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Capítulo 38 - Batalha pelo amor II

Contém 3700 palavras.

Boa leitura❤️

Um turbilhão de emoções me invadiu: o desespero, o choque, a incredulidade, tudo se misturando em uma tempestade caótica. Era como se meu mundo tivesse implodido, deixando para trás apenas um vazio profundo e a sensação de que tudo estava perdido. O choque inicial me paralisou, me deixou incapaz de reagir, de processar a cena brutal diante de meus olhos. A incredulidade me mantinha presa em um estado de negação, me recusando a aceitar a realidade da situação. Mas o desespero logo tomou conta, me esmagando, me sufocando, me deixando sem forças, sem esperança. Meu grito foi um reflexo dessa agonia, um grito de dor, de impotência, de desespero absoluto.

— Já que não pude matar sua esposa e seus bastardos... vou levar você à morte. Nunca irá conviver com seus filhos, nunca os verá crescer. O Deus do Submundo terá que render-se à morte! — Perséfone decretou, um sorriso cruel dançando em seus lábios enquanto desaparecia na escuridão.

O grito rasgou meu peito, um som desesperado que ecoou na câmara fria e úmida, enquanto a visão de Hades me atingia como um golpe brutal. Seu corpo, banhado em um sangue escuro e viscoso, jazia no chão frio e úmido das paredes de pedra úmida e fria, a pele roxa e fria sob minhas mãos trêmulas. O ar pesado e abafado da câmara subterrânea estava impregnado com o cheiro metálico de sangue, e cada batida do meu coração ecoava no silêncio, um tambor frenético de desespero.

A luta interna de Hades era visível em cada músculo tenso, em cada veia saltada em seu pescoço. A esperança se esvaía, como areia fina escorrendo entre meus dedos, e a incredulidade se transformava em um desespero avassalador, me paralisando, meus dedos se contraindo em volta do seu rosto frio. Meus cunhados adentraram o recinto, seus rostos pálidos e contorcidos pela dor, espelhando meu próprio horror, suas figuras hesitantes, silhuetas trêmulas na penumbra, testemunhas impotentes da minha agonia.

— Sarah, calma! — Adamanto me puxou para longe, sua força física contrastando com a minha fragilidade emocional.

Sua voz suave, mas firme, foi uma âncora em meio à tempestade que me consumia, seus braços me envolvendo em um abraço que me oferecia um breve refúgio. Mas o desespero era mais forte, podia sentir a vida de Hades se esvair.

Poseidon, com precisão, aproximou-se, seus movimentos lentos e calculados, retirando o punhal com uma frieza que contrastava com a urgência da situação. Cada gesto era medido, cada movimento calculado para minimizar o dano, uma demonstração de controle absoluto em meio ao caos. A sua calma era um escudo contra o desespero que ameaçava nos engolir, um contraste marcante com a luta interna de Hades e a minha própria agonia.

O impulso de salvá-lo foi mais forte que qualquer outro pensamento. Lancei-me sobre o corpo de Hades, minhas mãos trêmulas buscando desesperadamente uma solução. A luz fraca da câmara iluminava apenas parcialmente o sangue escuro que manchava seu corpo, a pele fria e roxa sob minhas mãos trêmulas.

Hoc venenum prohibere per venas currit — sussurrei urgente, quase inaudível, lançando um feitiço antigo.

Uma luz etérea emanou delas, pulsando lentamente enquanto tentava desesperadamente conter a propagação do veneno, uma força corrosiva que se espalhava como uma sombra.

— O que está fazendo? — Poseidon perguntou, sua voz ansiosa cortando o ar pesado da câmara.

Não conseguia respondê-lo, a urgência da situação era insuportável. Sentia a letalidade do veneno, sua natureza corrosiva e velocidade implacável. Era uma força destrutiva que coagulava o sangue, paralisava a respiração, corroía sua vida a cada segundo. A cada respiração, o cheiro metálico do sangue misturado à umidade da câmara entrava em minhas narinas, um lembrete brutal da gravidade da situação. Paralisar o veneno era apenas uma medida paliativa, um esforço desesperado para ganhar tempo, e a frustração me atingiu com força quando percebi a minha impotência. Apesar de todo o meu poder, não conseguia removê-lo da corrente sanguínea. Meu corpo tremia incontrolavelmente, a respiração presa na minha garganta, um nó de terror me apertava o peito.

