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Capítulo 28 - Dor dilacerante

Contém 3830 palavras.

Boa leitura💜

Ao adentrar no salão de refeições, não consegui conter a careta. Era tudo tão diferente da escuridão familiar do submundo, tão claro que me sentia exposto, vulnerável. Estar cercado por paredes de vidro, imerso nas profundezas do oceano, proporcionava uma vista panorâmica clara demais. Era um lugar indiscutivelmente belo, com lustres feitos de corais bioluminescentes pendendo do teto, emitindo uma luz suave e azulada. Contudo, essa atmosfera que deveria ser acolhedora apenas me trazia angústia, era tudo claro demais.

Os olhos azuis e preocupados de Poseidon me fizeram desviar o olhar para as colunas de mármore branco, mas seu suspiro alto quase me fez sair correndo.

— O quê? — resmunguei, ignorando seu olhar perscrutador.

Parece que não poderia escapar da conversa.

— Você está horrível! — Pontuou Poseidon, fazendo-me soltar uma risada fraca.

Não duvidava disso. Doía-me cada músculo, como se tivesse enfrentado uma batalha de verdade. Passei a noite em claro, sentindo falta do calor da minha esposa, do perfume que me envolvia, dos resmungos dela. A lembrança de seu sorriso matinal, do calor de seu corpo junto ao meu, era uma tortura doce e amarga.

— Não consegui dormir direito — confessei, desviando do olhar aguçado dele e focando na mesa brilhante de cristal. — O lugar é muito claro, estranhei.

Poseidon soltou uma risada debochada, mas sua expressão se tornou mais grave, mais penetrante antes de suspirar pesadamente.

— Não vou contar a ninguém se você admitir que estranhou, porque na verdade sentiu falta dela — ele comentou. Olhei-o com um aviso, mas ele suspirou pesado. — Hades... não quero me intrometer, mas não gosto do que estou vendo. O que aconteceu?

Tantas coisas aconteceram que nem sabia por onde começar.

Olhei-o por um longo instante. Não queria envolvê-lo, mas ao ver seu semblante decidido, percebi que isso era inevitável desde o momento em que fui para sua casa.

Suspirei pesadamente e contei toda a história. Poseidon escutou atentamente em silêncio. Confesso que um peso saiu dos meus ombros ao ter alguém para desabafar, mesmo que meu irmão não fosse exatamente sentimental ao ponto de me dar conselhos.

— Foi isso... E agora sinto que perdi tudo. Ela não confia em mim e nem eu nela.

Poseidon apoiou o queixo na mão por um longo instante, antes de suspirar profundamente. Pela primeira vez, ele parecia estar escolhendo cuidadosamente suas palavras, o que me surpreendeu. Normalmente, ele não media as palavras.

— Hades... você precisa entender que Sarah tem motivos para desconfiar de você — Poseidon declarou com seriedade.

Como assim? A ironia é que ele, o deus do mar tempestuoso, está sendo infinitamente mais paciente e compreensivo do que eu.

Olhei-o indignado, sentindo um desconforto crescente.

— Está a defendendo? — perguntei, aturdido.

De todas as coisas que ele poderia dizer, jamais imaginei que o escutaria defender Sarah. Ele nunca defendia nem seus próprios irmãos! E ela era uma humana!

— Não, estou apenas sendo racional — Poseidon explicou calmamente.

Esse não é Poseidon!

— O quê?

Ele inclinou levemente a cabeça, com um ar quase entediado de quem se via obrigado a explicar. Mas o brilho em seus olhos o traía, ele estava se divertindo com minha perplexidade.

Não mereço isso!

— Pense bem no passado de vocês... Sarah viu você com Perséfone, e de forma bastante intensa, diga-se de passagem — Poseidon começou, mas ao ver minha expressão irritada, tossiu levemente, apoiando novamente a mão no queixo numa postura serena. — Ela cometeu suicídio, sua alma voltou e, por obra do destino, encontrou você novamente. Ela está apenas descobrindo seus sentimentos. Sabe como são os humanos... Além disso, há um detalhe importante: você não nega o carinho por Perséfone.

— Mas isso não tem nada a ver! — resmunguei, sentindo uma pontada de dor no peito. Um nó se formou em minha garganta. Compreendia o ciúme dela, mas... por que ela não conseguia ver que eu a amava? — Sempre deixei claro que sim, sinto carinho por ela, mas não a amo.

