Capítulo 43
Anabella dirigiu da faculdade até a Vinícola com um só pensamento: o alçapão.
Ela não havia visto, mas Martín sim e ela acreditava que ele não havia se enganado.
O que tinha depois do alçapão? Mais caixas, possivelmente?
Anabella não queria perder tempo pensando no que poderia ter ou não, mas era inevitável. Sua mente não conseguia descansar.
Queria ver com os próprios olhos, por mais que isso a assustasse, de certa forma.
Assim sendo, a primeira coisa que fez ao chegar, depois de estacionar o carro, foi falar com os seguranças.
Ela caminhou até eles com a mesma confiança de sempre e exigiu novamente que a entregassem a chave do prédio.
Precisava descobrir o que tinha debaixo do alçapão e seria hoje.
-Sentimos muito, senhorita.- Responderam.- Mas temos ordens específicas do patrão de não entregar a chave para ninguém, em nenhuma circunstância.
Anabella os encarou, incrédula.
Diante do ar sério e pouco aberto a diálogo dos dois homens, e sabendo que não adiantaria insistir, ela suspirou e marchou irritada para o prédio da administração.
🍷
Susan a recebeu com um sorriso no rosto, em sua sala.
-Não força, Susan. Eu não sou sua amiga e nem vim papear com você. Vim te perguntar uma coisa.
-Então senta aí.- Susan indicou a cadeira para ela, fechou a porta e também foi se sentar atrás de sua mesa.
-O que quer perguntar?
-Eu quero saber o que você já descobriu, desde que voltou a trabalhar aqui.
Susan entendeu sobre o que Anabella estava falando.
-Bom, não muita coisa. Eu escutei a sua amiga falando sobre os seguranças terem levado umas caixas para o prédio novo e fui conferir nas câmeras de segurança. Realmente eles levaram as caixas para lá. Mas não há imagens de dentro do prédio. Não sei o que tem lá dentro.
-Você é bem cínica de admitir que ouviu a nossa conversa.- Anabella a olhou duramente.
Susan deu de ombros.
-Fazer o quê? Eu ouvi mesmo.
-E o que mais você sabe, Susan?
-Nada! Aquele lugar vive trancado. Eu tentei fazer com que seu pai me entregasse a chave, mas não funcionou.
Anabella riu-se interiormente porque aparentemente a tão ardilosa Susan fora ingênua a ponto de pensar que Vicente a entregaria a chave de um lugar que estava mais do que óbvio que ele estava tentando esconder.
Por outro lado, percebeu que ela não sabia sobre o alçapão. O que era uma grande vantagem.
Ela não ia deixar Susan à par de tudo o que já havia descoberto junto com Martín.
-Bom, já que você não tem nada mais para acrescentar, eu já vou indo. Preciso saber o que tem naquele prédio.
Já ia deixar a sala da gerente, quando esta disse:
-Eu tenho um plano que pode dar certo.
🍷
A tarde na Vinícola prosseguia rotineiramente.
Anabella aproveitou uma deixa para, juntamente com Martín, tomarem um café na loja, enquanto expunha para ele o plano proposto por Susan.
Clientes e funcionários circulavam por ali e o cheiro misto de vinho e diversas outras bebidas e comidas permeiavam o ambiente.
Martín olhou ao redor e disse à Anabella:
-Não acha muito arriscado fazer isso?
-Se é arriscado, eu não sei. Mas precisamos tentar.
Martín sorveu um gole do seu capuccino, a olhando em dúvida.
-Ah, outra coisa.- Anabella pareceu se lembrar repentinamente.- Não vamos incluir a Susan nisso.
-Como é??- Os olhos de Martín quase lhe saltaram das órbitas.- Você vai se apropriar da idéia da Susan e vai deixar ela de fora??
-Exatamente.- Ela respondeu, tranquila.
-Isso é errado!