Um barulho chamou de leve minha atenção, e meu sangue ferveu ao notar Eros entrando aflito, acompanhado por outros deuses. A audácia dele em aparecer ali, depois de tudo, era incompreensível.

— Vocês têm o antídoto? — Adamanto perguntou, sua voz carregada de desespero enquanto fixava os deuses com esperança.

Eles negaram, com a cabeça, a expressão em seus rostos, refletindo a gravidade da situação.

— Seu maldito! Deveria ter encontrado o antídoto! — Poseidon rosnou, a fúria transbordando em suas palavras, dirigindo-se a Eros com um olhar cortante.

— O veneno é produzido pelo próprio corpo de Deméter — Eros respondeu, a voz trêmula, mas pressionada pelo peso da culpa.

— Apenas ela ou alguma alquimista poderosa poderia fazê-lo. De qualquer maneira, o tempo...

Zeus não terminou de falar, seus olhos se arregalaram ao olhar espantado para Hades, inconsciente no chão. A cena diante de nós era um eco de desespero, e o silêncio que se seguiu era pesado, carregado de impotência.

O veneno estava apodrecendo o corpo de Hades de dentro para fora, e percebi com horror que sua deterioração estava mais acelerada do que o normal. Aquela não era uma toxina comum, era uma modificação brutal, algo mais letal. Sabia que ele tinha apenas alguns minutos, e isso não seria suficiente para salvá-lo. Para criar um antídoto eficaz, era necessário tempo, e o tempo era algo que não tínhamos.

Hades estava morrendo de forma acelerada, cada célula de seu corpo sendo destruída em uma dança cruel de sofrimento. Suspirei, levantando-me com determinação, não permitiria que ele se fosse daquela forma. Não o perderia assim, não desta vez. Seria quem o salvaria, mesmo que isso significasse desafiar novamente os deuses.

Sob os olhares atentos dos outros deuses, uma névoa branca e etérea envolveu meu corpo, um véu de poder ancestral que me transformava. Senti a força da terra antiga fluir através de mim, um poder primordial e selvagem que me elevou, meus ossos estalando sob a força da magia. Raízes de luz branca, brilhantes e pulsantes, brotaram do chão, envolvendo meu corpo e se estendendo até Hades, criando um elo de poder entre a terra e o céu. Essa energia sobrenatural, carregada de magia primordial e um toque sombrio, banhou Hades em uma aura de cura, mas também de poder ancestral, capaz de desafiar até mesmo a morte. Os símbolos antigos gravados em minha alma brilharam intensamente através da névoa, amplificando a força da magia.

 Venenum iubeo excedere organa tua

Tua pulmonis aerem in potestate mea recipiet

Corpus faciet normaliter

O feitiço me esgotou por completo. Minhas pernas falharam e caí, a cabeça girando. Senti uma mão me segurar, fria como o gelo do mar, mas firme como uma rocha, quebrando a barreira impenetrável que sempre existiu entre nós. Era Poseidon. Seu toque, contido, quase rude, como se ele estivesse se forçando a fazer algo contra sua própria natureza, me ergueu. Um tremor percorreu meu corpo ao sentir seu poder contido, a respiração presa na minha garganta, o coração batendo forte contra as costelas. No silêncio pesado da câmara, apenas o som da minha respiração ofegante quebrava o ar denso, carregado com o cheiro metálico do sangue e o residual da magia antiga. Foi um vislumbre de compaixão tão raro e precioso quanto uma pérola no fundo do oceano, um gesto que jamais esperaria dele, e que ecoaria em minha memória para sempre. Ele, o Deus impassível, conhecido por sua frieza e aversão a qualquer demonstração de afeto, me amparava. Esse ato, mais que palavras, expressava uma compaixão profunda e inesperada.

