Capítulo 7- Conheço cada parte sua
Contém 3950 palavras.
Boa leitura 💜
Observá-lo colocar as mãos sob a cabeça, com semblante totalmente torturado, foi perturbador e desconfortável de presenciar. Embora eu tentasse chamá-lo, Hades parecia estar noutro plano, sussurrando incompreensivelmente, deixando claro que sua mente não estava aqui. Minha confusão aumentou, assim como meu desespero ao vê-lo daquela maneira, mas nada me horrorizou mais do que vê-lo cair, num baque surdo, no chão.
— Hades? — Aflita, segurei seu rosto, notando o quão pálido e gelado ele está. Minha magia está instável por conta da dolorosa recuperação, mas preciso ao menos tentar reanimá-lo!
— Renovare animam tuam.
O suor escorreu pela minha face ao recitar um simples feitiço de reanimação, sem sucesso, pois nem ao menos seu corpo se moveu.
Droga! Minha magia está muito fraca, priorizando minha recuperação, não consigo reanimá-lo sozinha.
Por que ele teve esse surto e desmaiou?
O que está acontecendo com ele?
E se Hades... Oh, Hécate, não permita que ele tenha morrido!
O desespero começou a preencher cada parte do meu ser, intensificando meus sentimentos controversos, sobretudo a aflição de vê-lo daquela forma.
Abaixo até a altura de seu corpo, verifico seus sinais vitais e, quase instantaneamente, um suspiro aliviado escapa pelos meus lábios.
Ele está vivo, está respirando!
Não sei o que está acontecendo com ele, mas ao menos ele está vivo.
Preciso manter a calma, ele tem que ser ajudado!
Respiro profundamente, tentando acalmar meus sentimentos para poder ajudá-lo com meus poderes, embora estes estejam fracos e instáveis.
— Excitare ad imperium meum.
O corpo dele remexeu-se levemente, mas ainda continuou inerte no chão, aumentando meu desespero.
Calma! Preciso manter a porcaria da calma!
Tenho que pensar em toda a situação com precisão, lembrar de cada passo para ajudá-lo!
Hades estava com dor, por isso levou as mãos à cabeça. Seus gestos eram imprecisos e ansiosos, e ele parecia se lembrar de algo, pelo semblante que demonstrou, além de estar balbuciando, mesmo que não conseguisse compreender o que ele falava. Então, é algo mental.
Se for isso, não tenho o necessário para cuidar dele. Talvez não seja bom acordá-lo abruptamente, meus poderes estão instáveis durante minha recuperação, e o nervosismo não ajuda em nada.
No momento, preciso tirá-lo daqui, levá-lo para um local melhor. Talvez ele tenha se machucado na queda, e os Campos Elísios não são um bom lugar para deixá-lo.
Levanto-me cambaleante, sentindo todos os meus ossos latejarem.
Merda! Só preciso chegar ao meu quarto com ele.
— Levitate et sequere me — minha mão brilhou levemente em direção a ele, levitando seu corpo por alguns centímetros do chão.
Pressiono mais meus poderes, tentando aumentar a altura da levitação, mas consigo apenas mais dois centímetros.
— Espero que não te machuque mais! — sussurrei, caminhando lentamente.
༺۵༻
O caminho pareceu extremamente longo, talvez pelo fato de eu andar tão lentamente. Além de tentar segurar meu corpo, senti o peso dele, que não aliviava em nada com meus poderes instáveis.
Por que fui tão teimosa?
Se tivesse aceitado a ajuda dele ou de Hécate, agora estaríamos no quarto assim que pensei na possibilidade!
Com extremo esforço, cheguei ao destino, tendo que fazer um esforço extra para colocá-lo sob a cama sem desmaiar.
Hades permaneceu inerte e pálido, agora gradualmente mais quente, mas ainda sem sentidos.
Ele está bem. Por que está assim?
O que ele pensou para que sua mente entrasse nesse colapso?
