Capítulo 45 - Meu grande amor I
Contém 3300 palavras.
Boa leitura💜
A alegria, quente e vibrante como o magma vulcânico, me inundava. Senti-a pulsar em minhas veias, um eco do poder que havia recuperado. Mas, mesmo com esse turbilhão de felicidade, uma pontada de medo me perfurava. E se Perséfone descobrisse nosso refúgio? E se falhasse em protege Sarah e nossos filhos?
Meu olhar pousou em Sarah, parada rente à janela, que dava para um oceano de um azul profundo e quase irreal, salpicado por veleiros brancos como pequenas pérolas. O vento salgado acariciava seus cabelos negros, podia sentir o cheiro do mar em sua pele, um perfume tão familiar e reconfortante.
O horizonte se estendia diante dela, um espetáculo de cores que a deixava hipnotizada. Me aproximei sorrateiramente, abraçando-a com carinho. Ela suspirou, jogando a cabeça em meu ombro, sorrindo amorosa.
Dois meses e meio se passaram desde o ataque de Perséfone, desde então não escutei mais nada relacionado a ela. Todos acreditavam que estava morto, assim como não sabiam a localização de Sarah. Embora duvide que Perséfone não saiba onde ela estava, mas junto aos meus irmãos e Hécate, reforçamos os domínios de Poseidon, deixando impossível tanto para Perséfone invadir, quanto para qualquer outro localizar Sarah, o que nos dava uma certa tranquilidade nessa reta final da gravidez.
A alegria queimava em mim ao estar completamente recuperado, mas decidi esperar o nascimento dos gêmeos, não queria ir a uma possível luta, acompanhado de minha esposa grávida. Sabia que Sarah não me deixaria ir só, ela estava em constante vigia, o que chegava a ser engraçado, mas que só serviu para me aproximar mais dela.
— Meus amores, cuidado — ela resmungou com as mãos na barriga.
Não cansava de vê-la, com quase oito meses de gestação, tão perfeita diante de mim. Saber tudo que ela enfrentava para trazer nossos filhos ao mundo me fazia admirá-la ainda mais.
— Eles estão agitados? — perguntei, beijando sua têmpora. Ela suspirou, aconchegando-se mais em meus braços. Elevei uma mão ao seu ventre, sentindo-os completamente agitados.
— Sim, hoje mais que ontem — ela resmungou ao sentir uma pontada. Virei-a de frente para mim, analisando-a cuidadosamente.
— Não precisa descer, meus irmãos resolveram ser presentes... prefiro ficar aqui com você — respondi, beijando suavemente a cabeça dela, fazendo-a sorrir.
Confesso que já disse isso algumas vezes, ela acredita que estou a usando para não jantar com meus irmãos. E, bem, era um pouco de verdade. A realidade é que... essa alegria toda, essa união familiar, era algo novo para mim. Lembro-me do jantar da semana passada: Poseidon, com sua risada estrondosa, segurando um bebê imaginário, enquanto Zeus fazia piadas sem graça, e Adamanto observava tudo com um sorriso quase paternal. A cena era... incomum. Sempre tive a atenção total de Sarah, e a ideia de dividi-la, mesmo com meus próprios irmãos, me causou uma estranha insegurança.
— Stella mea, pare com isso, até Poseidon concordou com esse jantar, seus irmãos querem estar mais próximos de você — ela declarou animada.
Olhei-a indignado. Um leve aperto no peito, mais uma pontada de insegurança do que raiva, me invadiu. Não era raiva dos meus irmãos, apenas... estranheza. Entendo que ela ficou próxima aos meus irmãos, principalmente ao Poseidon, mas confesso que essa nova dinâmica familiar, essa partilha da atenção dela, era algo que ainda estava aprendendo a lidar.
— Poseidon isso... Adamanto aquilo... Zeus falou... está bem amiguinha dos meus irmãos para meu gosto! — resmunguei, aumentando seu riso. Ela se aproximou, segurando meu rosto entre suas mãos, me olhando maliciosa.
— Não devia ficar feliz por isso? Não era você que queria que sua família fosse reunida, pois ama seus irmãos e não queria escolher entre mim e eles? — ela retrucou brincalhona.