Minha respiração ficou mais ofegante. As mãos começaram a tremer.

Poseidon arqueou uma sobrancelha, debochado.

— Mesmo? E se ela sentisse o mesmo carinho por Eros?

Minha mão, que segurava a taça de suco, se apertou com força ao ouvir o nome daquele bastardo. Os nós dos dedos ficaram brancos. A taça se estilhaçou em mil pedaços sob o olhar convencido de Poseidon.

— Hades, não precisava ter dançado com a Perséfone. Mas você o fez na frente de todos, principalmente de sua esposa. Adamanto precisou tirá-la para dançar, pois ela queria matá-los, e você nem se importou. — Poseidon pontuou provocativamente, seus olhos brilhando com um irritante convencimento. — Além de dançar com sua ex, você ainda deixou que ela acariciasse você publicamente, sabendo que todos veriam, principalmente sua esposa. E nem vamos mencionar você andando de mãos dadas com Perséfone até encontrar Sarah!

Senti um aperto doloroso na garganta, me sufocando.

— Sarah tem seus motivos, e você sabe disso.

Meus olhos se arregalaram. Ouvi Sarah reclamar antes, mas uma parte de mim havia minimizado, atribuindo tudo ao ciúme. Não podia negar o choque, todos acreditavam que eu estava... permitindo uma intimidade excessiva com Perséfone?

— Não queria magoá-la com isso! — exclamei, desesperado, minha voz trêmula.

Poseidon suspirou, exasperado.

— Você tem com Perséfone um nível de intimidade próprio de amantes. Você não percebe, porque para você é natural agir assim com ela. Mas para sua esposa, não é. Para Sarah, você não está com Perséfone, pois Sarah existe. Convenhamos, você estaria casado com Perséfone há milênios se não fosse por isso.

— Droga! — praguejei, levantando-me e andando em círculos, observado por Poseidon, minhas mãos tremendo.

Cheguei a pedir Perséfone em casamento, sim. Mas nunca imaginei uma vida ao lado dela. Fiz isso por pressão dela, mas jamais quis alguém além de Sarah. A lembrança do seu sorriso, do calor da sua pele contra a minha... Sentia um carinho profundo pela deusa, mas nunca foi amor, isso sempre esteve claro para mim.

Meu único amor sempre foi Sarah. A imagem dela, sorrindo sob o sol, me invadiu, trazendo uma pontada de dor e esperança.

— Isso não é totalmente verdade. Mesmo sem me lembrar de Sarah, nunca consegui amar Perséfone de verdade — retruquei com firmeza, minha voz baixa e hesitante.

Poseidon me olhou com incredulidade, uma expressão quase de divertimento em seu rosto.

— Perséfone foi sua amante por eras!

— Mas eu não sabia de Sarah! — resmunguei, irritado, a culpa me corroendo por dentro.

Ele revirou os olhos.

— Isso não importa! O que são eras comparadas ao pouco tempo que você passou com sua esposa? — retrucou com seriedade, seu semblante provocativo. — Sem contar que foi essa relação que causou a ruptura com Sarah. É compreensível que ela não acredite em você.

Não! Isso não podia ser verdade! A culpa me invadiu com força, me deixando sem fôlego. Estava totalmente ferrado.

— Nunca quis me casar com Perséfone. Quando disse que não podia amá-la, ela quis ser minha amante. No início, relutei, mas depois cedi. Mas sempre me protegi para que não ocorresse um casamento forçado — me defendi, minha voz quase um sussurro.

Poseidon apenas cerrou os olhos, observando-me com uma expressão impenetrável. Um silêncio pesado pairou no ar antes que ele falasse:

— Você precisa decidir quem você quer em sua vida.

— Quero Sarah. Isso é óbvio!

— Então demonstre! Palavras não são suficientes, principalmente quando suas ações dizem o contrário, irmão — Poseidon replicou, seus olhos azuis brilhando com uma inesperada perspicácia.

Olhei-o em choque. Era a segunda vez na minha vida que ele me chamava assim. Um sorriso hesitante começou a se formar em meus lábios.

— É a segunda vez em toda a minha vida que você me chama de irmão — respondi, um sorriso genuíno se espalhando pelo meu rosto. É irônico que o Deus mais tempestuoso seja a única pessoa que me oferece um porto seguro em meio a essa tempestade.

