Capítulo 41 - Campos de Asfódelos
Contém 3700 palavras.
Boa leitura💜
O lugar onde me encontrava transcendia a compreensão. Era um vazio branco, puro, uma paz tão profunda que era quase opressora. Nada além de uma luminosidade cega, uma pureza absoluta que me deixava perplexo. Eu, Hades, o rei do submundo, estava aqui, neste lugar inimaginável.
Esta era a pós-vida de um Deus? Um descanso eterno em um mar de luz?
Não podia morrer agora. Tantas coisas queria fazer, tantas experiências desejava vivenciar. Primeiro, precisava garantir a segurança da minha família, ver o rosto dos meus filhos, sentir seus pequenos corpos em meus braços. Como poderia deixá-los sozinhos? Como poderia abandonar Sarah?
Era um absurdo abandonar minha família desta forma... Ela não merecia todo esse sofrimento, toda essa dor. Minha doce esposa, embora feroz como uma loba, era tremendamente sensível. Sabia o quanto ela estava aguentando, o quanto ela estava sofrendo. Mas partiria em paz se pudesse vê-la apenas mais uma vez. Meus pensamentos se intensificaram, minha saudade a transcendeu, até que a claridade começou a se apagar gradualmente, me envolvendo em um mar de escuridão. Fechei os olhos em oração silenciosa, a única coisa que desejava era vê-la mais uma vez.
Ao abri-los, um sorriso involuntário se formou em meus lábios. Ela estava ali, diante de mim, divina, uma deusa radiante. Incrível como sua beleza não mudou, sua aura me encantando completamente, exatamente como acontecera desde a primeira vez que a vi. Sua nova forma, etérea, poderosa, realçava ainda mais sua beleza única.
"Um aroma floral e levemente picante invadiu o ambiente, como o doce perfume do paraíso, irresistível e hipnotizante. Instantaneamente, meus sentidos se aguçaram e me voltei para a porta que se abriu levemente. Hécate entrou, acompanhada do ser mais deslumbrante que já vi. Assim que meus olhos se fixaram nela, o tempo pareceu parar, nada mais existia além daquela presença magnética. Seus cabelos, negros como a noite mais profunda e ondulados como um mar em fúria, caíam em cascata ao redor de seu rosto. Meu coração disparou ao encontrarmos os olhares, os dela eram de um cinza profundo, como o céu prestes a se abrir em tempestade."
O amor me atingiu como um raio, instantâneo e avassalador. O laço que nos unia era inegável, uma conexão profunda entre nossas almas, algo que nunca imaginei sentir. A paixão me consumiu por inteiro, me deixando sem rumo, sem controle. Ao olhar em seus olhos cinzas, ariscos e cheios de uma tempestade latente, me perdi completamente. A intensidade do seu olhar, a força da sua presença, me hipnotizaram. Desde aquele dia, nada mais existiu além dela. O mundo ao meu redor se tornou irrelevante, apagado pela luz intensa do meu amor por Sarah. Ela era, e sempre seria, a única.
"— Se quer que eu me case com você, então me conquiste. Tem até a próxima lua para isso. Se me conquistar, aceito o acordo feito, se não, ficarei solteira! — respondeu, pura provocação às minhas palavras.
Não consegui conter um sorriso malicioso, um sentimento de empolgação brotando em meu peito. Levantei-me suavemente e fui até ela, que mantinha um semblante alerta, como uma guardiã de seus próprios desejos. Ela não sabia nada sobre homens, e essa confiança ingênua apenas atiçou minha vontade de conquistá-la. Para mim, conquistar seu coração não seria um sacrifício, pelo contrário, era uma aventura que valia a pena, afinal, estávamos falando de uma vida eterna juntos. Quando o doce perfume floral dela preencheu o ambiente, mais intenso à medida que me aproximava, não pude resistir a me inclinar levemente para ela, admirando a força em seus olhos. Aqueles olhos, como um mar tempestuoso, refletiam determinação e uma beleza indescritível. A maneira como ela lutava pelo que queria me deixava fascinado, despertando um profundo respeito dentro de mim. Eu estava pronto para me entregar a esse desafio romântico, encantado com a ideia de conquistá-la a cada passo que dávamos juntos.
