Capítulo 26 - Controle Mental
As partes em itálico são lembranças de Perséfone, mas quem está vivenciando é Sarah.
Contém 3530 palavras.
Sua roupa não era uma armadura, mas possuía a mesma eficácia mortal. Um corpete de couro negro, ajustado como uma segunda pele, moldava-se às curvas do seu corpo com uma precisão que me deixava atordoado. Os atacadores entrelaçados, como nervuras de um monstro, subiam pelo seu torso, culminando em um decote que revelava apenas o essencial, deixando o resto à imaginação, uma tortura sublime. A textura do couro, lisa e fria contra a sua pele quente, absorvia a luz como um buraco negro. Sob as mangas curtas e justas, seus braços esguios e musculosos se destacavam, prontos para a batalha. Não havia adornos exagerados, apenas a funcionalidade implacável de uma guerreira. Um colar de metal simples, mas imponente, realçava a sua beleza mortal.
Era a vestimenta perfeita para uma deusa da guerra: elegante e letal, preparada para qualquer combate, um traje que refletia sua força e determinação. Ela não era apenas bonita, era uma força da natureza, e aquela roupa a vestia como uma segunda pele, amplificando sua aura de poder e sedução.
Sorri maroto. Ela estava preparada para a batalha, não apenas em suas roupas, mas também seu olhar feroz e focado, que a tornava ainda mais linda.
Aproximando-me lentamente, envolvi sua cintura com meus braços, sentindo o calor da sua pele sob meus dedos. Puxei-a para perto, inalando o seu perfume familiar, um aroma que me trazia paz e me fazia sentir em casa.
— Só vou dar um aviso: não quero você de intimidade com ela! — ela resmungou, ri, mas seu tom me deixou tenso.
— Não precisa se preocupar com isso — respondi, beijando suavemente seu pescoço. — Sabe bem que é você que importa para mim!
O gesto, porém, a fez virar-se rapidamente, seus olhos brilhando em fúria.
Observei-a, não conseguindo conter um suspiro. Ela não esqueceria a maldita festa tão cedo.
— Hades, não engoli o fato de você ter caminhado com ela de mãos dadas!
A fúria em seus olhos era um turbilhão, e o dedo apontado para o meu peito tremia levemente. Claramente, ela não me deixaria esquecer tão cedo.
— Sarah... — tentei intervir, mas ela prosseguiu, implacável.
— Você permitiu que ela te tocasse e ainda aproveitou! — cada palavra era uma acusação, lançada com a precisão de uma flecha. Não tinha como detê-la.
Se não a acalmasse, aquilo viraria uma briga. Ela era teimosa demais, eu sabia.
Suspirei, puxando-a para meus braços. Seu corpo era rígido contra o meu, uma estátua de gelo em meio ao meu calor. Ela estava certa, se estivesse em seu lugar, também teria ficado furiosa. Mas, em minha defesa, nem mesmo percebi que minhas ações eram inapropriadas. A intimidade com Perséfone era tão habitual que se tornou automática, um costume arraigado, embora isso não justificasse nada.
A verdade é que, se ousasse justificar meu comportamento, a situação pioraria ainda mais.
— Está certa, não farei nada para machucá-la. Podemos esquecer isso? — minha rendição foi imediata, mas o olhar desconfiado que ela me lançou me disse que a tempestade ainda não havia passado.
Olhei-a, pedindo silenciosamente perdão. Não suportava vê-la assim, tão ferida e distante. Comecei a cobrir seu rosto de beijos leves, cada um pedido de desculpas, fazendo seu semblante bravo aos poucos se derreter. Um sorriso maroto escapou dos meus lábios ao ver o efeito dos meus beijos.
— Por favor, amor, dulce meum... — sussurrei, beijando carinhosamente sua testa. Um longo suspiro escapou de seus lábios, um sinal de que a fúria estava diminuindo.
Suas mãos delicadas seguraram meu rosto com firmeza, seus dedos traçaram o contorno da minha mandíbula. Apesar do semblante sério, percebi um brilho diferente em seus olhos, mais suave, mais esperançoso.