-Ah Martín, me poupe!- Anabella retrucou.- Coisa pior é o que a Susan faz.
Martín ficou olhando-a por alguns minutos.
Por fim, resignou-se.
-Suponho que seja eu quem vai ter que fazer boa parte da coisa.
-Sim. A menos que você queira que eu vá. O que não podemos é sair os dois. Iria dar muito na cara. E, claro, ainda tem o trabalho.
-Ok, eu vou. Você fica de olho em tudo.
-Está bem. Martín.- Ela o olhou séria.- Não vá estragar tudo, ok? Lembre-se de que falta pouco mais de uma hora para o horário habitual em que os seguranças vêm buscar o café deles. Portanto, seja rápido.
-Eu vou ser.- Ele piscou para ela, para quebrar um pouco aquela tensão.
Anabella o observou se levantar e sair da loja, e ao cabo de poucos minutos, também se levantou e saiu.
🍷
Martín saltou do Maserati cinza de Anabella que havia pego emprestado e cumprimentou os seguranças, ao voltar para a Vinícola.
Seguiu diretamente para a loja de degustação e foi até o balcão de atendimento.
-Olá, Simone!- Cumprimentou amavelmente uma das atendentes.- Quero dois copos de café, por favor.
-Claro!- Ela sorriu, virando-se para realizar o atendimento.- Dia difícil, Martín? Já é o segundo em menos de duas horas!
-Nem imagina!
Em poucos minutos, Martín saía com os dois copos de café.
Sutilmente e o mais longe possível das câmeras de segurança, pingou algumas gotas do sonífero que havia comprado na farmácia, em cada um dos copos.
Aproximou-se dos guardas, mantendo uma expressão facial simpática.
-E aí, caras!- Martín esperava estar conseguindo ocultar o fato de que estava nervoso.- Vai um cafezinho?
Os guardas pareceram aliviados ao verem os copos de café e demonstraram gratidão.
-A gente já ia mesmo buscar café. Valeu aí, Martín!
-Cara bom!- Um deles disse, ao pegar o seu copo.
Martín sorriu, dando a entender que aquilo não foi nada, murmurou um "estamos aí" e procurou se afastar.
Obviamente aquele não era um acontecimento normal nem habitual.
Martín sabia que corria o risco de perder seu emprego quando o que estavam fazendo viesse à tona, embora Anabella tivesse garantido que iria fazer o possível para que isso não acontecesse.
Mas, em sua concepção, ele preferia ajudar a descobrir um erro grave (caso realmente houvesse) e perder o emprego, do que continuar em um lugar sendo submisso à um chefe de índole duvidosa.
🍷
Não demorou muito para que a ação do sonífero se efetuasse nos dois seguranças.
Incapazes de lutar contra aquela inesperada e forte sonolência, os dois homens se encostaram onde puderam.
Seguindo o plano, assim que percebeu que haviam dormido, Martín se aproximou, sempre cauteloso e sem chamar atenção para si. Analisou rapidamente o molho de chaves e ao reconhecer a que procurava, destacou-a das demais.
Com a chave em seu poder, Martín entrou novamente no carro de Anabella, e partiu.
🍷
A noite chegou lentamente em São Bento do Amaral e junto à ela, o encerramento do expediente de boa parte dos funcionários da Vinícola Montenegro.
Para que o plano de Susan se concretizasse, precisavam esperar até que todos tivessem deixado seus postos, com a inevitável exceção dos guardas noturnos, que renderiam os anteriores.
Passavam-se sete minutos após as nove horas, quando finalmente a loja de degustação, último departamento a encerrar suas atividades, se fechou.
Martín, nervosamente, passava a cópia da chave que havia mandado fazer de uma mão para a outra, até Anabella tomá-la dele.
Estavam escondidos atrás do prédio da administração, quando viram Susan acenar e caminhar até eles.
Martín não escondeu sua confusão mental.
-Você não disse que não íamos incluir a Susan?
