquistá-la de novo. Você merece muito mais do que isso, Mari, mas eu estou tentando do meu jeito.
Ela sentia suas batidas acelerarem e seu rosto e todo o corpo esquentarem com a aproximação dele. Martín a olhava com aqueles mesmos olhos carinhosos e ternos de sempre. Acima de tudo, a olhava com amor e ela sabia que era verdadeiro. Teve ímpetos de quebrar a barreira de poucos centímetros entre eles e beijá-lo ali mesmo. Dizer que também não suportava mais ficar longe dele e que era capaz de perdoar sua ausência durante todos aqueles meses. Mas afinal de contas de que adiantaria todo o seu esforço em fazê-lo compreender que um relacionamento entre duas pessoas deveria ser levado adiante por ambos?
Martín parecia sentir a inquietação dela.
- Mari...
E então Lucas apareceu atrás de Mariana, andando casualmente como quem não quer nada. Além da curiosidade inevitável, queria certificar-se de que estava tudo bem com ela.
Martín se afastou um pouco e o cumprimentou educadamente. Não era bobo, sabia do interesse do advogado em Mariana e sabia também que ele sempre estivera com ela, principalmente quando ele, Martín, ainda tinha olhos apenas para Anabella. Entretanto, não considerava Lucas como um rival, pois tinha certeza dos sentimentos de Mariana por si.
- Boa noite, Martín - Lucas também o cumprimentou.
Um silêncio constrangedor se instalou entre os três.
- Você quer entrar, Martín? Tem muito salgadinho e refrigerante ainda- convidou Mariana.
- Obrigado, mas não. Eu vim apenas rapidamente para ver você - ele se aproximou e a abraçou forte e demoradamente. - Sinto saudades... - murmurou, contra o ouvido dela.
Mariana o observou partir depois, ainda sentindo em seu corpo o calor que a proximidade dele lhe causara. Lucas se aproximou dela e colocou a mão em seu ombro, de leve. Martín ainda se virou para olhá-la uma última vez, antes de se ir definitivamente.
- Atrapalhei o momento, né?
- Não, não ia acontecer nada - Mariana se virou para ele e a mão de Lucas deslizou pelo seu ombro, com o movimento. Ele sorriu.
- Mari, você se lembra de que te falei uma vez para não permitir que ninguém apagasse essa luz que eu vejo em seus olhos e em seu sorriso?
Ela também sorriu. É claro que se lembrava. Havia sido a coisa mais bonita e gentil que alguém já lhe dissera em toda a sua vida. Assentiu.
- Então. Como seu amigo e como alguém que gosta muito de você, me sinto no direito e também no dever de te dar uns conselhos. Mari, apesar dos seus problemas com Martín, eu percebi que você realmente gosta dele. E olha que não foi fácil admitir isso pra mim mesmo, porque você sabe que eu...
Mariana desviou os olhos e engoliu em seco.
- Bom, isso não importa agora. O que quero dizer, Mari, é que se o Martín te faz feliz, como parece fazer, então fica com ele. Sabe, tem noção de quantas pessoas que se amam e não podem ficar juntas por n motivos? Então se você tem alguém assim especial, aproveita. Lá na frente você pode se arrepender de ter perdido tantos bons momentos com ele.
Ela voltou a olhá-lo e sorrir.
- Você deve ter razão. E sabe do que mais? Eu sou mesmo muito sortuda por ter o melhor amigo do mundo, que se preocupa comigo e me dá os melhores conselhos.
- Que bom que reconhece, e espero que siga todos eles.
Riram juntos.
- Eu vou seguir, pode deixar.
Depois disso, voltaram para o interior da ONG.
🍷
Lucie bateu empolgada na porta do quarto dos pais, esperando ansiosa ouvir um ''entre'' da mãe, que não demorou. Encontravam-se sozinhas em casa naquela noite, pois Liam e Thomas LeBlanc estavam presos em uma reunião na construtora, que se tornaria um jantar para fechar um negócio importante. As duas já haviam feito sua própria refeição e agora, depois do telefonema que havia recebido, Lucie precisava urgentemente falar com a mãe.
- Onde é o incêndio? Que afobação é essa, Lucie? - Margareth tirava os brincos das orelhas para guardá-los em uma caixinha.
- Mãe - Lucie mal cabia em si de tanta empolgação. - Acabaram de me ligar do Grupo dos Missionários...
Lucie teve que se interromper ao ver a mãe fechar a cara diante da menção à organização da qual orgulhosamente fazia parte. Mas aquilo não a abalou.
- E adivinha só... nosso próximo destino será o Brasil! - Ela fez uma pausa para tomar fôlego e exclamar, felicíssima: - O Brasil! Não é maravilhoso??