Era um deleite pensar em cada passo que daria para tê-la. Seria ainda mais prazeroso se ela desejasse estar comigo, um doce...
— Aceito o desafio. Será minha, dulce meum — murmurei roucamente, segurando seu queixo com gentileza.
Observei enquanto ela mordia os lábios, sentindo seu corpo levemente trêmulo. O pequeno ofegar que escapou dela me mostrou que minha presença a afetava. O desejo já estava ali, mas um casamento exigiria mais do que apenas luxúria. Precisaria construir confiança e conquistá-la, assim como ela conquistou meu coração desde o primeiro momento em que a vi."
Ela me desafiou, pensando que, como Deus, deixaria meu ego me controlar. Mas naquele momento, não havia ego. A queria mais do que tudo, precisava provar meu valor, provar que era digno do seu amor. A cada tentativa de conquistar seu coração, era recompensado em dobro, meu amor por ela crescia a cada instante. Me sentia imensamente sortudo por ter vivido, por ter tido a oportunidade de amar e ser amado, de compartilhar minha vida com ela, de criarmos uma família. Nossos filhos eram a herança mais preciosa que poderia deixar para o mundo.
Meus pensamentos se interromperam ao vê-la pular de alegria, sua energia radiante me atingindo mesmo através da barreira que nos separava. Seus olhos cinza entraram em transe por um instante, e quando ela os abriu, um sorriso radiante iluminou seu rosto, e ela correu para meus braços. Acolhi-a com um sorriso, sentindo seu corpo contra o meu, mesmo que fosse apenas uma ilusão.
— Meu amor — sua voz, trêmula e embargada, sussurrou em meu ouvido.
Ouvi-la era tudo o que poderia pedir, mesmo que fosse a última vez.
— Minha deusa. Sempre soube que era uma verdadeira força da natureza, forte, Sarah, a deusa da magia — minhas mãos acariciaram seu ventre, sentindo o calor emanando de nossos filhos. Seu rosto estava banhado em lágrimas, uma mistura de alegria e tristeza.
O calor emanando de nossos filhos me aqueceu, me confortando. Saber que eles estavam bem acalmou meu coração, mesmo que não pudesse estar lá para protegê-los.
— Meus filhos... quero que cuidem bem da mãe de vocês. Sempre estarei os olhando — declarei, a tristeza em minha voz inegável. Me abaixei, depositando um beijo suave em seu ventre.
Meu coração se partia ao pensar que não poderia vê-los nascer, crescer, viver. Faria qualquer coisa para estar ao lado deles, mas isso estava fora do meu alcance.
— O que está falando? Consegui o antídoto, vai ficar tudo bem! — sua voz, carregada de pânico e incredulidade, me atingiu.
Um sorriso triste se formou em meus lábios. Estava sentindo meu corpo se desfazendo, me desconectando do mundo físico. Não queria acreditar, mas meu tempo estava se esgotando.
— Sarah, meu tempo está acabando. Quero que saiba que você é o amor da minha vida, e que tudo valeu a pena só por conhecê-la. Gostaria de ter mais tempo para aproveitar momentos com vocês, mas somente peço que seja forte. Eles vão precisar totalmente de você. Sempre estarei em seus corações. Não esqueça que os amo mais que tudo! — meus lábios encontraram os seus em um beijo suave, carregado de todo o amor que possuía, todo o amor que eu nunca poderia expressar em palavras.
— Hades! — seu grito de pavor rasgou o ar.
— Dulce meum, eu amo você — minha voz ecoou pelo recinto, um sussurro doloroso, um adeus eterno.
Meu corpo se tornava cada vez mais leve, etéreo. Senti-me flutuar, vagando pelos domínios do meu irmão, Poseidon. Ao menos, poderia fazer mais algo antes de partir. Assim que o pensamento se formou em minha mente, estava diante dele, seu rosto marcado pela tristeza e incredulidade. Seu semblante abalado me causou uma pontada de pesar.