Não! Ela não estava dizendo isso! A incredulidade me atingiu primeiro, um choque silencioso que me deixou momentaneamente sem palavras. Seus olhos, brilhantes e travessos, me encaravam desafiadores. A indignação surgiu em seguida, um calor que subiu pelo meu pescoço e me fez querer repreendê-la, mas antes que pudesse formular uma resposta, um sorriso escapou dos meus lábios. Era inacreditável!
Ela estava usando minhas próprias armas contra mim! Sarah explodiu em risos, e a indignação deu lugar a uma divertida admiração. A diversão tomou conta, uma onda de alegria que me fez rir junto com ela, a descrença inicial esquecida em meio àquela sinfonia de gargalhadas.
— Céus! Não use meus truques contra mim! — resmunguei sob suas gargalhadas.
— Vamos ao jantar que estou faminta! — ela declarou sorrindo, a puxar porta a fora.
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Ao chegarmos no imenso salão de jantar, banhado pela luz dourada de inúmeros candelabros de cristal, um aroma delicioso de carne assada e especiarias exóticas nos envolveu. As paredes, revestidas de mármore branco polido, refletiam a luz, criando um brilho quase mágico. Grandes colunas de ônix sustentavam o teto abobadado, decorado com intrincados mosaicos dourados. Encontrei meus irmãos envolvidos em uma discussão acalorada sobre quem seria o guardião das crianças, o que os humanos chamavam de padrinho.
— Vou ser o guardião, pois sou mais velho que vocês! — Adamanto declarou, com os braços cruzados sob o peito e olhar fixo em Zeus.
— Sou o presidente do conselho dos deuses, serei o guardião! — Zeus retrucou, estufando o peito com as mãos na cintura.
— Mas o que isso tem com as crianças? — Adamanto perguntou, olhando-o torto.
— Tem que sou mais sensato — Zeus declarou, fazendo Adamanto e Poseidon rirem.
— Só se Sarah e Hades fossem loucos de eleger você! — Adamanto retrucou, e Poseidon riu debochado.
Sarah, com os olhos arregalados, observava a cena com uma mistura de espanto e diversão, um sorriso leve se formando em seus lábios. Sorri internamente, observando-a com um misto de ternura e diversão. Conhecia bem a dinâmica familiar, a rivalidade infantil entre meus irmãos, a arrogância de Zeus e a teimosia de Adamanto. Para Sarah, tudo aquilo era novo, exótico. E ver sua reação, tão genuína e divertida, foi um deleite. Notei como seus olhos brilhavam, uma fagulha de alegria que só eu parecia perceber, escondida sob o espanto.
Quase senti o calor de seu sorriso refletindo no meu próprio rosto, um calor que aqueceu meu coração mais do que qualquer brasa infernal. O contraste entre a grandiosidade do salão e a inocência de sua expressão foi fascinante. Observei-a como se fosse uma obra de arte, cada detalhe, cada expressão, um novo traço de beleza a ser apreciado, aquele leve toque de rubor em suas bochechas, a forma como ela mordia o lábio inferior quando pensava, a maneira como seus cabelos se destacavam sob a luz dos candelabros.
— Sou irmão preferido de Hades e cunhado preferido de Sarah, logo serei o guardião — Poseidon declarou orgulhoso, revirando os olhos com um sorriso superior.
— Quem disse que é o preferido dos dois? — Adamanto e Zeus perguntaram juntos e ofendidos.
Me virei para Sarah, divertido com a sua expressão de espanto ao observar meus irmãos. O olhar dela era quase tão apetitoso quanto o banquete à nossa frente. A discussão era tão previsível quanto o nascer do sol, eles vinham brigando por dias, e eu, com minha infinita sabedoria, havia tentado evitar esse jantar. Mas, confesso, a comédia familiar estava se mostrando bem mais divertida do que esperava.
— Disse que era melhor ficarmos sozinhos... — sussurrei, a malícia escorrendo na minha voz como mel derretido.
Senti seu olhar sobre mim, um olhar travesso que me fez sorrir. Mantive meu olhar fixo nos seus olhos, saboreando sua reação, enquanto ela tentava, sem sucesso, conter o riso. Aquele riso cristalino cortou o silêncio tenso como uma espada. Chamando a atenção dos outros, seus rostos, antes inflamados pela discussão, agora estavam levemente corados, os olhos desviados para o chão. Um sorriso quase imperceptível tocou meus lábios enquanto meu riso ecoou pelo salão, um som profundo que se misturava ao suave som da harpa e ao crepitar do fogo na lareira.
