
Capítulo 42
-Não posso.- Jader repetiu e finalmente levantou o rosto para olhar para sua noiva.
Ela o fitava, claramente confusa- e surpresa.
-Como... Por que não pode?- Ana Lúcia não via sentido algum naquela recusa.
-Porque... você acabou de passar por uma cirurgia, meu amor. Eu... eu acho melhor a gente esperar um pouco mais.
-Jader, a minha cirurgia foi há muitos dias atrás. E eu não tenho restrição médica. Você sabe disso. Eu estou bem para...
-Ana.- Jader pronunciou o nome dela com pesar. Seu peito doía por ver a tristeza em seus olhos.
Ana Lúcia saiu de cima dele, lentamente.
-Eu não agrado você, é isso? Eu não chamo a sua atenção?- Ela pegou a blusa, jogada sobre a cama e a vestiu.
-Ana, pelo amor de Deus, não é nada disso! Você é linda, você é maravilhosa, meu amor. Eu...- Ele suspirou, derrotado por não conseguir achar uma explicação plausível nem para si mesmo.- Me perdoa, por favor.
-Calma.- Ana Lúcia o abraçou, carinhosamente.- Está tudo bem.
-Eu sei que não está.
-Está, sim. Se você não se sente à vontade para ficar comigo agora, eu não posso te obrigar e está tudo bem.- Ela o fez olhar novamente para ela.- Eu te amo.
Jader aprofundou o abraço.
Ana Lúcia era maravilhosamente compreensiva e ele não tinha certeza se merecia aquilo.
-Eu também te amo.
-A gente vai saber a hora certa. Quando nós dois estivermos na mesma sintonia, e quando não podermos mais resistir um ao outro.- Ela sorriu, sugestivamente.- Aí sim.
Jader tentou sorrir e Ana Lúcia acariciou brevemente seu rosto, deixando um beijo em um dos lados.
-Ei. Eu não estou chateada, está bem? Não vamos deixar isso nos afetar, por favor.
-Tudo bem.
Jader esperou Ana Lúcia se trocar, para se deitar ao lado dela.
Ao longo dos minutos seguintes, suas mãos acariciaram os cabelos dela, com leveza e serenidade, até Jader perceber que ela dormia profundamente.
Só então ele se levantou, pegou sua camisa, vestiu-a, apagou a luz e saiu do quarto.
🍷
A nova semana chegou e ninguém estava tão ávido para estar na Vinícola Montenegro quanto Anabella e Susan.
Havia muito a ser descoberto e ambas estavam dispostas a se empenhar nisto, embora por motivos divergentes.
Susan optou por usar a técnica da persuasão.
Entrou no escritório de Vicente muito radiante, desejando bom dia e se sentando em sua frente, do outro lado da mesa.
-Bom dia.- Vicente reparou nela.- Está muito bonita hoje.
-Obrigada.- Susan sorriu, alegre.- Você também está ótimo como sempre.- Ela abaixou o tom de voz.- Meu amor.
Vicente retribuiu o sorriso, tratando de se ocupar com o trabalho, mas perguntou:
-Você tem algo para me falar?
-Tenho, sim. É uma idéia que eu tive. Faz parte do trabalho. É muito importante e eu sei que será ótimo para a empresa.
-Pode falar.
-Então.- Susan cruzou as mãos, por cima da mesa.- Não tem aquele prédio novo, que serve de depósito? Ele está quase sempre trancado e provavelmente a situação lá dentro não é a melhor, pelo menos não é boa como poderia ser. Eu sei que este não é um trabalho que cabe a mim mas eu estive pensando em como um lugar como aquele pode ser útil para tantas outras coisas mais, do que só guardar caixas inutilizáveis.
-Aonde está querendo chegar?
-Só estou dizendo que quero melhorar o prédio. Tenho idéias incríveis para fazê-lo funcionar de outra forma, sabe? Então, se você me der a chave, eu posso começar a arrumar tudo.
Vicente a olhou, por um momento.
-Não.
Susan não esperava por aquele não tão direto e seco.
-Vicente, você entendeu que eu quero fazer uma melhoria no prédio?
-Entendi. Mas não precisa se preocupar. Aquele prédio não precisa disso agora. Ele está trancado, praticamente sem uso e vai permanecer assim, pelo menos por enquanto.