— Você... mas... não! — a voz de Poseidon, carregada de dor, ecoou no silêncio.
Não precisei explicar o motivo de ele estar vendo minha alma. Ele sabia. Havia apenas uma razão.
— Cuide de Sarah e dos meus filhos, por favor! — minhas palavras foram um soluço, a tristeza me sufocando. Minha consciência estava se esvaindo, mas não podia partir sem ouvir sua promessa.
— Prometo cuidá-los, irmão! — a voz de Poseidon, embargada pela emoção, me trouxe um mínimo de conforto.
— Amo vocês — sussurrei, pensando em meus irmãos, em minha família. Um sorriso triste se formou em meus lábios ao sentir um puxão, uma força me arrastando para o vazio. Meu tempo chegou ao fim.
A cena que se apresentou a meus olhos congelou minha alma. As veias de Hades estavam inchadas, salientes sob a pele pálida, como se estivessem prestes a explodir. Ele estava morrendo.
— HADES! — meu grito rasgou o silêncio, carregado de pânico.
Senti-me completamente desorientada, fora de controle. Encontrei uma forma de salvá-lo, mas a urgência da situação me deixava sem fôlego. Não podia acreditar, ele não podia estar morrendo. Corri até ele, minhas mãos tremiam.
— NÃO ADMITO QUE FAÇA ISSO COMIGO, HADES! — iluminei minhas mãos com uma luz branca e pura, canalizando toda a minha energia. — Impulsa fluctus!
A força da magia me atingiu, coloquei minhas palmas sobre o peito dele, sentindo seu corpo pular com o contato. Me abaixei, buscando seu coração com meus ouvidos, o pânico me consumindo ao ouvir seus batimentos fracos, lentos, quase imperceptíveis.
— Por favor, não nos deixe! — solucei, minhas lágrimas caindo sobre seu corpo.
Estava em desespero total, quando uma mão suave tocou meu ombro, me trazendo de volta à realidade.
— O antídoto está pronto? — a voz suave de Eros me atingiu, me forçando a focar. Assenti rapidamente, meu olhar frenético. Ele assentiu, sua expressão séria. — Preste bem atenção: enquanto vocês recitam o feitiço, usarei meu sangue e farei o antídoto seguir mais rapidamente pelo corpo dele.
Meu olhar se voltou para ele, confuso, até que percebi a presença de Hécate e Poseidon no quarto. A urgência da situação me deixava sem fôlego.
— M-mas o coração dele está parando — declarei, meu ouvido colado ao seu peito, ouvindo os batimentos extremamente lentos, quase imperceptíveis.
— Sei que é muito para pedir nesse momento, mas confia em mim — a voz firme de Eros foi uma âncora em meio à tempestade.
Olhei atentamente para ele, assentindo cautelosamente. Era a minha única esperança.
Eros respirou fundo, antes de fazer um enorme corte em sua mão e outro no peito de Hades, abrindo uma passagem direta para o coração. Ele ergueu a mão em minha direção, em uma mensagem clara. Coloquei o antídoto sobre o sangue que escorria de sua mão. Eros então colocou sua mão sobre a abertura que fizera no peito de Hades, pressionando-a contra o coração. Percebi o que ele estava fazendo: com esse ato, o coração de Hades bateria mais rapidamente, e o antídoto, impulsionado pelo sangue de Eros, correria pelo seu corpo com mais precisão.
— Comecem! — a voz de Eros cortou o silêncio, carregada de seriedade e urgência.
Hécate se posicionou ao meu lado, sua mão firme em minha, transmitindo força e confiança. Começamos a entoar o feitiço, nossas vozes se unindo em uma melodia antiga e poderosa.
Sanguis per venas ibit,
Antidotum in sanguinem tuum portans.
Venenhum hoc modo peribit.
Nossas vozes, em perfeita sincronia, ecoaram pelo quarto, criando uma vibração que parecia sacudir o próprio ar. Uma luz suave, dourada e quente emanava de nossas mãos, envolvendo o corpo de Hades. Sua pele, antes pálida e fria, começou a adquirir uma coloração rosada, como se a vida estivesse retornando lentamente. A cada palavra cantada, a luz intensificava, criando um halo de esperança em meio ao desespero. O ar ficou carregado de energia, uma força palpável que nos envolvia, nos conectando a Hades, impulsionando o antídoto através de seu corpo.