-E não vamos. Você vai ver. Só não coloque tudo a perder falando o que não deve.- Anabella advertiu.
Susan se aproximou. Parecia tão exausta quanto eles, devido a espera.
-Estão com a chave?- Ela perguntou, estendendo a mão.
-Ela está aqui.- Anabella levantou a chave para mostrá-la, mas não a entregou.
Susan não demonstrou irritação por não ter a posse da chave e então se encaminharam, juntos, para a entrada do prédio.
Anabella colocou a chave na fechadura, mas se deteve, antes de abrir a porta.
-Desativou as câmeras de segurança, como combinamos?- Perguntou à Susan.
-É claro.- Susan assentiu, enfaticamente.
-Vamos logo.- Disse Martín.- Não queremos que os guardas notem que há movimentação aqui.
Anabella girou a chave e entraram.
O mofo e a poeira lhe atingiu em cheio o nariz, como da outra vez.
Martín e Anabella dispunham de lanternas que mantinham num brilho mínimo, para que a luz não fosse notada do lado de fora, embora fosse uma possibilidade escassa. Obviamente, não se arriscaram a acender as luzes.
Susan pôs-se a olhar minuciosamente cada canto da sala e das demais salas adjacentes que ali haviam. Martín a seguia com a lanterna, enquanto Anabella também seguia por outro lado.
Sabiam que não havia nada naquelas caixas e prateleiras, pelo menos não algo que parecesse errado, ou que não deveria estar ali.
No entanto, deixaram que Susan seguisse procurando.
Esta, reclamava constantemente do cheiro, da pouca iluminação e da bagunça.
Conforme os minutos se passavam e não encontrasse nada que lhe parecesse útil, Susan parecia cada vez mais irritada.
-Mas não há nada aqui!!!- Exasperou-se em determinado momento.- Só um monte de porcaria!
Anabella trocou um olhar significativo com Martín, na meia escuridão.
-Pois é.- Ela suspirou, como se também estivesse tão frustrada quanto Susan.- Parece que realmente aqui não tem nada.
-Só um monte de porcaria.- Frisou Martín, entrando na encenação.
Susan os olhou por um instante e então revirou os olhos, caminhando para a saída.
-Perdi meu tempo.- Disse.
Ela se voltou para Anabella e Martín, que não haviam se movido.
-Por que estão parados aí? Já viram, aqui não tem nada demais!
Martín foi o primeiro a se mover e puxou Anabella pela mão.
-Tem razão, vamos.
Anabella queria descobrir imediatamente o que havia no alçapão, mas teve que encenar outra vez.
Deixou que Susan seguisse na frente e quando percebeu que ela finalmente se fora, voltaram para dentro do prédio.
-Só espero que os guardas não decidam passar por aqui agora.- Martín disse, nervoso, o que não ajudava em nada.
-Então vamos logo! Ou eu posso ter um colapso a qualquer momento. Não estou me aguentando de curiosidade para saber o que tem embaixo desse alçapão.
Martín caminhou até uma mesa de madeira.
-Ele está aqui, debaixo dessa mesa.- Apontou para o pequeno móvel.- Não fizeram muita questão de camuflar.
Anabella se abaixou enquanto Martín afastava a mesa.
Mirou sua lanterna no chão, e viu o tal alçapão.
Percebeu porquê não havia notado a tal abertura.
Além de estar debaixo da pequena mesa, a madeira usada para fazer a porta nivelada ao chão havia sido pintada de branco, assim como o piso daquela sala e de todas as demais.
Anabella sentiu seu coração acelerar. Sabia que talvez, ao abrir aquela portinhola, algo grande, que ela não conseguia ainda atinar o que era, poderia se revelar diante de seus olhos.
"Por favor, pai, não me decepcione ainda mais."
Encaixou seus dedos num pequeno vão mas sua mão trêmula lhe impediu de conseguir puxar a porta do alçapão.
