
Capítulo 23
Vicente e Eleanor tomavam café na sala principal, quando Anabella entrou pela porta.
Vicente olhou o relógio e depois a filha.
-Finalmente, hein?
Ela parou.
-Filha, não foi legal a forma como você falou com a sua irmã, antes de sair. Acho que você sabe que deve um pedido de desculpas à ela.- Dona Eleanor disse, fitando-a com uma expressão doce de repreensão.
Anabella os olhava e só conseguia pensar em tudo o que vinha descobrindo: as mentiras, as traições, conversas das quais ainda não sabia do quê se tratavam.
Ela assentiu.
-Depois eu falo com ela.
-Faça isso, por favor.
Anabella saiu da sala, subindo as escadas em direção ao seu quarto.
Por hora, o que realmente precisava era de um banho. Um longo e relaxante banho.
Contudo, antes que pudesse abrir a porta do quarto, ouviu sons de choro, vindos da direção do quarto de sua irmã.
Andou até lá, apressadamente.
Pelo jeito, seu banho teria que esperar.
Não era possível que Ana Lúcia fosse tão sensível a ponto de estar chorando desde a hora que saíra de casa, depois de ter dito todas aquelas coisas.
Deu algumas batidinhas leves na porta, mas, fosse devido ao choro ou a qualquer outro motivo, Ana Lúcia não respondeu e ela então entrou, fechando a porta atrás de si.
Ana Lúcia estava deitada na cama, abraçada ao travesseiro, e seu corpo vez ou outra se sacudia, por causa dos soluços.
Anabella suspirou.
-Poxa, Ana Lúcia...- Se aproximou da cama.
Ana Lúcia levantou a cabeça ao ver que era ela.
Seus olhos estavam turvados pelas lágrimas que ela simplesmente não conseguia deter.
Anabella percebeu que Ana Lúcia não parecia magoada por ter sido tratada com grosseria, apenas. O que ela viu nos olhos de sua irmã foi tristeza. Uma tristeza profunda e verdadeira.
Ela se sentou na cama e imediatamente, Ana Lúcia segurou suas mãos.
-Bella, eu descobri uma coisa horrível!- Ela disse, mordendo os lábios e tentando engolir o choro.
-O quê?- Anabella perguntou, assustada.
-O papai tem uma amante!
-Como você sabe disso?- Anabella arregalou os olhos.
Depois, percebeu que não era isso que deveria ter dito.
Ana Lúcia a olhava com a testa franzida.
-Você já sabia??
Anabella se viu sem palavras, de repente.
-Você sabia que o papai tem uma amante e não me contou nada??- Mais lágrimas rolaram do rosto já vermelho de Ana Lúcia.
Anabella suspirou outra vez.
-Sabia. Na verdade...- Ela olhou ressabiada para a irmã.- Foi Jader quem descobriu primeiro e me contou.
Ana Lúcia abriu a boca, incrédula.
-Jader também sabe disso? Por que vocês não me contaram?
-Porque você é muito sensível, Ana Lúcia. Olha só como você está agora. Jader quis te poupar exatamente disso. Por isso deve ter contado pra mim e não pra você.
-E você queria que eu reagisse como, ouvindo meu pai falar ao telefone "eu te amo" pra outra mulher, que não é a mamãe? Eu estou muito chocada.- Ana Lúcia falou, suspirando.
Ela limpou os olhos e o rosto com um lencinho.
Depois, respirou fundo, se controlando o máximo que pôde e encarou a irmã.
-Isso é horrível, Bella.
Anabella assentiu, também olhando-a.
-Eu sei. Eu também fiquei e ainda estou muito chateada. Nossa mãe não merece isso. Eu tenho me segurado dia após dia para não jogar toda essa merda no ventilador. Mas me controlo porque penso no quanto a mãe vai sofrer.- Anabella parou de falar, olhando para Ana Lúcia.