Senti meu coração palpitar de forma estranha, um calor intenso que me deixava desconfortável, quase doloroso. Levei a mão ao peito, tentando conter a sensação, desejando arrancar meu próprio coração para que a agonia cessasse. A sensação de desconforto crescia a cada segundo, me deixando inquieto e ansioso.
— Meu senhor, desistirá assim tão fácil? — uma voz suave, etérea, murmurou perto de mim, me arrancando do meu torpor.
— Quem é? — perguntei, meu olhar procurando a fonte da voz em meio à luminosidade intensa.
— Sou a guardiã deste lugar. Sua consciência pode me imaginar de qualquer forma, mas não respondeu à minha pergunta — a voz respondeu, paciente, mas firme.
Não conseguia ver nada além de uma luz ofuscante. Minha audição, porém, estava aguçada, captando cada detalhe do ambiente. Meu olhar vagou, procurando alguma referência, até que, aos poucos, a paisagem começou a se materializar. Campos de asfódelos, um lugar fantasmagórico, um limbo entre a vida e a morte, onde as almas neutras aguardavam o julgamento.
— Por que estou aqui? — perguntei, incrédulo. Não fazia sentido.
— A sua vida não acabou ainda. Está apenas suspensa por um fio — a voz decretou, me deixando atônito.
Ainda havia esperança! Tenho chances!
— Não quero desistir. Quero sair deste lugar! — declarei, a determinação queimando dentro de mim.
— Meu senhor, olhe em frente — a voz vazia ecoou novamente, me guiando.
Meu olhar se fixou em duas sombras à minha frente, duas formas escuras que flutuavam na penumbra. Sentia uma energia emanando delas, um calor vago que me tocava como um leve sopro. Gradualmente, as sombras foram tomando forma, se delineando no vazio, como se fossem esculpidas pela própria luz. Eram crianças, uma sensação de afeição, de calor e ternura me invadiu, um sentimento tão intenso que me fez tremer. Era um amor incondicional, puro, que me atingia como uma onda, me envolvendo em uma aura de paz e contentamento.
A cada instante, a sensação de familiaridade crescia, um elo invisível me conectava a essas pequenas formas. Senti uma profunda ligação, um reconhecimento inegável, que me enchia de uma alegria imensa. Eram eles, meus filhos, a certeza disso me invadiu, me preenchendo de uma felicidade tão intensa que quase me fez explodir. Mas antes que pudesse vê-los claramente e pudesse contemplar seus rostos, a visão se apagou, me deixando novamente na escuridão, a sensação de perda me atingindo com mais força que a própria morte.
— Seus filhos querem conhecê-lo. No entanto, precisa lutar. Fez a promessa de que nunca perderia para seus irmãos e prometeu cuidar de Sarah... ela está lutando para mantê-lo vivo, e até Eros está ajudando. Essa energia quente que sente em seu coração é o poder de Eros, mantendo-o vivo. Aceite a sua ajuda! — a voz da guardiã ecoou, clara e direta, quebrando meu estado de torpor.
Arregalei os olhos, paralisado diante da sua revelação. Estava rejeitando a ajuda de Eros de forma inconsciente? A angústia da situação me atingiu com força.
Havia tanta mágoa, tanto ressentimento entre nós. Tudo o que sofri por causa dele ainda estava latente em minha memória, uma ferida aberta que se recusava a cicatrizar. Ainda não sabia se conseguiria esquecer a dor que ele me causou.
— Senhor, está aqui por causa dele. São os poderes dele que o mantêm vivo. Se renegar a sua ajuda, morrerá — a voz sussurrou novamente, carregada de súplica.
A ironia da situação me atingiu com força, um golpe visceral que me deixou sem fôlego. Precisava da ajuda da pessoa que mais detestava para sobreviver.
Seria capaz de esquecer tudo o que ele fez? Esquecer a dor lancinante de perder Sarah milênios atrás, uma perda que quase se repetiu nessa vida?