— Se ela não conter as malditas mãos, vou arrancá-las, está ouvindo? — a acidez em sua voz era um eco da sua fúria, mas havia um tom de brincadeira ali, um sinal de que a tempestade estava se dissipando. Ri, e ela também sorriu levemente.
Mordi levemente seu lábio inferior, um suspiro escapou de seus lábios, uma melodia suave que me enchia de esperança. Meus lábios deslizaram suavemente pela sua pele, indo em direção ao seu pescoço, onde depositei um beijo suave e terno.
— Somente as suas mãos podem me tocar, sabe disso — sussurrei em seu ouvido, sentindo o seu corpo estremecer. O arrepio não era de medo, mas de desejo.
Não importava ninguém além dela para mim.
— Vamos, minha Imperatriz? — sorri maroto. Ela assentiu, selando nossos lábios em um beijo suave e cheio de promessas.
Ao entrar na sala do trono, a primeira coisa que vi foi aquele sorriso. Amplo, brilhante, estampado no rosto de Perséfone. Um sorriso que jamais consegui decifrar, genuíno ou falso? O desconforto me invadiu imediatamente.
Meu olhar deslizou para ela, involuntariamente.
Perséfone estava deslumbrante, irritantemente deslumbrante. Seu vestido branco, imaculado e quase ofuscante, parecia tecido com luz solar. O tecido, leve e fluido como água corrente, escorria sobre seu corpo, realçando cada curva com uma elegância que me enchia de fúria. Tão fino que mal cobria sua pele, quase translúcido, como se fosse feito de sonhos. Um cinto dourado, cravado de pedras que brilhavam como estrelas, marcava sua cintura, contrastando com o branco puro do vestido.
Aquele não era um traje para treinamento, era uma declaração de poder e beleza, uma afronta à situação. Seus cabelos ruivos, como brasas ardentes, caíam soltos e brilhantes, emolduravam um rosto perfeito. E seus olhos...
Ah, seus olhos! Extremamente verdes e brilhantes, como esmeraldas recém-lançadas, eles hipnotizavam Hades, queimando-me por dentro com sua intensidade. Ela estava radiante, como se estivesse em um baile, não em um campo de treinamento. Aquilo me irritava profundamente.
— Bom vê-la novamente, Sarah! — a doçura em sua voz era uma máscara fina demais para esconder o gelo nos seus olhos.
Como ela conseguia mudar de doce para fria em segundos?
— Digo o mesmo, Perséfone. Bem-vinda à minha casa — minha voz foi seca, sem sutilezas.
Ela sorriu, um sorriso gentil que me deixava ainda mais irritada. Queria apagar aquele sorriso.
— Hades, meu querido! — ela se virou para ele, os braços abertos em um abraço caloroso. — Senti sua falta, bom vê-lo bem.
Minha mão disparou, segurando o braço de Perséfone com força, interrompendo seu avanço. Seus olhos se arregalaram em surpresa, e senti uma onda de satisfação.
— Em primeiro lugar, vamos deixar uma coisa bem clara: se você chamar MEU marido de 'querido' novamente, não pensarei duas vezes antes de te matar — meu sorriso era tão doce quanto a minha ameaça.
Perséfone me olhou assustada.
— Sarah, eu não quis te ofender, apenas é meu costume — sua voz era defensiva, mas não estava nem aí.
— Segundo, mais respeito quando estiver falando com você. Não me ignore. Você está na minha casa, e eu sou a Imperatriz deste lugar. Logo, você me deve respeito! — ignorei suas desculpas completamente.
O semblante atônito dela, oscilações de olhar entre mim e Hades, como se ele fosse salvá-la... aquilo me divertiu.
— E por último, pouco me importam os costumes que vocês tinham, quando eram amantes. Hades é meu marido, e não a quero com esse tipo de intimidade com ele. Fui clara? — minha voz era calma, mas meu olhar não mentia.
Não suportaria vê-la agarrada a ele. Aceitei o treinamento para observá-los, mas isso não significava tolerar essas aproximações.