Contava logo de uma vez que também tinha outras suspeitas em relação ao pai??
Achou melhor não.
-Como foi que você... descobriu?
Ana Lúcia suspirou de novo.
-Depois que todo mundo foi embora eu subi para tomar banho, vi a porta do escritório aberta e resolvi ir até lá, pra conversar um pouco com o papai. Mas escutei ele falando ao telefone, marcando um jantar com uma tal de Susan...- Ela fez uma pausa.- Você sabe quem é essa mulher?
-Como você é desatenta.- Anabella revirou os olhos rapidamente.- É a gerente de vendas da Vinícola.
Ana Lúcia processou a informação.
-Por quê??- Ela questionou, balançando a cabeça.
A pergunta ficou no ar. Ambas não conseguiam entender aquela situação. Estava além de suas compreensões.
-Ana Lúcia.- Anabella tocou o braço dela e a olhou firme nos olhos, fazendo com que a irmã prestasse atenção.- Quero saber os detalhes dessa conversa. Preciso que você me diga tudo, absolutamente tudo o que ouviu.
🍷
Jader deixou os pais e a irmã em casa e seguiu para o apartamento, mesmo com a mãe insistindo para que ficasse para jantar com eles.
No entanto, ele queria muito ver Sérgio e perguntar algumas coisas.
Tudo o que vinha acontecendo já lhe parecia estranho suficiente e agora ainda mais, depois do que Martín havia contado.
Usou sua chave para entrar no apartamento, já chamando pelo primo.
-Sérgio!
Jader caminhou até a porta do quarto, mas hesitou, de repente. E se Anabella ainda estivesse ali?
Parecia-lhe meio improvável, pois já era bem tarde da noite.
Mesmo assim, por precaução, bateu na porta do quarto, antes de entrar.
-Sérgio?
Não obtendo nenhuma resposta, entrou.
-Sérgio?? Ah, mas o que é isso!
Jader se aproximou da cama, vendo-o ali jogado e seminu.
Olhou ao redor. Viu as garrafas vazias e balançou a cabeça, cutucando o primo.
-Ah, não. Ei, cara! Acorda!- Jader o sacudiu.
Sentindo-se tonto, Sérgio abriu os olhos, olhando ao redor, como se estivesse confuso.
-Ahn??- Murmurou, grogue.
-Acorda, Sérgio!- Jader deu-lhe alguns tapas leves pelo rosto, para que despertasse.- O que é isso? Você está completamente bêbado! Esperava encontrar você com a Anabella, já que ela saiu da festa na piscina depois de uma ligação sua. Mas eu chego e encontro você assim!
-Anabella...- Ele disse, olhando de um lado para o outro.- Cadê ela??
-Como é que eu vou saber? Por que você bebeu tanto desse jeito??
Sérgio passou as mãos pelos cabelos e pelos olhos.
Seu raciocínio foi voltando lentamente.
Ele se levantou, cambaleante.
-Foi ela... mas que droga!
-O que está dizendo?
-Ela me embebedou... a Anabella.- Disse, pegando um short no meio da bagunça do quarto e vestindo-o.
-Ah, por favor! Você já está bem grandinho pra ser embebedado, não acha? Vocês provavelmente beberam juntos, foi isso.
-Não, não... Eu me lembro. Ela não bebeu nada. Só ficava me oferecendo mais e mais dessa... dessa bebida aí.- Ele suspirou, e se jogou de novo na cama.- Que merda, cara! Eu me deixei levar por ela...
Jader permaneceu em pé, olhando-o.
-Ela foi esperta me fazendo beber tanto assim. Acabei falando mais do que devia.
-Como assim? O que você falou pra ela?- Jader se interessou.
Sérgio o olhou, balançando a cabeça.
-Não importa.- Se levantou, novamente.- Eu tô um caco, preciso tomar um banho.
