✿*:･ﾟEMBARAÇOS ﾟ･:*✿

Fui para casa não muito tempo após tomar café com Olivia. Ela continuou a insistir no assunto sobre Charles e a possível conversa que tivemos no quarto em que eu estava hospedada. Mas como eu não dei nenhuma brecha ela logo desistiu do assunto. Insisti para pagar a porcelana que eu quebrara, mas ela não me deixou. E como sempre, muito gentil, me cedeu uma de suas carruagens para me levar. Ao chegar em casa vi que papai não se encontrava e me senti muito aliviada. Na verdade, extremamente aliviada. Eu nunca fui uma pessoa rancorosa, mas a pessoa que ele tinha se mostrado ser me magoou e decepcionou muito. E eu não queria relembrar tudo sempre que esbarrasse com ele pela nossa casa.

Matei um pouco da saudade de Lily e de Florence. Como eu amava aquelas duas mulheres! Mamãe venho me ver e me deu apenas um abraço sem muita emoção. Confesso que fiquei meio chateada, mas eu não podia cobrar nada dela. Algo me dizia que papai enchera sua cabeça com coisas sobre mim. Eu não queria acreditar, mas aquela altura eu não duvidava de mais nada. Principalmente quando se tratava de papai. Mas eu não tinha como saber e ficar remoendo possibilidades em minha cabeça certamente não me faria obter respostas.

— E então como foi na casa da duquesa? Conte-nos tudo. — Florence como sempre com sua curiosidade avassaladora.

— Foi muito bem. Pude relaxar e esfriar um pouco a cabeça. Ultimamente eu não ando nos meus melhores dias.

— Não encontrou nenhum pretendente bonito? — Lily me perguntou com um tom descontraído.

— Pare, Lily! Você sabe muito bem que Aurora está comprometida. — Florence intercedeu e acabou com a graça de Lily.

— Não encontrei rapazes por lá. Apenas o irmão da duquesa, o conde de Spencer.

— Apenas o conde? Como você diz apenas o conde? Você já viu como ele é bonito, Aurora? Ele tem um jeito... Misterioso que o deixa ainda mais galanteador. — Lily riu enquanto falava dos supostos atributos de Charles.

— Isso eu não posso negar, Aurora. — Desta vez foi a vez de Florence. — O conde é realmente muito bonito. Se você estivesse realmente participando da temporada formariam um belo casal.

Dei de ombros. O que estava acontecendo com as pessoas aquele dia? Todo mundo bebera um pouco do chá da loucura? Eu não queria me permitir pensar em Charles como nada além de um amigo. Eu não podia.

— Eu realmente queria falar sobre isso com vocês. É que...

— A refeiçãoestá posta, meninas! Desçam por favor. — Uma das empregadas veio nos chamar.

— Tudo bem. — Respondi. — Nós já desceremos.

— O que aconteceu com seu braço? — Florence só agora tinha reparado no curativo em minha mão.

— Como sempre o meu lado desastrado resolveu entrar em ação. Me cortei com a porcelana da duquesa. Agora temos que ir porque mamãe virá nos buscar à força.

Às duas assentiram. Lily desceu conosco, mas logo tratou de sair do cômodo e nos deixar a sós com mamãe e papai. Ela sempre fugia nas situações tensas. Sentamos a mesa e a comida logo foi servida. Eu não sentia fome.

— E como foi sua estadia na casa da duquesa? — Papai perguntou como se não demonstrasse muito interesse.

Um silêncio reinou pelo cômodo. Apesar de não ter vontade nenhuma de comer logo tratei de enfiar a primeira coisa comestível que vi ao meu alcance na boca. Continuei a mastigar e não me atrevi a tirar os olhos de meu prato.

— Seu pai lhe fez uma pergunta, Aurora. — Mamãe interrompeu meus pensamentos.

— Desculpe, eu estava distraída. — A verdade é que eu só não queria responder. — Qual foi mesmo a pergunta?

— Como foi sua estadia na casa de Olivia? — Mamãe repetiu a frase.

— Boa. — Respondi olhando para mamãe. — A duquesa é muito agradável e sua casa é muito aconchegante.

— Seu noivo nos escreveu ontem. Ele dissera querer tratar de algo sério conosco. Creio que seja sobre o seu casamento. Você tem algo a nos dizer a respeito, querida? — Mamãe me perguntou de uma forma suave.

Eu até responderia, mas creio que eles ficariam mais chateados. Primeiramente eu precisava ver o marquês e saber o que ele havia resolvido. Se tinha ou não, achado alguém para se casar, alguém que o faria feliz de verdade.

— Não. Sei tão pouco quanto vocês dois. Não tive mais contato com o Marques de Hertford desde o chá que aconteceu em nossa casa. — Menti.

— Querida, eu só... — Ela olhou para papai. — Quero que você saiba que confiamos em você.

