Capítulo 22 - Sentimentos Ⅱ
Contém 3300 palavras.
Boa leitura💜
Sabia que ela não falaria comigo se não fosse importante. Ainda assim, o pânico me congelou, sabia o quão encrencado ficaria depois. Os segundos que demorei para decidir se valia a pena ter uma briga com Sarah para seguir Perséfone foram tempo suficiente para vir me salvar, chamando minha esposa para uma dança.
Um suspiro de alívio escapou dos meus lábios, embora soubesse que isso apenas aumentaria a ira dela mais tarde.
Sem alternativas, puxei Perséfone para uma dança. Estar a sós com ela me prejudicaria com Sarah, deixando-a ainda mais brava. Preferia ficar à vista, pelo menos assim ela estaria me vendo.
— O que quer? — perguntei, procurando Sarah com o olhar ansioso. — Seja breve, não tenho tempo. A inquietação me corroía.
Perséfone suspirou graciosamente antes de puxar meu rosto em sua direção. Seus olhos verdes brilhavam com um divertimento que me irritava profundamente, a ponto de sentir meu sangue ferver. Seu perfume floral era inebriante, misturando-se com o aroma de velas e flores ao nosso redor, mas a fragrância não conseguia disfarçar a tensão que emanava dela.
— É muito rude ignorar uma dama — Perséfone retrucou em tom de repreensão, sua voz suave como um murmúrio, mas carregando uma firmeza inegável.
— Fala logo! — repliquei ansioso, me afastando delicadamente. — Sabe bem o que essa dança vai me custar!
Quanto antes falasse com ela, mais cedo estaria ao lado de Sarah, amenizando os danos. Isso, se conseguisse falar algo, sabia que ela não me escutaria com facilidade. O som da música ao fundo parecia acompanhar o ritmo acelerado do meu coração. Meu corpo estava tenso, cada músculo vibrando com a expectativa.
Perséfone sorriu gentilmente, seguindo os passos da dança com graça, antes de se aproximar suavemente. A luz suave das lanternas realçava o brilho intenso de seus olhos.
— Soube que Eros está de olho em sua esposa — suas palavras capturaram completamente minha atenção. Seus olhos tornaram-se mais sérios, apesar de o sorriso ainda permanecer, como uma máscara que escondia a verdade. — E que quer a ajuda de Anteros. Posso ajudá-los nisso.
Ela saber sobre não era novidade, ele não fazia questão de esconder seu interesse. Além disso, nossa briga no Olimpo ajudou os boatos a se espalharem. No entanto, saber sobre era surpreendente. Não falei para ninguém além dos meus irmãos. Não desconfiava deles, sabia que não me traíriam dessa forma.
— E o que você tem com isso? — perguntei, olhando-a com desconfiança. O ceticismo em minha voz era palpável, ecoando na tensa atmosfera entre nós, carregada de expectativa e apreensão.
Ela sorriu tristemente, desviando o olhar brevemente antes de me encarar decididamente. A tristeza em seu sorriso contrastava com a determinação em seus olhos, criando uma imagem complexa e comovente.
— Hades, não vou mentir, amo você desde a primeira vez que o vi. Por anos, pensei que pudesse conquistar seu coração, mas nunca tive chance — a resposta me deixou sem fala. As palavras dela caíram sobre mim como um trovão, me deixando petrificado.
Não contive o olhar carinhoso em sua direção. Embora nunca a tenha amado, sempre tive carinho por ela. Respeitei-a durante o tempo que estivemos juntos, tentei amá-la, mas meu coração jamais a aceitou. Mesmo assim, tivemos bons momentos. Fui feliz com ela, embora soubesse que isso apenas a fez sofrer após o término. Ela era especial e sempre seria.
— Não precisa fazer essa cara, pois agora compreendo por que nunca poderia ser meu. Após vê-los juntos, percebi isso — seus olhos marejaram e suas mãos apoiaram-se em meu peito. Um sorriso triste surgiu, esmagando meu coração. Vi lágrimas brilharem em seus olhos verdes, e seu sorriso, antes radiante, agora era apenas uma máscara de dor. — Seu coração pertence a ela, sua felicidade é ela, e não quero que perca isso.
Entre todas as pessoas, jamais quis fazê-la sofrer. Conhecia seu coração, quão maravilhosa ela era. Gostaria tanto de vê-la feliz, amando alguém que realmente a merecesse. Mentiria se dissesse que não possuo culpa pelo seu sofrimento, pois alimentei nela a esperança de um futuro que não pude cumprir.
