Capítulo 32 - Audácia divina Ⅱ
Contém 3700 palavras.
Boa leitura 💜
Apesar do clima tenso, conseguimos ignorar Hera. Foquei apenas em Hades e em seus irmãos, que estavam estranhamente divertidos. Hades estava na ponta da mesa, comigo ao seu lado direito, Poseidon ao meu lado e Adamanto e Zeus na frente. Hera, por sua vez, preferiu ficar praticamente na outra ponta, como se estivesse em um exílio autoimposto.
— Quanto tempo está? — Adamanto perguntou, curioso, seu olhar divertido se alternando entre mim e Hades.
— Três meses — respondi, sorrindo enquanto colocava a mão sob meu ventre, sob o olhar orgulhoso de Hades. Ele estava radiante, e isso era contagiante.
Adamanto sorriu e então riu alto, batendo a mão sob a mesa, nos assustando com o movimento repentino. Zeus quase engasgou com a bebida.
— Ele já está louco, não ligue — Poseidon sussurrou para mim, ganhando um olhar irritado de Adamanto, mas um sorriso cúmplice de Hades. Havia uma clara cumplicidade entre eles, uma brincadeira interna que me intrigava.
— Idiota! Apenas me lembrei de algo. Não tinha reparado, mas imagina como será a mistura atômica de ambos — Adamanto retrucou, brincalhão, seu olhar fixo em Hades como se estivesse compartilhando uma piada interna.
Não consegui conter o riso, assim como Hades. Ele apertou minha mão por baixo da mesa, num gesto silencioso de apoio e cumplicidade. Realmente somos temperamentais, eu principalmente, então nossa união seria única.
— Será bem única, e pelo que vejo, será poderosa — Poseidon respondeu animado, seu olhar piscando para Hades.
Olhei confusa em sua direção.
— Por quê? — perguntei, gerando um sorriso singelo em Poseidon, mas um sorriso ainda maior em Hades.
— Consigo senti-los. Na verdade, senti assim que te vi — Poseidon decretou, como se estivesse revelando um segredo divertido.
Arregalei os olhos, chocada. Meu cérebro lentamente processou o plural da frase, e o ar escapou dos meus pulmões. Dois?
— Senti-los? — perguntei, junto de Hades.
— Caralho, Hades, dois de uma vez! — Adamanto comentou, fazendo Poseidon e Zeus rirem. Hades estava segurando meu olhar, seus olhos brilhando com uma mistura de surpresa e alegria.
— Poseidon, são dois? — Hades perguntou, olhando ansioso para o irmão, um sorriso malicioso se formando em seus lábios. Era óbvio que ele já sabia.
— Ou mais, não sei dizer, mas um apenas não é — Poseidon respondeu, sorrindo maliciosamente, lançando um olhar cúmplice para Hades.
Hades ofegou ao meu lado. Um frio na barriga se instalou. Conseguiria cuidar de dois? E se fossem mais?
— Como sabe? — perguntei, com os olhos arregalados para Poseidon.
— Pela água da placenta. Consigo sentir a vibração deles, e a aura está forte demais para ser apenas um — Poseidon comentou, divertido. — Talvez por isso esteja se sentindo assim, é muito poder para você. Se fosse uma humana normal, morreria.
Suspirei espantada.
Hades riu alto, colocando a mão sob meu ventre, seu sorriso ainda maior agora. Coloquei minhas mãos sob as dele, ainda incrédula, mas a alegria era tão intensa que não conseguia me importar.
— Dois! Não pensei que pudesse ser mais feliz do que já sou! — Hades declarou, com a voz embargada.
Já amava tanto aquele pequeno ser. Agora, pensar que havia não somente um, mas sim dois em meu ventre, me deixou em um profundo estado de alegria, embora o medo também se instalasse. Precisaria cuidar de duas vidas, seres que precisariam unicamente de mim.
Daria conta?
— E se for mais? — perguntei, olhando-o apavorada.
Hades sorriu ainda mais, os olhos brilhando como dois sóis roxos.
— Serei ainda mais afortunado se forem mais de dois — Hades declarou apaixonadamente.
— Cacete, vocês não brincam em serviço! — Zeus riu alto, fazendo-nos rir. Hades me lançou um olhar divertido.