Margareth suspirou, balançando a cabeça negativamente e fixou os olhos na filha, com seriedade.
- Não, não tem nada, absolutamente nada de maravilhoso nisso, Lucie.
- Como não? - Ela piscou, aturdida. - É um sonho meu, mamãe.
- Sonho! - Margareth desdenhou, caminhando pelo quarto. A camisola de seda se arrastava atrás dela. - Eu não vou nem te falar o que penso sobre esse seu sonho maluco, Lucie. Mas nem se eu estivesse louca permitiria isso.
- Não pode me impedir de viajar! Já sou de maior.
- Enquanto você morar debaixo do meu teto tem que me obedecer. Não quero que viaje para o Brasil.
Lucie agora já não mais exalava aquela euforia de momentos atrás. Seu rosto estava afogueado e seu queixo redondo tremulava, dando indícios de um possível choro.
- Por que não? Por que não o Brasil? Você nunca disse nada quando eu fui para os Estados Unidos, ou para a França, ou para a Inglaterra... e para tantos outros lugares.
- Acredite, deixei você ir, mas com o coração na mão. Sinceramente não foi esse o futuro que sonhei para você. Já não existem tantas ONG's que se ocupam com esse tipo de causa? Você poderia perfeitamente ocupar algum cargo na construtora e ajudar a tocar o negócio da família. Meu coração de mãe se aperta a cada vez que vejo você saindo pela porta da frente com uma mala nas mãos.
- Sua recusa em me deixar ir para o Brasil não tem a ver com cuidado ou zelo, mamãe.
- Ah, não?
- Não! Por que não admite para si mesma que é uma xenofóbica, mamãe???
Margareth a encarou, estava nitidamente brava, mas não reagiu.
- Você é uma preconceituosa!!!
- Não, eu não sou. Meu Deus, eu não consigo entender o que é que se passa nessa sua cabecinha, Lucie. Que idéias mais absurdas você tem. Por acaso aquela moça, a Anabella, tem influenciado você a fazer isso?
- Acabou de provar o que eu disse! A Bella não tem nada a ver com isso, mamãe, deixe ela fora disso. O que acontece é que você não consegue reconhecer que sou uma pessoa com direito à ter os meus próprios sonhos e a fazer aquilo que eu quero fazer e não o que você quer que eu faça. Eu gosto de ajudar, eu gosto de cuidar das pessoas e de tentar fazer com que o mundo seja um lugar melhor para elas. E se você não consegue entender isso, então eu sinto muito por sua alma insensível.
Margareth respirou forte. Sabia que não chegaria à lugar nenhum com aquela discussão, por isso encerrou-a por ali.
- Lucie, eu quero dormir. Sugiro que você faça o mesmo. Amanhã, quando ambas estivermos mais calmas, conversaremos melhor.
Lucie a olhou com desdém.
- Nem parece uma mãe falando com a filha. Quanta formalidade! - ironizou. - Bom, de qualquer forma, eu não vim pedir sua permissão. Eu só vim te avisar que eu vou para o Brasil com o grupo de missionários, em breve.
Exasperada, Margareth se aproximou da filha e segurou seu queixo com força, com ambas as mãos.
- Eu não permito. Está me entendendo? E se você for para aquele lugar contra a minha vontade, não a considerarei mais como minha filha.
Lucie respirou fundo e não desviou os olhos. Mas foi incapaz de impedir que as lágrimas rolassem de seus olhos, escorregando pelo rosto rosado até molharem as mãos de sua mãe.
- Então já pode se desconsiderar minha mãe a partir de agora, porque eu vou.
Retirando as mãos gélidas da mãe de seu rosto, se afastou num impulso e irrompeu pelo quarto, agora chorando audivelmente.
- Lucie Marie LeBlanc, volte aqui agora mesmo! - gritou Margareth, recebendo como resposta apenas o som do estrondo da porta ao ser fechada.
🍷
Igor observava o cano da arma de Régis apontado para ele, durante todo o percurso em direção à sabe-se lá para onde pretendiam o levar. O homem estava sentado ao seu lado, com a mesma cara de poucos amigos de horas atrás e vez ou outra o encarava como se ele fosse um estorvo do qual pretendia se livrar logo e que claramente estava tomando mais do seu tempo do que devia. Não estava amarrado, nem amordaçado, mas Igor sabia que um único movimento em falso e seu sangue espirraria contra o vidro da janela do carro aonde estavam. Afinal, o trabalho que teriam para limpar tudo não seria maior do que o que teriam para sumir com seu corpo, já que de qualquer forma o executariam, segundo as ordens de Sérgio.