— O veneno está momentaneamente paralisado — anunciei, minha voz rouca e fraca, ecoando no silêncio da câmara. — Fiz com que o corpo dele conseguisse reagir normalmente. Isso nos dá algum tempo, mesmo que seja curto.

Os olhos azuis de Poseidon brilharam com uma fagulha de esperança, mas meu corpo se recusava a cooperar. Minhas pernas bambas, senti a energia me abandonando. A visão turva, o cheiro metálico do sangue ainda impregnava o ar. Poseidon, compreendendo meu estado, me conduziu a um canto limpo da câmara com um gesto firme, mas delicado, sem palavras.

— Isso irá salvá-lo? — a pergunta aflita de Zeus cortou o silêncio, carregada de desespero.

Suspirei, ignorando-o. Doía admitir, mesmo para mim mesma, a verdade que se escondia por trás da minha aparente calma. Precisava fazer uma escolha, e essa escolha me dilacerava por dentro. Mas não conseguiria viver com a dor da sua ausência. No fundo, no meu coração, a decisão já estava tomada. Sempre o escolheria, não importava o preço.

Um círculo de luz, diferente e mais intenso que o anterior, se formou ao meu redor. A energia pulsava com um poder sombrio, uma força que prometia um confronto difícil. Desta vez, sabia que Thanatos não estaria disposto a negociar. O desafiaria, mesmo que isso significasse arriscar tudo.

Praecipio tibi Domine Thanatos venire ad me — sussurrei, fazendo Thanatos aparecer diante de mim.

Seu olhar, frio e implacável, pousou sobre mim. Senti a sua antipatia, um peso gélido na atmosfera. O entendia, ele jamais deixara de cumprir seu dever, de levar uma alma quando sua hora chegava. Mas, por minha culpa, Helena e sua filha haviam sido poupadas. Seus olhos, então, se voltaram para Hades, um brilho de surpresa momentânea em sua frieza habitual. Ele reconhecia que não era a hora de Hades.

— Sua vida está por um fio. Não posso poupá-lo, mesmo ele sendo quem é — sua voz, apesar de fria, carregava um tom de pesar, uma relutância que ecoou na câmara. A frieza era a máscara dele, mas sentia a dor em suas palavras, uma dor que me dilacerava por dentro. Fechei os olhos, lutando contra as lágrimas.

— Ele é seu senhor! — Poseidon rosnou, mas Thanatos apenas o ignorou, lançando-lhe um olhar gélido que congelaria o próprio oceano.

Não havia outra alternativa. Entendia Thanatos, ele não poderia poupar Hades da morte. Somente o antídoto poderia paralisar o veneno, e tudo o que precisávamos era de tempo.

Meu olhar encontrou o de Thanatos, que me observava com uma curiosidade sombria. Não permitiria que meu marido morresse. O risco era imenso, mas a minha decisão era inabalável.

— Leve minha imortalidade — declarei, minha voz tremula, mas minha determinação inquebrantável, chamando a atenção de todos os deuses presentes.

— O quê? Sarah, não! — Adamanto exclamou, o espanto estampado em seu rosto, seus olhos arregalados refletindo o terror da situação.

— Fique calmo... ainda ficarei viva — respondi, minha voz firme apesar da tremedeira interna, meus olhos fixos nos de Thanatos. — Sou uma bruxa, apenas... poderei morrer...

A verdade era mais cruel: suportaria qualquer coisa, menos viver sem Hades.

— Thanatos, eu imploro... leve a minha imortalidade e deixe Hades — murmurei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, a angústia me sufocando.

O olhar frio de Thanatos percorreu meu corpo, parando em meu ventre com uma frieza que me gelou por dentro.

— Está à espera dos herdeiros do submundo, grávida de um dos três grandes. Não aguentará até o final sendo uma humana normal, mesmo que seja uma bruxa poderosa... sua gravidez será difícil, e seus filhos podem sofrer com isso — Thanatos decretou, sua voz implacável, como um julgamento.

Sabia dos riscos. Estava colocando a mim mesma e principalmente meus filhos em perigo mortal. Mas a esperança de salvar Hades era mais forte que o medo. Me entregaria aos cuidados, redobraria a minha proteção, mas não perderia mais nada, nem meu marido, nem minha família.