O olhar malicioso de Hades se voltou para mim, deixando-me completamente ruborizada, aumentando os risinhos deles.
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O jantar, estranhamente, ocorreu bem. Observei, com um sorriso constante nos lábios, Hades e os irmãos interagindo. Era fascinante vê-los tão à vontade, tão unidos. Hades, normalmente tão reservado, estava radiante, rindo alto das piadas de Adamanto e das provocações de Poseidon. A cumplicidade entre eles era palpável, uma teia invisível que os conectava profundamente. Era uma visão tão diferente do Hades que conhecia, tão cheio de vida e alegria, que meu coração se enchia de um amor ainda maior por ele.
Contentei-me em observá-los em silêncio, absorvendo cada detalhe daquela cena. Os risos ecoavam pela sala, criando uma atmosfera leve e aconchegante. Me sentia tão feliz, que parecia que meu coração poderia explodir de alegria. Passaram-se longos minutos, um tempo preenchido por alegria e risadas, quando um doce perfume, quase enjoativo, preencheu o ambiente. Meu estômago se revirou, uma onda de enjoo me invadiu, tão intensa que tive que me segurar na mesa para não vomitar. O cheiro era tão forte, artificial, que me causou uma repulsa imediata.
Ao observar a face furiosa de Hades, segui seu olhar e fiquei em choque ao ver Perséfone entrando como se fosse a dona do lugar. A expressão dele era um turbilhão de raiva e descrença, seus lábios comprimidos numa linha fina e tensa. O silêncio repentino preencheu a sala, assim como o olhar confuso dos demais. A alegria havia desaparecido, substituída por uma tensão palpável, fria e cortante.
— Como entrou aqui? — Hades perguntou, sua voz baixa, mas carregada de uma raiva que me deixou arrepiada.
— Hades, como ousa recusar minha entrada aqui? — Perséfone perguntou, irada. Sua voz era fria, cortante, como uma lâmina.
Ela estava mesmo brava por ele ter barrado a entrada dela? A situação era surreal, não conseguia acreditar no que estava acontecendo.
— O Submundo é meu domínio, e você não é bem-vinda aqui — Hades rosnou, a frieza em sua voz cortando o ar. Sua raiva era palpável, uma aura escura que emanava dele como fumaça de um vulcão prestes a entrar em erupção.
A audácia de Perséfone era inacreditável, invadir nosso lar e exigir algo como se ele lhe devesse algo!
— Perséfone, vá embora! — Hades gritou, sua voz agora um trovão que fez a própria sala tremer. Sua paciência havia se esgotado completamente.
— Não pode me impedir de vê-lo! Querido, estou sentindo saudades suas! — ela murmurou, ansiosa, seus olhos fixos em Hades, um olhar que transbordava uma possessividade doentia. Os irmãos dele a observavam com uma mistura de descrença e divertimento. A situação estava se tornando cada vez mais absurda.
Ela estava brincando com fogo, e era hora de desencorajá-la. Já estava indo longe demais. Um sorriso frio se formou em meus lábios. Era hora de mostrar a ela quem mandava.
— Como ousa falar do meu marido como se fosse algo seu? — declarei a ela, minha voz firme e controlada, mas carregada de uma ironia cortante. Ela sorriu maliciosamente, como se estivesse se divertindo com a situação. Estava prestes a mostrar a ela o verdadeiro significado de "soberba".
— Pelo visto, não sabe das minhas visitas a ele quando estava nos domínios de Poseidon — Perséfone retrucou, mordaz, seu sorriso se alargando.
Ergui a sobrancelha em desafio. Não daria a ela a satisfação de me ver furiosa. Sabia que ela queria me jogar contra Hades. Em outros tempos, teria ficado furiosa com a menção, mas agora diferia. Não acreditava mais nela. Aprendi muito com a separação, principalmente a ouvir e conversar. Entendi que, para ser um casal, era preciso haver comunicação. Demorou, mas consegui entender isso.
O olhar dela em minha direção retirou um sorriso malicioso de meus lábios, um sorriso frio e calculista.
— Está cobrando seu título de amante? — perguntei, debochada, minha voz tão suave quanto uma navalha. — Se for isso, pare. Está ficando feio para você.
Depois de tudo que aconteceu. Jogaria o próprio ego dela contra ela.