Para mim, ela nem deveria respirar o mesmo ar que ele.
Hades entrelaçou sua mão na minha, puxando-me para o seu lado.
— Perséfone, já conversamos sobre isso! — a voz dele era um sussurro de exaustão.
Aquele olhar de coitadinha dela me irritava.
— Eu sempre esqueço, queri... Hades — o sorriso dela era falso, sem graça.
Olhei para Hades, percebendo seu suspiro cansado. Tinha avisado que não seria fácil.
Ela não estava me respeitando! Já estava arrependida de permitir que ela viesse. Amávamos o mesmo homem, mas a diferença era que Perséfone não se importava com meus sentimentos. Ela fazia tudo de propósito.
— Então, por que me chamaram aqui? — a pergunta dela cortou o silêncio, direcionada a Hades.
Tomei a frente, olhando-a com advertência.
— Hécate e Hades me falaram sobre suas habilidades com controle mental. Queria que você me ajudasse. Pode me ajudar? — minha voz foi suave, mas a amargura era evidente.
Pedir ajuda a alguém que odiamos era difícil. Sentia uma raiva profunda, apenas por deixar essas palavras saírem da minha boca.
Perséfone inclinou a cabeça levemente, surpresa. Não podia julgá-la, não escondia meu rancor.
— Sim, posso ajudá-la. Nada me dará mais prazer que deixá-la forte — o sorriso dela era leve, mas seus olhos brilhavam com algo mais.
Hades suspirou aliviado, mas mantive meu olhar fixo nela. O sorriso dela se ampliou, um piscar maroto para Hades antes de se virar para sair. Quando percebeu que não a seguia, ela se virou, com um sorriso enorme no rosto.
— Não vem? Hécate deve estar nos esperando — sua voz era uma provocação.
A raiva queimou em minhas veias. Aquilo jamais daria certo. Ela estava tentando jogar na minha cara o quanto conhece o submundo. A cada oportunidade, ela me provocaria. E uma parte de mim esperava por isso. Queria que ela me provocasse até que perdesse a cabeça, assim poderia matá-la sem desculpas. Não precisava de nenhuma. Só não queria brigas, pois sabia que Hades ficaria furioso comigo.
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O silêncio entre nós era sepulcral. Agradeci a falta de conversa, não queria trocar uma palavra sequer com Perséfone. Mantive Hades à distância, não era idiota a ponto de desperdiçar um treinamento. Aproveitaria a oportunidade ao máximo.
Essa será a minha vingança.
Hécate nos observava com seu olhar aguçado, mas, para minha sorte, não fez comentários. Ela era minha mãe, conhecia meus planos.
Perséfone sorriu para Hécate, que retribuiu com um gesto gentil. A deusa se posicionou no centro da sala, analisando o espaço antes de me chamar.
— Primeiro, vamos treinar sem você usar seus poderes. Invadirei sua mente e você resistirá. Precisa fortalecer sua mente sem usar magia, apenas sua força de vontade. Ela é sua melhor arma.
Seu plano era simples, mas brutal. Sua invasão mental revelaria minhas inseguranças. Não havia escapatória.
A maldita sabe exatamente o que está fazendo!
— Controle mental — O ataque foi fulminante. A mente de Perséfone se abateu sobre a minha como uma avalanche, esmagando minha sanidade. Um gemido de puro terror escapou de meus lábios, enquanto a pressão esmagadora me jogava em um turbilhão de lembranças. Não era apenas uma invasão, era uma violação brutal, implacável, que rasgava minha alma. Minha infância, inocente e feliz, foi arrancada de mim, substituída pela dor crua da perda dos meus pais. Cada lembrança era um golpe, uma ferida aberta que sangrava em meu coração. O pânico me envolveu como um manto, sufocando-me com a intensidade da dor. Estava afogando-me em minhas próprias memórias, sem escapatória.
— Não está fazendo o mínimo esforço para me impedir. Eros conseguiria controlá-la até dormindo! — sua provocação era uma tortura.
Ela está se divertindo com minha dor!