-Mas Vicente, eu só quero...
-Eu já entendi. E acho bonito que queira colaborar tanto assim, Susan. Mas a minha resposta definitiva para você é não.
-Não vai me dar a chave?
-Não.
Susan se esforçou ao máximo para parecer apenas chateada por seu patrão não deixá-la fazer as melhorias que queria. Mas estava era irritada, de fato.
E claro, a escusa dele só a fazia acreditar ainda mais que havia algo naquele prédio que Vicente não desejava que fosse do conhecimento dela e de mais ninguém.
🍷
A tática de Anabella foi usar a praticidade.
Ela não acreditava que existisse um motivo que a levasse a pedir permissão ao pai para entrar no prédio, uma vez que era apenas mais um recinto do seu local trabalho.
-Você vai mesmo fazer isso?- Martín, alvoroçado, a acompanhava, enquanto ela caminhava em direção aos seguranças.
Coincidentemente, um deles era um dos dois que Mariana havia visto.
-Claro que vou. Martín, estamos trabalhando, aja naturalmente. Não tem porquê ficar assim.
-Você me mete em cada uma, garota.
-Shhh...
Anabella fez sinal que ele ficasse quieto, quando se aproximaram dos guardas.
-Bom dia, senhorita.- Eles foram os primeiros a cumprimentar.
-Bom dia. Preciso da chave principal do prédio novo, por favor.- Ela disse, sem rodeios e estendeu a mão.
Os dois homens se entreolharam.
-Ahn, me desculpe, senhorita.- O guarda mais velho disse.- Mas não temos permissão para entregar essa chave à ninguém.
-Ao que eu saiba, eu não sou ninguém. Eu sou praticamente a chefe de vocês, na ausência do meu pai.
Anabella sabia que embora fosse o mais justo a ser feito, aquilo não era bem verdade, já que o pai não havia lhe dado aquele tipo de poder e nem autorização alguma para que falasse em nome dele. Mas precisava se manter firme no que dizia.
-Senhorita Anabella...
-Eu não tenho tempo para ficar papeando com vocês. Portanto, me passem logo essa chave.
-Mas nós não podemos!- O outro segurança ergueu um pouco mais a voz e Martín puxou o braço de Anabella discretamente, tentando dissuadí-la daquela ideia maluca.
-Olha aqui.- Anabella leu o crachá do homem e depois o fitou.- Alberto Nunes, eu vou me lembrar bem desse nome quando assumir o meu posto de dona absoluta desta Vinícola e chefe de vocês, num futuro não muito distante. E pode ter certeza que você será um dos primeiros a ser mandado para a rua, caso não me entregue essa maldita chave agora mesmo.
Os guardas novamente se entreolharam e, sem muita opção, entregaram-na a chave.
-Muito obrigada.- Anabella agradeceu e, sem mais, pôs-se andar em direção ao tal prédio novo, com Martín em seu encalço.
-Você conseguiu!
-É claro que consegui, Martín. Isso é ter pulso firme. Não se deve abaixar a cabeça para ninguém, quando não se tem nada a temer.
-Bom, pelo jeito eles têm algo a temer, porque ficaram bastante embaraçados.
-Pior para eles. Vão ter que procurar trabalho em outro lugar porque eu não vou facilitar pra ninguém quando estiver no comando.
-Você é muito radical, garota. Seja menos.
Anabella se virou para olhar para Martín. Preferiu não dizer nada pois estavam diante do prédio.
Diz-se prédio porque era mais uma das três construções que havia naquela Vinícola.
Antigamente, moradia da família Montenegro. Mas boa parte do que antes era um belo casarão havia sido demolido para liberar espaço para salas e mais salas, repletas de caixas, estoque de materiais já usados ou com pretensão de uso e mais um tanto de quinquilharia que poderia vir ou não a ser aproveitada.
No fim das contas, era o prédio menos conceituado da empresa.
Após abrir a porta, entraram, sentindo imediatamente o cheiro de mofo e poeira. O que havia de imediato era uma longa sala repleta com o que não poderia deixar de ser: caixas e mais caixas.
Martín apertou o interruptor, e puderam ver com mais clareza.
-Se não soubéssemos que há movimento de pessoas por aqui, eu diria que esse lugar é abandonado.