Elevo minhas mãos trêmulas até ele, apenas para constatar que não consigo verificá-lo, preciso de ajuda.
— Dea Hecaten, te invoco!
As palavras saíram lentamente pela minha boca, não por teimosia em apelar para ela, mas pelo cansaço extremo que se apoderava do meu corpo.
Não levou mais que dois segundos para Hécate aparecer diante de mim, me olhando com extrema curiosidade, o que era normal da parte dela, já que jamais a invoquei.
— Nunca me invocou antes, nem mesmo em casos extremos — Hécate me observou com curiosidade.
Dou um leve passo para que ela veja Hades desacordado sob minha cama. A deusa apenas me olha por alguns instantes antes de assumir um semblante sério.
— O que aconteceu?
— Não sei, estávamos fazendo um piquenique e Hades desmaiou. Continuo me recuperando, não consigo usar meus poderes ao máximo e estou nervosa. Por favor, me ajude — respondi desesperada.
Hécate suspirou, descontente, e se aproximou de Hades.
Mesmo a contragosto, mantive-me à distância, apenas observando enquanto ela levava a mão à têmpora dele para analisá-lo. Isso pareceu durar uma eternidade, embora soubesse que só se passaram alguns segundos.
Os olhos negros de Hécate miraram os meus com uma seriedade além do comum. Não apenas isso, notei um certo receio em seu olhar, tão rápido que mais me pareceu uma fantasia da minha cabeça.
— Vamos invocar os irmãos dele.
Os irmãos dele? Então, Hades... ele vai... não pode!
— O que ele tem? — perguntei perturbada, olhando-o. Seu corpo está mais pálido que o normal, fora isso, seu semblante está sereno.
Ele não podia ter... Não! Ele é a porra do Deus do Submundo, não pode simplesmente... NÃO! É impossível!
Olho desesperada para Hécate, pedindo que ela negasse, mas a deusa apenas desviou os olhos com semblante derrotado, fazendo meu coração apertar como no dia em que perdi meus pais.
— Calma, não é nada tão grave, mas prefiro falar de uma vez só... será menos trabalhoso... — Hécate concluiu.
Suas mãos assumiram um leve brilho dourado, espalhando-se por todo seu corpo, enquanto ela chamava por eles num leve cantar. Ficaria admirada pela demonstração, se não fosse a ansiedade me consumindo.
Alguns poucos minutos se passaram até que os três deuses apareceram, inicialmente com semblante confuso, até verem o irmão imóvel na cama. A expressão de cada um mudou abruptamente, seus olhos assumiram um tom assustado. Mas foi Poseidon quem reagiu de imediato, virando-se furioso em minha direção. Seus olhos azul-claros, tão gelados e mortais, me fizeram encolher diante de seu olhar. Não por medo, mas por sentir o peso de sua raiva. Sua aura se tornou tão pesada que me deixou sem ar por alguns segundos.
Droga! Sabia que ele era poderoso, mas não dessa forma.
— Sua maldita, o que fez? — a voz raivosa de Poseidon ecoou pelo recinto.
Pensava conhecer sua aura, normalmente calma e majestosa como as profundezas do oceano, embora parecesse ameaçadora. Agora, ela se transformou em algo além da raiva, que nunca havia visto antes. Por instinto, me encolhi, arrepiada de medo. Poseidon mudou sua forma para algo mais sinistro, seu olhar, antes preocupado, agora estava mergulhado em desespero profundo. As vibrações de seus poderes agitavam-se ao redor dele, de maneira tão violenta quanto o mar em sua forma mais furiosa. Seus olhos, antes azuis como o céu, agora brilhavam com uma luz intensa, quase sobrenatural. Vi-o apertar as mãos em punho, os nós dos dedos brancos.
Ele quer realmente me matar!
Senti cada osso congelar e, por mais que tentasse desviar o olhar, não consegui.
Percebendo meu estado, Hécate se interveio, ficando em frente ao Deus.