Assenti e sorri com ternura para ela. Às vezes ela parecia se deixar ser influenciada por papai a se afastar de mim. Como se de algum modo ela se culpasse por algo, mas eu podia ver em seus olhos que ela me amava.

— Fale somente por você, Amélia. — Papai levantou-se. — Perdi o apetite.

Acredito que mais surpresa que eu, só mamãe. Pude ver em seus olhos o olhar de desapontamento que ela dirigiu à papai. No fim eu só tinha pena dela por tentar me defender sempre. Pois, eu sabia que as coisas sobravam para ela.

— Amélia, me acompanhe até o quarto. — Ele dirigiu seu olhar a mamãe.

— Eu ainda estava comendo... E eu queria conversar mais um pouco com Auro...

— Não me faça repetir. — Ele falou em um tom irredutível.

— Tudo bem, mamãe. — Segurei em sua mão. — Ainda teremos muito tempo para conversar.

Ela assentiu ainda meio atordoada e então levantou-se e saiu junto a ele. Mas não antes de beijar a minha cabeça e a de Florence.

— Desculpe-me, Florence. — Suspirei fundo. — Também perdi a fome. Chame Lily para lhe fazer companhia.

Ela olhou-me de soslaio, mas por fim continuou a comer. Caminhei até meu quarto e me deitei sobre a cama.

Como eu me deixei enganar por tanto tempo? Papai sempre fora daquele jeito, eu é que fechava meus olhos para não ver sua verdadeira essência. Mas eu ainda não entendia por que era somente comigo. Será que algum dia as coisas diferirão? Algum dia nós mulheres poderemos decidir nosso próprio futuro? Se isso realmente algum dia fosse acontecer eu esperava que não fosse em um futuro tão distante.

Alguém bateu na porta do meu quarto e então me assustei.

— Pode entrar.

Meio segundo depois Florence e Lily invadiram meu quarto. Sentaram-se sobre a cama e me pareceram muito à vontade.

— Queremos terminar de saber sobre sua estadia na casa da duquesa de Kent. — Lily falou em um tom empolgado.

— Não ocorreu nada de muito diferente da minha realidade aqui. Eu apenas me encontrei com o Marques de Hertford e decidimos juntos que não iríamos nos casar.

— Então mamãe estava certa quando pensou que o assunto ao qual ele queria tratar era sobre o casamento. — Florence me pareceu falar mais para ela mesma do que com alguém em específico naquele quarto.

— Em parte sim.

— Me conte mais sobre o conde de Spencer. Vocês... Chegaram a ficar sozinhos? — Lily parecia que me entrevistava.

— Poucas vezes. Antes de eu ir para a casa de Olivia fui até a casa de Charles e conversamos a sós. Ele me pareceu um pouco apreensivo, mas nada além de conversa aconteceu.

— Se você o chama de Charles é porque já são íntimos! — Lily me olhou como se já tivesse certeza daquele fato.

— E como ele é com você? — Florence também começou novamente a despertar uma curiosidade repentina.

— Acredito que como é com todas as outras damas. Ele é gentil e respeitador.

— Se você está dizendo que nada a mais que conversa aconteceu... — Florence me pareceu querer insinuar algo.

— Nada a mais que conversa aconteceu! Mas... — Olhei para a porta e me certifiquei de que estava fechada. — O conde me viu com minha roupa de dormir.

— Deus, isso é um escândalo! — Florence pôs a mão na boca para conter uma risada.

Eu não queria ocultar meus segredos das duas, mas eu também não precisava contar tudo. Elas sempre estiveram ali para mim e por mim e eu as amava de todo o meu coração. Porém, eu preferia polpa-las de algumas coisas.

— Você sente algo por ele! — Lily concluiu por si só. — Posso ver em seus olhos quando você fala sobre ele.

Agora sim, eu realmente não tinha certeza de mais nada. Eu nutria algum sentimento por Charles?

— Não seja precipitada, Lily. Ainda não sei sobre meus sentimentos em relação ao senhor Brandon. Eu apenas sei que eu me sinto mais segura com ele e que quando estamos juntos... Eu não tenho medo de ser eu mesma. Eu não tenho medo de expor meus pensamentos de mulher. Vocês duas sabem muito bem como a sociedade limita nosso poder de fala... Mas com ele é diferente! Ele parece gostar de me ouvir, de escutar minha opinião. Ele não me trata como um ser inferior por sermos do sexo oposto!

— Você está apaixonada! — Dessa vez Florence tirou suas próprias conclusões. — Oh, minha querida! Esse sentimento é recíproco?

— Eu não sei! Eu ainda estou muito confusa e não sei bem o que sinto aqui... — Coloquei a mão em meu coração. — Às vezes ele parece ter sentimentos amorosos por mim, mas às vezes... Eu simplesmente não sei!