— Pensei que não fossem acabar nunca — Hécate resmungou, adentrando o recinto com a graça fluida de uma sombra dançante, seus olhos escuros avaliando a cena com um olhar divertido.
Aproximando-me da extensa mesa, observei Sarah ao meu lado. Seus ombros estavam tensos, quase arqueados pela tensão contida. Os músculos da mandíbula estavam contraídos, a pele esticada sobre as maçãs do rosto, quase translúcida sob a luz fraca. Suas mãos, fechadas em punhos, estavam levemente trêmulas, e seus dedos brancos se agarravam ao tecido de sua roupa como se fossem garras. Ela caminhava lentamente, cada passo hesitante, como se estivesse caminhando sobre brasas. Uma pontada de preocupação me atingiu ao ver o quanto ela estava tensa. Provavelmente nossos filhos estavam agitados, como passaram o dia inteiro, e ela estava no limite da sua paciência.
— Parece que eles estão discutindo entre si para ver quem será o guardião de meus filhos. No entanto, quem escolhe são os pais, e nem sei o motivo de estarem brigando, já que são duas crianças — resmunguei, puxando a cadeira para que Sarah pudesse sentar-se à mesa e me acomodei ao seu lado.
— Sim! Duas... uma para cada irmão, e você tem três! — Zeus retrucou, rindo como se tivesse contado uma piada brilhante. Os outros irmãos concordaram, como se estivessem em um concurso de quem era o mais engraçado.
Sarah suspirou exasperada, seus olhos revirando com uma intensidade que poderia fazer qualquer um recuar. Apenas mantive o sorriso maroto, enquanto me deliciava com o vinho, esperando a explosão visível da minha amada esposa.
— Céus! Parem com isso, são adultos e vamos resolver isso depois! Agora vamos comer que estou faminta! — Sarah gritou, sua voz ecoando pela sala, silenciando meus irmãos de imediato.
Foi como se um trovão tivesse explodido no céu, silenciando até mesmo os deuses. Tentei, e fracassei, em conter meu riso. A explosão dela era tão previsível, e ainda assim, tão satisfatória. Ela nunca foi muito paciente, mas ultimamente estava ainda menos tolerante com as palhaçadas dos meus irmãos, e eles haviam extrapolado.
Após ouvirem a bronca de Sarah, uma paz repentina pairou sobre a mesa. A discussão havia terminado, substituída por uma demonstração de afeto quase exagerada. Meus irmãos, de repente, se tornaram os mais solícitos anfitriões. Zeus, com sua habitual postura pomposa, perguntava a Sarah se ela desejava mais refresco, enquanto Adamanto, com uma gentileza incomum, oferecia-lhe os melhores pedaços do assado. Mas foi Poseidon, o mais carrancudo de nós, que roubou a cena. Com um gesto abrupto, ele interrompeu a conversa amena e ordenou, com uma voz surpreendentemente suave, que preparassem uma sobremesa especial para Sarah, um bolo de chocolate tão rico e aveludado que parecia derreter na boca. Sarah, com os olhos brilhando, devorava o doce como se fosse o último pedaço da Terra, enquanto Poseidon a observava com um sorriso quase paternal, um olhar que raramente tinha visto direcionado a mim ou a qualquer um de meus irmãos.
— Percebi que você trata Sarah melhor que eu! — Adamanto resmungou, olhando torto para Poseidon.
— Sim, se pudesse trocava ela por você! — Poseidon retrucou, enquanto bebia uma taça de vinho, sorrindo malicioso.— Ela é menos chata!
Não aguentei o riso, assim como Sarah. Era impossível não se divertir com a cena diante de mim. Sim, parece que ela virou irmã dele, mereço! A alegria que emanava de meus irmãos era contagiante, e meu coração se aquecia ao vê-los tão empolgados com a chegada dos meus filhos. Era um sinal claro de que eles seriam muito amados pelos tios. A expectativa e o carinho que eles demonstravam me enchiam de gratidão, reafirmando que, apesar das disputas e rivalidades, a família sempre encontraria um jeito de se unir em momentos especiais.