-Espera, Sérgio.- Jader o segurou pelo ombro, fazendo-o se virar.- O que está acontecendo com você e a Anabella, além de... terem dormido juntos?
-Nada, por quê?
-Me conta a verdade. Martín disse que Anabella está te investigando.
-É o quê?- Ele se virou.- Anabella está me investigando? Como assim, por quê? O que aquele imbecil te disse?- Sua voz grogue se tornou raivosa.
-Disse que ela pediu que ele ficasse de olho no pai dela, lá na Vinícola. Parece que ela acha que tem algo de estranho acontecendo por lá. Então Martín viu você conversando com Vicente, e obviamente, passou a informação pra ela.
A ficha de Sérgio caiu.
-Então é por isso. Por isso ela ficou me perguntando se eu conhecia o pai dela e como eu neguei, ela me embebedou, pra que eu falasse. Droga!- Sérgio chutou a parede.
-O que está escondendo, Sérgio? Sobre o que, afinal de contas, você e o Vicente estavam conversando??
Sérgio olhou para o primo.
-Ah, por favor! Não vem você também querer se meter na minha vida, Jader. Já basta o idiota do Martín.
-Só estou achando tudo isso muito estranho.- Jader o fitou.
-Pois continue achando o que quiser. Eu não te devo satisfações!- Sérgio saiu do quarto.
Jader o seguiu.
Pensou em dizer mais coisas, mas Sérgio entrou no banheiro, batendo a porta e ele preferiu deixar aquele assunto de lado, por enquanto.
🍷
A água fria caía sobre seu corpo e escorria até o chão, enquanto ele pensava no que tinha acontecido.
Sérgio estava furioso por ter sido usado- sim, era assim que se sentia- por Anabella.
Também estava furioso consigo mesmo por estar tão prostrado por ela.
Mas ela era tão linda, tão sexy, com seu jeito reservado, sério e... misterioso. Era inevitável não se sentir atraído.
Ele esfregou o couro cabeludo com força, espalhando o shampoo.
"Ela te usou, Sérgio! Você caiu como um patinho..."
Porém, acima de tudo, estava furioso com Martín. Aquele babaca não tinha nada que contar à Anabella nem à Jader que o vira conversando com Vicente na vinícola.
Lembrou-se de que Martín só havia visto aquilo porque fora a pedido da própria Anabella.
"Droga, Anabella!" Chutou a parede do banheiro.
"Por que tem que se meter?"
Quando acabou o banho, saiu, enrolado na toalha, em direção ao quarto.
Pretendia dormir pelo resto daquela noite, já que ainda se sentia tonto pelo efeito da quantidade de álcool que havia ingerido.
Terminava de vestir a camisa, quando seu telefone tocou.
-Alô.
-Oi, Sérgio.
-Anabella??
-Sim.
-Ah, bonitona! Que cara de pau a sua de me ligar, hein?!
-Por quê?
Sérgio mal podia acreditar no cinismo dela.
-Por quê? Você me deixou bêbado!
-Eu não. Você que bebeu demais. Eu apenas ofereci.
-Você me deixou... alucinado, bobo, se aproveitou que eu estava louco por você, ficou me enchendo de bebida, e depois, se mandou. Você me deixou aqui largado feito um perfeito idiota, não antes de conseguir o que você queria, não é?
-O que eu queria?
-Ah, não vem bancar a sonsa pra cima de mim Anabella, que de sonsa eu sei que você não tem nada.
Ele ouviu um suspiro.
-Tudo bem. Mas foi a única maneira que encontrei para que você me dissesse a verdade. Se você tivesse dito logo quando perguntei que conhecia o meu pai, não teria ficado bêbado assim.
Sérgio ficou atento.
-Isso foi tudo o que eu disse?
-Sim, antes de desmaiar de tão bêbado!- A voz dela soou levemente risonha.
Dessa vez foi Sérgio quem respirou, aliviado.