-Eu diria a mesma coisa.- Anabella concordou.
Abriram algumas das caixas. Nada mais do que garrafas de vinho que não chegaram a ser vendidas, ou rolhas defeituosas que não tiveram serventia.
Dando uma rápida olhada pelas demais salas, não havia muita novidade.
O local era praticamente deserto, não fosse pelas inúmeras estantes abarrotadas de peças de máquinas quebradas, quadros que algum dia já serviram de decoração em escritórios do prédio administrativo e até arquivos antigos.
-Que bagunça...- Anabella constatou.
Intimamente, sentia que o que quer que estivessem procurando, poderia estar em qualquer uma daquelas caixas, que não eram poucas.
-Encontrou alguma coisa?- Ela gritou para Martín que estava do outro lado.
A resposta demorou a vir:
-Não!
Quando voltaram a se encontrar na primeira sala, Anabella disse:
-Vamos precisar de mais tempo se quisermos descobrir de há algo de suspeito nessas caixas. Aparentemente, não há nada. E elas são muitas.
-É muita bagunça.- Martín fez a mesma constatação que Anabella havia feito.
Foram surpreendidos por Vicente, que adentrou o prédio, de repente.
Parecia furioso.
-Mas o que é que vocês estão fazendo aqui??
Anabella olhou para Martín.
-Nós estamos trabalhando.- Respondeu.
- Aqui??? Não.- Vicente negou veementemente.- Não tem trabalho para vocês aqui. A obrigação de vocês é com a produção, lá na indústria.
-Estamos trabalhando e eu decidi que queria ver o que há aqui. Tem algum problema?
-O problema é que eu não sei porque de repente todo mundo quer entrar aqui, como se esse prédio não estivesse aqui desde sempre e ninguém nunca se interessou por ele. Ah, faça-me o favor!
-Como assim todo mundo?- Anabella não deixou esse detalhe escapar.
-Não importa! Eu quero que vocês saiam daqui imediatamente! Não há nada para ver aqui!
-Mas você está bravo?- Anabella perguntou, e o deboche não passou despercebido por Martín, que prendeu o riso, tratando de ser logo o primeiro a sair.
-Me dê a chave.- Vicente exigiu e mesmo contrariada, Anabella a entregou para ele.
Ao sair, deparou-se com os dois seguranças, que evitaram olhá-la.
-Uma vez na vida me obedeça, Anabella. Você queria trabalhar aqui e conquistou isso.- Vicente frisou a palavra, para lembrá-la da pequena chantagem que havia feito.- Você não vai querer perder isso, não é? Portanto, contente-se apenas em fazer o seu trabalho. E você, Martín, não vai na onda da Anabella. É só um conselho.
Martín assentiu, abaixando a cabeça.
Anabella saiu dali andando rapidamente mas foi diminuindo os passos aos poucos.
Martín logo se pôs ao lado dela.
Ela suspirou, passando as mãos pelos cabelos.
-Que droga!- Xingou baixinho.
- Mission failed*??- Martín falou, divertido.
-É.- Ela suspirou outra vez.- Mas também não havia nada demais mesmo naquele frejo.
-Aí é que você se engana, minha cara.- Martín disse, com os olhos brilhando, como quem tem um segredo.
-Como assim? Encontrou alguma coisa em uma das caixas??- Ela o fitou, atenta.
-Não. Mas encontrei algo muito melhor, digamos.
-O que é?? Não me faça morrer de curiosidade, Martín!
-Se acalma, garota. O que eu vi...- Ele olhou para os lados, e terminou o resto da frase em um sussurro.- Pode ser um alçapão.
-Um alçapão? Em qual das salas?
-Na primeira. Eu vi um pouco antes do seu pai entrar. Eu ia me abaixar para conferir, mas não deu tempo.
-Isso quer dizer que tem alguma coisa lá embaixo...- Anabella disse, pensativa.
-Provavelmente.
-Mas o quê? Que eu saiba, a adega para conservar os vinhos fica no subsolo do prédio da produção.
-Sim. Eu sei. Boa parte do meu trabalho eu faço é lá. E na entrada para a adega não tem alçapão.
-Que estranho...
Ficaram em silêncio por alguns instantes, até Anabella resolver dizer algo que considerava importante.