Agora, vendo-a colocar minha felicidade à frente da própria, isso apenas fez a admiração que sentia crescer.
— Perséfone, eu...
Um sorriso triste surgiu em seu rosto. Senti as mãos sob meus lábios, calando-me com delicadeza.
— Anteros está aqui, mas Hera soube do interesse de Eros por sua esposa e pretende confrontá-lo antes de vocês. Ela odeia Sarah e fará de tudo para atingi-la. Precisa chegar nele antes dela. Vamos buscar Sarah para falar com ele — ela declarou, puxando-me em direção à minha esposa. A urgência em sua voz era palpável, me impulsionando para a ação.
Sua mão entrelaçou-se na minha, mas a única coisa que consegui captar foram suas palavras. A urgência em sua voz me fez apressar o passo.
— Por que está fazendo isso? — perguntei, atordoado, fazendo-a parar de caminhar para me responder.
— Hades, quando amamos alguém verdadeiramente... queremos essa pessoa feliz — ela murmurou, derramando uma lágrima, que rapidamente enxugou, tentando esconder seus sentimentos. — Quero sua felicidade. Se ela é Sarah, então sou feliz por você.
— Obrigado.
Não contive o sorriso triste. Sempre soube o quão linda ela era por fora, mas ainda mais bela em seu interior.
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Ao nos aproximarmos de onde Sarah estava com meus irmãos, a conversa acalorada dela com Poseidon tornou-se mais alta. Primeiramente, estranhei a interação entre ambos, mas não consegui conter o sorriso. Ele não só estava respondendo a ela sem ofendê-la, mas também a olhava diretamente nos olhos, algo que ele raramente faz, pois nem todos são dignos disso em sua visão.
Um sorriso se espalhou pelo meu rosto. Pelo menos eles estavam harmonizados... de uma forma estranha, mas já era um começo.
Meu sorriso aumentou ao ver meu irmão cuidando dela. Mesmo não gostando da sua raça, ele já a considerava parte da família, mesmo que não demonstrasse abertamente.
— Será que pode parar de beber? Isso é muito forte — Poseidon tomou-lhe o copo das mãos, franzindo a sobrancelha em desafio. — Você vai ficar com ressaca, devia me ouvir!
Sarah suspirou, descontente.
— Já disse que posso beber o que quiser e me curar com magia — retrucou, enquanto Poseidon revirava os olhos.
— Não devia usar magia para tudo! — resmungou.
— Deixa de ser rabugento, sou uma bruxa. É óbvio que vou usar magia para tudo! — Sarah replicou, sorrindo maliciosamente para ele, antes de recitar o feitiço, seus olhos brilhando com diversão.
— Alcohol exite de sanguinem meum.
Sorri ao vê-la mais desperta, especialmente ao ver meu irmão exasperado. Embora concordasse com ele em partes, por ela ser uma bruxa, não via mal em usar seus dons para seu próprio prazer.
Ela desviou o olhar para mim ao perceber nossa aproximação, mas o sorriso morreu em seus lábios. Seu olhar tornou-se mais intenso e irritado, deixando-me apreensivo. Um fio de suor escorreu pela minha têmpora. Meu estômago se revirou. Senti o sangue gelar nas veias.
— Tem razão, Poseidon. Não devia usar magia para tirar o álcool do meu sangue, pois estou tendo efeitos colaterais! — Sarah rosnou, desviando os olhos e fechando as mãos em punho com tanta força que os nós dos dedos ficaram brancos.
Seus olhos brilhavam com uma fúria que me deixava sem fôlego. O ar ao redor dela parecia vibrar com a energia que emanava dela, carregada de raiva e poder.
Acho que estou mais encrencado do que imaginei. Quase consigo sentir seu sangue ferver. Um aperto gélido se instalou no meu peito. A sensação era de que estava afogando em um mar de problemas, sem saída.
— Posso saber o motivo de a mão dela estar segurando a sua? Não sabe mais andar, Hades, que precisa de ajuda para isso? — ela perguntou, olhando-me com raiva. Sua voz era baixa, mas carregada de uma ameaça que me deixou paralisado.
O quê?
Desviei os olhos para minha mão entrelaçada com a de Perséfone e a soltei rapidamente, como se tivesse me queimado.
Droga! Ela vai me matar por isso!
— Não percebi — respondi atônito, aproximando-me dela, mas sua mão erguida me paralisou.
— Pode ficar aí! — ela resmungou, a voz baixa e carregada de ameaça.
