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Capítulo 65

               
Doralice abriu os olhos devagar, aos poucos situando-se do lugar onde estava. Piscou os olhos, quase voltando a fechá-los, pois alguns raios de sol entravam pela pequena brecha entre as cortinas da janela.

Um guarda roupas branco embutido na parede ao seu lado estava entreaberto e pôde ver um pedaço de um vestido verde claro.

O quarto de Rafaela.

Como que para comprovar esse fato, ouviu um bom dia ser sussurrado em seu ouvido e se virou.

Rafaela vestia um short jeans curto e uma regata branca. Tinha o cabelo preso no alto da cabeça por um rabo de cavalo e estava de rosto lavado.

Doralice retribuiu o bom dia, lembrando-se da noite e madrugada que passaram juntas, sentindo seu rosto esquentar.

- Nossa, mas você... acordou que horas? Já está toda... – gesticulou, apontando para o rosto e roupas dela. – Toda assim.

- Eu confesso que acordei um pouquinho antes de você, sim. Quis preparar o café da manhã pra minha namoradinha linda – Rafaela a beijou no rosto e lábios repetidas vezes. – Afinal, é a nossa primeira manhã juntas e eu quero que seja especial.

- Para de me beijar porque eu acabei de acordar e...

- E está maravilhosa, como sempre.

Doralice sorriu para ela, sem acreditar no quão incrível ela era.

- Ah, Rafaela, você não existe...

Esta, balançou a cabeça rindo, tomando aquilo como um elogio.

- Mas e aí? Cadê esse café da manhã?

- Está posto lá na mesa.

- Ah, não é na cama?

- Não. Na cama – Rafaela se levantou e pegou uma garrafa de vinho e duas pequenas taças que estavam sobre o móvel ao lado da cama, as quais Doralice não havia notado ainda. – A gente vai brindar. Lembra que eu disse ontem que iríamos brindar à nós? Então, ficamos tão envolvidas que esquecemos do brinde.

Doralice concordou, vendo ela despejar o líquido vermelho em sua taça.

- Vinho assim de manhã? Inusitado.

- Não se acostume.

- Então... – Doralice estendeu sua taça, em direção à dela. – À nós?

- À nós e à toda a felicidade que ainda vamos viver juntas.

Após brindarem, Rafaela pôs as taças e a garrafa no chão ao lado da cama e derrubou Doralice no colchão, apenas para cubrí-la de beijos.

E o café da manhã na mesa teve que esperar um pouco mais.





                                   🍷

Susan e Laerte retornaram à São Bento do Amaral naquela manhã, após muitos dias de praia e diversão em Fernando de Noronha.

O ex contador a convidou para conhecer sua loja de estofados, antes mesmo de levá-la em casa. Susan concordou, pois não via a necessidade de descansar, uma vez que o que bem havia feito nos últimos dias fora descansar.

A loja, localizada no centro da cidade, era grande e dividida em dois andares; sendo o primeiro para exposição e venda dos estofados, com um cômodo espaçoso nos fundos que servia como uma espécie de depósito. No segundo andar, Laerte instalara seu novo escritório, onde recebia clientes se fosse necessário e também onde passava boa parte do tempo resolvendo a maioria dos assuntos da empresa recém montada.

Susan foi apresentada aos funcionários e Laerte fez questão de que ela conhecesse toda a loja. Até recebeu uma breve aula sobre os nomes que os diversos tipos de estofados recebiam, como o divã, o sofá com chaise, o sofá de canto retrátil, e o récamier.

- Com exceção do divã, que sei diferenciar, pra mim tudo isso aqui são sofás – Susan disse, o que fez Laerte rir.

- Com o tempo você aprende a diferença entre eles. Isto aqui, por exemplo – ele apontou, quando pararam diante de um móvel. – O que você diria que é?

Susan olhou e respondeu sem pestanejar:

- Uma poltrona, é claro.

- Sim. Mas esta é uma poltrona egg. Ela se difere das outras porque possui esse design que se assemelha à uma casca de ovo. Normalmente, é muito usada em escritórios e salas de estar.

Susan ergueu a sobrancelha.

- Já esta aqui – continuou Laerte. – É a poltrona tulipa. Obviamente, ela recebe esse nome porque seu formato parece muito com a da flor tulipa.

- Interessante. – Susan sorriu.