O segundo capanga de aparência jovem a quem Sérgio havia chamado de Flavinho, dirigia o velho Ford e Igor viu que ele também portava uma arma. Então era isso. The end. Não havia o que fazer e ele começou a imaginar se realmente valeria a pena perder a vida em prol de uma investigação para uma moça que sequer vira alguma vez em sua vida. Na verdade fazia aquilo apenas por consideração à Lucas, por quem tinha grande apreço e ao qual devia muitos favores. Se pelo menos houvesse alguma forma de se safar daquela enrascada...
O interior do carro então foi preenchido pelo som ininterrupto do toque do celular de Régis, que retirou o aparelho do bolso de imediato. Igor notou como ele pareceu ponderar entre atender e não atender a ligação, ao ver quem o ligava. Por fim, decidiu atender, mas não deixou de apontar o revólver para seu refém.
- " Alô? " - Igor inevitavelmente o ouvia falar, com aquela voz grave e sisuda. - " Pode falar. " " Não, querida. Estou em serviço. " " Sim, é importante. " " Não, não posso. Você tem que entender que eu estou ocupado. "
Régis suspirou fortemente e sua tez franzida agora demonstrava preocupação. Por um momento, a mão que segurava a arma se abaixou em um descuido, mas ao se dar conta, logo voltou a apontá-la.
- " Não pode resolver isso sozinha? " - Neste momento, os outros dois homens puderam ouvir parcialmente a pessoa que conversava com Régis gritar com ele. A voz parecia esganiçada e falava com certa impaciência e nervosismo. - " Está bem, está bem! " " É tão grave assim? " " Ok, vou dar um jeito. "
O rapaz que dirigia olhou para trás rapidamente, arqueando as sobrancelhas, pois também ouvira tudo e obviamente percebera havia algo de errado acontecendo com seu parceiro.
- Qual foi, Régis?
O homem parecia de fato frustrado e irritado após o telefonema, além de preocupado.
- Minha mulher - respondeu. - Problemas em casa. Para o carro, por favor.
- Cara, a gente tá no meio de um serviço - Flávio disse.
- Eu sei. Mas para o carro.
- Régis, se o Sérgio descobrir que não fizemos o que foi mandado, ele acaba com a gente.
- Eu sei, caramba! Agora para a porra do carro!!!
O grito de Régis emudeceu o rapaz, que apenas obedeceu e encostou o carro à beira da estrada de terra por onde passavam.
Uma filete de suor brotava da testa de Régis e ele o limpou com as costas das mãos. Imponente, ordenou que os outros dois saíssem do carro, fazendo o mesmo logo em seguida. Igor se manteve quieto, sob a mira do revólver do mais velho. A estrada de terra era escura à noite, mas a lua conferia certa claridade, ainda que pouca.
- É o seguinte - Régis disse, dirigindo-se à seu comparsa. - Eu realmente preciso voltar para a cidade. Estou com um problema sério em casa.
- Cara, mas e...
- Por isso - ele continuou. - Vou deixar o penetra aos seus cuidados. Entendeu bem? O serviço será feito. Por você.
- Eu juro que não vou dizer nada à ninguém, eu sou apenas um cliente. Vocês estão entendendo tudo errado... - apelou Igor . Não conseguia ficar ali ouvindo dois homens decidirem o fim de sua vida e não fazer nada. A angústia o consumia e até começou a sentir certo medo.
- Você, cala a boca! Ninguém mandou se meter onde não devia - disse Régis, claramente sem paciência. - E você, entendeu bem? - Dirigiu-se novamente ao capanga mais jovem.
- Entendi sim, senhor.
- Ótimo. Obviamente, vou precisar do carro para voltar para a cidade. Mais tarde, quando tiver terminado tudo, me ligue e eu darei um jeito de vir te buscar. Seja cuidadoso.
Depois de dizer isto o homem voltou para o carro, dessa vez ocupando o lugar ao volante. Igor ouviu o ronco do motor do carro ao ser ligado novamente, viu os faróis iluminando o chão de terra e logo em seguida o velho Ford deu meia volta, sumindo estrada à fora.
- Andando! - Igor sentiu-se ser empurrado pelo rapaz, de forma inesperada e bruta. - Se eu fosse você eu facilitaria as coisas. Eu também tenho casa e quero voltar logo para ela!
" Foda-se. " Pensou Igor, já quase saturado de tudo aquilo. Mas não disse nada. Apenas continuou andando, vez ou outra tropeçando em alguma pedra ou galho no meio da estrada.
Achava injusto que ele, que trabalhava de forma honesta, acabasse daquela forma, nas mãos de homens que ganhavam a vida por causa dos crimes que cometiam e das coisas ilegais que faziam. Começou a se perguntar quantas pessoas afinal de contas não haviam morrido da mesma forma. Afinal, tratava-se do Brasil. Do mundo! Era injusto e não conseguia ver sentido nenhum nisso. Certamente não valeria a pena morrer em prol de uma investigação. Não mesmo.