Oh, não!
Ela não pode estar desconfiando de mim!
Errei, admito isso. Nem ao menos me toquei na maneira como estava com Perséfone, pois simplesmente não me importava com isso. Sua fúria cresceu, suas mãos tremiam tanto que algumas faíscas escaparam das palmas. Ela jamais perdeu o controle de seus poderes!
— Sarah, não é nada disso que está pensando — Perséfone dirigiu-se docemente em sua direção, mas Sarah apenas ergueu a sobrancelha em descrença.
— Dulce meum, perdoe-me por isso...
— Quid uis? — Ela lançou um feitiço em Perséfone, ignorando completamente meu apelo.
O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de tensão.
Perséfone ficou momentaneamente com os olhos vazios, antes de focar em Sarah.
— Quero Hades para mim — Perséfone admitiu.
Sarah voltou-se furiosa em minha direção.
Não! Por favor, não fique brava comigo!
Aproximei-me rapidamente, segurando ambos os lados de seu rosto, encostando minha testa na sua.
— Espera, juro que tem uma explicação! — respondi apressado.
— Claro que existe! Está bem na minha frente! Esteve há anos atrás e não mudou! — ela resmungou, se afastando. Sua voz estava embargada, carregada de dor e decepção.
Não, amor! Isso não é nada!
Tive sim uma ligação com Perséfone, possuía muito carinho pela deusa, mas não era ela quem amava.
— Seria hipócrita querer que não tivesse se relacionado com ninguém após minha morte, mas poderia ser qualquer uma... menos ela — Sarah sussurrou com a voz levemente embargada, antes de suspirar profundamente, me olhando séria. — Para quem diz que ficou praticamente obrigado, você tem uma ligação com ela!
Droga!
Sarah não tinha ciúmes de ninguém além de Perséfone. Ela mesma já tinha me perguntado sobre o passado, mas quando o assunto era a deusa, ela mudava completamente. Sei que ela acredita que apenas Perséfone significou algo além de sexo, além de ser o motivo da nossa ruptura, pensando que o grau do nosso envolvimento era maior do que realmente admitia.
— Não é isso! Por favor, não pense besteira! — murmurei apressado.
— Sua desculpa deve ser a mesma de todos esses anos que ela passou em seus lençóis, não é, meu querido? — Sarah retrucou ácida. Sua voz gotejava sarcasmo.
Suspirei exasperado.
— Não posso ficar com ciúmes, mas você pode? — retruquei, olhando-a seriamente.
Ela sorriu maliciosa. Um sorriso perverso e divertido surgiu em seus lábios.
— Acontece que nunca tive nada com Eros, já você e a doce deusa aí... — ela replicou em desdém.
Sinto a dor de cabeça se alojar.
— Sarah, não tenho nada com Perséfone — repliquei, rendido. Ela apenas revirou os olhos em descrença.
Sabia que seria difícil de explicar. Mesmo que fosse divertido vê-la irritada por ciúmes, não queria deixá-la triste, ainda mais sem motivos. Meu interesse sempre foi e será nela, minha esposa e meu amor. Não existia ninguém além dela e ela sabia muito bem disso.
— Precisamos encontrar Anteros, não foi para isso que viemos? — perguntei cansado.
Um sorriso perverso surgiu em seu rosto antes dela virar em direção à deusa. Senti meu sangue gelar, ela não esqueceria aquilo tão cedo. Um sorriso de puro contentamento se espalhou pelo meu rosto, apesar do perigo iminente. Finalmente, tinha a certeza de que seu amor era tão intenso quanto o meu.
— Aposto que a doce Perséfone sabe onde ele está, certo, minha querida? — Sarah perguntou amavelmente em direção à deusa. A doçura em sua voz era irônica, uma máscara para a fúria que sabia que estava escondida por baixo.
Os olhares de todos estavam em nossa volta, principalmente dos meus irmãos, que não perderam a chance de zoar.
Claro, vou parar na casinha do cachorro hoje!
— Sarah, por favor! — retruquei bravo, ocasionando um olhar furioso dela em minha direção.
— Avisa a sua doce AMIGA, da próxima vez que ela o tocar com tanta intimidade... conhecerá o outro lado rapidamente, pois vou matá-la, ao contrário dos outros, essa daí não vai fazer falta nenhuma! — Sarah rosnou irada.
Não consegui conter o sorriso divertido.
Meu amor, se não sente ciúmes, nem sei que nome dar para seus sentimentos!