— Leve a minha imortalidade e deixe Hades! — rosnei, meus dentes cerrados, a determinação substituindo o medo. Thanatos assentiu levemente, sua expressão impassível.

— Espera! Hades não iria querer que arriscasse sua vida. Pense nos seus filhos! — Poseidon segurou firmemente meu braço, sua força surpreendente, sua preocupação latente.

Estava pensando neles. Minha vida não era nada sem Hades. Juntos, poderíamos criar nossos filhos, protegê-los. Não poderia fazer isso sozinha. Uma vida imortal sem ele seria vazia, uma existência sem sentido. Não queria me entregar à desgraça, precisava lutar pelo meu futuro, pelo futuro da minha família.

— Não vou aguentar perdê-lo. Não quero nossos filhos crescendo sem ele por perto! — murmurei, a agonia me sufocando, a dor dilacerando meu coração. Poseidon suspirou, a dor em seus olhos tão profunda quanto a minha.

Poseidon, gentilmente, segurou minha mão, seus dedos fortes envolvendo os meus com delicadeza. A dor em seu olhar era latente, mas ainda assim, ele queria me proteger, por amor a Hades.

— Sarah, vocês são tudo para ele. Fora que é arriscado demais. Desculpa, mas não posso permitir que faça isso. Sei o quanto ele ama vocês! — Poseidon decretou, sua voz grave e cheia de pesar, mas firme em sua decisão.

Suspirei, exasperada. Entendia seu senso de proteção, a preocupação genuína em seus olhos azuis, mas não queria lutar contra ele, principalmente sabendo que seus motivos eram bons. A angústia me apertava a garganta, a cada respiração, uma onda de desespero me invadia.

— Poseidon, por favor... jamais colocaria a vida dos meus filhos em risco. Confia em mim — murmurei, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto, meu olhar suplicante encontrando o dele. Ele assentiu, contrariado, a dor em seus olhos tão profunda quanto a minha.

Voltei meu olhar para Thanatos, cuja expressão impassível permanecia inabalável, uma máscara fria sobre um coração impenetrável. O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de expectativa.

— Espera! Terá garantias de que Hades sobreviverá? — a pergunta de Zeus cortou o silêncio, carregada de urgência e incerteza. Thanatos sorriu, um sorriso frio e cruel que gelou o sangue de todos os presentes.

— Não. Apenas não levarei sua alma hoje — a voz de Thanatos ecoou na câmara, sua frieza glacial. — Mas o veneno ainda está em seu corpo. Ele ficará em coma até que a bruxa faça um antídoto eficaz, ou até que ele não resista mais. Não posso fazer mais que isso. Não negocio almas, e já é a segunda vez que faço uma exceção.

Sua declaração ecoou na câmara, o peso de suas palavras pairando no ar. Não fiquei surpresa. Já esperava por essa resposta. Tudo o que precisava era de tempo, um tempo que Thanatos, contra sua própria natureza, havia me concedido. Um tempo que usaria para salvar a vida do meu marido.

— Vá logo! — rosnei, a raiva me consumindo, meu corpo tremendo de indignação. Eros, com uma audácia irritante, me segurou com força, seus dedos apertando meu braço com uma insistência que me causou repulsa.

— Vai tão longe por ele? — Eros perguntou, o espanto evidente em sua voz, mas também uma ponta de incredulidade.

Arrebentando sua prisão com força, me afastei dele com um gesto brusco. O nojo que sentia por ele era visceral, um turbilhão de raiva e desgosto que me deixava sem fôlego. O toque dele em minha pele me causava repulsa, como se fosse uma queimadura.

— Não entendo esse amor que você diz sentir! — exclamei, a raiva transbordando em minha voz. — Esse sentimento que você chama de amor só trouxe desgraça para a minha vida! Não há nada de genuíno e puro nele, apenas crueldade, egoísmo e manipulação! Eu amo Hades! Não quero viver em um mundo sem ele, sem o seu sorriso, sem seus abraços, sem ele ao meu lado para ver nossos filhos crescerem! E farei tudo ao meu alcance para trazê-lo de volta!