-E você me ligou pra quê, afinal? Pra ficar debochando de mim?
-Não. Quero te fazer um convite.- Houve uma pausa.- Digamos que como uma forma de pedir desculpas por ter, como você diz, embebedado você.
Sérgio sentiu boa parte de sua raiva indo embora com aquelas palavras.
Sorriu.
-Um convite, é?
-Sim.
Ela tinha coração, afinal. E, pelo visto, desejava estar novamente com ele.
-E o que você tem em mente?
-Um jantar.
Ele soltou uma verdadeira risada, se jogando na cama, segurando o telefone.
-Anabella Montenegro está me convidando para jantar?
A voz dela soou agradável ao telefone:
-Sim, por que não?
-Beleza.- Sérgio se sentou de novo. Pela primeira vez sentiu que suava frio.
Estava... nervoso?
-Que tal amanhã, às oito da noite, no Romero's?- Anabella disse.
-No Romero's? Caramba, chique demais pra mim, meu bem.
-Não se preocupe. Sou eu quem estou te convidando.
-E quem sou eu para recusar um convite desses, não é?
-Então está combinado. Às oito, no Romero's.
Sérgio deixou o telefone cair de lado quando ela desligou.
-Ahhhhhh!- Urrou, feliz.
Jader apareceu na porta do quarto.
-Tá animado demais pra alguém que foi embebedado.- Comentou, vendo a euforia do primo.
-Estou, mesmo. Afinal de contas, a Anabella acabou de me ligar. Descobri que não falei tanto quanto achava que tinha falado e, adivinha só...- Ele se levantou da cama.
Jader o olhava.
-Ela marcou de jantar comigo amanhã, pra pedir desculpas!
Sérgio deu vários pequenos socos no abdômen de Jader, animado.
-Essa mulher tá na minha, cara!- Gritou.
Jader se afastou, sem achar graça naquilo e saiu do quarto.
Sérgio se jogou de volta na cama, sem acreditar no quanto era sortudo.
🍷
O sol brilhava alto no céu da Praia da Costa, onde Jader e Ana Lúcia haviam decidido passar o domingo.
Estavam tomando refrigerante, debaixo de um grande guarda sol, depois de terem dado um mergulho no mar.
Jader pôs uma mecha do cabelo castanho úmido de Ana Lúcia detrás da orelha, olhando seu rosto.
-Você está brava comigo?
Ela fitava o mar ao longe. Demorou a responder.
-Brava não é bem a palavra, Jader. Eu estou magoada. E não é nem com você ou com a Bella.- Ela o fitou, com tristeza.- É com o meu pai.
-Você entende os meus motivos para não ter te contado nada?- Ele perguntou.
Ela assentiu, dando de ombros ao mesmo tempo.
-Isso nem vem ao caso agora, também. Eu passei a noite pensando nisso, eu tenho pensado nisso, o tempo todo.
-Eu percebi.
-Sabe.- Ela se virou para ele.- Eu cresci vendo meu pai como o homem mais espetacular de todo esse mundo. Ele era meu herói, meu exemplo de homem. Mas... descobrir de repente que ele é infiel à mamãe me deixou com uma sensação estranha. Como se tudo o que eu vivi fosse uma grande mentira.
-Eu sinto muito.
-Você deve me achar uma bobinha romântica, não é?- Ana Lúcia riu, sem humor.- Anabella tem razão quando fala que eu sou boba por acreditar no amor.
-Ei.- Jader segurou o rosto dela.- Para de falar assim. Não te acho boba. Eu entendo porquê você se sente dessa forma. Não deve ser fácil mesmo perceber que seu pai não é bem a pessoa que você pensou que ele era. E quanto a você acreditar no amor...- Jader sorriu, aproximando seu rosto do dela, fitando-a profundamente.- Que bom que acredita, porque eu estou aqui.
Ana Lúcia recebeu o beijo de Jader, apoiando suas mãos ao redor do seu pescoço.