- Vem, vamos conhecer meu escritório.

Ao subirem, Laerte pediu que uma de suas funcionárias lhes trouxessem café.

- É bom ver que você deu a volta por cima, depois de ter sido demitido da Vinícola.

Laerte assentiu.

- Eu costumo dizer que você tem que aproveitar as chances que a vida te dá. Eu poderia só gastar o dinheiro que ganhei ao ser demitido e ficar me lamentando por não mais trabalhar numa empresa de alto nível como a Vinícola Montenegro, ou pegar esse dinheiro e investir em algo realmente promissor.

- Fez a melhor escolha, com certeza. – Susan olhou em volta, para o escritório bem organizado e voltou seu olhar para Laerte. – Está tendo um bom retorno mensal?

Laerte coçou a cabeça.

- A verdade é que eu tive que investir tudo o que recebi ao ser demitido para começar o negócio. Embora o mercado de estofados seja bastante procurado, eu só vou ter um melhor retorno pessoal quando tudo estiver bem alicerçado. Afinal, os gastos com os fornecedores e com os funcionários nunca vão acabar, mas dentro de alguns meses, quando completar um ano da abertura da loja, eu sei que tudo vai começar a entrar nos eixos.

Susan pôs a mão na testa.

- E você gastando dinheiro comigo, Laerte!

- Ah, imagina. Nós dois precisávamos dessas férias. E eu jamais vou me arrepender de ter gastado o que gastei. – Ele pôs a mão sobre a dela. – Você não é gasto, Susan. É investimento.

Ela revirou os olhos, mas sorriu.

- Susan – ele a olhou com firmeza. – Venha trabalhar comigo.

- O quê?

- Venha trabalhar comigo aqui. Eu ia adorar ter alguém que entende de negócios como você, trabalhando ao meu lado.

Susan tinha a testa franzida.

- Eu nunca vendi estofados.

- Quê isso! Você aprende rápido. Quem vende vinhos, vende estofados. Você poderia vender qualquer coisa se quisesse.

Susan puxou a mão e se recostou sobre a cadeira.

- Eu ainda sou funcionária na Vinícola. Não me demiti de lá.

- Mas você é feliz por trabalhar lá?

Susan desviou o olhar. Lembranças de um passado recente lhe vieram à mente.

- Na verdade, já faz algum tempo que não sinto alegria genuína por trabalhar naquele lugar. Deu tudo muito errado pra mim naquela Vinícola. As coisas não aconteceram como eu esperava.

- Como assim? – Laerte perguntou.

- Eu tinha alguns... planos pessoais que não deram certo – ela murmurou.

- Planos com o Vicente?

Susan o encarou, ligeiramente desconcertada.

- Ahn, me desculpe – Laerte soou arrependido. – Eu não queria insinuar nada...

- Tudo bem – ela suspirou. – De qualquer forma, isto pertence ao passado.

- É claro. Me desculpa mesmo por ter falado demais. – Laerte se arriscou a pousar novamente sua mão sobre a de Susan. – O que me diz sobre vir trabalhar comigo?

- Preciso pensar no assunto. Ainda tenho que ir até a Vinícola e ver como vai ficar a minha situação. Ouvi boatos de que elegeram um novo presidente. Preciso saber quem é e o modo como trabalha.

Ela parou para pensar um pouco.

- Talvez eu já esteja demitida e não estou sabendo. Mas vou lá mesmo assim.

- Bom – Laerte se levantou, ao acompanhá-la para fora do escritório. – Pelo sim, pelo não, eu desejo boa sorte à você, Susan.

- Obrigada, Laerte. E obrigada... por esses dias incríveis. Foi maravilhoso. – Ela se voltou para deixar um beijo na face dele e então, desceu a escada.





                                 🍷

Havia se passado apenas um mês e alguns dias, mas Susan sentia como se não pisasse ali há um ano. Era a mesma Vinícola de sempre, mas ao mesmo tempo, parecia mudada.

É claro que estava mudada. Vicente não estava mais lá. Estava morto.

Tudo lhe parecia tão estranho agora, depois de ter estado fora por um tempo.