Meu grito ecoou na câmara, cortando o silêncio pesado. A força das minhas palavras, a intensidade da minha raiva, abalaram Eros até o âmago. Ele me soltou, o espanto estampado em seu rosto, sua expressão de incredulidade dando lugar a uma compreensão hesitante.

— Thanatos! — ordenei, minha voz firme, apesar do medo que me corroía por dentro. Ele assentiu, sua expressão impassível, e puxou minha mão com uma força surpreendente, extraindo minha imortalidade em um ato rápido e definitivo.

Uma onda de tontura me atingiu com força, uma sensação de vazio que se espalhou pelo meu corpo. A dor, antes contida, agora se manifestou com toda a sua intensidade, uma onda de agonia que me fez cambalear. Minhas pernas falharam e caí de joelhos, a frieza do chão se chocando contra minha pele. A respiração ofegante, o corpo fraco, a visão turva. Suspirei, sentindo o peso das minhas escolhas, mas sem nenhum arrependimento. Em um ato instintivo, me joguei nos braços de Hades, sentindo a familiaridade de seu corpo contra o meu, um conforto que me acalmou.

— O trarei de volta, stella mea — murmurei, minha voz baixa e rouca, próxima aos seus lábios. As palavras, carregadas de promessa e determinação, ecoaram no silêncio da câmara, um juramento selado por um beijo suave e dolorido pela sua gélida pele, mas carregado de esperança e amor. 

A visão do meu maior medo se tornou realidade. Hades, meu pilar, meu exemplo de perfeição, meu irmão, estava ali, caído no chão, a pele pálida como a neve, as veias saltadas, os lábios roxos e inchados. Seu corpo, antes forte e imponente, estava coberto de sangue, a respiração entrecortada, um fio tênue que o ligava à vida. A cena se gravou em minha memória como uma imagem que jamais esqueceria: a fragilidade do meu irmão, a crueldade da morte que o rondava. Sempre o vi como uma fortaleza inabalável, agora o via tão vulnerável, tão perto da morte.

Recordações me assolavam: a imagem dele sozinho, enfrentando um exército de titãs para nos proteger, a minha corrida desesperada ao submundo, o medo me corroendo por dentro enquanto esperava encontrá-lo, o alívio ao vê-lo vivo, exausto, mas vivo, a promessa que ele havia feito: que jamais perderia. Agora, essa promessa estava sendo testada, e a possibilidade de que ele a quebrasse era uma dor insuportável.

Sarah, cheia de vida e de energia há apenas alguns momentos, agora estava prostrada, o semblante desolado, a alma partida. A visão de sua dor me dilacerou. Mas precisava conter minhas próprias emoções. Sarah precisava de alguém forte ao seu lado, alguém que pudesse ajudá-la a superar esse momento. E seria esse alguém. Pelo meu irmão, cuidaria de tudo.

Direcionei meu olhar para Adamanto e Zeus, ambos com o semblante perdido, a dor estampada em seus rostos. Eles não teriam cabeça para nada, compreensível diante de tal tragédia. Mas, nesse instante, por mais que a dor me dilacerasse, precisava deixar as emoções em segundo plano e agir racionalmente. O futuro do submundo dependia disso.

— Adamanto, você cuidará do submundo no lugar de Hades — ordenei, minha voz firme, apesar da angústia que me consumia. — Cuide dessa bagunça e garanta que ninguém interfira. Você sabe o que quero dizer.

Ele assentiu, engolindo as lágrimas, a dor em seus olhos refletindo a minha própria. Perséfone não poderia se aproveitar desse momento de fragilidade.

— Quanto a Sarah e Hécate? — Adamanto perguntou em um sussurro, a preocupação evidente em sua voz.

Suspirei, o peso da situação me esmagando. A exaustão física se misturava à angústia emocional, criando uma sensação de esgotamento total.

— Sarah vem para meus domínios junto de Hécate — respondi, minha voz rouca. — Ela não vai conseguir ficar longe, então é melhor que ambas fiquem sob minhas vistas.

Ninguém ousaria encostar em Sarah, principalmente aquela víbora da Perséfone. A ideia me enchia de uma raiva fria e implacável.