Fúria me consumia. Tentei criar uma barreira mental, algo sólido, sem usar meus poderes. Apenas uma névoa tênue se formou em torno de minhas lembranças.
Preciso ser mais forte.
— Pode melhorar isso, Sarah... — sua voz era um fio de veneno.
Perséfone intensificou o ataque, forçando minhas lembranças. Meu casamento, a lua de mel, a festa dos deuses... nossa declaração de amor, nossa noite de núpcias... Ao visualizar nossas cenas íntimas, ela parou, um lampejo de raiva em seus olhos, rapidamente substituído por um sorriso sem graça.
— Isso é bem privado, desculpe — sua risada era descontraída demais. Inclinando-se, ela sussurrou: — Hades é bem intenso, não?
A raiva explodiu. Não vou deixá-la me humilhar.
— Não quero compartilhar as intimidades com meu marido, especialmente com você! — minha voz era ácida.
— Nem precisa... afinal, já fui bem íntima dele! — sua doçura era uma provocação. Uma veia saltou em minha testa. Ela riu alto.
— Maldita! — meus dedos se fecharam em seu pescoço. Ela apenas sorriu.
As mãos de Hécate me seguraram firmemente.
— Meninas, sem brigas! — a voz de Hécate cortou o ar.
O sorriso vitorioso de Perséfone me enlouqueceu.
— Sarah, concentre-se. Ela está apenas te provocando. — Daemon sussurrou, me puxando para longe.
Ele estava certo. Mas era difícil ignorar suas provocações. A necessidade de provar meu domínio sobre Hades era intensa, insuportável.
— Hécate, já que Sarah tem dificuldades em me repelir, ela poderia tentar invadir minha mente. — Perséfone direcionou seu olhar para Hécate, que, após uma breve pausa, concordou.
A hesitação me atingiu. Não queria entrar na mente dela. Mas a curiosidade e o desejo de aprender eram mais fortes. Hécate assentiu levemente, me dando segurança.
— Tudo bem, vamos tentar.
Perséfone sorriu, sentando-se em um banco conjurado por Hécate.
— Primeiro, blindarei minha mente. Use seus poderes, mas não conseguirá invadi-la. Depois, deixarei aberta para mostrar como usar sua força de vontade. Precisa aprender a fortificar sua mente antes de usar seus poderes.
Irritante, mas meticulosa.
— Pode começar.
Recitei o feitiço em um sussurro: Incursio animi.
A mente de Perséfone era uma fortaleza impenetrável. A escuridão que a envolvia não era apenas uma barreira; era uma força viva, uma resistência palpável que me repelia com violência. Sentia a pressão, uma força bruta que me empurrava para fora, como se estivesse tentando penetrar uma muralha de aço. Cada tentativa de penetrar sua mente era como bater contra uma parede invisível, sólida e implacável. A frustração crescia a cada fracasso, a cada onda de repulsão que me jogava para trás. Minhas mãos tremiam enquanto forçava a entrada, mas a escuridão implacável permanecia, inabalável. Finalmente, exausta, senti uma força invisível me arremessar para longe, quebrando a conexão. Perséfone mantinha o semblante sereno, impassível.
— É assim que precisa deixar sua mente. Comece com uma névoa, depois vá solidificando. Não vai conseguir de primeira, mas com treinamento...
Concordei, a contragosto.
— Agora, liberarei o acesso. Você acessará o que quiser, depois blindarei novamente.
Suspirei, lançando novamente o feitiço.
"O sorriso era apenas uma máscara para a saudade que me consumia. Finalmente, eu o veria. Meus passos eram leves, flutuantes, impulsionados pela expectativa. Queria surpreendê-lo, mas era impossível esconder minha presença dele.
Ao chegar ao salão do trono, lá estava ele, Hades, esperando-me com um sorriso que iluminou toda a sala. Meu coração disparou. Deveria ter imaginado que ele me sentiria de longe.
— Está atrasada — sua voz, rouca e profunda como um trovão distante, ecoou em meus ouvidos, enviando arrepios pela minha espinha.