Passou pelos novos guardas, contratados após a prisão dos antigos, que eram comprovadamente comparsas de Vicente e Sérgio.
Perguntou à um dos funcionários se dona Eleanor estava na Vinícola e intimamente, respirou aliviada, ao obter uma resposta negativa. Mesmo depois de já ter estado frente à frente com a distinta senhora Montenegro, não tinha certeza se queria se deparar com ela, outra vez.

Caminhou pelos corredores e salas, em direção à antiga sala de Vicente que agora, pertencia ao novo presidente. Fosse ele quem fosse.

Mariana observou-a, ao chegar na sala que antecedia a de Martín.

- Susan?

- Bom dia, Mariana. Me desculpe por ter vindo sem avisar. Mas bom, de qualquer forma, eu trabalho aqui, né?

- Sim, claro. Imagina. Eu vou avisar ao Martín que você está aqui. Afinal, precisam conversar.

Susan se pôs atenta.

- Vai avisar ao Martín? Posso saber por quê?

Mariana estava com o telefone a meio caminho do ouvido.

- Porque ele é o novo presidente.

Susan abriu a boca, não podendo disfarçar sua surpresa.

- O Martín...

Mariana manteve os olhos nela, e os ouvidos atentos ao telefone. Assentiu.

- Sim, ele mesmo. Ah, ele vai te receber. Pode entrar.

- Obrigada... – Susan murmurou, ainda estarrecida.

Empurrou a porta de vidro jateado e Martín levantou a cabeça para olhá-la.

- Susan! Olá! Pode entrar. Feche a porta, por favor.

- Claro – ela assim o fez.

Sua cabeça dava voltas e mais voltas.

Martín. Presidente.

Ela se sentou, conforme ele pediu. Martín lhe abriu um sorriso.

- Então, Susan. Você deve estar surpresa, não é? Quando você saiu de férias as coisas estavam bem diferentes por aqui.

- Estou, sim. Nem imagina o quanto. Quer dizer... você é o novo presidente agora! Isso... – ela o olhou, com um brilho de admiração nos olhos inteligentes. – Uau! Quem diria! Você entrou aqui como um mero funcionário e agora...

Susan observou os ombros largos, cobertos pelo bonito paletó cinza e mal se deu conta de que mordia o lábio inferior.

- Pois é – Martín sorriu, alheio aos pensamentos da mulher à sua frente. – A vida e as voltas que ela dá.

" E que voltas, meu querido. " Susan pensou.

Sentia uma certa satisfação pessoal, naquele momento. Talvez seus planos ainda pudessem dar certo. Sim, quem sabe seu tempo ali naquela Vinícola ainda não tivesse terminado? Tudo era possível. E ela via sua nova chance bem ali, em sua frente.

Empertigou o corpo todo para a frente e estendeu a mão.

- Hum... isso merece um parabéns bem dado – disse, sorrindo.

Martín também estendeu a mão e então, Susan estagnou.

A mão de Martín ficou no ar, estendida, mas Susan só conseguia olhar para a aliança em seu dedo.

Então...

Martín se deu conta do que ela olhava e sorriu ainda mais.

- Você... – ela começou.

- Estou noivo. Eu e a Mari, estamos noivos. Vamos nos casar!

Susan engoliu em seco. Sentia a mesma vergonha que havia sentido ao dar em cima dele no intuito de descobrir os segredos de Vicente, meses atrás.

Deus! Onde estava com a cabeça? O rapaz estava noivo e ia se casar!

" Não, Susan. Você não pode fazer isso de novo. Já se machucou o suficiente nessa história de querer tomar o lugar de outra pessoa. "

- Susan?

A voz dele a despertou de seus pensamentos e então, sacudiu a cabeça, finalmente concretizando o aperto de mãos.

- Ah, sim. Parabéns pela promoção e... parabéns pelo noivado.

- Obrigada, Susan – Martín se acomodou novamente em sua cadeira ao terminarem o aperto de mãos. – E então? Vamos discutir sua situação aqui na Vinícola? Aos poucos estamos fazendo algumas mudanças necessárias, mas com certeza valorizamos profissionais excelentes, como você. Por isso, se ainda quiser...

- Não – ela nem precisou pensar. – Agradeço muito, mas eu vim apenas pedir a minha demissão.






                                🍷

Anabella secretamente se perguntava o quão má ela conseguia ser, por se sentir irritada com a insistência de Oliver e Nancy para que comparecessem ao almoço na residência dos LeBlanc. Quer dizer, ela tinha que ser muito malvada para ficar irritada com um casal de velhinhos tão fofinhos quanto aquele.