Sarah suspirou repentinamente, chamando minha atenção. O som era como um eco em um espaço vazio, reverberando em meu coração. Seu sorriso tenso não conseguia esconder a preocupação que brilhava em seus olhos, uma luz que iluminava a sala com sua intensidade. Ao elevar a mão ao lado da barriga, ela parecia buscar conforto, um gesto quase instintivo que falava mais do que palavras. A respiração dela tornou-se mais rápida, os lábios entreabertos, e a tensão no ar cresceu como uma tempestade prestes a desabar. Podia sentir meu instinto protetor despertar, um desejo profundo de envolvê-la em segurança e tranquilidade.
— Sarah? — A pergunta escapou dos meus lábios como um sussurro, enquanto me virava completamente para ela, meu corpo tenso, a preocupação me atingindo como um golpe físico.
Seus olhos, antes brilhantes, estavam agora turvos e cheios de uma dor que me atingiu como um golpe físico. Seu rosto, antes levemente corado, estava agora pálido como a neve, os lábios comprimidos em uma linha fina. Ela negou levemente com a cabeça, um gesto fraco que mal conseguia disfarçar a agonia que a consumia. O silêncio que se seguiu foi denso, pesado, interrompido apenas pelo som ofegante de sua respiração. Então, um gemido baixo escapou de seus lábios, seguido por uma respiração profunda e ofegante, e senti meu corpo se paralisar diante daquela dor visível. Cada músculo do meu corpo se contraiu, senti a realidade da situação me atingindo com toda a sua força, me deixando paralisado diante dela.
— Aí! — Ela se encolheu, um gemido de dor escapando de seus lábios. Minhas mãos foram imediatamente para sua barriga, sentindo a tensão muscular sob meus dedos, como se um nó de ferro estivesse se formando ali.
A pele dela estava fria e úmida de suor, senti um choque percorrer meu corpo ao perceber a intensidade da dor dela. Meu coração disparou, um ritmo frenético que ecoava no meu peito, enquanto uma onda de pânico gélido me invadia. A respiração dela ficou ofegante, rápida e superficial, e eu senti um aperto na garganta, como se minhas próprias vias aéreas estivessem se fechando. O mundo ao meu redor parecia se desfazer, tudo se reduzindo àquela dor, àquele corpo frágil em meus braços.
— O que foi, dulce meum? — perguntei assustado, a voz mal saindo, como se as palavras estivessem presas na minha garganta. Um som molhado atingiu o chão, e o eco ressoou como um sino de alerta em meu cérebro, cortando o silêncio como uma faca afiada.
O ar ao nosso redor parecia pesado e abafado, como se o salão, antes cheio de risadas e alegria, tivesse silenciado em respeito à gravidade do momento. A luz das velas tremulava, criando sombras dançantes que pareciam se mover de forma inquieta, como se o próprio ambiente estivesse consciente da tensão no ar. Uma sensação de terror começou a se espalhar pelo meu corpo, uma onda de pânico que me fez sentir como se a terra estivesse se movendo sob meus pés.
Não consegui conter o pânico ao perceber o que estava acontecendo, ainda era cedo! O pensamento de que nossos filhos poderiam estar prestes a chegar antes do tempo me deixou paralisado, incapaz de agir diante da urgência da situação. O tempo parecia se arrastar, cada segundo se estendendo como uma eternidade, enquanto a realidade do que estava prestes a acontecer se instalava em meu coração como uma sombra.
— Hades, a bolsa estourou! — As palavras de Sarah ecoaram em meus ouvidos, cortando o ar como um raio, e o mundo ao meu redor pareceu parar por um instante.
Seus olhos estavam arregalados, repletos de medo e pânico, e sua voz tremia tanto que mal conseguia formar as palavras. Era como se cada sílaba fosse um grito de alerta, e meu cérebro se paralisou, incapaz de processar a gravidade da situação. Olhei desesperado para os lados, procurando por uma solução, por uma resposta, mas tudo o que via era um turbilhão de rostos confusos e sem ação, cada um refletindo a mesma incredulidade que me consumia. A impotência me invadiu como uma onda gélida, me deixando paralisado e incapaz de reagir, enquanto o tempo parecia se estender em uma eternidade angustiante.
