Capítulo 24
-O que está fazendo aqui, Anabella? E ainda por cima com...
-O Sérgio. Já sei que se conhecem, não precisa fingir que não.- Ela disse, soltando a mão de Sérgio, que ainda estava estupefato pelo que tinha presenciado.
Vicente encarou Sérgio, como que pedindo uma explicação, mas este apenas deu de ombros.
-Acho que na verdade quem deveria fazer as perguntas aqui, sou eu.- Anabella disse, puxando uma cadeira e se sentando.
Sérgio fez o mesmo.
-Ahn, filha...Isso que está acontecendo aqui...
-Hum.- Fez Anabella, cruzando as mãos embaixo do queixo, ouvindo o pai falar.
-É um... um jantar para tratarmos de assuntos da empresa.
Susan abaixou a cabeça. Anabella em nenhum momento havia olhado para ela.
-Os beijos que eu vi fazem parte do assunto de negócios?- Anabella perguntou.
Vicente engoliu em seco.
-Querida, eu... sinto muito. Aconteceu, de repente. Eu...
-Quanto mais você fala, mais patético fica. Eu vou poupar você de fazer mais papel de ridículo, te dando a informação de que eu já sabia.
-Sabia....?- Vicente falou e Susan olhou dela para ele.
-Sabia, sim. Sabia que você tem um caso com a Gerente de Vendas.- Anabella então olhou brevemente para Susan.
Vicente não sabia o que dizer.
Ele agora suava incessantemente.
-Eu... nem sei o que dizer, sinceramente, filha...
-É claro que não sabe. Mas eu sei, não se preocupe.
O clima do jantar havia acabado, completamente.
Sérgio percebeu isso. Não lhe parecia haver qualquer chance de ter um jantar tranquilo com Anabella, não depois do que estava acontecendo.
Susan se levantou, de repente.
Sua aparência sedutora por usar o vestido vermelho bastante decotado que deixava seu corpo ainda mais voluptuoso, entrava em contradição com seu rosto, aparentemente envergonhado.
-Com licença...- Ela murmurou, pegando sua bolsa.
-Susan...- Vicente disse.
Ela o olhou rapidamente e balançou a cabeça.
-Está tudo bem. Preciso ir.
Vicente a viu sair, andando por entre as mesas do restaurante, e sentiu-se fortemente tentado em ir atrás dela. Mas o olhar fixo de Anabella nele, prendeu-o à mesa.
-Me espera aqui. Vou acompanhar sua amante até a saída.- Ela disse, ao cabo de um minuto.
Então se levantou e saiu.
🍷
Vicente bebeu um gole do vinho que havia em sua taça e encarou Sérgio, que até então havia permanecido calado, como um mero observador.
-Quer me contar o que está acontecendo por aqui?? Por que você está com a minha filha??- Via-se que ele estava furioso, mas mantinha o tom de voz baixo.
Sérgio riu.
-Qual é, Vicente! Não vai querer cobrar explicações de mim agora, né? Cara, você acabou de ser pego no flagra! Nem eu sabia que você estava pegando a gostosa da Susan.
-Olha como fala, rapaz!- Ele disse, avançando sobre Sérgio, mas se conteve, olhando ao redor.
-O que existe entre eu e a Susan, não é da sua conta!
-Tá bom, né?
Vicente respirou fundo.
-Como conheceu a Anabella?
-Em um pub, à noite.
-E o que há entre vocês?
-Você quer mesmo saber?- Sérgio ergueu a sobrancelha.
Vicente o encarou, com o semblante carregado de raiva.
-Na verdade, não. Agora, seja lá o que for que esteja havendo entre vocês, termina por aqui. Quero que fique longe da minha filha! Está me entendendo, Sérgio?
-Sinto muito, mas isso não vai ser possível.
-E por que não???
-Porque eu estou apaixonado por ela.
-Rá!- Vicente bateu na mesa, rindo com sarcasmo.- Essa é boa. Realmente não acredito em você. Não me parece o tipo de cara que se apaixona.
-Bom, eu tenho sentimentos. Então sim, é verdade, eu estou apaixonado por sua filha.
Vicente olhou de um lado para o outro, e se aproximou de Sérgio, afastando taças e pratos.
-Pois eu vou te dizer uma coisinha, Sérgio. Você vai me fazer o favor de esquecer essa "paixão" que diz sentir e vai se afastar da Anabella. É uma ordem.
Sérgio o escutou, sem se abalar com aquelas palavras.
-Você é meu parceiro de negócios, não meu pai pra me dar ordens, Vicente. Então sinto muito, mas não vou poder te obedecer.- Ele também se aproximou um pouco mais.- E você nem pense em tentar interferir na minha relação com a sua filha, porque eu posso por tudo a perder.
Ele deu uma piscada.
-Já sabe do que estou falando.- Completou, vendo Vicente soltar um suspiro pesado de frustração.
🍷
Anabella alcançou Susan antes que esta atravessasse a rua.