Enquanto Oliver dirigia, e as ruas e avenidas de Vancouver passavam por eles, ela, sentada no banco de trás, pensava que, naquele momento, apenas gostaria de estar no quarto de Rosalie, onde agora dormia, resolvendo seus assuntos pessoais, como o da faculdade... e outros.

Mas infelizmente, tinha que atender ao pedido da família LeBlanc, que queriam porque queriam conhecer a antiga amiga de Rosalie.

Suspirou e procurou não demonstrar seu descontentamento.

" Tudo por você, Rosalie. "

Mas, intimamente, sabia que aquele não era o único motivo pelo qual iria àquele almoço. No fundo, iria porque tinha curiosidade sobre alguém.







                                  🍷

Anabella raramente se deixava impressionar, mas teve que admitir para si mesma que a casa da família LeBlanc era espetacularmente linda. E grande.

Às vezes achava um exagero o tamanho da propriedade onde sua família morava no Espírito Santo, mas agora via que, se comparada àquele lugar, sua imensa casa no Brasil poderia ser considerada normal.

Uma verdadeira mansão.

Foi inevitável ver-se passeando os olhos pela bela fachada branca, com janelas imensas que, do lado de fora, pareciam ser ainda mais majestosas do que deveriam ser do lado de dentro. O jardim parecia impecavelmente bem cuidado e florido.

Embora fosse completamente bela e de aparência moderna, a casa tinha um quê de antiga e alguns dos cômodos – e móveis – até pareciam pertencer à uma década que não era aquela. Uma mistura de luxo moderno com arquitetura antiga.

Anabella percebeu que, apesar de extremamente rica e imponente, o charme da casa era apaixonante e ela se sentiu imediatamente bem ali.

- Bem vindos! – ouviu uma voz vir ao encontro deles, depois de um empregado os ter recebido na sala de estar.

Anabella viu uma mulher de meia idade, elegantemente bem vestida e com a pele do rosto claramente modificada por procedimentos estéticos. O marido estava logo ao lado dela e ele parecia muito uma versão mais velha – embora um tanto quanto bem conservada – de Liam.

Oliver e Nancy os cumprimentaram primeiro e após isso, apresentaram-na ao casal.

- Então esta é Anabella Montenegro. É um prazer finalmente conhecê-la – o senhor LeBlanc, que se chamava Thomas, disse, ao cumprimentá-la.

- O prazer é meu – Anabella disse.

Depois de ter conhecido Liam no cemitério naquela tarde, teve, na volta para casa, um breve resumo sobre sua família. Tudo o que sabia era que a LeBlanc era uma família de arquitetos, cuja profissão foi passada de geração para geração, ao longo dos anos. Boa parte dos muitos edifícios e construções em Vancouver foram projetados pelo avô e pelo pai de Liam e, agora, seguindo os passos de seus antepassados, ele ia, aos poucos, deixando sua marca pela cidade também.

Aos vinte e seis anos de idade, Liam já era responsável pela idealização de metade dos projetos da construtora da família, negócio que, futuramente, iria herdar.

Entretanto, Margareth e Thomas LeBlanc não tinham apenas Liam como filho; havia a caçula, Lucie, de quem Anabella havia ouvido falar só brevemente.

E foi ela quem adentrou pela sala, vindo de algum cômodo da mansão e trazendo consigo um frescor inebriante e uma alegria contrastante com a seriedade e formalidade que seus pais exalavam.

- Bom dia, Oliver! Bom dia, Nancy! – Ela correu para abraçar o casal. – Que bom que vieram almoçar com a gente, eu estava com muitas saudades!

Então ela parou diante de Anabella e sorriu.

- Oi. Meu nome é Lucie LeBlanc.

Anabella ia apertar a mão dela, mas a garota a abraçou, repentinamente. O abraço foi demorado e caloroso, e Anabella sentiu algo queimar dentro de si, porque tudo naquela moça – até o nome – lhe lembrava Ana Lúcia.

- Oi... Lucie. Eu sou a Anabella.

- Anabella! Posso te chamar de Bella?

- É meu apelido – Anabella deu de ombros.

- Não se espante com o nosso pequeno furacão chamado Lucie – disse o pai, puxando a garota para si. – Ela é assim mesmo: incansavelmente alegre.