— Ela me ameaça de morte e você sorri? — Perséfone perguntou, confusa, olhando para mim.
— Vamos! — respondi levemente.
Como posso não estar contente? Depois de todo o trabalho para conquistá-la, obviamente vou reagir a cada prova de seus sentimentos, mesmo que sejam um pouco extremos.
Segurei delicadamente sua mão na minha, entrelaçando-as. Apesar dela revirar os olhos, apertou forte minha palma, ignorando todos.
Prometo que irei recompensá-la!
Fomos em direção a uma sala pouco iluminada, onde alguns casais estavam dispostos em cantos mais reservados, buscando mais privacidade. O ar estava carregado de um perfume intenso de incenso e flores. A luz fraca das velas projetava sombras longas e misteriosas nas paredes. Ao final da sala, em frente a uma sacada que oferecia uma vista deslumbrante do céu noturno, pude ver a figura de um homem. Nos aproximamos vagarosamente, até que a figura tomou forma, e ele mantinha um olhar curioso para o horizonte. Hades, ao meu lado, ficou mais sério, parecendo reconhecê-lo.
Poseidon e Adamanto mantiveram guarda na porta, prontos para intervir caso Eros se aproximasse. Isso nos deu a liberdade de chegar mais perto.
Não contive o olhar curioso em sua direção, afinal, não o conhecia. Em partes, ele era parecido com Eros: o mesmo biótipo forte e esguio, embora com braços mais musculosos. Seus olhos eram de um azul intenso, quase hipnótico, e seus cabelos, extremamente loiros, caíam em ondas suaves sobre os ombros.
— Curioso, normalmente os casais formados fogem de mim — a voz rouca dele preencheu o ambiente, à medida que ficamos a poucos centímetros dele.
Seu olhar desviou-se do horizonte, mirando cada um com uma curiosidade quase palpável, uma alegria que transparecia em seu sorriso. Seu olhar encontrou o meu, e nele vi um brilho de compreensão.
— Preciso falar com você — declarei, inclinando-me respeitosamente, embora doesse fazer esse gesto a um Deus. Ainda não gosto muito deles. — Chamo-me Sarah, prazer em conhecê-lo, Anteros.
Os olhos dele fixaram-se nos meus com interesse genuíno, sem a menor sombra de aflição. Mas havia algo além do brilho em seu olhar, quase como um jogo divertido, um desafio silencioso.
— Sei que é a imperatriz do submundo, ou melhor, a bruxa a quem os deuses não têm o poder de tocar — Anteros respondeu, sorrindo. Então, inclinou-se levemente em minha direção, em um tom conspiratório. — O que quer?
Meu olhar buscou Hades. Apesar de ainda estar furiosa com ele, não contive meus sentimentos. Queria que Anteros percebesse meu amor, que ele visse minhas reais emoções e assim me ajudasse. Desviei o olhar para Anteros, que sorria genuinamente, seu olhar agora carregado de um brilho de entendimento.
— Seu irmão Eros... ele insiste que está apaixonado por mim, e não sei o que fazer. Ele consegue usar seus poderes em mim, e confesso que tenho medo disso — expliquei, olhando-o pacificamente.
— E espera que fique contra meu irmão? — Anteros perguntou, rindo ironicamente.
O sangue ferveu nas veias do meu pescoço. Um calor escaldante subiu pela minha espinha, e meus dentes se cerraram com força. Respirei fundo, tentando controlar a fúria que me consumia.
— Esperava apenas que me ajudasse a não ficar suscetível a seus poderes — retruquei, tentando conter meu gênio.
O olhar dele fixou-se nos meus por longos segundos, como que decidindo o que falaria. Percebi a ausência de suas emoções, ele as controlava bem, nem mesmo conseguia ver sua aura.
— Meu irmão está verdadeiramente apaixonado por você, não posso usar meus poderes contra os dele — Anteros respondeu, olhando-me com seriedade.
Ele não pode estar falando sério!
Será que ninguém percebe o perigo que Eros representava para mim?
— Mas não amo ele! Acredita que ele seria feliz fazendo-me apaixonar por ele por conta de seus poderes? — perguntei, brava, o fazendo erguer a sobrancelha.
— No entanto, até hoje ele não usou, não é? — Anteros retrucou, olhando-me divertido.
Não totalmente, mas isso não significa que não o faça!
— Mas nada impede que ele os use! — Hades intrometeu-se na conversa, fazendo o deus olhar para ele seriamente.