-Por que a pressa, Susan?- Disse, atrás dela.
Susan parou. Respirou fundo e se virou.
-Não é pressa. Apenas... não existe mais clima para jantar.
Anabella caminhou de um lado para o outro, seus saltos batendo contra o calçamento da calçada.
Depois, parou em frente à Susan.
-Como se sente, saindo com um homem casado, sabendo que a esposa dele está neste momento sozinha em casa, sem ter a menor idéia de que seu marido a trai com uma de suas funcionárias?
Susan engoliu em seco.
-Eu... me perdoe, Anabella. Você é muito jovem ainda pra entender que quando duas pessoas se apaixonam... todo o resto se torna insignificante.
-Você gosta de usar palavras bonitas, não é Susan? Seu noivo, o Pedro, o que acha disso?
Susan custou a responder.
-Estou esperando o momento certo para terminar tudo com ele.
-Para quê? Para ficar com o meu pai?- Anabella inquiriu, parecia incrédula, mas sua pose era tranquila.
-Eu, bom... ainda não sei bem o que vou fazer.
-Olha só.- Anabella chegou mais perto.- Eu vou te dizer o que você vai fazer. Você vai ficar bem longe do meu pai. Está me entendendo?
Susan estava se segurando para fazer o que ela queria fazer desde que percebera que Anabella havia seguido-a: debochar.
-Senão o quê? O que você vai fazer, querida?
-Eu não quero dizer o que posso fazer com você, Susan.- A voz de Anabella ainda soava tranquila.- Por enquanto, estou dizendo apenas para você se afastar do meu pai.
-Mas eu realmente estou curiosa para descobrir o que você vai fazer se eu não me afastar dele.- Susan sorriu, cruzando os braços.
-Que tal... perder o emprego?
Susan parou de sorrir gradativamente.
Perder o cargo que tinha na Vinícola era abrir uma porta para a ruína dos seus planos. Simplesmente não podia cogitar a idéia de ser demitida.
"Garota maldita."
Entretanto, não quis demonstrar fraqueza.
-Ah, isso não seria um problema. Meu currículo é excelente, sem trabalho eu não ficaria.- Falou, indiferente, assoprando suas unhas de gel.
-Ótimo. Vou agora mesmo recomendar sua demissão ao meu pai.
-Não!- Susan segurou o braço dela, antes que entrasse novamente no restaurante.
Anabella olhou da mão de Susan em seu braço para o rosto dela friamente e Susan tirou a mão.
-Não vai dizer isso ao seu pai, por favor.
-Você já sabe o que fazer.
-É claro. Tudo bem.
Susan se recompôs e olhou brevemente para o relógio em seu pulso.
-Eu tenho que ir. Preciso me encontrar com o meu noivo.- O tom de deboche havia voltado à sua voz, mas Anabella não entendeu.- Adeus!
Susan saiu andando rapidamente e Anabella permaneceu parada por alguns segundos, antes de decidir entrar.
🍷
Anabella voltou para a mesa.
Sérgio sorriu ao vê-la.
-Temos que fazer nosso pedido.- Ele disse.
Ela se sentou e abanou a cabeça.
Na verdade, não tinha vontade de comer. Sentia-se enjoada, depois de ter visto Susan e seu pai juntos.
Quer dizer, ela sabia o que a esperava. Afinal, só marcara aquele jantar com Sérgio para pegá-los no flagra.
Ouvir Jader falando foi horrível. Mas ver aquilo com seus próprios olhos era mil vezes pior.
-Meu amor...- Vicente pegou sua mão, depois do garçom ter se afastado, com o pedido de Anabella e Sérgio.
Ela mal olhou para ele.
-Não pode dizer nada à sua mãe, por favor...
Anabella fitava a mesa, em silêncio.
-Eu não quero que nosso casamento termine por... por causa de um caso bobo como esse que tive com a Susan...
Sérgio apenas observava a cena com um sorriso irônico em direção à Vicente, com o corpo encostado à cadeira e os braços cruzados.
Anabella pensava rapidamente.
-Está bem.- Disse, por fim.- O estrago já está feito, mas eu não vou contar isso à mamãe.
Vicente soltou um suspiro de alívio.
-Com duas condições.- Completou ela.
-Quais?- O olhar de Vicente para ela era desconfiado e atento.
-Que você termine tudo com a Susan, não a procure mais.
Vicente passou a língua pelos lábios e a mão pelos cabelos.
Anabella não deixou que ele já respondesse.
-A segunda condição é que permita que eu trabalhe na Vinícola.
Vicente arregalou os olhos.
-O quê?
-É isso mesmo.
-Essa idéia de trabalhar na Vinícola está ficando cada vez mais fixa na sua cabeça!- Ele parecia grandemente irritado.
-Exatamente. E quanto mais você nega, mais eu quero.
Vicente dessa vez respirou pesadamente.