Ele se levantou, seus movimentos rápidos e decididos, seus braços me envolvendo em um abraço que me roubou o fôlego. A textura de sua pele contra a minha era inebriante. Seu corpo, quente e sólido contra o meu, me ancorou na realidade. Estava em seus braços, e era tudo o que eu sempre quis.
— Senti sua falta! — o sussurro em meu ouvido foi como uma carícia na alma, acalmando a tempestade em meu peito.
O desejava tanto, tanto que doía. Sorri, maliciosa, meus dedos entrelaçando-se em seus cabelos, sentindo a maciez e o calor de sua pele sob meus dedos.
— Querido, desculpe, mas sabe como é minha mãe — minha voz era um fio de seda, mal contendo a urgência que me consumia.
Ele suspirou, um som profundo e cheio de desejo, seus lábios encontrando minha testa em um beijo suave, demorado. A sensação de seus lábios na minha pele era como um choque elétrico. Seu nariz deslizou por meus cabelos, inalando meu perfume.
— Adoro seu cheiro, me acalma demais —sua voz era um sussurro, quente e íntimo, que me fez estremecer.
Meu corpo ansiava por mais. Seu toque, seu cheiro, sua voz... tudo em mim ansiava por ele. A sensação de segurança e de pertencimento em seus braços era inebriante. Finalmente, eu estava em casa."
A imagem mudou para o quarto dele. O mesmo quarto que eu dividia com ele, os momentos quentes dos dois sob os lençóis, o rosto dele em completo prazer junto à deusa, queria sair da sua mente, mas não conseguia barrá-la, como se estivesse presa. Meu corpo inteiro ficou tenso. Aquilo estava sendo uma tortura, nem ao menos conseguia mover um músculo da face para alertar Hécate, meu semblante estava sereno, como se estivesse bem. A raiva me consumia.
As lembranças não foram filtradas, parecia que a deusa fazia questão de mostrá-la os detalhes dos seus momentos com ele, tudo era intenso, os toques e beijos, era exatamente como Hades me tratava, os mesmos gestos, mesmo carinho. Cada detalhe era uma facada no meu coração. Sentia meu coração apertar a cada visão, até finalmente a cena mudar. Era mais recente, reconhecia isto, pois observei os pensamentos da Perséfone, era no dia seguinte que aceitei me casar com ele. Ainda conseguia sentir a dor, a traição.
"Caminhava apressadamente, a ansiedade me corroía por dentro. Precisava vê-lo. Não consegui esperar, não depois de saber o que havia acontecido. A preocupação me consumia. Ao chegar ao salão do trono, o encontrei sentado, com um sorriso no rosto, perdido em seus pensamentos. Algo estava errado. Ele nunca era assim.
Ainda assim, o alívio de vê-lo bem me invadiu. Quando soube, corri imediatamente ao seu encontro. Não suportaria vê-lo ferido. Preferia morrer.
— Querido! — minha voz saiu trêmula, cheia de urgência. Seus olhos, antes alegres, ficaram sérios.— Estava tão preocupada!
— O que faz aqui?— sua voz saiu áspera, cortante, como uma lâmina. Um medo gelado percorreu minha espinha. Ele nunca me tratou assim.
— Como o que faço aqui? Vim vê-lo, soube que desmaiou, fiquei preocupada!— respondi, minha voz carregada de angústia.
Ele suspirou, um som pesado e cheio de dor.
— Não foi nada, apenas recuperei minhas memórias sobre a Sarah — ele murmurou, seu olhar fixo em mim, carregado de uma tristeza profunda.
O medo se instalou em meu coração, frio e opressivo. Ele se lembrava... de tudo.
Por isso sua reação...
Não esperava que ele ficasse sem as lembranças para sempre, mas acreditei que um dia seria mais fácil de aceitar. Afinal, ela estava morta. Não era saudável viver sonhando com um amor impossível. Mas não estava preparada para isso.
— Você sabia? — sua voz estava carregada de raiva, acusadora. — Claro que sabia, Hécate não consegue controlá-la! Como pode não me dizer nada?