— Meu irmão me prometeu que usaria outros meios para conquistá-la, e acredito nele. Até hoje ele não usou seus poderes na bruxa, não sei o motivo do medo — Anteros retrucou, olhando-nos com atenção.
Senti a esperança se esvaindo, não poderia seguir meu plano sem a ajuda dele!
— Por favor, Anteros — pedi, suplicante, fazendo-o suspirar. — Só quero poder viver em paz com Hades!
Será que ele não percebia que, dessa maneira, só iria machucar seu amado irmão?
Anteros desviou o olhar para o horizonte, contemplando o brilho das estrelas, antes de voltar-se para mim, as mãos erguendo-se em minha direção. Uma onda de alívio me percorreu, como uma brisa fresca em um dia escaldante.
Um sorriso se espalhou pelo meu rosto, e um peso enorme saiu das minhas costas.
— Imunidade ao amor — ele murmurou, sério.
Ele estava me dando imunidade aos ataques que envolvessem esse sentimento. Senti seus poderes me preenchendo em cada célula do meu corpo, não contive o suspiro de alívio, pois agora poderia respirar tranquilamente.
— O que isso vai fazer exatamente? — Hades perguntou, olhando-o com desconfiança, ocasionando um olhar mordaz do deus, que suspirou irritado.
— Nenhuma flecha de Eros terá poder sobre a Sarah — Anteros explicou com a voz mecânica.
— Obrigada! — agradeci, sorridente, a ele, que sorriu malicioso em minha direção.
— Não deveria me agradecer, afinal, nem sei se funcionará. Combater diretamente os poderes de Eros é uma coisa, mas fazer isso através de outra pessoa... fora que ele não tem apenas suas flechas — Anteros decretou, sorridente, saindo do local, deixando Hades furioso.
Sabia disto desde o início, embora não pudesse perder as esperanças. No entanto, entendia a raiva de Hades.
Tomei o rosto dele em minhas mãos, fazendo seus lindos olhos roxos focarem em mim. A intensidade da raiva neles não me paralisou, pelo contrário, apenas aqueceu meu coração. A ternura em meus toques era um reflexo do amor que sentia por ele.
— Não fique bravo, eu tenho a essência dos poderes de Anteros, agora posso fazer um feitiço ou uma poção mais eficaz — respondi, sorridente ao Deus, que suspirou aliviado.
— Esse era seu real plano, não é? — ele perguntou, sorrindo.
Acenei, sorrindo marota.
Nunca tive a ideia de fazer Anteros ficar contra o próprio irmão, seria até injusto, embora fosse o certo. Meu plano sempre foi pegar a essência de seus poderes, era o mais inteligente, afinal, como o próprio Deus disse: os poderes dele poderiam não funcionar em terceiros.
— Vamos para casa? — escutei a voz carinhosa de Hades em minha direção.
Meu coração disparou no peito. A ansiedade em sua voz também me arrepiou.
Sorri, acenando, tudo que queria era sair dali e ficar sozinha com ele.
— Mas já vão? Ainda é cedo, por que não ficam mais? — Perséfone perguntou, triste, quebrando todo o encanto.
As lágrimas arderam nos meus olhos, mas as contive com força. A dor em meu peito era uma pontada aguda, uma mistura de raiva e tristeza profunda. A traição do seu olhar me atingiu como um golpe.
Esqueci da existência da deusa!
Olhei-a completamente irada, sentindo a raiva preencher cada célula do meu corpo.
— Por quê? Queria se esfregar no meu marido novamente? — perguntei à deusa, furiosamente, que sorriu marota.
— Quer que responda honestamente? — Perséfone retrucou, olhando-me desafiadora.
Ela estava agindo de propósito!
— Sua maldita, vou matá-la! — respondi, entredentes. Minha respiração estava ofegante, meu corpo tremia de raiva.
Minha mão foi em direção à bochecha da deusa, segurando-a com força. Estava com tanta raiva que minhas unhas foram lentamente afundando em sua pele, ocasionando um gemido de dor em Perséfone.
Queria matá-la, sabia que ela estava agindo com intimidade com seu marido para que eu visse, sendo solicita e amorosa!
A deusa o queria e nem negava o fato, isto me deixava puta da vida!
— Sarah, para! — Hades puxou meu braço com força, para me separar da deusa.
Olhei-o sem conter a mágoa, sabia que ele a defenderia, ele estava preterindo a maldita!
Como sempre!
Alcohol exite de sanguinem meum: Tire o álcool do meu sangue.
Quid uis: O que você quer?
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