-Martín, eu sei que você deve estar cansado de se meter em encrenca por minha causa e tudo o que eu menos quero é que você perca seu emprego aqui, porque sei que é algo que você queria muito, desde o início. Então, se quiser parar e ficar na sua, eu entendo totalmente. Você não tem obrigação nenhuma de me ajudar. Mas eu vou continuar tentando entender o que está acontecendo. Não cheguei até aqui pra parar agora.
-Eu não vou te deixar sozinha nisso.- Ele estendeu a mão e a tocou brevemente no ombro.- Eu não concordo com algumas atitudes suas, mas aprendi a admirar sua coragem e determinação. E acredito que você está certa em querer fazer tudo o que está fazendo. Eu vou continuar.- Martín afirmou, convicto.- Nós vamos descobrir o que tem embaixo daquele alçapão.
Anabella não escondeu o alívio que sentiu.
-E quanto ao beijo, eu estou perdoada?- Perguntou, enquanto seguiam andando.
-Esquece isso.
-Ainda me acha uma manipuladora sem escrúpulos?
-Totalmente!- Martín exclamou, sem titubear e ambos riram.
🍷
Ana Lúcia havia acabado de chegar de uma rápida visita à ONG, quando recebeu em seu telefone uma mensagem de sua prima Virgínia, pedindo para que fossem ao shopping ainda naquela tarde, pois ela havia acabado de chegar em São Bento do Amaral.
Confirmou que se encontraria com ela às duas da tarde, e para aproveitar o restante daquela manhã, prosseguiu sozinha com os trabalhos de sua monografia.
🍷
-Ana Lúcia!- Ela ouviu seu nome ser pronunciado histericamente e soube logo que se tratava da prima.
-Aqui!- Virgínia acenou, efusiva, para ser notada.
Ana Lúcia caminhou até ela e cumprimentaram-se com um beijo no rosto.
-Como você está? Parece bem.- Virgínia a analisou de cima a baixo.
-Eu estou bem.- Ana Lúcia confirmou.
-Quando ficamos sabendo que você estava com câncer eu fiquei tipo.- Virgínia colocou ambas as mãos no rosto, fazendo uma expressão de incredulidade.- Não posso acreditar que a modelo da família esteja com uma doença tão horrível dessas. Fiquei chocada!
Ana Lúcia deu um sorriso amarelo.
-É, mas já passou.
-Que bom, porque ninguém merece. Quer dizer, algumas pessoas talvez sim, mas não você...
Virgínia passou seu braço pelo de Ana Lúcia, enquanto caminhavam pelos corredores do shopping lotado, em plena segunda feira.
-Por que você está aqui, Virgínia?
-Porque meus pais viajaram para visitar uns amigos no interior de São Paulo e eu não quis ir. Digamos que não me dou bem com esse pessoal. Então, aproveitei para vir aqui hoje, visitar vocês e talvez... só talvez, eu fique para passar alguns dias.
-Ah!
Apesar da tagarelice exacerbada da prima, Ana Lúcia acabou por se divertir durante aquela tarde no shopping.
Depois de fazerem compras em suas lojas preferidas, de se aventurarem no fliperama e de Virgínia ter cumprimentado dezenas de pessoas que Ana Lúcia não fazia idéia de que ela conhecia, foram enfim se sentar e fazer um bom e merecido lanche.
Ana Lúcia estava rindo de uma das muitas histórias de Virgínia sobre a faculdade.
-Você é inacreditável, Virgínia...
-Você ainda não viu nada. Ah meu Deus.- Ela abaixou o tom de voz, ao olhar para algo ou alguém atrás de Ana Lúcia.
-O que foi?
-Você não tem noção do gato que estou vendo agora...
Ana Lúcia se virou como quem não quer nada, mais por curiosidade do que por qualquer outro motivo.
E acabou sorrindo por constatar que conhecia o tal gato.
Ele também sorriu ao vê-la e caminhou até onde elas estavam.
-Você o conhece??- Virgínia arregalou os olhos.
-Mas é claro. É o meu neuro, doutor Alessandro.- Ana Lúcia respondeu, se levantando.
-Você por aqui?!- Alessandro se aproximou e, inesperadamente, ambos se abraçaram. O abraço foi caloroso, o que fez Virgínia erguer a sobrancelha, observando-os inescrupulosamente.