Ele revirou os olhos, sorrindo de forma debochada.

— Só porque você está miserável hoje!

Não consegui segurar o riso ao vê-lo brincando dessa maneira. Jamais imaginei que meu irmão mais novo, o mais temperamental de todos, me faria sentir melhor. Principalmente por saber o quão orgulhoso ele era. Poseidon detestava falar sobre sentimentos, para ele, era uma fraqueza mundana. O fato de ele agir contrário ao que acreditava demonstrava o quanto ele era carinhoso, mesmo que não admitisse.

— Tenho que concordar com você — resmunguei, lançando-lhe um olhar malicioso. Uma onda de gratidão inesperada me invadiu.

— E o que você vai fazer? — Poseidon perguntou, curioso, seu olhar penetrante me analisando.

Minha vontade era voltar para Sarah imediatamente, mas um turbilhão de emoções e dúvidas me impedia. Deveria dar tempo a ela para que pensasse também. Afinal, havia imposto minha presença desde que ela chegou ao submundo, a forcei ao casamento. Não queria forçá-la a me perdoar também. A imagem do seu rosto, banhado em lágrimas de raiva e desespero, me assombrou.

— Sei que você está certo, mas preciso de tempo. Não sou apenas eu que preciso decidir o que quero para minha vida. Errei com Sarah, mas ela também errou comigo. Não quero magoá-la ainda mais.

A dúvida me corroía por dentro. E se a perdesse para sempre?

Ele assentiu, sério. Uma pontada de esperança me atingiu.

— Fique o tempo que precisar. E não se preocupe, para todos os efeitos, você ainda está no submundo — Poseidon piscou em minha direção, um sorriso leve em seus lábios.

Um silêncio pesado se instalou entre nós, quebrado apenas pelo som suave do oceano lá fora. O peso da decisão ainda pairava sobre mim, mas agora tinha um caminho, um norte. Mas o medo ainda persistia. E se fosse tarde demais?

Passou-se uma semana desde a briga, e não o vi desde então. Sabia que ele continuava com seus trabalhos no submundo, como se estivesse presente no local. A cada dia que passava, a angústia me corroía por dentro, me deixando paralisada, sem saber para onde me virar. Cheguei a montar acampamento perto de onde ele costumava ficar, mas nunca consegui encontrá-lo, o que era irritante.

Não obtive sucesso com os irmãos dele, mesmo tendo perguntado apenas a Adamanto e Poseidon – duvidava que ele estaria no Olimpo. Adamanto, pelo menos, tentou me confortar, dizendo para ter paciência, sua voz carregada de preocupação. Poseidon, no entanto, enviou uma mensagem curta e grossa: "Não sei, e mesmo que soubesse, não estaria autorizado a dizer". A frieza da mensagem me atingiu como um golpe.

A frustração me consumia. Será que nenhum deles percebia minha angústia? Precisava falar com Hades, ter a oportunidade de conversar, de me explicar. O tempo parecia se esticar, cada segundo se tornando uma eternidade.

Caminhava lentamente em direção à sala de treinamento quando, pela primeira vez desde que o abordei, vi Adamanto. O suor frio na minha testa me denunciava o nervosismo. Normalmente, ele se esquivava de mim. Hoje, porém, ele não escaparia. Descobriria onde estava meu marido!

Corri em sua direção, surpreendendo-o. Meu coração batia forte no peito. Não me importei, se fosse necessário, usaria meus poderes.

— Onde ele está? — perguntei, séria, minha voz firme, apesar do tremor em minhas mãos. Ele apenas suspirou, sua respiração ofegante. — Adamanto!

Quase ri ao vê-lo olhando assustado para os lados, como se procurasse uma saída. Mas não permitiria que ele fugisse, não sem antes saber onde Hades estava. O tempo já havia sido longo demais. Se ele queria me castigar, já havia conseguido!

— Adamanto, é a quinta vez que te pergunto! Por favor, preciso falar com ele. Estou arrependida! — chorei baixinho, sentindo meu coração apertar, as lágrimas escorrendo pelo meu rosto.

Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos num gesto nervoso e torturado.

— Sarah, sinto muito que esteja sofrendo.

— Adamanto, por favor!