- Um tanto quanto efusiva e impulsiva, você quer dizer, né, Thomas? – disse Margareth, a mãe.

Parecia reprovar, ainda que discretamente, o comportamento da filha mais nova.

Lucie pareceu um pouco incomodada com a fala de sua mãe. Mas não refutou. Apenas convidou Anabella para se sentar com ela, num dos sofás de canto da imensa sala, um pouco longe dos “adultos”.

Anabella surpreendeu a si mesma procurando por Liam e não entendeu a pontada de decepção que sentiu, ao não vê-lo em lugar nenhum.

Como já era de se esperar, Lucie desatou a tagarelar.

- Eu sei que também já sou adulta, mas para minha mãe, meus vinte e quatro anos não significam absolutamente nada, acredita? E olha que sou, digamos, um pouco vivida. Tenho uma certa experiência com a vida.

- É mesmo?

- Sim, mas não qualquer tipo de experiência. É que eu... viajo muito.

- Isso... parece legal – Anabella disse. – Se você tem muito dinheiro, por que não gastá-lo em viagens, não é? Cada um aproveita a vida como pode e como quer.

Lucie olhou-a por um momento, serena.

- É, eu não discordo de você. Mas não é porque minha família tem dinheiro, que eu viajo. Ninguém te contou?

- O quê?

- Eu sou voluntária. Viajo com uma ONG de missionários que cuidam de pessoas dos mais diversos tipos, ao redor do mundo.

Anabella sentiu um aperto repentino no coração e percebeu que seu peito subia e descia, em disparada.
Ouviu a risada e a voz suave de Lucie como se fosse um fundo musical no meio de seus pensamentos:

- Mas é claro que não te contaram! Minha mãe detesta o tipo de vida que eu escolhi levar. Ela não se conforma que eu não tenha me interessado pela arquitetura como meu irmão e todo o resto da minha família. Mas o que posso fazer, se ela odeia o que eu mais amo, que é ajudar as pessoas?

Anabella sentiu que um nó se formava em sua garganta. Parecia que Ana Lúcia se materializara bem ali, na sua frente. Como era possível que duas pessoas que sequer haviam se conhecido na vida pudessem ser tão parecidas? Era absolutamente chocante e... maravilhoso.

- Como é, Lucie? Já está atazanando as visitas com sua falação?

Anabella procurou secar os olhos rapidamente e estabilizar suas emoções, ao ouvir a voz de Liam.

Lucie pulou do sofá, para abraçar o irmão.

- Ahhh, Liam! Você é o único que me entende nesta casa – ela disse, contra o peito dele.

- Ainda estou tentando – Liam cochichou para Anabella, embora Lucie tenha ouvido perfeitamente.

Anabella riu, e abaixou os olhos.

Logo, voltou a ergue-los, só para observar os dois irmãos.

Liam era alto e forte, enquanto Lucie era baixinha e magra. Mas não deixavam de ser parecidos, principalmente no tom de pele e o loiro do cabelo, embora o de Lucie pendesse para o castanho claro. Os olhos eram idênticos e as vozes possuíam a mesma sonoridade suave e reconfortante.

Anabella ainda estava espantada com o quanto a garota se parecia com sua irmã, e vê-la falar abertamente sobre seu trabalho na ONG em cada país, fez com que essa constatação aumentasse. Era como se pudesse ouvir a própria Ana Lúcia falar sobre como gostava de ajudar as pessoas e do quanto isso lhe fazia bem.

- Você é brasileira, não é? – disse Lucie, em determinado momento. – Meu sonho é conhecer o Brasil. Quem sabe morar...

- Que a nossa mãe não te ouça falar isso – Liam falou, olhando para o outro lado da sala, com o braço sobre o ombro da irmã.

- Ela ainda vai me ouvir muito falar disso – Lucie disse, embravecida. – Eu não posso desistir dos meus sonhos só porquê a mamãe é contra, Liam. O que acha, Bella?

Anabella se achava a pior pessoa para dar conselhos, mas disse o que pensava:

- Eu jamais desistiria de algo, só por que outras pessoas não gostam. Eu seguiria em frente, independente de qualquer coisa.

Lucie a fitou com verdadeira admiração.

- Você é tão corajosa, Bella. Sua família deve ter orgulho de você...