— Calma, Poseidon, ela não fez nada ao Hades. Vou acordá-lo para explicar tudo — Hécate murmurou, colocando a mão na cabeça do Deus do Submundo, fazendo-o acordar de imediato.
Ele, meio grogue, sentou-se olhando espantado em minha direção, seu olhar num misto de emoções, fazendo-me olhá-lo com curiosidade. Não consegui conter o ímpeto de analisá-lo por completo, suspirando quase instantaneamente ao perceber que ele estava bem. No entanto, seus olhos não se desviavam de mim, estavam tão conectados que o restante parecia sumir. Meu coração disparou sob o peito e seu perfume chegou até minhas narinas, me embriagando, quase como um encantamento.
Fechei os olhos, sentindo o aroma ao meu redor, a sensação de liberdade, tanta que quase senti o vento, como se estivéssemos ao ar livre, debaixo de alguma árvore. A imagem era tão forte que, por um momento, vi Hades de joelhos em minha frente, seus olhos brilhando na escuridão como dois faróis roxos, lindos e exalando um sentimento puro. O momento foi tão intenso que minhas emoções me preencheram sem que notasse, tudo era tão familiar, mas, ao mesmo tempo, estranho.
Eu... Hades... Ele sorriu com os olhos marejados, como se entendesse o que estou pensando.
— Hécate, o que está acontecendo? — Poseidon perguntou, incrédulo, trazendo-nos de volta à realidade.
Minha mente saltou para o momento presente, aumentando a confusão pelos acontecimentos. Por um instante, pareceu que parei em outro lugar, sentindo sensações estranhas que meu corpo parecia reconhecer.
Senti-o... Olho novamente para Hades, notando que ele não desviou o olhar em nenhum momento, tão intenso quanto o que vi em minha mente.
Sinto meu rosto corar e, automaticamente, desvio o olhar para Hécate, que nos observava seriamente. A deusa suspirou pesadamente, atraindo o olhar de todos em sua direção.
— Quando Sarah era deusa, foi dada em casamento a um Deus. Ele conquistou seu coração, e ambos pareciam muito apaixonados. No entanto, ele foi flechado por Eros, apaixonando-se por outra deusa. Com isso, Sarah entrou em desespero e... matou-se. Quando ela morreu, parte de sua alma, atormentada por tal feito, se perdeu. Eu guardei sua outra metade, fazendo todos se esquecerem dela para sua proteção — Hécate iniciou a explicação, com pesar evidente na voz. — Quando coloquei sua alma no ventre da humana, a fiz esquecer tudo de sua vida como deusa, pois não queria que ela sofresse.
Os irmãos de Hades ficaram lívidos, o reconhecimento em seus olhos me deixou confusa. O único, além de Hécate, que pareceu entender a história foi Hades.
— Não entendi.
Hécate tomou minhas mãos trêmulas nas suas, me olhando atentamente.
— Você estava noiva de Hades, mas ele foi flechado por Eros, que o levou a raptar Perséfone, já que ela foi a primeira a ser vista por ele após ser acertado pela flecha.
Noiva... éramos noivos...
É por conta disso que meus sentimentos por ele são intensos!
A raiva que sinto dele é pela dor que ele me causou ao me trocar por Perséfone!
Meu olhar voltou-se para Hades.
Ele não estava surpreso, pelo contrário, seus olhos demonstravam uma tempestade de sentimentos.
Foi por isso que ele desmaiou! Lembrou-se do passado e sua mente não aguentou a pressão de tantas memórias.
Ele...
Não consigo acreditar, ele e eu... meus sentimentos sempre tão irritadiços pelos deuses, a raiva que sinto.
Ele ainda continua com Perséfone?
— É casado com Perséfone? — a perguntou escapa sem que consiga controlar, aumentando minha raiva.
Hades apenas me olhou atônito.
Ao abrir os olhos, minha mente se encheu das mesmas memórias que me levaram ao colapso.
Como pude esquecer tudo?
Por que minha mente foi castigada esse tempo todo?