Igor tropeçou mais uma vez e quase foi ao chão, por causa do cadarço direito, que se desamarrara.
- Seja rápido! - O capanga gritou, quando ele pediu permissão para amarrar novamente o cadarço.
Igor se abaixou. Seu coração de repente batia mais forte, lhe dizendo que ele tinha sim uma chance de sair daquela situação de desvantagem. Respirou fundo enquanto lentamente refazia o nó. Precisava manter a calma e o autocontrole. E então, usando de táticas aprendidas há muito tempo, girou o corpo em um só movimento, ainda abaixado. Seu pé direito chocou-se contra o calcanhar do bandido que, surpreendido pelo golpe inesperado, foi ao chão. Depois de bem sucedida a rasteira, sem perder tempo, Igor desnorteou o rapaz com um soco no rosto, imediatamente procurando tomar-lhe a arma que antes empunhava.
Em questão de segundos era ele quem detinha o controle da situação. Imobilizando o rapaz no chão com ambas as pernas e desfrutando da vantagem de ser mais rápido, apontou a arma para a fronte deste, que ergueu as mãos tanto quanto podia naquele estado.
- Por favor, me mata.
Igor franziu a testa, confuso diante do estranho pedido.
- Como é que é??
- Me mata agora. Se o Sérgio descobrir que não consegui cumprir a ordem dele, e não dei um fim em você, ele é quem vai me matar. E eu sei que ele pode ser muito cruel.
Igor hesitou, diante do homem imobilizado no chão, abaixo de seu corpo. Por um segundo teve pena. Mas após refletir por alguns instantes, disse:
- Eu não sou como o Sérgio, não sou como vocês. Não sou um assassino.
Conseguiu ver o pânico no rosto do rapaz, antes de desferir mais alguns socos em seu rosto, até deixá-lo desacordado.
Igor se levantou, depois de se certificar que o homem de fato havia apagado. Então, arrastou o corpo para que não ficasse no meio da estrada.
- Você que se vire com o Sérgio, quando acordar - murmurou, antes de começar a andar, de volta para a cidade. Precisava urgentemente de um celular. Haviam informações importantes a serem passadas.
🍷
No dia seguinte, Liam estava novamente reunido com alguns arquitetos, em uma longa e extenuante reunião. Dessa vez, o pai havia viajado, para cuidar de outros negócios da construtora.
Já havia bocejado dezenas de vezes naquela tarde. Vez ou outra aproveitava para fechar os olhos, enquanto fingia escutar os demais arquitetos e engenheiros. Sua mente voava com facilidade para a noite dentro da casinha de madeira. Não havia sequer uma única noite que não sonhava com cada detalhe do que havia acontecido ali, talvez pelo fato de que passava o dia se lembrando e revivendo em sua mente os pormenores. Cada beijo, cada toque... O corpo suado de Anabella contra o seu, ora em cima, ora em baixo, o rosto dela entorpecido pelo prazer que sentia e as mãos que constantemente se entrelaçavam, em meio à toda aquela loucura que faziam e sentiam.
Se tinha alguma certeza na sua vida, essa certeza era a de que queria muito mais daquilo. Não só do ato em si, mas dela. De seu coração cujas barreiras sabia que poderia pouco a pouco romper. De sua mente inteligente e perspicaz. E de sua alma nobre, que apenas os desprovidos de sensibilidade não conseguiriam enxergar.
- ... senhor LeBlanc? Liam??
Ele abriu os olhos, voltando à realidade do momento presente.
- Ahn?
- Seu telefone.
Liam então percebeu o aparelho vibrando em cima da mesa. A foto da mãe na tela chamou-lhe a atenção. Ela nunca o ligava, sabendo que estava em reunião. Jamais permitiria que nada, nem mesmo ela própria, atrapalhasse seu trabalho. Era melhor atender.
Pedindo licença aos demais, afastou-se um pouco, empurrando com os pés a cadeira giratória por alguns centímetros, atendendo a ligação.
- Mãe?
- Liam! Filho!!! - a voz era de completo e evidente desespero.
- O que foi, mãe?
- A Lucie...!
- Ahn? Mãe? Se acalma. O que tem a Lucie??
Margareth pareceu controlar-se para poder falar com clareza:
- A Lucie deixou uma carta de despedida. Ela fugiu para o Brasil!
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Olha eu aqui de novo rsrs
No próximo capítulo temos uma surpresa. Boa ou ruim? Não sei! 😌
Até lá! Beijocas!
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