Anabella sacudiu minimamente a cabeça.

- Eu não tenho tanta certeza disso...

Liam a observou falar. Apesar de ser mais nova do que ele e até mesmo mais nova do que Lucie, ela esbanjava uma maturidade sóbria e às vezes, um tanto quanto sombria. Parecia ter vivido mais coisas do que teria coragem de contar. Anabella Montenegro o intrigava; não só pelo fato de que havia sido uma amiga que Rosalie tivera e que não conhecera em seu passado, mas por que parecia guardar consigo as mais altas complexidades e os segredos mais ocultos, por trás daqueles belos olhos sérios e perscrutadores.

Em meio à tagarelice de Lucie, Anabella percebeu o olhar de Liam sobre si. Como se não bastasse todos os problemas que havia em sua vida, agora teria também que lidar com aqueles olhos? Anabella sustentou o olhar por um minuto, mas Liam não parecia disposto a desistir, diferente da tarde no cemitério, quando mal havia olhado para ela.

Incomodada com aquela situação, Anabella resolveu voltar sua atenção unicamente para Lucie. Liam LeBlanc não era problema seu, nem precisava ser.








                               🍷

Virgínia observava com evidente ar de tédio a afobação que se espalhava pelo campus da faculdade, naquela manhã.
A formatura se aproximava e os preparativos para a graduação deixava os universitários mais elétricos e empolgados.

- Ei, Virgínia! Não quer ajudar a gente? – Uma colega de turma passou por ela.

- Não, eu passei por – Virgínia fez um sinal impaciente com a mão, dispensando a garota.

- Nossa. Mas que mau humor – alguém sentou do seu lado. Outro colega de turma.

- Eu já fiz a minha parte, que foi estudar todos esses anos, com esses... – ela suspirou. – Com essas pessoas.

O rapaz riu-se interiormente. No fundo, não discordava da colega.

Percebeu que ela parecia pensativa.

- Um milhão de dólares pelos seus pensamentos.

Virgínia o olhou com desdém e riu.

- Dólares? Você não tem nem onde cair morto.

O rapaz não pareceu se ofender.

- Pelo semblante sério, achei que pensasse em algo realmente importante. Mas parece que me enganei.

- E por que se importa tanto com o que eu penso? – Virgínia começava a se incomodar.

- Na verdade, não me importo. Acho que só estou entediado, como você. Mas tudo bem, vou deixar você em paz.

O rapaz se acomodou no banco, cruzou os braços e pôs o boné sobre o rosto, para protegê-lo do sol.

Passaram-se alguns minutos de silêncio entre eles, até Virgínia dizer:

- Meus pensamentos sérios são sobre vingança.

O rapaz nem se mexeu.

- E eu não sei até que ponto quero tanto isso. Mas a cada dia que passa, tenho essa... essa vontade de me vingar de todos que me fizeram mal, um dia. Especialmente três pessoas.

O rosto de Eleanor, Anabella e Sérgio estavam cravados em sua mente, enquanto dizia isso.

- Tenho medo de me arrepender, porque talvez, no final das contas, essa vingança não valha a pena.

O rapaz tirou o boné do rosto e se voltou para ela.

- Por que não? Se vai te fazer bem, por que não se vingar? As pessoas estão constantemente fazendo mal umas às outras e muitas vezes, permanecem impunes de seus atos. Se você quer um conselho, Virgínia, o meu conselho é: vingue-se.

Ela o olhava espantada e com o coração acelerado pelo efeito que aquelas palavras causaram dentro de si.

- Nossa! Pensei que você faria um discurso moralista para tentar me impedir. Mas... – ela o olhou melhor, arqueando a sobrancelha. – Vejo que me enganei.

- Você não me conhece – ele sorriu.

- Mas já gostei de você.

Virgínia sentiu que não podia deixar aquela oportunidade escapar. Ele era perfeito para o que precisava.

- Está a fim de ganhar muito, mas muito dinheiro?

- Tô a fim toda hora.

- Ótimo! Se me ajudar com a minha vingança, terá todo o dinheiro de que precisa. Muito mais do que sequer já sonhou ter na vida.

O rapaz se virou totalmente para ela.

- Isso sim é uma conversa. O que eu preciso fazer?

Virgínia sorriu. E começou a falar.



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