Por milênios, vivi uma vida que não era minha, sentindo um luto insuportável. Nenhuma mulher conseguiu preencher o vazio em meu coração, pois nunca consegui de fato amar ninguém. A resposta sempre foi que eu não sou dado a relacionamentos como os demais, mas a verdade é que meu coração já pertencia a ela.
Minhas memórias foram bloqueadas, esqueci de tudo, mas meu coração não.
Por isso, tudo tem sido tão intenso desde que ela entrou na minha vida. Apesar de a mente bloquear, o resto se lembra. Quando a toco, minha pele vibra em contentamento, meu desejo por ela é intenso. Esse é o motivo de me deixar tão encantado com seus feromônios. Não foi pelos seus poderes, apesar de serem absurdos, foi simplesmente por ser ela. Enlouqueci pela sua simples presença.
Meu corpo não conseguiu esquecê-la nem por um instante.
Mesmo sem lembrar, seu perfume me atingiu, por ser a mesma fragrância, sendo mais suave na sua forma humana. A aparência dela mudou sutilmente, claro que Hécate preferiu mantê-la o mais fiel possível. Por isso, quando encontrou a combinação perfeita para uma criação, colocou sua alma na humana.
É minha, Sarah!
A profunda dor em meu coração acalmou-se somente por olhá-la novamente.
Não consigo acreditar, tenho uma nova chance!
O rosto dela gradualmente assumiu uma coloração vermelha, o que provocou um largo sorriso em meu rosto como resposta. Ela está brava pela minha demora em respondê-la, mas não somente isso, está ameaçada por outra mulher. Isso só pode significar que seus sentimentos ainda estão lá, mesmo que ela ainda não tenha percebido.
A esperança cresceu como fogo em meu coração.
Ela voltará a ser minha, como deveria ter sido desde o início!
— Me separei dela logo em seguida. Ao contrário do que muitos pensam, eu não a fiz comer o fruto proibido. Com isso, Eros foi forçado a desfazer os efeitos de sua flecha e ela voltou para sua mãe — respondi, sem conter o sorriso ao ver sua carranca.
Meu amor está ao meu lado, e não consigo acreditar nisso.
Quando a perdi, a dor foi tão insuportável que não pensei que pudesse aguentar. Mesmo sem as lembranças, essa sensação não sumiu, a dor permaneceu por milênios, pois estive à espera dela.
— Sarah, você nunca chegou a descobrir nada disso. Quando viu Hades com Perséfone, simplesmente agiu e sua vida se foi — Hécate respondeu, segurando carinhosamente suas mãos.
Sarah lançou um olhar irritadiço na minha direção e quase instantaneamente sorri.
Porra! É ela!
Os mesmos sentimentos intensos, como uma tempestade, que não consegue pensar antes da raiva dominá-la. Aposto que ela quer me matar por acreditar que traí sua confiança. Perceber isso não me deixou perturbado, pelo contrário, me deu esperança, pois se ela ainda possui a mesma essência, isso significa que minhas chances de tê-la novamente são grandes.
Seus olhos cinzentos faiscaram, cheios de raiva pura, antes de ela virar o rosto, totalmente mergulhada em sentimentos negativos.
— É por esse motivo que sinto tanta raiva dele? — Sarah perguntou para Hécate.
Raiva e amor são uma linha tênue...
Se não significasse mais nada para você, dedicaria a mim o mesmo tratamento que designa aos deuses. Mas não. Ocasiono sentimentos intensos, mesmo sendo apenas a raiva que diz sentir, isso já é um passo para ter seu coração novamente.
Não consigo controlar o riso, trazendo seu olhar na minha direção. Suas bochechas ficaram rubras, fazendo-a bufar, irritada, o que aumentou meu riso.
Está vendo, meu amor? Não consegue evitar seus sentimentos por mim!
— Não diria que sente raiva se não gostasse de mim. Dedicaria o mesmo tratamento que dá aos demais deuses — respondi malicioso, deixando-a ainda mais corada. — Fica alvoroçada na minha presença, não consegue nem ao menos negar isso.