A lembrança daquela dor, crua e intensa, me invadia como uma onda, me sufocando. A dor que ele me causou era algo que jamais desejaria para ninguém, nem mesmo para ele. Foi tão profunda a minha perda, tão imenso o vazio que me consumiu, que mesmo depois de Hécate usar seus poderes para me fazer esquecer Sarah, ainda me sentia uma casca vazia. Foi assim que ela reencarnou e voltou para minha vida, um presente e uma segunda chance.
Mas não era sobre o que queria, mas sobre o que precisava.
Por Sarah, por meus filhos, por minha família, precisava voltar. E para isso, tinha que expurgar todo o ressentimento do meu coração, mesmo que me custasse uma dor ainda maior.
Fechei os olhos com força, mergulhando em profunda introspecção. Minhas memórias, carregadas de dor e ressentimento, inundaram minha mente como uma avalanche, cada lembrança me atingindo como um golpe. Cada ferida causada por Eros pesava em mim, me prendendo a um ciclo vicioso de raiva e ódio. Precisava me libertar desse sentimento, do passado e ele precisava do meu perdão. Apesar de Eros ser o Deus do Amor, ele ainda não conhecia a plenitude desse sentimento.
Eros era imaturo e imprudente, acreditando que o amor era uma brincadeira ou uma punição. Anos atrás, ele flechou Apolo por zombar de seus poderes como arqueiro, fazendo-o se apaixonar por uma ninfa que o rejeitava, uma crueldade sem sentido. Ele tinha muito a aprender, errou muito comigo, mas ainda estava em seu caminho de aprendizado. Seria mais prudente auxiliá-lo do que atacá-lo, mesmo que isso fosse contra meus sentimentos. Ainda sentia muita raiva, uma fúria que ardia em minhas veias, mas esse sentimento só me prejudicava, me prendendo à dor, me impedindo de seguir em frente.
— Eros, perdoo você... — as palavras saíram de meus lábios como um sussurro, carregadas de um peso que eu carregara por muito tempo.
O vazio branco começou a se dissolver, não gradualmente, mas como se uma cortina fosse rasgada, revelando um turbilhão de luz que cegava meus olhos. Em seguida, uma sensação de calor intenso, como se milhares de brasas estivessem queimando em meu corpo. Um formigamento percorria cada nervo, cada músculo, cada fibra do meu ser. Era como se estivesse sendo reconstruído, célula por célula, átomo por átomo. A vontade incontrolável de abrir os olhos me dominou, e assim que o fiz, a visão borrada se focou em Eros, seu rosto enrugado pela concentração, suas mãos firmes bombeando meu coração com uma força que sentia a cada batida. O ritmo era lento, mas constante, como o pulsar da própria vida.
Meu corpo, ainda fraco e tremendo, obedeceu ao meu impulso. Toquei levemente a mão de Eros, parando seu movimento. Seus dedos, frios e úmidos de sangue, se contraíram sob o meu toque. Um sorriso se abriu em seu rosto e vi o alívio genuíno em seus olhos, uma onda de gratidão me inundando.
— Bem-vindo de volta do mundo dos mortos, idiota! — Eros declarou, rindo, sorri fracamente em resposta. O alívio era tão grande que quase me deixava sem fôlego.
— Obrigado! — sussurrei, ainda sentindo a fragilidade do meu corpo.
Ao ouvir minha voz, minha amada esposa pulou sobre mim, me abraçando com força. Gemi de dor, sentindo minha pele em chamas, o ferimento ainda aberto em meu peito dilacerando minha carne. Não havia uma parte do meu corpo que não doía.
— Céus, cuidado, ou vai matá-lo! — Poseidon resmungou, sua voz carregada de preocupação. Sarah, sem graça, se afastou.
— Desculpa! — a voz de Sarah, baixa e arrependida, quebrou o silêncio. Ela se afastou levemente, mas seus olhos estavam cheios de preocupação.