— Não quero ficar longe de Hades! — Sarah murmurou, sua voz baixa, carregada de desespero, seus olhos fixos no corpo inerte do marido.

— Não vai — respondi, minha voz o mais suave possível, tentando confortá-la. — Ele irá conosco, mas precisamos sair daqui. Este lugar se tornou hostil para vocês.

Observei-a assentir em silêncio, os ombros tremendo. Meu olhar voltou-se para Hades, seu rosto pálido, sua respiração fraca. Precisávamos do antídoto, e precisávamos dele agora.

— Eu irei para protegê-la! — Eros anunciou, seu olhar fixo em mim, cheio de uma determinação que considerava irritante e presunçosa.

— Você não chegará perto dela! — explodi, minha voz cortante como gelo. — Vou proteger a esposa e os filhos do meu irmão. Estou avisando apenas uma vez: quero você longe deles. Não dou a mínima para sua vida, então não teste minha paciência!

Minha fúria era um turbilhão, uma força incontrolável que me consumia. A ameaça em minhas palavras era clara, a raiva em meu olhar congelaria até o próprio Tártaro. Eros recuou, visivelmente assustado pela intensidade da minha fúria.

— Poseidon, não ferra! Tenho a marca da lealdade a Hades, não posso traí-lo! — Eros resmungou teimosamente, mostrando seu braço.

Sua lealdade não me importava. Tudo o que via era a culpa que ele carregava, a responsabilidade por este caos todo, por causa dos seus sentimentos idiotas e equivocados. Amor era tudo menos aquilo que ele sentia.

— Está surdo? Não encha a porra da minha paciência! Você não vai nem mesmo respirar o mesmo ar que ela! — rosnei, a raiva me consumindo, a paciência se esgotando.

Seu olhar encontrou o meu, aterrorizado pela fúria implacável que irradiava de mim. Ele paralisou, sem conseguir respirar.

— Filho... Poseidon tem razão. E, além disso, você jurou encontrar o antídoto para Hades... pode ajudá-la nisso — a voz calma, mas firme de Afrodite cortou o silêncio, tentando acalmar a situação. Eros bufou, furioso.

Encarei-o por longos minutos, a fúria me consumindo, a vontade de destruí-lo me dominando. Pouco me importava a sua importância, o reduziria a pó com um simples movimento.

— Eros... não quero você perto de mim — a voz de Sarah, baixa e chorosa, ecoou na câmara, silenciando a todos.

— Sarah, mas você... — Eros começou, mas parou, intimidado pelo olhar glacial de Sarah.

— Não confio em você, nem tenho motivos para isso. Se quer mesmo me ajudar, faça isso com o antídoto. No mais, não quero sua presença. E saiba que, apesar de não estar diretamente ligado... se... se meu Hades morrer... nunca irei perdoá-lo! — Sarah murmurou, as lágrimas escorrendo pelo seu rosto, a dor em sua voz cortando o silêncio.

Eros arregalou os olhos, sentindo o impacto das palavras de Sarah, o peso da responsabilidade sobre seus ombros.

— Você o terá de volta, Sarah. Nem que precise arriscar minha vida para isso! — Eros declarou, sua voz séria, sua determinação inabalável. Ele saiu da sala, acompanhado de seus pais, deixando para trás um silêncio pesado e carregado de emoção.

Revirei os olhos, voltando-me para Sarah, que ainda estava ao lado de Hades. Olhei para Zeus num pedido mudo, ele assentiu. Me abaixei para pegá-la no colo, enquanto Zeus pegava Hades. Não podíamos mais perder tempo naquele lugar.

Hoc venenum prohibere per venas currit: Isso impede que o veneno corra nas veias

Venenum iubeo excedere organa tua: Eu ordeno que o veneno deixe seus órgãos

Tua pulmonis aerem in potestate mea recipiet: Seus pulmões receberão ar sob meu controle

Corpus faciet normaliter: o corpo vai agir normalmente

Praecipio tibi Domine Thanatos venire ad me: Eu te ordeno, Lord Thanatos, que venha até mim

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