— Não sinto nada além de raiva! — ela retruca, vermelha.
Levanto-me sob seu olhar atento. Um sorriso maroto surgiu em meu rosto ao ver seu corpo se mover levemente em minha direção, como se estivesse com medo de que eu não estivesse bem. Essa atitude foi o prego no caixão.
Ah! Você sente sim! Se estivesse com raiva, não ficaria preocupada comigo.
— Lembro de tudo, Dulce Meum — me aproximei dela, fazendo-a ofegar, enquanto seus olhos se acendem com irritação.
Porra! Não sabe como é prazeroso vê-la assim, tão brava comigo, quase é como mergulhar no passado.
— Não me chame de meu doce!
— Você adorava esse apelido, assim como adora tulipas vermelhas, pois significam amor-perfeito... — envolvi sua cintura com minha mão, puxando-a contra mim. Seu corpo arrepiou-se de imediato. — Acredita fielmente na energia das pedras, a sua favorita é o diamante vermelho, pois, além de ser uma pedra extremamente rara de se encontrar, é a cor da paixão, amor, desejo...
Sua respiração ficou ofegante e seu olhar mais perdido, com as pupilas extremamente dilatadas.
Como ousa negar o que sente?
Seu corpo não consegue evitar reagir a mim, mesmo que sinta raiva, seu amor é mais forte.
— Não... sou mais... a mesma! — ela murmurou tão baixo que, se não estivesse perto, não teria escutado.
Jura? Se fosse verdade, não estaria tremendo em meus braços, me olhando tão desejosa como antes.
Não adianta, amor, conheço cada parte da sua alma, pois já a vi antes, e não importa quantas vidas passem, ela reagirá a mim.
Sorrio arrogante, fazendo-a ofegar, com a respiração acelerada. Aproveito a situação, aproximando meu rosto de seu pescoço e suspirando ao sentir seu doce perfume.
Porra! Como pude viver sem ela?
— Se eu depositar um beijo em seu pescoço agora, não sentirá um frio na barriga? — murmurei sensual, enquanto passei a depositar pequenos beijos ao longo de seu pescoço, os lábios mal encostando em sua pele, mas o suficiente para fazê-la suspirar.
Essa é a raiva que tem de mim?
Seja mais convincente!
Sarah tombou levemente a cabeça, expondo mais seu pescoço. A atitude me fez sorrir, mas logo seu rosto ficou rígido, enquanto suas mãos se espalmaram contra meu peito, me empurrando para longe.
Ela não quer admitir seus sentimentos, mas seu próprio corpo a trai. Se quisesse que eu ficasse longe, suas doces mãos não estariam segurando minha camisa, me prendendo contra seu corpo.
— Dulce meum... você dizia que eu despertava sentimentos intensos em você, que jamais sentiu por mais ninguém — murmurei, virando-a contra mim, enquanto beijo a pele de seu pescoço.
Ela suspirou, tentando se desvencilhar.
Amor, não jogarei limpo. Usarei todas as minhas armas para tê-la de volta!
— Seu corpo não consegue mentir... — sussurrei em seu ouvido.
— N-não!
Apertei suas costas contra meu peito, mantendo intencionalmente minha cintura longe. Quero instigá-la, mas não invadir seu espaço pessoal de maneira abrupta.
— Sinto seu desejo, seu perfume está mais intenso. Isso significa que sua magia está agindo para me atrair — digo, fazendo-a suspirar, rendida.
— Hades...
Sorrio malicioso, mas seu corpo deu um salto, e os olhos, antes mergulhados no desejo, brilharam com ira.
— Maldito! Raptou a Perséfone e ousa agir assim comigo? — Sarah perguntou, apontando o dedo quase em meu rosto. — Não encosta em mim!
— Sarah...
— Como ousa pensar que, após sua traição, eu esperei você? — ela me interrompeu, irada.