-Pois é. Estou com a minha prima, Virgínia. Vim dar um passeio.
-Isso é ótimo.- Alessandro foi até Virgínia, para cumprimentá-la, mas logo se voltou para Ana Lúcia.- E como está se sentindo?
-Bem. Especialmente bem depois que você me liberou para desfilar no Rio.
-Ah!- Ele sorriu.
-Por falar nisso, saiba que está convidado também. Sei que é um médico super ocupado, mas caso encontre uma folga em sua agenda, vá prestigiar o evento.
-Seria uma honra para mim. E pode ter certeza que eu vou fazer o possível para estar lá.
-Que ótimo!
Após mais alguns minutos de uma agradável conversa, ambos se despediram novamente com um abraço e Alessandro se afastou.
🍷
Já era começo de noite quando Ana Lúcia e Virgínia entraram em casa.
Eleanor se surpreendeu ao ver a sobrinha, já que esta não havia avisado a ninguém com antecedência que viria a São Bento do Amaral.
Mas acomodaram-na no quarto de hóspedes como da outra vez, embora Virgínia afirmasse que não tinha certeza se ficaria ali por muito tempo ou se voltaria para a capital.
Virgínia tomou banho, e após se aprontar, foi ao quarto da prima.
-Nossa!- Ana Lúcia exclamou ao vê-la.- Está toda arrumada! Vai sair?
-Claro que vou! Quero aproveitar a noite. Quer vir comigo?
-Obrigada, Virgínia, mas dessa vez não. Estou esperando Jader, ele deve chegar daqui a pouco. Vamos assistir filme juntos.
Virgínia fez uma expressão de desprezo.
-Seu namoro com Jader é tão...
-Tão o quê?
-Tão... monótono.- Virgínia disse.
Ana Lúcia se virou para pegar algo em seu guarda roupa. Na verdade, só não queria que a prima visse seu rosto, pois sabia que nele estaria estampado o quanto ouvir aquilo a magoava, porque de certa forma era verdade.
-Sabe, o que quero dizer é que talvez vocês dois devessem sair mais vezes juntos, fazer coisas divertidas juntos.
Ana Lúcia murmurou algo vagamente em concordância. Era como se Virgínia estivesse tocando em uma ferida que havia sido aberta recentemente.
-Ah!- Virgínia ergueu as mãos, balançando-as no ar.- Mas quem sou eu para opinar sobre relacionamentos, não é? Eu nem namorado tenho! Tô indo, prima, beijos!
Ana Lúcia foi se sentar na cama, desanimada, enquanto Virgínia descia animadamente a escada.
Ao chegar na sala de estar, deparou-se com Jader, que acabava de entrar.
-Virgínia?- Ele disse, surpreso, ao vê-la.
-Olha só, você se lembra do meu nome.- Ela se aproximou, sorrindo e o cumprimentou, com um beijo no rosto.- Oi, Jader!
-Tudo bem?
-Tudo sim. Cheguei hoje de tarde e convidei Ana Lúcia para passear no shopping comigo.
-Ah, então ela passeou hoje? Que ótimo.
-É, pra ela foi ótimo mesmo, já pra mim... nem tanto.
-Por quê?- Jader percebeu que ela pareceu meio sem graça, de repente.
-Bom, porque... Ana Lúcia se encontrou com um amigo e ficou o tempo todo grudada nele, cheia de abraços e sorrisinhos e eu acabei sendo deixada de lado, de certa forma.
Jader franziu a testa.
-É mesmo? Ana Lúcia se encontrou com um amigo no shopping?
-Sim. Um dos tantos amigos que ela tem. Um cara bonitão.
Jader abriu a boca, estupefato. Era a primeira vez que ouvia algo parecido.
Sabia, é claro, que a namorada tinha amigos de ambos os sexos por causa dos seus trabalhos sociais com a ONG, faculdade e na Agência de moda. Mas a forma como Virgínia falava aos seus ouvidos soava ligeiramente estranho.
-Se eu fosse você tomava cuidado, hein?- Ela o cutucou levemente na barriga, rindo.- Fique à vontade, Ana Lúcia está no quarto. Agora eu tenho que ir!
Intrigado, Jader subiu imediatamente as escadas, em direção ao quarto da noiva.