— Sim, Perséfone, pois seria somente isso que você seria — sorri, maliciosa, ao ver seu semblante de ódio. Minha voz era um veneno suave, mas mortal. — Eu sou a esposa e a mãe dos filhos dele. Você é apenas uma mulher patética e amargurada, fazendo uma cena besta na esperança de que duvide do meu marido!
A raiva me fez esquecer completamente que ela não deveria saber dos meus filhos, mas a essa altura talvez não importasse. A notícia provavelmente se espalharia, ainda mais com Hera sabendo.
Perséfone arregalou os olhos, chocada. A informação que revelei atingiu-a como um raio, deixando-a paralisada por um instante. Seus lábios tremeram e seus olhos se arregalaram ainda mais, como se estivessem tentando processar a informação.
— Filhos? Hades nunca quis ter filhos, sempre se protegeu... — ela balbuciou, atônita, sua voz um fio de voz quase inaudível. Seu olhar agora estava fixo em meu ventre, como se estivesse percebendo o pequeno inchaço pela primeira vez. A realidade da situação parecia estar finalmente se instalando em sua mente.
Não contive a risada sarcástica. Ela estava medindo a relação que eu possuía com Hades baseada na que ela teve com ele.
— Minha querida, ele jamais quis ter filhos... com você — debochei, minha voz carregada de sarcasmo. A onda de fúria que se seguiu em seu rosto só me fez sorrir ainda mais. Estava me divertindo com sua reação. — Você era apenas uma mulher que ele transava. Nunca passou disso.
A fúria de Perséfone explodiu como um vulcão. Seus olhos brilharam com uma raiva negra, e seus punhos se cerraram. Ela se lançou sobre mim, seus movimentos rápidos e precisos, como uma cobra prestes a atacar. Não me movi, não tentei escapar.
— Pirocinese Sombria — ela sibilou, gerando um fogo descomunal, totalmente negro, em minha direção. O ataque foi tão repentino que mal tive tempo de reagir.
— Divinum praesidium — murmurei, criando rapidamente uma barreira à minha volta. A magia fluiu por mim, criando um escudo protetor contra o ataque. Sentia o calor intenso do fogo negro, mas a barreira me protegia.
A barreira suportou a grande quantidade de fogo negro, mas percebi seu calor aumentando gradualmente. Aquele não era um ataque físico, mas sim mental, uma investida direta em minha alma. Quanto mais a barreira ficava forte, em consequência, mais intenso o fogo ficava. Comecei a sentir gradualmente os impactos em meu espírito, uma dor lancinante que se espalhava por todo meu corpo, como se milhares de agulhas estivessem sendo cravadas em minha pele. Era uma dor insuportável, uma pressão esmagadora que me deixava sem fôlego, como se meu próprio corpo estivesse sendo dilacerado. Era uma dor que ia além do físico, uma dor que atingia minha alma, minha essência. Senti meu espírito sendo atacado. A agonia era tão intensa que me contorci de dor, meus músculos se contraindo involuntariamente. A cada segundo, a dor aumentava, me deixando cada vez mais fraca, cada vez mais próxima do desmaio.
Hades ergueu a mão em direção a Perséfone, e ela voou contra a parede com a força do impacto. O estrondo ecoou pela sala, e Perséfone ficou tonta, cambaleando. A fúria dele era palpável, uma aura escura e ameaçadora que me arrepiou por inteira. Ele se aproximou rapidamente, seu poder emanando como um turbilhão negro. Seus dedos se fecharam em torno do pescoço de Perséfone, sufocando-a em um aperto firme. Ela tentava se soltar, mas o poder de Hades apenas aumentava, envolvendo-a num abraço mortal. Não era um ataque normal, ela não tinha nenhuma chance, ainda mais com os poderes dele amplificados daquela maneira. Quando Perséfone ficou roxa, quase perdendo o ar, ele a soltou, olhando-a com uma frieza cruel que me gelou o sangue.
Um silêncio glacial caiu sobre a sala, quebrado apenas pela respiração ofegante de Perséfone. Hades a observava, seu olhar impassível. A frieza dele era mais ameaçadora do que qualquer demonstração de raiva. Não havia um pingo de emoção em seu rosto, apenas um vazio gélido que me deixou petrificada.
— É a última vez que vou dar esse aviso — a voz de Hades cortou o silêncio. Cada sílaba era uma gota de veneno. — Afaste-se da minha esposa!