— Não trai você! O que aconteceu foi tudo uma brincadeira estúpida de Eros!
— Isso não importa, não quero saber de você! — ela resmungou.
Cabeça dura como sempre! Algumas coisas não mudam...
— É minha noiva. Estamos alguns milênios atrasados com o nosso casamento — retruquei, sorrindo de forma brincalhona.
— Não casarei com você! Não quis a Perséfone? Pois, fique com ela!
Apesar do tom provocativo, não escapou a raiva em sua voz ao mencionar a Deusa.
— Você fica linda com ciúmes — respondi, pegando-a pelo queixo, apenas para ela dar um tapa em minha mão.
Sim, minha Sarah, ciumenta!
Sorrio divertido, aumentando a raiva dela.
— Sarah era noiva do Hades. Como Eros aprontou com ele, fazendo-o se apaixonar por Perséfone, então ela se matou? — Adamantine perguntou, confuso.
Concordo lentamente.
Entendo o quanto eles estão confusos, não possuem lembranças de Sarah, apenas conhecem a história de Perséfone.
— Agora entendo meus sentimentos por ela — olhei-a admirado, o que provoca um revirar de olhos dela.
Bravinha!
— Eros causou uma catástrofe enorme com aquela... brincadeira. Quando coloquei a alma de minha filha no ventre da humana, pensei estar livrando-a de entrar em contato com Hades, já que, por causa dele, a perdi. Mesmo sabendo que ele não tinha culpa, pensei estar fazendo com que ela não sofresse novamente. No entanto, o destino a colocou no caminho dele novamente, nada posso fazer contra isso — Hécate respondeu, olhando carinhosamente para a bruxa.
Sim, o destino a colocou novamente em meus braços e não pretendo deixá-la ir nunca mais!
— O que isso quer dizer? — Sarah balbucioou.
— Que se casará comigo.
Ela arregalou os olhos, chocada.
— Mas não vou mesmo! — retrucou, irada.
— Estou tomando o que me pertence, dulce meum.
— Não pertenço a você! — ela resmunguei, brava.
Arqueei a sobrancelha em desafio, fazendo-a cruzar os braços, numa postura irritada.
— Bem... você pertence a Hades. Eu dei sua mão a ele, um trato que não pode ser desfeito, minha querida. Foi uma união entre suas almas... — Hécate respondeu, olhando-a com cuidado. — Por isso evitei que chegasse perto dele, para que isso não ocorresse.
Sarah olhou irritada para Hécate, como se pudesse matar a Deusa.
— Isso foi em outra vida! Quando eu era Deusa. Agora sou uma humana, não tenho que cumprir este trato — ela respondeu apressadamente, atropelando-se nas palavras.
Sua alma foi dada a mim, assim como a minha foi entregue a você nesse trato... não tem como ser desfeito.
— Sua alma dividiu-se. Engana-se ao pensar que a metade que desapareceu foi a que amava Hades. O que desapareceu foi a parte que estava sofrendo pela perda. Você sente esse intenso sentimento de raiva em relação a ele porque ainda o ama — Hécate explicou, com calma.
Apesar de dizer ser outra pessoa, a essência de sua filha continuava a mesma. Hécate a conhece bem, sabe que ela não aceitará isso plenamente, e esse é o motivo pelo qual a protegeu de nós, de mim principalmente. Assim que se encontrasse comigo, nossas almas se reconheceriam.
— Por qual motivo devo cumprir um acordo feito em outra vida? — Sarah perguntou, teimosa.
— Por qual motivo entrou no caminho de Hades novamente? — Zeus intrometeu-se, perguntando maldosamente.
Sorrio debochado ao ver sua carranca.
— Isso deve ser praga! — ela resmungou.
Não consigo controlar o riso, fazendo-a revirar os olhos.
— Vai casar-se comigo, o que digo é lei — respondi audacioso, gerando uma onda de fúria que a fez ir com tudo em minha direção.
— Não sigo suas leis!