Encontrou-a em frente ao espelho, observando a si mesma.
-Ana?
-Oi, amor.- Ela se virou para ele e em seguida continuou a observação minuciosa do próprio corpo.
Jader foi até ela, abraçando-a por trás e olhando-a através do espelho.
-Você acha que eu emagreci ou meu corpo continua o mesmo, depois da doença?
Ao invés de responder, Jader retrucou com outra pergunta.
-Por que está se importando com isso agora?
-Como assim, Jader? Eu sempre me importei com o meu corpo.
-Mas tem bastante tempo, mesmo antes de tudo o que aconteceu, que você não pede opinião sobre como está o seu corpo ou qualquer coisa nele. Não estou entendendo o porquê você está preocupada com isso, justo hoje.
Ana Lúcia teve que se virar, para ver o rosto dele, de perto.
-Justo hoje? O que tem hoje?
-Encontrei com a sua prima, quando cheguei. Ela me contou que vocês foram ao shopping juntas e que você se encontrou com um cara bonitão por lá.
Ana Lúcia inclinou a cabeça para o lado, tentando entender do que Jader estava falando.
-E que você ficou toda cheia de abraços e sorrisos, com ele.
-Ah! Está falando do doutor Alessandro?
-Foi ele que você viu no shopping?- Jader ergueu as sobrancelhas.
-Sim! A gente se viu e se cumprimentou, naturalmente. Quanto à ele ser bonitão, essa é uma opinião da Virgínia.
-E você não discorda, não é?
-Qual o problema, Jader?- Ana Lúcia o fitou, sem entender aquele aparente ataque de ciúmes, que nunca havia acontecido.- Estamos falando do doutor Alessandro, meu médico. Está lembrado?
Jader suspirou.
-É claro. Me desculpa pelo tom que usei com você. É que a sua prima deu a entender de uma forma diferente, pra mim.
Ana Lúcia o abraçou, sorrindo ocultamente, com o rosto apoiado no braço de Jader.
-Virgínia fala sem pensar. Ela é meio inconsequente.
-É, eu percebi isso desde o dia da festa.- Jader realmente estava chateado, não só com Virgínia, mas com ele mesmo, por cair tão facilmente naquela provocação.
-Me desculpa?- Ele ergueu o queixo dela para um beijo.
-Sempre, amor.- Ela sorriu.
🍷
O pub estava significativamente cheio naquela noite, considerando que ainda era começo de semana.
Vicente tomou um gole de sua cerveja, levando o relógio de pulso à todo momento na altura dos olhos.
Odiava quando o faziam esperar.
Ao cabo de dez minutos, Sérgio sentou-se ao seu lado no balcão, arregaçando as mangas da camisa.
-Desculpa a demora- disse, observando o rosto de Vicente, à procura de quaisquer resquícios de irritabilidade. E encontrou.
-Tive problemas no trabalho. Não consegui sair antes das seis.- Explicou-se.
-Ok, Sérgio. Vamos ao que interessa.
-Pode falar.- Sérgio fez sinal para o garçom servi-lo.
-Preciso saber se você falou para alguém sobre o prédio novo. Sobre o que tem lá.
Sérgio parou antes do primeiro gole.
Ele buscou na memória se em algum momento de descuido havia deixado escapar o que havia no prédio. Apesar de tudo o que já havia dito à Susan e à Anabella, sua consciência estava tranquila por não ter de fato entregando todos os pontos.
-Tá maluco, cara?- Ele se fez de ofendido.- Por que eu colocaria em risco o nosso negócio?
-Eu não quero saber por que você faria isso, Sérgio. Eu quero saber se você falou.- A postura de Vicente não deixava margem para brincadeiras ou sarcasmo.
-Não. Eu não falei pra ninguém.
Vicente terminou sua bebida. O olhar concentrado, fitava o balcão do pub.
-Por que está perguntando isso?
-Porque tem algo estranho acontecendo e eu não estou gostando nada.
Vicente não quis mencionar o interesse de Susan em querer a chave do prédio para supostamente fazer algumas melhorias, nem o fato de que encontrou Anabella e Martín lá dentro, como se estivessem procurando por algo.
Obviamente, Sérgio não perderia a chance de perguntar.
-O que está acontecendo, de estranho?