Perséfone tentou falar, mas sua voz saiu como um gemido rouco, quase inaudível. A força do aperto de Hades ainda ecoava em seu corpo, em sua alma.
— F-fala isso, m-mas não c-conseguiu me matar! — ela conseguiu ofegar, sua voz um fio de voz quase inaudível, uma tentativa patética de recuperar sua dignidade.
Um sorriso gélido se formou nos lábios de Hades. Era um sorriso que congelava a alma.
— Não confunda as coisas — Hades respondeu, sua voz tão fria quanto a morte. Cada palavra era como uma sentença de morte. — Apenas não matei por respeito à sua mãe. Sei que Deméter ficaria devastada, e isso influenciaria nos demais deuses. Não estou pensando em você, pois nem mesmo respeito possuo por você.
Perséfone tentou falar novamente, mas Hades a interrompeu com um gesto de mão, tão rápido e preciso quanto um golpe.
— Perséfone, vá embora. Não costumo dar segunda chance a ninguém. Se voltar a vê-la, não restará nem o pó da sua existência.
O silêncio que se seguiu foi mais pesado do que qualquer tempestade.
O pavor em Perséfone era tão intenso que ela cambaleou, tentando andar, mas sem sucesso. Rapidamente, Hera colocou-se ao seu lado, olhando-a com uma preocupação. Esse movimento atraiu o olhar de Zeus para a esposa, que parou perto de Perséfone, mas sem tocá-la. A tensão na sala era tão espessa que se podia cortar com uma faca.
— Adamanto, leve a Perséfone. Tenho que conversar com Hera — Zeus decretou, extremamente sério, sua voz carregada de uma gravidade que me deixou arrepiada.
Hera arregalou os olhos, ficando completamente branca. Já Adamanto suspirou, segurando Perséfone com brusquidão.
— Seu bruto! — Perséfone reclamou, resmungando.
Adamanto apenas a olhou com frieza.
— Agradeça por estar te ajudando. Pelo que fez hoje, minha vontade é matá-la! — Adamanto rosnou, saindo com a deusa em choque em seu colo.
Zeus se aproximou rapidamente de Hera, fazendo-a se encolher contra a parede, como se estivesse esperando um golpe.
— Hera, trouxe Perséfone aqui? — a pergunta de Zeus saiu mais como uma afirmação.
— O quê? Não! — ela exclamou, totalmente nervosa, sua voz trêmula.
Ofeguei, me movendo para mais perto, sentindo a tensão aumentar exponencialmente.
— Veritaserum — lancei o feitiço em sua direção, minha voz firme e controlada, apesar do medo que me invadia.
Os olhos de Hera ficaram momentaneamente opacos, como se uma névoa escura os tivesse coberto. Senti a magia agindo, desvendando a verdade.
— Trouxe Perséfone aqui? — perguntei, minha voz suave, mas firme.
— Sim! — ela respondeu, com a voz ausente, sem emoção.
A ira visível de Hades preencheu a sala, uma onda de energia escura que me atingiu em cheio. Vi-o se transformar diante dos meus olhos. A aura dele era uma presença imponente e aterrorizante. Sombras profundas e chamas negras emanavam, irradiando uma energia sombria e opressiva que fazia o ar ao redor perecer mais pesado. Seus olhos brilhavam com uma luz intensa e ameaçadora, num tom púrpura, refletindo uma ira descomunal. Senti o poder dele, a força bruta que o consumia, e meu corpo tremeu de medo.
— E-espere, Hades, ela me induziu a dizer mentiras! — Hera sussurrou, trêmula, sua voz quase inaudível.
A terra ao seu redor tremeu, uma leve rachadura varreu o chão, enquanto a sensação de um frio mortal se espalhou, como se fosse a própria morte. Seus irmãos desviaram o olhar, como se doesse olhá-lo. A fúria de Hades era tão intensa que era quase palpável, uma força da natureza que ameaçava destruir tudo em seu caminho.
Meu corpo tremeu, ficando mole, e um suor frio me percorreu. Uma onda de tontura me invadiu, a visão escureceu e meus ouvidos zuniram. A escuridão se aproximou, envolvendo-me como um abraço frio e acolhedor. Antes que pudesse reagir, senti os braços de Poseidon, que me segurou com firmeza, evitando que caísse no chão, e a consciência me abandonou.