Então, meu olhar encontrou Hécate. Sua expressão era impassível, mas havia uma força inabalável em seus olhos, uma determinação que me trouxe um fio de esperança em meio ao caos. Ela suspirou lentamente, como se estivesse absorvendo a gravidade da situação, e desviou o olhar para Sarah. O gesto parecia carregar um peso imenso, como se estivesse avaliando a situação com uma calma sobrenatural, pronta para agir enquanto o resto de nós permanecia em estado de choque. O ambiente estava carregado de tensão, sabia que precisava encontrar a força para enfrentar o que estava por vir, mas, por enquanto, tudo o que podia fazer era observar, esperando que Hécate soubesse o que fazer.
— Hades, traga Sarah para o quarto. Poseidon, mande algumas criadas para lá. Adamanto e Zeus, não quero ver as suas caras lá, ouviram? — Hécate decretou, sua voz cortante e serena ecoando pelo salão, preenchendo o ar tenso com uma autoridade que imediatamente me deu esperança.
Era como se suas palavras fossem um feitiço poderoso, afastando o caos e trazendo foco à situação. Cada nota de sua voz ressoava com uma força que cortava a confusão e o pânico, como um farol em meio à tempestade. Poseidon assentiu, sua expressão transformada de surpresa para determinação, enquanto se apressava em busca de ajuda, o movimento dele trazendo um pouco de ordem ao cenário desolador.
Adamanto e Zeus, por outro lado, apenas arregalaram os olhos, paralisados, incapazes de processar a gravidade do que estava acontecendo. A inação deles era quase palpável, como se estivessem presos em um pesadelo, incapazes de acordar.
Meu corpo saltou, instintivamente pegando Sarah em meus braços. O calor dela contra mim era um lembrete constante do que estava em jogo, e uma onda de determinação me invadiu, aquecendo meu espírito. Mesmo enquanto a ansiedade pulava em meu peito, sabia que precisava agir. Usando meus poderes, envolvi-a em uma aura protetora, sentindo a energia pulsar ao nosso redor como um escudo invisível. Com passos rápidos e firmes, a levei diretamente ao quarto, cada batida do meu coração ecoando a urgência da situação, um tambor ressoando na sinfonia do desespero.
Coloquei Sarah delicadamente sob os lençóis, a seda fria contra sua pele quente, um contraste brutal com o calor que emanava do meu próprio corpo, tremendo de pânico. Meu coração martelava contra as costelas como um martelo, cada batida um eco do meu terror crescente. Observei-a se contorcer sob uma onda de dor, cada gemido rasgando meu coração. O ar ficou rarefeito, pesado, como se um véu de gelo tivesse se formado no quarto, a temperatura despencou drasticamente, um frio cortante que penetrava até os meus ossos, enquanto um suor frio cobria minhas mãos. Olhei para elas, agora manchadas de um vermelho escarlate, um vermelho vivo e pulsante que gritava perigo, um vermelho que me congelava de terror. Ela estava sangrando, e o medo me invadiu como uma onda, me paralisando diante daquela situação.
— Hécate! — O grito rasgou minha garganta, rouco e cheio de desespero, ecoando no silêncio opressor do quarto.
O cheiro metálico e acre do sangue preencheu minhas narinas, intenso e avassalador, misturando-se ao aroma das flores e das velas, criando uma fragrância nauseante que intensificava o meu terror. A visão do sangue de Sarah me atingiu como um golpe físico, cada gota um lembrete brutal da minha impotência. Estava completamente descontrolado, perdido em um mar de terror, e a única coisa que me restava era um grito desesperado por ajuda, um grito que ecoava o meu desespero profundo.
Hécate moveu-se com uma velocidade sobrenatural, uma velocidade que desafiava a compreensão humana. Num piscar de olhos, ela estava ao lado de Sarah, suas mãos experientes e firmes sobre o corpo da minha esposa. A luz das velas dançava em seus olhos escuros, refletindo a concentração e a determinação inabaláveis que emanavam dela, mas também havia uma sombra de preocupação profunda que me atingiu como um golpe. Seu olhar, normalmente sereno e misterioso, agora era um laser, penetrante e preciso, avaliando a situação com uma frieza calculada que me deixou momentaneamente sem fôlego. O silêncio era pesado, sufocante, quebrado apenas pela respiração ofegante de Sarah e pelo martelar do meu próprio coração contra as costelas, a urgência da situação era palpável, cada segundo se estendendo como uma eternidade.
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