— Não posso traí-lo. Ele é meu irmão. Me entenda! — ele sussurrou, sua voz carregada de culpa.

Espere... se ele não quer traí-lo, isso significa que sabe onde ele está!

— Então, você sabe onde ele está? — perguntei, esperançosa, um fio de esperança surgindo no meu peito.

Adamanto me olhou por longos segundos antes de assentir, seus olhos cheios de compaixão e pesar.

Um sorriso surgiu em meu rosto, e minhas mãos brilharam em direção a ele. Mas o olhar antes gentil se tornou sério demais, fazendo um frio percorrer minha espinha. A culpa me queimou como brasas, me sufocando.

— Vai mesmo forçá-lo a te encontrar? — ele retrucou, seco, sua voz firme, mas com um tom de preocupação.

Senti a culpa me invadir com intensidade, como fogo corrompendo minha alma. Queria apenas ele. Não pensei nas consequências, nem se era isso que ele também queria. Um conflito interno me assolava. Precisava vê-lo, mas também precisava respeitar o seu espaço.

— Sarah, entendo que possa ser um longo tempo para você, mas muitas coisas aconteceram entre vocês, coisas que marcaram muito a ambos — ele começou, severo, mas com um olhar carregado de compreensão. Mas, ao ver minha expressão, suspirou e segurou levemente minha mão ainda estendida em sua direção. — Deem um tempo. Vocês precisam disso.

Assenti a contragosto, sentindo minha garganta apertar. As lágrimas voltaram a escorrer pelo meu rosto. Não era o que queria, mas entendia que era o necessário. Era a consequência dos meus atos. Mas a esperança ainda brilhava em meu coração. O encontraria novamente.

༺۵༻

Os dias se arrastavam, cada um uma tortura. A cada amanhecer, a esperança de vê-lo diminuía. Três semanas se passaram desde a conversa com Adamanto, e nenhum sinal de Hades. Desisti de importunar os outros, não colocaria mais ninguém em minhas confusões. A solidão era um peso físico, me esmagando contra o chão. A culpa era uma cobra fria, enroscada em volta do meu coração, apertando-o a cada batida.

A necessidade de compreender esse tempo me assombrava, mesmo contra a minha vontade. As noites eram um tormento, os chás eram a única forma de encontrar um breve descanso, mas mesmo assim, os pesadelos me perseguiam, me mostrando imagens horríveis de Hades sofrendo. A culpa era um peso físico, uma pedra enorme no meu peito, me impedindo de respirar fundo. A cada inspiração, um nó se formava em minha garganta. A comida se tornou meu inimigo. A náusea me atingia com força, um mar revolto em meu estômago, me fazendo vomitar tudo que tentava engolir.

— Está mais pálida que o normal hoje — Daemon observou, seu olhar atento me analisando.

Suspirei, cansada, sentindo um aperto no peito, como se meu próprio coração estivesse sendo esmagado por uma mão invisível.

— Ainda não comi — respondi suavemente. Ele parou abruptamente ao meu lado, bufando em descontentamento.

Olhei-o de soslaio, ele estava mais irritado que o normal.

— Como vai treinar estando fraca? — Daemon resmungou, sério.

Como se pudesse me alimentar! A simples ideia de engolir algo me causava um profundo mal-estar.

— Hécate tem frutas na sala de treinamento. Pedi a ela que as trouxesse para economizar tempo — expliquei calmamente, sentindo-me ainda mais cansada. A exaustão me esmagava, me deixando sem forças.

Ele bufou alto, mas seguiu andando.

Segui-o em silêncio. Tudo o que precisava era focar nos treinamentos. Não poderia permitir que Eros me usasse novamente. E, já que não podia confiar apenas nos meus poderes, usei toda a raiva contida para reforçar minha força de vontade. A fúria era o único combustível que me restava.

Ao chegarmos, Hécate já nos esperava com uma pequena cesta de frutas. Mesmo a contragosto, peguei uma maçã, comendo-a silenciosamente. A fruta pesou no meu estômago. Ainda assim, fiz esforço, sabia que ela não me deixaria treinar até estar satisfeita. O gosto metálico da fruta na minha boca me causou náuseas, engoli com dificuldade.

Aguentei mais duas frutas pequenas, suspirando em frustração. Hécate aproximou-se do centro da sala, me chamando.