Seus olhos brilhavam com uma fúria que me deixou petrificada.
Entendia sua dor, seu rancor. No seu lugar, sentiria o mesmo. Mas não me arrependeria. Fiz aquilo por amor, escondi a verdade para protegê-lo. Teria passado a eternidade escondendo a verdade se fosse preciso!
— O que queria que eu te falasse? Que Eros flechou você para se apaixonar por mim e que, com isso, perdeu o amor da sua vida? — minha voz estava carregada de amargura. — Pensei que Hécate fizera isso para protegê-lo!
Seu olhar suspeito me feriu profundamente. Ele não confiava em mim.
— Se souber que está contra mim...— ele deixou a frase no ar, uma ameaça implícita que me deixou sem fôlego.
— Jamais ficaria contra você!
— Vou me casar com Sarah, não quero mais você chegando aqui como chegou hoje, fui claro? — suas palavras foram um golpe no meu coração.
Ela estava viva?
— Casar com ela? — perguntei, atônita.
— Sarah não ressuscitou, ela reencarnou, Hécate guardou sua alma, esperou milênios pelo receptáculo perfeito — ele respondeu meus pensamentos, sua voz carregada de uma tristeza resignada.
— Ela não é uma deusa? — perguntei, confusa.
— É uma bruxa, mas possui imortalidade, houve uma luta entre nós em Valhalla, como não sabe disso? — ele perguntou, incrédulo.
Sabia da luta, mas não imaginei que fosse ela. Pensei que estava morta para sempre.
— Não imaginei que fosse ela, não fui à sua luta, precisei ajudar minha mãe. Não ligo para os humanos e não senti medo por você, afinal, não perderia contra uma humana fraca — minha voz era fria, distante, tentando esconder a dor que me consumia.
Mas a verdade era que sentia nojo, um nojo profundo por aquela humana.
— Ela não é fraca! — ele rosnou.
Contive o impulso de revirar os olhos. Humanos patéticos. Agora ele se uniria a uma... aquilo era ridículo. Mas não poderia dizer nada. Sua felicidade importava mais do que tudo.
— Perséfone, não pode chegar aqui como hoje, entendeu? — ele declarou seriamente.
Sabia que isso aconteceria. Era só ela aparecer...
— Foi claro o bastante... Posso pedir ao menos uma última coisa? — me aproximei dele vagarosamente, meu corpo trêmulo, meu coração batendo forte. Ele assentiu lentamente. Sorri, um sorriso triste e desesperado. Jogando-me em seus braços, o beijei ardentemente. Seus lábios foram frios, distantes.
Mas o beijei como se fosse o nosso último beijo. Seu gosto era familiar, mas distante, como uma lembrança que se esvai. O beijo era um desespero, uma súplica silenciosa."
Senti Perséfone erguer um muro em volta de sua mente, uma barreira impenetrável que se materializou como uma densa névoa escura, sufocando-me com sua opacidade.
A raiva explodiu em meu peito, um vulcão prestes a entrar em erupção, fazendo meu corpo tremer. O que havia visto... a traição, a dor, a humilhação...
A imagem de Hades em seus braços, a intimidade deles, me queimou por dentro como brasas ardentes. Minhas mãos se fecharam em punho, os nós dos dedos brancos pela força da minha fúria contida.
Ofegante, descontrolada, olhei para Perséfone. Seus olhos brilhavam com uma satisfação cruel, enquanto um sorriso delicado, quase zombeteiro, curvava seus lábios. Era uma afronta, uma provocação cruel, um deleite sádico em minha dor.
— Aprendeu como faz? — Sua voz, doce e melíflua como um veneno, era um insulto, uma demonstração de superioridade.
Olhei para ela em descrença, a fúria me consumindo, mas a minha expressão permaneceu impassível, uma máscara de controle sobre a tempestade que me assolava.
Incursio animi: invasão de mente
Os poderes de Perséfone é inspirado aqui ➜ https://blue-phoenix-rpg.fandom.com/pt-br/wiki/Pers%C3%A9fone
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