Claro que não! É mais uma prova de que sua alma não mudou nada, ainda é a mesma de sempre, e isso aquece meu coração.
Seus olhos estavam intensos, iguais aos meus, por motivos diferentes. Ela não cederá, não se dobrará às minhas vontades, pois é assim que ela é. E foi assim que a amei, mas não deixa de ser irritante.
Tenho que lutar sempre para provar meu valor a você?
— Será que tenho que lutar contra você novamente para que aceite? — resmunguei, bravo.
— Que conveniente. Você sabe muito bem que roubou e pretende roubar novamente, é isso? — ela retrucou, petulante.
Caralho! Esqueci de como ela é irritante. Mas sou teimoso, um tanto masoquista, não desistirei dela!
— Tem tanto medo assim de mostrar que ainda me ama? — puxei-a para mais perto, segurando sua cintura com firmeza.
Seu corpo tremeu contra o meu, deixando-a mais arisca.
— Não amo você! — ela tentou se soltar.
— Claro que não — segurei com mais firmeza, sentindo-a tremer em resposta.
Olho para seu corpo rígido contra o meu, apesar de sentir os mesmos sentimentos, ela se nega a aceitá-los. Vejo sua luta, como se existissem duas dela habitando o mesmo espaço. Quando se aproximava, algo parecia latejar em sua mente, fazendo-a recuar.
Está tão magoada, não é, amor?
Sua alma sangra por erros que não foram meus...
Mas, não importa o quanto me empurre para longe, não desistirei de você. Jamais poderia perdê-la novamente. A dor que senti é um fardo insuportável, e vou conquistá-la, mesmo que leve milênios.
— Dá-me uma última chance?
— Não vou cum...
Sem conter a ternura, seguro seu queixo, para que nosso olhar fique no mesmo nível.
— Por favor... a última chance, vamos, dulce meum?
Sarah me olhou por incontáveis minutos, parecendo medir as consequências, antes de suspirar.
— Eu estava bem antes de você aparecer! Hades... não me faça arrepender-me disso!
Ela... ACEITOU!
PORRA! PORRA!
Sorrio verdadeiramente alegre, como há milênios não me sentia, fazendo-a me olhar confusa. A felicidade explode em meu peito, sem me conter, puxo-a para meus braços, girando-a no lugar, o que a faz gritar pela atitude repentina.
— Vamos nos casar!
Meus irmãos riram, confusos pela minha atitude, mas nada tira meu olhar dela.
Meu coração parecia que explodiria a qualquer instante de tanta alegria, a mesma de quando ela aceitou pela primeira vez. Nosso amor ultrapassou tudo, desde o tempo até a morte, e não consigo me controlar. Saber que ela está disposta a tentar me enche de felicidade, aproveitarei cada segundo.
— Vou fazê-la me amar novamente!
Seu olhar iluminou-se, deixando-a corada, o que a fez desviar o olhar, para meu contentamento.
Você, envergonhada, é tão linda!
— Quando será? — ela perguntou, séria.
— Amanhã!
Sarah me olhou chocada, me fazendo rir.
Não esperarei nem um segundo para que seja minha!
— Estamos noivos há milênios, por que esperar mais tempo? — perguntei, travesso.
— Dará tempo para tudo? — ela replicou, abismada.
Tudo que me importa é você!
— Sou um Deus e você é uma bruxa, daremos conta — respondi espirituoso, fazendo-a revirar os olhos.
— Posso escolher ao menos o lugar? — ela perguntou, me alfinetando.
Amor, o local já está escolhido há milênios...
— Já sei onde você quer!
— Para de agir como se me conhecesse! — ela resmunguei, irritada.
Não consigo, não quando sei que você é a mesma!
Renovare animam tuam: Renove a sua alma
Excitare ad imperium meum: Desperte ao meu comando.
Levitate et sequere me: Levite e siga-me.
Dea Hecaten, te invoco!: Deusa Hécate, eu te invoco!
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