— Hades! — Poseidon gritou, aflito, sua voz carregada de pânico, arrancando-me da minha fúria. Seus olhos estavam arregalados e a respiração ofegante. — Depois resolve isso, Sarah está passando mal!
A notícia me atingiu como um choque. Meu coração disparou e uma onda de frio percorreu meu corpo. O nervosismo me invadiu como uma onda, me deixando sem fôlego. Virei-me rapidamente, vendo Sarah em seus braços. Seu corpo estava gelado como a morte, e isso me causou um choque ainda maior. Peguei-a com cuidado, meu corpo tenso, minhas mãos trêmulas.
O caminho até o quarto foi feito em silêncio, o silêncio pesado do medo. Poseidon estava ao meu lado, seu corpo rígido, seus movimentos tensos. A preocupação era visível em seu rosto. Ordenei que chamassem Hécate imediatamente. Não contive o suspiro ao chegar no quarto, estava nervoso, meu corpo inteiro vibrando de apreensão. Sarah estava mais pálida do que o normal. Assim que a coloquei na cama, Poseidon levou a mão até seu ventre, seus movimentos hesitantes, sua concentração total, o nervosismo era tão palpável quanto o meu.
— Estão agitados. Acredito que os poderes de Perséfone acabaram os atingindo — Poseidon decretou, sua voz baixa, mas carregada de preocupação. Seus olhos estavam fixos no ventre de Sarah, cheios de uma apreensão que me atingiu em cheio.
Aquela maldita! Não foi um ataque comum que ela usou. Ninguém conseguia se livrar daqueles poderes, ainda mais seres tão pequenos quanto meus filhos! Eles não sabiam se defender! Aquele pensamento me deixou aflito, aterrorizado. Não me perdoaria se algo acontecesse a eles.
— Eles estão bem? — perguntei, assustado, minha voz rouca.
Os olhos azuis de Poseidon encontraram os meus, cheios de preocupação. Antes que ele pudesse falar algo, um furacão entrou no quarto, assustando-nos.
— Falei para manter aquela maldita longe de Sarah! — Hécate rosnou, nervosa, se aproximando de Sarah.
Não tive tempo de falar nada. Hécate fechou os olhos, iluminando ambas as mãos para examiná-la. Passou longos minutos com as mãos sobre o ventre da minha esposa, até suspirar em alívio.
— O quê? — perguntei, meu nervosismo evidente.
— Calma, eles estão bem, ou melhor, eles estão — Hécate sorriu, aliviada, sua expressão transmitindo um pouco de sua calma, acalmando meus nervos. Uma onda de felicidade me invadiu, tão intensa que quase me fez perder o fôlego.
Olhei para Sarah, ainda desacordada na cama. Meu coração, que batia forte momentos antes, finalmente se aquietou, mas uma nova onda de ansiedade me invadiu. Não suportaria perdê-los. A compreensão da fala de Hécate chegou lentamente, e um sorriso se abriu em meu rosto, um sorriso largo e radiante. Seria pai de duas crianças! Uma felicidade imensa me encheu, tão intensa que quase me fez chorar.
— São mesmo eles? — perguntei, meus olhos brilhando, minha voz carregada de alegria. Hécate ergueu uma sobrancelha numa pergunta muda. — Poseidon pode senti-los mesmo de longe. Minha ansiedade crescia a cada segundo.
Hécate sorriu alegremente, compartilhando minha alegria.
— Compreensível, já que eles puderam se proteger sozinhos — ela comentou, orgulhosa.
— Como? — perguntei, confuso.
— Eles criaram uma barreira em volta da placenta, os protegendo. Uma mistura perfeita dos seus poderes com os da Sarah. Apenas três meses e já são poderosos — Hécate declarou. Minha alegria se misturava com uma crescente preocupação.
Não consegui conter o sorriso arrogante, assim como Poseidon. O orgulho encheu meu coração. Era óbvio que meus filhos seriam fortes. Seriam os mais fortes semideuses existentes. Estava feliz demais por isso. Minha esposa ficaria em êxtase. Era a minha descendência, meus herdeiros, filhos da minha mulher.