Sorri em sua direção, mas a força do sorriso era fraca, quase imperceptível. Meu corpo doía, cada músculo, cada fibra, gritava em protesto. Mas o meu coração, apesar da fragilidade do corpo, pulsava com uma força inabalável. Não estava disposto a ficar longe dela, nem por um instante. A ideia de nunca mais a ver, de nunca mais sentir seu toque, meus sentimentos se intensificaram a um nível que jamais imaginei.
Com um esforço sobre-humano, com uma força que vinha não do meu corpo, mas da minha alma, a puxei de volta para meus braços. O movimento me causou uma dor lancinante, uma pontada aguda que me fez gemer, mas ignorei, me agarrando a ela como se ela fosse a única tábua de salvação em um mar tempestuoso.
— Fica, não quero você longe! — minha voz era rouca, mas firme, carregada de uma emoção tão intensa que quase me deixava sem fôlego. Aconcheguei-a mais contra meu corpo, sentindo seu calor envolvendo-me como um manto protetor. Seu perfume, doce e familiar, me invadiu, me acalmando, me trazendo de volta à vida. O toque, suave e delicado, me curava, me restaurava, me completava. Era como se, ao abraçá-la, estivesse abraçando a própria vida. Finalmente, estava em casa, em seus braços.
— Não quero estragar o momento, mas precisamos examiná-lo — Hécate declarou suavemente, sua voz carregada de preocupação. Sarah assentiu rapidamente.
Hécate me examinou por alguns segundos, seus dedos leves sobre meu pulso, antes de sorrir, um sorriso radiante que dissipou a tensão no ar. O alívio me inundou, uma onda de calor me percorreu, preenchendo-me com uma gratidão imensa. Ultrapassei o limite da morte, meu corpo se manteve vivo graças a Eros.
— Está bem, mas seu corpo sofreu grandes danos internos. Repouso absoluto! — Hécate decretou, sua expressão séria, mas seus olhos brilhavam com alegria. Assenti, um sorriso se formando em meus lábios.
— Tudo bem — pisquei maroto para Sarah, que não tirava o sorriso do rosto, seu olhar radiante me enchendo de alegria.
Não me importava de ficar algum tempo de molho. Tudo o que importava era que estava vivo e pronto para proteger minha família.
— Poseidon... Hécate... obrigado por cuidar de Sarah e dos meus filhos — sussurrei, meu olhar agradecido sobre eles, que sorriram em resposta.
Poseidon se aproximou, seus olhos amorosos.
— Ela é meio insuportável, mas não queria que você passasse a eternidade sem ninguém enchendo sua paciência — Poseidon piscou maroto, um sorriso divertido em seus lábios.
Não contive o sorriso. Minha esposa realmente era alguém especial, nem mesmo meu irmão mais taciturno escapou de seus encantos. Fiquei alegre ao perceber que ele a considerava de verdade parte da família. Pelo seu olhar, sabia que ele a via como uma irmã.
— Eros... obrigado por salvar... a minha vida — me voltei para ele, sentindo uma gratidão profunda. — Ter a oportunidade de estar com minha família é tudo o que queria.
Eros sorriu, um sorriso sincero e arrependido.
— Alguém me ensinou que amor é cuidado, proteção, carinho. Amor é querer o bem, a felicidade do outro... mesmo que não seja com você — Eros direcionou o olhar triste para Sarah, então seus olhos se voltaram para mim, carregados de arrependimento. — Hades, se está nessa cama... em parte a culpa é minha... peço perdão por tudo o que fiz.
Ele finalmente entendeu.
— Perdoo você. Quando encontrar o amor verdadeiro... vai entender o motivo de não ter sido feito para a minha Sarah — respondi honestamente, meu olhar encontrando o dele.
Eros sorriu tristemente, deixando o quarto, seguido por Poseidon e Hécate, que trocavam sorrisos cúmplices.
Sorri, puxando Sarah para meus braços, suspirando ao sentir seu aroma.
Sanguis per venas ibit, antidotum in sanguinem tuum portans. Venenhum hoc modo peribit: O sangue fluirá através de suas veias, carregando o antídoto em sua corrente sanguínea. Assim, o veneno irá desaparecer.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro