Capítulo 39 - Vou te salvar
Contém 3624 palavras.
Boa leitura💜
A decisão tomada ecoava em meus ouvidos como um trovão distante, um peso insuportável que me esmagava. Por mais que tentasse me convencer da necessidade do ato, a dor era incontrolável, uma enxurrada de lágrimas que queimavam meu rosto, um rio de sofrimento que inundava minha alma. Não era para ele morrer no lugar daquela... daquela abominação. Minhas pernas falharam, me jogando no chão frio e implacável, a aspereza da pedra contra minha pele, um reflexo da aspereza da minha própria dor. A cada batida do meu coração, uma onda de lembranças me atingia com força devastadora. O amor que sentia por Hades era um abismo sem fundo, um oceano imenso e tempestuoso, um turbilhão de emoções que me consumiam. Mas ele... ele nunca me viu. Sempre me tratou com uma frieza cortês, uma distância glacial que me congelava por dentro, me deixando em um vazio desolador.
No início, me agarrei à ilusão do respeito. Mas a verdade era uma faca afiada, dilacerando meu coração a cada lembrança. Mesmo usando meus poderes, mesmo me entregando completamente, ele nunca me desejou como desejava a ela. Havia momentos, sim, momentos fugazes em que conseguia fazê-lo se entregar, momentos em que meu corpo, transformado em uma imitação barata daquela criatura, o fazia me desejar. Nesses momentos, ele me amava, mas era um amor falso, um amor baseado em ilusão, em uma máscara que ele usava para esconder a sua própria incapacidade de amar.
— MALDITA VADIA! — gritei, o grito rasgando meu peito, a raiva me consumindo como um incêndio. Meus punhos se chocavam contra o chão frio, a poeira subindo como um véu de sofrimento. A cada soco, uma nova onda de dor, uma nova lembrança, uma nova pontada de desespero.
Como ele podia? Minha beleza era incomparável, rivalizando com a própria Afrodite. E ainda assim, ele nunca se encantou verdadeiramente por mim. Mesmo nos momentos de maior intimidade, ele se protegia, se esquivava, me tratando como se eu fosse uma ameaça, uma doença. E sempre que meu cheiro se intensificava, quando meu corpo clamava por ele, ele me evitava, me rejeitava, usando aquela maldita frase como escudo: "Não estou pronto." Não está pronto para o quê? Para o meu amor? Para a minha entrega? Para mim?
"Estava cansada de esperar. Séculos esperando o casamento com Hades, um casamento que ele sempre adiava, usando desculpas esfarrapadas sobre os deuses estarem ocupados e o caos reinando no Olimpo. Como se isso fosse um impedimento para o nosso enlace! A verdade era que ele parecia perder o interesse a cada dia que passava. Um motivo diferente a cada adiamento, uma nova desculpa para me manter à distância. Estava exausta, presa em uma espera sem fim, incapaz de amarrá-lo a mim. Ele fugia como um espectro sempre que percebia minhas intenções, sempre alerta, sempre racional, mesmo nos momentos em que parecia mais entregue.
Já havia tentado, diversas vezes, pegá-lo de surpresa, aproveitando o momento em que meu corpo clamava por ele, quando a fertilidade me consumia. Mas ele sempre sabia, sempre me evitava, como se pudesse sentir meu desejo a quilômetros de distância.
Se eu não conseguia pegá-lo de surpresa, faria a proposta diretamente. Ele não tinha motivos para negar, depois de séculos como noivos!
— Querido... o que acha de um bebê? — sussurrei, minha voz doce, sedutora, minhas mãos deslizando por seu peito, sentindo o calor de seu corpo contra o meu. — Sabe... queria ter um pedaço seu comigo, para quando estiver longe, não me sentir tão sozinha.
Meu toque o paralisou, mas não no sentido de encantamento. Seu corpo ficou rígido como uma estátua de mármore, frio e impassível sob minhas mãos. A expressão em seu rosto era uma máscara de pedra, impenetrável, sem um traço de emoção, exceto pelo leve franzir de suas sobrancelhas, um sinal sutil, mas inegável, de sua irritação. Seus olhos, aqueles profundos olhos roxos, antes escuros e profundos como um poço sem fundo, agora estavam vazios, distantes, evitando o meu olhar como se fosse algo repugnante. A cor roxa, normalmente intensa e vibrante, agora parecia desbotada, apagada, como se a própria luz se recusasse a brilhar em sua alma. Senti um arrepio percorrer minha espinha, a frieza que emanava dele era tão intensa que me picou como gelo, me congelando por dentro. Não era o calor do desejo, mas o gélido sopro da rejeição. Seu silêncio era mais eloquente do que qualquer palavra, um silêncio pesado, carregado de um desinteresse que me atingiu como uma onda de choque. A distância que ele criava, mesmo com meu corpo colado ao seu, era um abismo intransponível, um vazio que me separava dele para sempre. A cor roxa de seus olhos, agora opacos e sem vida, era um reflexo da morte que se aproximava, tanto dele quanto do meu sonho de tê-lo para mim.
— Perséfone... não quero filhos... agora — a resposta dele foi como uma facada, lenta e dolorosa. Sua voz era pausada, fria, sem o calor que esperava.
Levantei-me, um choque percorrendo meu corpo. Ele estava admitindo, abertamente, sua falta de interesse. A rejeição era tão clara, tão cruel, que me deixou sem fôlego.
— Não quer ter filhos comigo? — perguntei, a voz embargada pelas lágrimas, o desespero me sufocando. Ele suspirou, aborrecido, impaciente.
— Não quero filhos. Agora não é o momento para falar disso! — declarou, sua voz implacável, cortando qualquer possibilidade de diálogo. A porta para o meu coração se fechou com um estrondo devastador."
A mesma desculpa de sempre: ele precisava se concentrar em seus deveres como Deus, e uma criança o atrapalharia, roubando-lhe o tempo necessário para se dedicar ao submundo. Mas sabia que era mentira. Ele nunca teve essa conversa com a vadia. Com ela, ele sempre foi genuíno, sempre se entregou, sem reservas. Aquela maldita daria os herdeiros que tanto desejava ter.
Agora, a possibilidade de tê-los se esvaía, como areia entre meus dedos. Hades estava morrendo. Se não encontrassem um antídoto...
A lembrança do veneno da minha mãe me assombrou. Nunca conseguiram criar um antídoto eficaz para ele, principalmente naquela potência aumentada. Normalmente, levaria dias para agir. Mas ela o modificara, tornando-o letal em questão de horas.
— Querida, o que aconteceu? — a voz suave de Deméter me trouxe de volta à realidade, seus braços me envolvendo em um abraço reconfortante.
— Eu o matei! Matei Hades! — gritei, as palavras saindo em um soluço, a dor me dilacerando.
Ela paralisou, suas mãos me soltando levemente, o espanto estampado em seu rosto.
— O que deu errado? — ela perguntou, a aflição em sua voz.
— Tudo! Ele a protegeu... aquela vagabunda... Hades vai morrer... — a possibilidade me atingiu como uma onda de frio, me congelando por dentro.
— Se quiser, eu posso... — Deméter começou, mas eu a interrompi, a raiva me consumindo.
Levantei-me, meus músculos tensos como cordas de arco prestes a arrebentar. O olhar que lancei para Deméter era puro ódio, um turbilhão de raiva, dor e desespero. Meu corpo tremia, não de frio, mas de uma fúria que me consumia por dentro. A imagem de Hades com aquela bruxa me assombrava, corroendo-me como um ácido.
— Ele não quis protegê-la? — gritei, minha voz rouca, quebrada pela raiva. — Prefiro ele morto a com ela! — rosnei, as palavras saindo como veneno de minhas entranhas. A raiva me sufocava, me estrangulava, me consumia. Era uma fúria cega, irracional, que me cegava para qualquer outra coisa que não fosse a minha vingança.
Deméter me olhou em choque, o espanto em seus olhos me atingindo como um tapa. Mas, em vez de me abalar, isso só alimentou ainda mais minha fúria. Sua preocupação, sua compaixão, me pareciam uma afronta, uma zombaria da minha dor. Como ela ousava se preocupar comigo? Como ela ousava sentir compaixão por mim? Não queria a sua compaixão.
Ao menos na morte, Hades estaria em paz, longe daquela maldita. Mas a paz dele não me importava. O que me importava era a minha vingança, a minha satisfação.
— E depois, o que vai fazer? — Deméter perguntou, sua voz baixa, sua preocupação evidente.
Um sorriso triste surgiu em meus lábios. Finalmente consegui meu trono, embora não da maneira que eu desejava. Um trono banhado em sangue, em dor, em perda.
— Tenho a bênção de Hades — declarei, minha voz firme, apesar da raiva que me consumia. — Serei a governante do submundo!
Deméter desviou o olhar, mordendo os lábios com nervosismo.
— Sarah é esposa de Hades e está à espera de seus herdeiros. Você não pode comandar o submundo! — a objeção dela me irritou, me encheu de uma raiva fria e implacável.
Aquilo não era garantia de nada. Aqueles bastardos seriam tirados de cena, e com eles, aquela maldita bruxa, voltaria para o seu lugar.
— Como se aqueles bastardos fossem nascer... e duvido que eles queiram uma maldita bruxa como governante em vez de uma deusa! — minha voz estava carregada de desprezo, minha determinação inabalável.
— Filha... você não conseguirá tocar nessas crianças. Você entrou no submundo por conta dos poderes semelhantes aos de Hades, graças à bênção que ele lhe concedeu. Mas não acredito que Sarah ficará à sua espera lá — a preocupação de Deméter era evidente em sua voz, mas eu ignorei.
Sabia que algum de seus irmãos se meteria em tudo isso. A bruxa não iria para o Olimpo, Hera a detestava. Zeus estava descartado. Adamanto não entrava na jogada, pois sua morada também ficava no submundo. Isso deixava apenas Poseidon. Ele me detestava. Estava terminantemente proibida de entrar em seus domínios. A última vez que tentei, após ser expulsa, quase morri. Com os acontecimentos recentes, ele triplicaria sua guarda. Seria impossível entrar lá, ao menos até os bastardos nascerem.
— Terei que esperar os bastardos nascerem... — murmurei, a determinação em meu olhar. Quando isso acontecer, tudo será meu por direito.
A presença constante de meus cunhados me envolvia em um abraço silencioso, um apoio que sentia mesmo sem palavras. Eles estavam sofrendo pela perda de Hades, mas ainda assim encontravam força para me apoiar, para cuidar de mim e dos nossos futuros sobrinhos. Sua presença era um bálsamo em meio à minha dor, um sinal de que não estava sozinha.
O domínio de Poseidon me deixou deslumbrada, mesmo em meu estado fragilizado. A beleza do lugar, normalmente um deleite para os meus olhos, agora era um reflexo da minha própria fragilidade. A calma e a serenidade do lugar eram um contraste gritante com a tempestade que assolava minha alma.
— Ela foi afetada pelo veneno das plantas de Perséfone, mas não foi nada fatal. Logo acordará — analisei Hécate, adormecida na longa cama, seus traços suaves, sua respiração calma. A deusa estava bem, e isso era um alívio.
A exaustão me atingiu como uma onda, me deixando fraca e vulnerável. O cansaço físico se misturava à dor emocional, criando uma combinação devastadora. Uma tontura me fez cambalear, jogando-me nos braços de Poseidon antes que pudesse cair. Ele me segurou com firmeza, seu toque sólido e seguro em meio ao meu desespero. Sem uma palavra, ele me pegou no colo como se fosse uma criança, me levando para o quarto onde eu ficaria.
Apesar da frieza em sua expressão, percebi um traço de gentileza em seu olhar, uma compaixão escondida sob a máscara de impassibilidade que ele usava. Ele era muito mais do que demonstrava.
Um sorriso suave surgiu em meus lábios ao ver que ele havia atendido meu pedido, me deixando no mesmo quarto de Hades. Não suportaria ficar longe dele. A proximidade com os seus pertences, com o seu cheiro, era um conforto em meio à minha dor.
— Você não comeu nada hoje, aposto. Está muito branca — a voz de Poseidon quebrou o silêncio, sua mão me guiando gentilmente até a cama enorme, ao lado de Hades. O toque dele era firme, mas cuidadoso, um contraste com sua personalidade normalmente impetuosa.
— Não sinto fome — sussurrei, minha voz fraca, minha garganta seca.
Ele suspirou, um som pesado, carregado de preocupação.
— Mas vai ter que comer. Está grávida de gêmeos e agora é apenas uma humana comum — a palavra "humana" saiu como um espinho, uma pontada de desprezo em sua voz. Ele fez uma careta, uma expressão de nojo quase imperceptível, mas que não deixei passar despercebida.
Pertencia a uma raça que ele abominava. Sabia do seu desgosto pelos humanos. Sempre fui uma, mesmo sendo uma bruxa. A magia não mudava minha essência. Antes, era uma humana com o acréscimo da imortalidade. Agora, havia perdido isso, me reduzindo ao mesmo nível dos seres que ele tanto detestava. Apesar disso, percebi que seu tratamento em relação a mim não havia mudado. Ele não era gentil, normalmente, mas estava me tratando da mesma forma.
— Se odeia tanto os humanos, por que está me ajudando? — perguntei, minha curiosidade misturada à minha própria vulnerabilidade.
Poseidon suspirou, um som de descontentamento, me olhando de soslaio.
— Não odeio os humanos. Ódio é um sentimento, e eu não sinto nada por essa raça inútil! — ele resmungou, ofendido. Ao ver minha sobrancelha arqueada, revirou os olhos, sua arrogância transparecendo. — Hades ama você, e nunca o vi tão feliz como ele é com você... não quero que ele perca isso. Fora que está esperando os meus sobrinhos.
— O que significa que sou sua família? — retruquei, um sorriso travesso surgindo em meus lábios.
Ele me olhou de forma desconfiada.
— Exatamente. Por isso, vou protegê-la de tudo.
Um sorriso fraco surgiu em meus lábios. Apesar de sua arrogância extrema, o amor de Poseidon por seu irmão era inegável, evidente em cada uma de suas ações.
— Mandarei um servo para ficar à sua disposição. Quero que descanse, e isso é uma ordem — a voz de Poseidon ecoou pela sala, sua arrogância transparecendo em cada sílaba.
Arrogante e idiota! A frase ecoou em minha mente, um turbilhão de raiva me consumindo. Era só o que faltava! Não obedecia a ninguém, e não seria agora que começaria.
— Não obedeço a você! — rosnei, minha voz baixa, mas firme.
Ele sorriu, um sorriso debochado, sua arrogância transparecendo em cada traço de seu rosto.
— Eu sou um Deus, e sou mais forte que você. Perdeu seu trunfo contra os deuses. Agora é apenas uma humana, com o adicional de ser uma bruxa. Então, quer apostar que me obedece? — a provocação dele era uma afronta, uma demonstração clara de seu poder.
Olhei-o com incredulidade, a realidade de minha situação me atingindo como um choque. Esqueci disso. Ainda possuía meus poderes, mas lutar contra um Deus seria perigoso, agora poderia morrer.
— Sarah, apenas estou preocupado. Se quer salvar Hades, tem que estar bem. Não pode fazer isso estando desse jeito, e você tem que pensar nos seus filhos também. Tudo que passou hoje os afetou. Descanse, e amanhã terá tudo à sua disposição para trazer meu irmão de volta — a voz de Poseidon, apesar de autoritária, agora carregava um tom de preocupação genuína. Ele se virou, indo em direção à porta.
Por mais que quisesse correr para fazer o antídoto, ele tinha razão. Precisava estar bem para isso.
— Poseidon... — chamei-o baixinho, minha voz carregada de gratidão. Ele se virou levemente, parado rente à porta. — Obrigada.
Um sorriso mínimo, quase imperceptível, surgiu em seus lábios antes que ele saísse, deixando-me sozinha com meus pensamentos.
Deitei-me ao lado do meu amado, suspirando baixinho. Meu mundo havia virado do avesso. Perdi Daemon, meu trunfo contra os deuses, minha imortalidade. E quase perdi Hades para sempre. Não conseguia compreender o amor que Perséfone dizia sentir por ele, aquele amor que machuca, que fere, que destrói tudo à sua volta... aquilo não era amor, era uma possessão doentia.
— Stella mea, volta para mim... não posso... não posso ficar sem você — chorei, meu rosto afundado em seu peito, sentindo o calor de seu corpo contra o meu. O som das batidas de seu coração, forte e lento, era um bálsamo para minha alma, uma prova de que ele ainda estava comigo. Era o som mais belo do mundo.
Minhas mãos pousaram sobre meu ventre, sentindo nossos filhos chutarem. As lágrimas rolaram sem parar, molhando meu rosto. Ao menos eles estavam bem, apesar de senti-los agitados, reflexo da minha própria angústia.
— Meus amores... o papai vai voltar para nós... ele nunca... nunca abandonaria a gente — murmurei, as lágrimas escorrendo sem parar, até que o sono, pesado e profundo, me envolveu.
O sono me abandonou de repente, arrancado por uma onda de terror. Senti uma vibração violenta na cama, um tremor que percorreu meu corpo. Abri os olhos, o pânico me congelando. Hades estava se contorcendo, convulsionando violentamente. Seu corpo, antes quente e aconchegante ao meu lado, agora estava rígido, tenso, como se estivesse sendo dilacerado por dentro. Sua pele, normalmente pálida, agora era cadavérica, uma mortal palidez que me gelou o sangue. Suas veias, grossas e escuras, se destacavam sob a pele esticada, pulsando com uma força frenética. Seus olhos roxos, normalmente profundos e cheios de vida, estavam arregalados, fixos em algum ponto distante, cheios de uma dor insuportável.
Um grito silencioso escapou de meus lábios, preso na minha garganta. A respiração dele era irregular, ofegante, um som rouco e entrecortado que me arranhava os ouvidos. A cena era tão brutal, tão violenta, que meu cérebro se recusava a processar. O pânico subiu em meu peito, me sufocando, me aprisionando em um nó de terror. Não conseguia respirar, não conseguia pensar. Só sentia o medo, frio e cortante, me dilacerando por dentro. Era como se meu mundo estivesse desabando, e estivesse impotente para impedi-lo.
— Hades, calma! — gritei, o desespero me consumindo. Meu grito chamou a atenção. Poseidon entrou no quarto rapidamente, seguido por Hécate, seus rostos cheios de preocupação.
— Leniret omnia nervi — murmurei, as palavras do feitiço saindo em um soluço, minhas mãos trêmulas, meu corpo tremendo. Tentava acalmá-lo, mas minhas forças me falhavam. O suor escorreu pelo meu corpo, me deixando encharcada. Não conseguia manter o feitiço. Poseidon me agarrou pelos braços, afastando-me de Hades, seus olhos cheios de preocupação.
— ME SOLTA! — gritei, tentando me desvencilhar de Poseidon, ansiosa para ir ao encontro do meu marido, que estava em agonia.
— Você está fraca, e seu emocional está abalado. Deixe isso com Hécate — ele murmurou baixinho, sua voz carregada de preocupação, fazendo-me hesitar e parar de debater.
Paralisei ao ver Hades saltar, seu corpo completamente duro, como se estivesse preso em um choque elétrico. O ar parecia estar preso em seus pulmões, e o desespero me invadiu. Não conseguia suportar ver aquela cena, então me virei para Poseidon, que mantinha um semblante desesperado.
— Poseidon... n-não posso perdê-lo — a aflição pesava em minha voz, cada sílaba carregada de um medo profundo.
— Hades é o deus mais cabeça-dura que conheço. Ele vai lutar para voltar para vocês. Jamais abandonaria sua família — Poseidon sussurrou, sua voz um fio de esperança em meio ao caos.
Minhas lágrimas caíram incessantemente, cada gota uma mistura de medo e desespero, enquanto a imagem de Hades em sofrimento se fixava em minha mente.
Ele suspirou, envolvendo-me em um abraço cuidadoso. Os suspiros agoniados de Hades ecoavam pela sala, um som que cortava meu coração. Apesar de todo o meu desespero, Poseidon não me soltou, mantendo-me firme contra seus braços. Não aguentei mais, deixei que as emoções tomassem conta de mim, desabando em um choro convulsivo, sendo embalada pelo meu cunhado, que tentava me dar consolo.
Gradualmente, um silêncio pesado preencheu o ambiente, seguido pela respiração normalizada de Hades. Com um misto de esperança e temor, separei-me de Poseidon, olhando atentamente para meu marido inerte sobre a cama. Apesar de estar mais tranquilo, sua pele estava mais pálida do que antes, um lembrete cruel de sua fragilidade.
— Hécate... como ele está? — perguntei em um sussurro, aproximando-me da deusa, meu corpo tremendo.
— Não vou mentir para você... o veneno está destruindo os tecidos dele, matando-o lentamente. Ele está vivo porque... bem... é ele. Hades é o Deus com maior resistência, mas até ele tem um limite. Precisamos rapidamente do antídoto... ou o corpo dele não vai resistir mais tempo — a voz de Hécate era grave, séria, cada palavra um golpe em meu coração. Minhas pernas ficaram bambas, o chão pareceu se afastar sob meus pés.
Não permitiria que ele morresse. A ideia era insuportável, uma lâmina afiada cravada em meu coração. Não conseguiria viver sem ele. Não sobreviveria a essa dor. Faria tudo ao meu alcance, enfrentaria os deuses, enfrentaria o inferno, enfrentaria qualquer coisa para trazê-lo de volta. Meu amor por ele era a minha força, a minha arma, a minha única esperança. Não hesitaria, não vacilaria. Lutaria até o fim, até meu último suspiro, para salvar o homem que amava. A vida sem ele não valia a pena ser vivida. O traria de volta, custe o que custar.
— E-eu trouxe... o p-punhal que contém o veneno — anunciei, minha voz trêmula, entregando a Hécate a prova do crime. A deusa assentiu, seu semblante sério e concentrado.
Meu olhar percorreu a porta, depois pousou em Hades, inerte na cama. Não queria abandoná-lo, mas precisava cuidar pessoalmente do antídoto.
— Vou ficar com ele. Fique tranquila, que não sairei daqui — a voz de Poseidon, baixa e firme, me trouxe um pouco de conforto. Ele se sentou em uma poltrona ao lado da cama, sua presença era uma âncora em meio à tempestade.
Sorri fracamente para ele, antes de me aproximar lentamente de Hades, depositando um beijo suave em sua testa suada.
— Não ficarei muito tempo longe. Prometo que logo encontrarei uma solução! — sussurrei, minha voz carregada de determinação.
— Proteus, leve-as até a sala que Adamanto preparou com as coisas de bruxaria, e leve comida para lá — a ordem de Poseidon cortou o ar, me fazendo suspirar. — Não adianta me olhar com essa cara. Você precisa se alimentar! — ele resmungou, seu olhar fixo em mim, sua preocupação evidente.
Suspirei, descontente, mas assenti. Por mais difícil que fosse, ele estava certo. Precisava de forças para salvar Hades.
Leniret omnia nervi: Acalmo seus servos.
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