-É isso, ou a minha mãe vai saber disso hoje mesmo.- Anabella disse, inflexível.
Vicente engoliu em seco, trocando um rápido olhar com Sérgio, que por sua vez, desviou o dele para longe.
Relutantemente, disse:
-Está bem. Você pode ir trabalhar na Vinícola.
Anabella sorriu.
-Perfeito. Ah, e vê se conversa com Ana Lúcia, também. Ela sabe disso e está arrasada.
Vicente assentiu. Sentia um misto de emoções.
Não queria terminar tudo com Susan, nem sabia se realmente seria capaz de fazer isso. Por outro lado, sentiu seu coração doer por causa da família.
Por ora, só o que tinha a fazer era tranquilizar Anabella.
-Está bem, vou conversar com ela. Esse assunto morre aqui.
Anabella também assentiu, mas tinha suas dúvidas.
🍷
Anabella estava mais uma vez no Pacífico, deitada sobre o capô, os braços e mãos acima do corpo, servindo de apoio à cabeça.
Depois do jantar com Sérgio e de ter despedido-se dele, havia seguido diretamente para lá.
Pensava em como finalmente conseguira, mesmo que por meio de uma negociação, que o pai cedesse à seus pedidos de trabalhar na Vinícola.
Partia seu coração o fato da mãe não saber de absolutamente nada daquilo que vinha acontecendo.
Mas sentia-se em parte aliviada por que ela não sofreria com uma decepção daquelas.
De repente, seus olhos foram momentaneamente cegos pelo farol de um carro, que parou bem ao lado do seu.
Anabella se levantou, ficando apenas sentada sobre o capô, observando.
-Mas que lugar é este?- Ela ouviu a voz de Sérgio.
Ele bateu a porta do carro e foi ao encontro dela.
-O que está fazendo aqui??
-Não consegui me controlar, tive que seguir você até aqui, depois que nos despedimos no restaurante.- Ele disse, se aproximando.
-Pra quê?
-Como assim pra quê? Mal conversamos durante o jantar, por causa...- Ele parou.- Você sabe.
Sérgio tocou-a na cintura.
-Eu só queria te ver de novo, te beijar...
-Sérgio...- Ela tentou pará-lo.
-Não fala nada.- Ele sussurrou, começando a beijá-la.
Anabella abriu a boca, permitindo o beijo.
Sérgio a beijava, agarrando ora seus cabelos, ora sua cintura com possessão.
-Ah, Anabella... Você me enlouquece, me deixa fascinado...- Ele dizia, beijando-lhe a boca, o queixo, as orelhas, descendo até o busto, as mãos passeando ousadas e urgentes pelo corpo.
Anabella desceu do capô, de repente, interrompendo o beijo.
-Para com isso, Sérgio.- Disse, ajeitando o cabelo e a roupa.
-Parar como? Você acha que consigo me controlar quando te vejo?- Ele se aproximou novamente, segurando-a pelo braço.- Anabella, eu sou louco por você, eu... Eu tô apaixonado.
-Quê?- Ela se soltou, bruscamente.- Não venha com esses papos pra cima de mim.
-Não é só papo. É verdade, eu tô falando sério. Eu estou apaixonado por você.
Anabella se lembrou de Martín lhe dizendo exatamente a mesma coisa.
Dois patéticos.
-É realmente uma pena. Porque eu não estou apaixonada por você. E também não quero mais saber de você, entendeu?
Ele parou, olhando-a. Parecia confuso.
-Como assim não quer saber de mim?- Ele voltou a se aproximar.- Você não percebe a química que temos? Como somos incríveis juntos, na cama...- Sérgio deslizou sua mão pela cintura delgada dela, até o quadril.
-Não me toque mais!- O tapa que ela desferiu contra o rosto dele foi forte e o fez recuar, surpreso.- Já disse que não quero mais saber de você. Ficamos juntos apenas duas vezes e pra mim, isso basta.
-Por quê? Está saindo com outro? Com o imbecil do Martín? Por que está fazendo isso? É porque não te contei o que você queria saber sobre o seu pai??
-O que faço ou não da minha vida não é problema seu! E sobre o meu pai, eu mesma vou descobrir, por conta própria.- Ela o encarou friamente.- Não preciso de você.
Ela começou a caminhar em direção ao Maserati, rapidamente.
-Anabella! Por favor, não faz isso comigo!
-Sérgio, só entenda uma coisa.- Ela se virou rapidamente.- Eu não gosto de você, não sinto nada por você, o que aconteceu foi somente sexo e jamais passaria disso. Não banque um infantil sentimental, você fica ridículo assim.- Ela lhe deu as costas, para abrir a porta do carro.- Agora com licença, preciso ir para casa.
-Não, acho que você não vai a lugar nenhum.- Ela ouviu um barulho e parou.
Conhecia aquele barulho. Aquele som.
Anabella se virou lentamente.
-Você não vai sair daqui.- Sérgio a encarava, enquanto apontava uma arma para ela.
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