Habeo cor your ad imperium meum — ela recitou, sua voz ecoando pelo salão.

Uma névoa escura começou a se formar ao redor da minha mente. A princípio, era tênue, quase imperceptível, mas rapidamente se tornou mais densa, mais opaca, envolvendo-me completamente. A pressão crescente na minha cabeça era uma sensação de opressão que me impedia de respirar fundo. A dor aumentou, uma pontada aguda que se espalhou, como se milhares de agulhas estivessem perfurando meu cérebro. Meu corpo tremia, dentes rangem. A cada segundo, a névoa ficava mais densa, mais escura, até me envolver numa escuridão total. Sentia a pressão, a dor, a opressão, mas minha mente se recusava a ceder. Me agarrava à lembrança de Hades, à esperança de vê-lo novamente, para me manter forte, para resistir. A névoa se tornou tão intensa, agora densa e opressiva, que repeliu Hécate por completo.

— Muito bem! — Hécate exclamou, alegremente, segurando minhas mãos. Sua voz soou distante, abafada pela escuridão que me envolvia.

Assenti, sem alterar meu semblante. Poderia estar alegre, mas não conseguia sentir nem satisfação, meu coração doía demais. A exaustão e a dor me esgotavam completamente. Hécate suspirou e sorri fracamente, afinal, ela não tinha culpa do meu desânimo. Ela apenas ignorou, puxando-me para o fundo da sala e sentando-se ao meu lado.

— Minha querida, sei que está sendo difícil para você, mas tente reagir — Hécate segurou minhas mãos delicadamente, seu toque quase que me despertou do meu estado de torpor.

Suspirei longamente. Não conseguia. Não quando a dor era física, que me consumia por completo.

— Faz um mês que ele se foi. Não tenho mais esperança de que ele volte — respondi, triste, minha voz fraca e rouca. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, sem que pudesse impedi-las. Estava exausta, física e emocionalmente.

A cada dia, minha esperança se esvaía, levando junto a minha vontade de seguir em frente. Não teria nem chance de pedir desculpas?

— Querida, entenda ele. Vocês precisavam desse tempo — Hécate declarou suavemente, sua voz carregada de compreensão.

Não contive um riso fraco, irônico e amargo. Tudo o que fiz nesse tempo foi entendê-lo. Não o julgava mais, ambos erramos, principalmente em não sabermos administrar nossos sentimentos.

— Entendo Hades. Sei o quanto o magoei com minhas desconfianças e sinto muito por isso. Mas ele não foi capaz de mandar um único sinal de vida. Me deixou completamente no escuro. Não estou mais magoada com isso. Só queria ter a oportunidade de falar com ele antes que fosse tarde demais. Mas ele não quer, então respeito isso.

Respeitar não significava doer menos. A dor era uma presença constante, uma sombra que me acompanhava em todos os lugares.

— Por que você não o procura? — Hécate perguntou, sua voz suave, mas firme.

Ri novamente, um riso sem alegria, carregado de tristeza e resignação.

— Tentei, mas não obtive sucesso. E após conversar com Adamanto, desisti. Só preciso aceitar a decisão dele.

Talvez não pudesse mais ter minha vida de volta. Meu casamento acabou, e ninguém era culpado além de mim mesma. Admitir isso doía meu coração, como se ele estivesse partido em dois. Um suor frio percorreu minha espinha, e uma onda de tontura me atingiu.

Fixei o olhar no chão, então lembrei do treinamento. Não poderia pará-lo, era a única coisa que importava agora. Ergui-me suavemente, mas uma vertigem me tomou, fazendo minhas pernas bambearem. A escuridão se aproximava, me envolvendo como um abraço mortal. Uma onda de náusea me atingiu com força, e senti meu corpo se afrouxando, a respiração ficando cada vez mais superficial. Tudo ficou escuro.

O som dos meus passos era apressado, apesar de manter o semblante neutro. A saudade me esmagava, uma onda avassaladora que me impedia de respirar. Não estava mais aguentando.

Não quis me precipitar, por isso não a procurei antes. Mas soube que ela importunou meus irmãos, principalmente Adamanto, para saber sobre mim. Contudo, estava muito magoado, assim como ela. Queria um coração limpo, livre de mágoas, para voltar a ela inteiro. Só assim poderia acalmar suas dúvidas.