-Deixa que eu faço isso.- Martín disse, solícito.
Anabella assentiu e Martín, com um pouco mais de esforço, conseguiu enfim puxar a portinha de madeira rente ao chão.
Ambos apontaram suas lanternas para baixo e, depois de conferirem o que havia ali, se entreolharam, abismados, ao depararem-se com o inesperado.
Normalmente, esperava-se encontrar uma escada ou passagem que os levasse ao que quer que houvesse no subterrâneo.
Mas, ao invés disso, se depararam com uma barreira.
Era como uma segunda porta, metalizada, e fortemente protegida com grossas correntes e cadeados.
🍷
A fome, o cansaço e o sono que sentia, enquanto dirigia de volta para casa naquela noite, não eram páreos para o sentimento de frustração que Anabella carregava dentro de si.
Ela quase havia conseguido! Quase!
Porém mais uma vez, quando pensava estar perto das respostas que tanto buscava, mais longe ela parecia estar.
O que de tão sigiloso havia debaixo daquele alçapão que precisaria ser trancado daquela forma? Por que toda aquela segurança?
Anabella suspirou, sentindo sua cabeça e seu estômago doerem. Não comia há horas e tudo o que queria era desfrutar de uma boa refeição e, depois de um banho que a livrasse de toda aquela poeira, cairia na cama e dormiria sem pensar em mais nada. Isso se conseguisse.
Entretanto, teve mais uma desagradável surpresa ao chegar em casa.
Chegou bem a tempo de ouvir a prima Virgínia anunciar que ficaria ali por um tempo.
-Aff...- Anabella se jogou em um sofá, exausta e irritada com aquela notícia.
-Filha...- Eleanor correu até ela.- Seu pai chegou há horas. Já está tarde! Por que demorou tanto?
Anabella olhou de relance para o pai e acabou por bocejar.
-Eu fui caminhar um pouco por aí...- Respondeu, de forma vaga.
-Você deve estar com fome, né? Por que não toma um banho e volta para comer alguma coisa?
-É exatamente isso que eu vou fazer.- E apesar da afirmação, Anabella não encontrou forças para se levantar do sofá.
Sua frustração pessoal pesava bastante de forma negativa em seu ânimo, naquele momento.
Depois de ter estado por vários minutos grudada ao celular, Ana Lúcia chamou a atenção de toda a família, com palmas, se levantando.
-Pessoal, eu tenho uma ótima notícia para dar à vocês!- Ela fez uma pausa para criar expectativas e então completou:
-Daqui a sete dias todos vocês vão para o Rio de Janeiro, para me verem desfilar no Rio Fashion Week!!!
A família se entreolhou, surpresa.
-Então vai mesmo desfilar?- Vicente perguntou, recebendo um aceno enfático de cabeça como resposta por parte da filha.
-Meu amor, não é meio arriscado?- Dona Eleanor ainda não tinha certeza se aquela era uma boa idéia.
-Não, mãe. O doutor Alessandro me garantiu isso. Além do mais, eu o convidei e ele também vai. Acabou de me confirmar.
-Hummmm... Você e esse seu médico, hein, Ana Lúcia?- Virgínia não perdeu a oportunidade de provocar.- Você já perguntou ao Jader se ele concorda com isso?
Foi o próprio Jader quem respondeu:
-Não só concordo, Virgínia, como acho que realmente será muito bom se o doutor Alessandro nos acompanhar nessa viagem.
-Não entendo seu comentário, Virgínia.- Ana Lúcia a olhou, com desagrado.- Alessandro e eu somos só amigos. Além do mais, é uma forma de ele ficar de olho em mim, para se certificar de que está tudo sob controle.
-Virgínia, por favor, não faça mais esse tipo de insinuação.- Dona Eleanor repreendeu a sobrinha.
-Foi mal, galera.- A repreendida ergueu as mãos, em sinal de rendição.
Virgínia não pôde deixar de olhar para Jader. Era tão bonito, tanto no físico quanto nas atitudes, com seu braço em volta dos ombros de Ana Lúcia, numa forma de demonstrar apoio.
Por que um homem daqueles não podia ser dela?
"Essa viagem estúpida de Ana Lúcia veio mesmo em boa hora." pensou, já imaginando quantas oportunidades teria com Jader, já que a prima estaria ocupada com o desfile.
Anabella, que ainda descansava no sofá, parecia alheia à tudo.
Em sua mente, ela começou a pensar se aquela não seria uma ótima oportunidade para continuar investigando com Martín.
Aproveitaria a ausência do pai e quanto à Susan, daria um jeito de ludibriá-la. Contanto que conseguisse descobrir o que havia debaixo do alçapão.
-Ana Lúcia- Chamou, endireitando a postura e, ao obter a atenção da irmã, disse:
-Tem algum problema se eu não for ao seu desfile?
Não só Ana Lúcia, como também Jader e os demais a encararam.
-Por que você não iria, Bella?
-Eu... Só queria adiantar alguns trabalhos da faculdade e dar início ao meu TCC, já que me
formo no ano que vem.- Ela mesma se impressionou em como a mentira fluiu tão facilmente.
-Mas Bella, a viagem ainda é daqui a sete dias.- Ana Lúcia não escondeu sua chateação.- Você não poderia adiantar seus trabalhos até lá? E quanto ao seu TCC, ainda tem bastante tempo...
Anabella não soube o que dizer ao ver a forma como todos a olhavam.
-Eu sei que você é super ocupada, Bella.- Ana Lúcia prosseguiu.- Mas é muito importante para mim que você vá. Todos vocês. Por favor.
Não dava para dizer não. A insensibilidade de Anabella caiu por terra quando se lembrou de tudo o que a irmã havia passado até ali. As dores, a doença, o tratamento, a cirurgia...
Ainda assim, não se recordava de uma única só vez em que Ana Lúcia tivesse sido egoísta.
E Anabella sabia que seria egoísmo de sua parte se se recusasse à prestigiá-la em um evento do qual ela conhecia a importância.
Então, decidiu-se:
-Tudo bem. Se é importante para você, então eu vou.
Ana Lúcia correu para abraçá-la, exultante.
Minutos depois, enquanto todos falavam sobre o evento iminente, Anabella foi para a varanda.
Seu banho esperaria mais alguns minutos, porque precisava refletir um pouco sobre sua decisão.
É claro que o fato de estar ocupada com seus estudos naquela semana e a viagem para o Rio de Janeiro implicaria em uma pausa desfavorável em sua investigação.
Contudo, talvez precisasse realmente de um tempo, para reorganizar seus pensamentos e pensar na melhor forma de conduzir a situação.
Jader apareceu na varanda e se aproximou, se inclinando sobre a grade branca, assim como ela fazia.
-Está tudo bem, Anabella?
Ela não o olhou, apenas assentiu.
-Posso te perguntar o que você pretendia, ficando aqui, ao invés de ir para o Rio?
Anabella ficou calada, mas se sentiu praticamente impelida a ser ríspida.
-O que isso importa pra você??- Virou-se para ele, com os olhos cansados se tornando vivos, devido à irritação.
-Eu só...
-Você só o quê, Jader? Agora sou obrigada a falar como Sérgio e pedir para que você pare de se meter na minha vida. Será que pode ser??- Anabella disse e procurou se afastar.
-Calma, espera!- Jader a puxou, fazendo-a tropeçar em seus próprios pés e ao colocar os braços em volta dela para evitar uma queda, seus rostos se aproximaram, enquanto ambos sentiam seus corações perderem um compasso.
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Um beijo enorme para todas as mulheres maravilhosas que estão acompanhando essa história!😘
Feliz Dia Internacional da Mulher! ❤
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