Meu olhar voltou-se para Sarah, ainda desfalecida. Não entendia o motivo de seu desmaio. Minha preocupação aumentava a cada segundo.
— Por que ela desmaiou? — perguntei, observando seu rosto, agora mais corado. Minha ansiedade era palpável.
— Muito poder. Ela é forte, mas está carregando dois semideuses fortes — Hécate suspirou, acariciando os cabelos negros de Sarah. — Ela não suportaria se fosse comum. Se agora a junção dos poderes dela com os pequenos fez seu corpo colapsar... mas logo ela vai acordar. Minha preocupação se misturava com a alegria e a ansiedade.
Ela precisará de cuidados especiais. Carregar dois semideuses tão poderosos... preciso encontrar algo para ajudá-la a ter uma gravidez mais tranquila.
— Como Perséfone conseguiu entrar aqui? — Hécate chamou minha atenção.
Suspirei, irritado, contando tudo a Hécate.
— Entendo. Cuide de Sarah — Hécate decretou.
— Aonde vai? — perguntei. Ela sorriu.
— Não se preocupe. Vou cuidar desse empecilho. Apenas se concentre em Sarah!
Meu olhar foi até Poseidon. Sei bem o que Hécate fará. Hera estava brincando com minha paciência. Não perdoaria ninguém que ferisse minha esposa.
— Vou deixá-los. Qualquer coisa... — Poseidon deixou a frase no ar, sua voz carregada de preocupação, mas também de um alívio compartilhado. Um sorriso sincero se abriu em meu rosto, um sorriso de gratidão e cumplicidade. Sabia que ele se importava com Sarah e os bebês tanto quanto eu.
— Obrigado, irmãozinho! — respondi, meu tom suave, mas sincero. Ele assentiu, um sorriso leve em seus lábios, saindo do quarto. Sua preocupação silenciosa era um conforto.
Suspirei, sentando-me ao lado de Sarah. Minha mente fervilhava com os acontecimentos recentes, precisava tomar uma atitude definitiva. Mas, por enquanto, precisava me concentrar em Sarah e nossos filhos.
Meu olhar voltou-se para Sarah. Sorri ao ver suas bochechas coradas; acariciei-as, notando que estava mais quente, sinal de que acordaria em breve. Um sentimento de profunda felicidade me invadiu.
— Dulce meum? — chamei-a com suavidade, ao perceber seus olhos se abrindo lentamente.
Quando seus olhos cinza se abriram por completo, suas mãos delicadas foram em direção ao seu ventre, seguidas de um olhar apavorado.
— Por favor, fique calma — segurei suas mãos com firmeza, minha voz suave, mas firme. — Eles estão bem, calma.
— O que aconteceu? — ela perguntou, confusa.
Peguei sua mão, elevando-a até meus lábios, deixando um singelo beijo. Um beijo suave, cheio de amor e ternura.
— Muito poder. Eles se protegeram sozinhos — minha voz soou orgulhosa, fazendo-a arregalar os olhos. Um orgulho misturado com um amor imenso.
— Eles não sofreram nada? Hades, eles estão bem? — Sarah perguntou, colocando as mãos no ventre, totalmente aflita.
— Amor, calma. Eles estão bem, não sofreram nada — declarei, colocando minha mão sobre a dela, sorrindo em puro amor e orgulho. — São poderosos como os pais.
Ela sorriu lindamente, seu sorriso, um raio de sol em meu mundo sombrio, iluminou não apenas o quarto, mas minha alma. Como se o próprio amor se manifestasse..
— São eles então — ela comentou, risonha, seu olhar iluminado.
— Sim. Agora os cuidados serão redobrados, minha imperatriz — beijei-a suavemente. Um beijo cheio de amor e promessa de proteção.
— Céus! Não vai enlouquecer! — ela resmungou, me fazendo rir. Sua preocupação era doce, me enchendo de amor.
Já estou completamente louco, mas de felicidade, e não deixarei que nada toque nas pessoas que mais amo!
Divinum praesidium - proteção divina
Veritaserum - verdades (é uma inspiração na poção da verdade de Harry Potter)
Poderes de Perséfone ➜ https://blue-phoenix-rpg.fandom.com/pt-br/wiki/Pers%C3%A9fone
Poderes de Hades ➜ https://blue-phoenix-rpg.fandom.com/pt-br/wiki/Hades
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