Na sala onde ela treinava, a saudade me atingiu com força. Era uma mistura de desejo, culpa e esperança.

Não via a hora de vê-la!

A voz alegre de Hécate me alertou. Mesmo sendo errado, me escondi, curioso. Ouvir que ela progrediu em seus treinamentos me encheu de orgulho.

Nunca duvidei de sua capacidade. Sabia o quão habilidosa ela era. Sempre tive esperanças de que ela superasse isso sozinha.

Os passos de ambas para o fundo da sala chamaram minha atenção. Sarah estava estranhamente quieta.

— Minha querida, sei que está sendo difícil, mas tente reagir — Hécate murmurou, sua voz carregada de preocupação.

Sarah respondeu que estava sem esperanças.

Meus músculos ficaram tensos, prontos para agir, mas uma força invisível me mantinha preso, paralisado pela dúvida. Minha respiração ficou presa na garganta.

Ela achava que desisti do que tínhamos?

Ouvi sua voz novamente, murmurando que desistiu de importunar Adamanto. Um sorriso involuntário surgiu em meus lábios.

"— Fale logo com ela! Não aguento mais ela me perseguindo para saber de você! — Adamanto resmungou, a impaciência evidente em sua voz.

Suspirei, cansado. Olheiras profundas marcavam meu rosto, reflexo de noites em claro e de dias passados em um torpor que me roubava a energia até para saborear a comida. Só me alimentava por insistência de Poseidon, que me seguia como um cão, não me deixando sozinho, assumindo a responsabilidade de cuidar de mim.

Não queria preocupá-lo, mas não conseguia seguir em frente. Me sentia anestesiado, um corpo sem alma.

— Adamando está com medo da sua esposa! — Poseidon caçoou, divertido.

Estava mesmo? A ideia me causou uma estranha sensação.

Seu olhar nervoso ao redor, junto do rosto ruborizado, procurando uma saída para a conversa, confirmou as palavras de Poseidon.

Um sorriso irônico e amargo se formou em meus lábios. Não podia acreditar na audácia dela!

Adamanto suspirou, sentando-se ao meu lado, o semblante sério.

— Hades... ela está arrependida. Se não a quer mais, precisa falar com ela ao menos, pois o sofrimento dela é de cortar o coração — Adamanto decretou, sua voz carregada de preocupação.

Saber que ela sofria só aumentava o meu próprio sofrimento. Mas não conseguia esquecer, ainda sentia muita mágoa, e sei que ela também. Assim, só nos machucaríamos mais.

— Vou falar no momento certo, preciso pensar.

— Deixa de ser cabeça dura! — Poseidon explodiu em um rosnado baixo, sua paciência esgotada.

— Hades, ela ameaçou usar seus poderes em mim. Estou esperando o momento em que ela virá buscá-lo aqui! — Adamanto replicou, um tom de pânico em sua voz.

Não consegui controlar o sorriso, o primeiro que eles viam em dias. A imagem dela invadindo os domínios de Poseidon para me levar à força para casa me pareceu divertida. Conhecendo-a bem, ela faria exatamente isso."

A lembrança me invadiu com força e sorri involuntariamente. Ela estava enganada ao pensar que desisti do nosso casamento, ele era a força que me impulsionava.

Um barulho abrupto me tirou de meus pensamentos. Ao ouvir Hécate chamar Sarah desesperadamente, entrei apressadamente na sala. O ar me faltou, as pernas amoleceram, e senti meu corpo gelar ao vê-la tão frágil. Hécate a amparava, seu corpo desfalecido em seus braços.

— Sarah, você... oh? Hades, ainda bem que está aqui! — Hécate suspirou, o alívio em seus olhos tão intenso que parecia irradiar luz.

Reagi em um surto de adrenalina. Ignorei Hécate momentaneamente, focando apenas em Sarah. A segurei em meus braços, transportando-a para nossos aposentos, seguido por Hécate.

Notei que sua pele estava mais pálida que o normal, um círculo roxo abaixo dos olhos, e ela estava mais magra. Um aperto doloroso me invadiu, como se meu próprio coração estivesse se partindo em dois.

— Estou aqui, amor. Estou com você — a promessa sussurrada escapou dos meus lábios.

Habeo cor your ad imperium meum - eu tenho seu coração a meu comando

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