-Tem razão, meu amor. Eu sou tão sortuda por ter você comigo, Jader. Eu só lamento pelas mulheres que ainda não conheceram um homem como você.- Ela voltou a beijá-lo.
-Me promete uma coisa?
-O quê, amor?
-Me promete que você não vai ficar triste pelo que descobriu sobre o seu pai.
Ana Lúcia suspirou.
-Eu sei que de alguma forma vamos ter que resolver isso, mas sim, eu prometo. Vou pelo menos tentar ao máximo não ficar triste com isso.
-Muito bem.- Jader beijou as mãos dela.
Ela sorriu.
-É esse sorriso que eu adoro. Tristeza não combina com você, meu amor.
-Ah, Jader... eu te amo!
Ele a abraçou fortemente.
🍷
A noite chegou.
Sérgio estacionou seu carro em meio aos vários veículos que estavam em frente ao restaurante Romero's, onde Anabella havia marcado de se encontrarem.
Cerca de dez minutos depois, o Maserati cinza também estava parando por ali e ele resolveu descer do carro.
Caminhou até ela, que saía do carro, olhando ansiosa em direção ao estabelecimento.
Ela o viu e acenou.
Sérgio se aproximou, sorrindo.
-Boa noite, Sérgio.
-Boa noite.- Ele fez menção de beijá-la na boca, mas Anabella virou o rosto e o beijo acabou sendo no rosto.
Sérgio se afastou, mordendo os lábios e olhando para ela.
-Vamos entrar?- Anabella disse.
-Claro, vamos sim.
Um atendente veio recepcioná-los na entrada.
-Boa noite, senhorita. Senhor...- Ele inclinou a cabeça em direção a Sérgio, saudando-o e voltou-se novamente para Anabella.- Vou conduzi-los até a mesa que a senhorita reservou...
-Agradeço a gentileza, mas não precisa.- Disse Anabella, sorrindo amavelmente para o atendente.- Podemos ir sozinhos.
-Como desejar, senhorita.- O atendente fez uma pequena reverência e se afastou.
-Uau.- Sérgio disse, olhando ao redor.- Este é o tipo de lugar que pretendo frequentar sempre
em breve, se...
-Se o quê?- Ela o olhou.
-Se tudo der certo pra mim.
Anabella revirou os olhos.
"Logo cuido de você, Sérgio. Cada coisa a seu tempo."
Então, ela o pegou pela mão, surpreendendo ao próprio Sérgio e disse:
-Vamos lá.
🍷
Vicente e Susan desfrutavam do jantar, enquanto conversavam, entre carícias discretas, beijos e risadas.
-Ahh! Tinha tanto tempo que não nos víamos assim, em público. Eu tinha saudades de poder te ver perto de outras pessoas, sabe? Me dá a sensação de que somos um casal normal.- Disse Susan.
-Mas não somos um casal normal e você sabe disso.- Vicente falou, olhando-a.
-Por que não?- O semblante dela entristeceu.
-Porque somos dois malucos! Normais nunca fomos!- Ele exclamou, fazendo-a rir enfim.
Susan acariciou a mão dele.
-Nisso você tem razão, meu amor. Somos dois malucos, apaixonados...- Ela sussurrou, puxando o rosto dele para si, iniciando um beijo quente, sem se importarem com nada em sua volta.
-Acho que a palavra certa é... Eca.
Vicente e Susan interromperam o beijo, ao ouvirem isso.
Vicente ergueu os olhos e viu Anabella, de mãos dadas a Sérgio, parados, olhando-os.
Ele, com os olhos arregalados e surpresos.
Ela, com a sobrancelha erguida, encarando-o.
Seu rosto ficou lívido e sentiu um suor fino projetar-se em sua testa.
-A-Anabella??- Sua voz quase falhou.
-Boa noite, papai.
〰〰〰〰〰
E é agora!🎳
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