Vicente fez um gesto vago.
-Isso não vem ao caso. Mas eu vou ficar de olho. Se eu descobrir que tem alguém vazando informações, vai estar fora imediatamente.
-Quem você acha que poderia fazer isso?
Vicente o encarou.
-Não sei. Mas toma cuidado, Sérgio.
Sérgio se ocupou com sua cerveja, evitando o contato visual, depois daquela advertência.
Ao olhar em volta, observou um rosto conhecido, em uma das mesas. Ela estava sozinha, enquanto tomava alguma coisa.
-Não é sua sobrinha ali?- Perguntou à Vicente, indicando-a com o queixo, discretamente.
Vicente olhou e viu Virgínia.
Ela falava ao celular, vez ou outra soltando uma risada, que apenas viam, mas não ouviam, devido ao barulho do pub.
-É sobrinha da Eleanor.- Vicente respondeu.
Sérgio sorriu, passando a língua pelos lábios, ao observá-la.
-Você vê algum problema se eu for falar com ela?- Perguntou.
Vicente pagou a cerveja que havia tomado e deu de ombros, levantando-se.
-Não considero essa garota como minha família. Fique à vontade.- Ele bateu no ombro de Sérgio.- E se lembre do que eu te disse.
Sérgio riu, e esperou que Vicente saísse do estabelecimento, para se dirigir até a mesa onde Virgínia estava.
-Com licença, moça bonita. Posso me sentar aqui com você?
Virgínia havia acabado de encerrar a ligação e ergueu os olhos para ele, as sobrancelhas levemente erguidas.
Logo reconheceu-o.
-Eu me lembro de você. Da festa das minhas primas.
-Sim. E eu também me lembro de você.- Sérgio puxou a cadeira e se sentou, mesmo sem ter recebido permissão para tal ação ainda.- A moça que tocou o terror em todo mundo, dizendo que ouviu um tiro.
Virgínia empinou o nariz.
-E ouvi mesmo. Mas não me levaram muito a sério.
Sérgio riu.
-Mas e então? Pretende ficar quanto tempo aqui em São Bento?
-Ainda não sei. Mas não muito tempo caso eu fique entediada.
Sérgio estendeu a mão para ela.
-Prazer. Eu sou um especialista anti tédio.
Virgínia tentou, mas não conseguiu segurar o sorriso e pôs a mão sobre a de Sérgio.
-Prazer, Virgínia.
Sérgio beijou a mão dela.
-Eu sou Sérgio. Primo do namorado de uma das gêmeas Montenegro.
Virgínia o olhou com o dobro de atenção.
-Verdade?
-Sim. E eu estou me sentindo um sortudo por ter encontrado você aqui. Pelo visto você também herdou a boa genética da família.
-Obrigada, Sérgio.
-Está solteira?
-Estou.
-Que ótimo! E que coincidência, pois eu também estou.- Sérgio massageou as costas da mão direita de Virgínia, que ele ainda segurava.- Adoraria te conhecer um pouco melhor.
Virgínia sorriu com menos intensidade dessa vez e retirou sua mão.
-Olha, Sérgio. Admito que você é bem charmoso, mas infelizmente, não vai rolar.
-Espera! Você admite que eu sou charmoso e depois me dá um fora?
-É que...- Ela o olhou, duvidosa.
-Pode falar.
-Você é charmoso, mas eu estou a fim mesmo é do seu primo, o Jader.
Sérgio abriu a boca, incrédulo.
Ele pensou, rapidamente.
-A gente podia aproveitar melhor então essa situação.
-Do que está falando?
Sérgio se aproximou dela.
-Assim como você está interessada no meu primo, eu estou interessado em uma das gêmeas. A Anabella.
Virgínia soltou o ar pelo nariz, ligeiramente irritada ao ouvir o nome da prima.
-Acho que podemos fazer um acordo.
-E que acordo seria esse?
-Eu ajudo você a ficar com o Jader. - Sérgio a fitou, mais perto ainda.- Se você me ajudar a ficar com a Anabella.
Virgínia sorriu, imediatamente satisfeita e meneou a cabeça.
-Ok, temos um acordo.
〰〰〰〰〰
*Mission failed: missão fracassada.
Virgínia e Sérgio juntos, sim, não vai prestar!
Até segunda! 😘
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