Capítulo 16- Caminho do Daemon parteⅠ
Esse capítulo foi dividido.
As partes em Itálico são as lembranças de Sarah, tem algumas interações entre ela e o Daemon.
Capítulo possuí 3760 palavras.
Não conseguia manter a concentração. Após algumas horas, era como se um zumbido estivesse preso ao meu ouvido, incômodo e irritante, me deixando inquieta. Antes, poderia colocar a culpa nos meus sentimentos, já que nem consegui disfarçar quando cheguei na sala de Hécate, especialmente ao ver o sorriso maroto dela para mim.
Minha pressa para chegar também não ajudou, como se eu estivesse segurando uma enorme placa, anunciando que algo acontecia comigo. Hécate, é claro, percebeu, não apenas pela minha afobação, mas também pelas marcas que aquele idiota fez questão de deixar em mim.
As lembranças da nossa noite dançavam em minha mente, como um doce alento, aumentando minha ansiedade para vê-lo. Com o passar das horas, essa afobação transformou-se em angústia, e agora não consigo me concentrar. Quanto mais o tempo avançava, mais esse sentimento devastador se intensificava, a ponto de Hécate ir procurar uma erva específica para um chá calmante, pois ela conseguia sentir o que eu estava passando.
Não entendo esse sentimento, quando acordei, estava bem, mas meu coração apertado não me engana, é um mau sinal. Detesto estar assim, meus instintos nunca falham. Os pelos da minha nuca se arrepiavam a cada instante, e a situação piorou quando uma sombra surgiu na porta.
O servo adentrou o recinto, seu semblante agitado cortou qualquer palavra minha. Eles sabem que gosto de trabalhar na tranquilidade, e se ele está aqui, algo aconteceu.
— Sim? — minha voz saiu esganiçada, cheia de angústia.
— Minha senhora, me desculpe por interrompê-la, mas isto chegou — o servo me entregou um pequeno e bonito embrulho. Peguei-o intrigada, pensando que se tratava de um presente de Hades.
Meu sorriso morreu e um frio percorreu minha espinha ao ler o pequeno bilhete.
Não acredito que ele teve a audácia de me mandar um presente com isso escrito!
Agora entendo o motivo do meu nervosismo. Espero que Hades não tenha visto, pois é provável que esteja no Olimpo, tentando matar Eros.
— Hades viu isso? — perguntei, com medo evidente na voz.
— Senhor Hades viu e ficou furioso. Foi para o Olimpo — o servo respondeu, temor evidente em seu olhar.
Não precisei perguntar mais nada, só esperava que ainda houvesse tempo para impedir Hades de matar Eros!
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Não contive a surpresa ao ver Eros voando contra os enormes muros do Olimpo, com um ferimento no peitoral, enquanto Hades o olhava com fúria.
Os idiotas, em vez de se meterem, resolveram se esconder. Que deuses são esses?
Eros pareceu me notar, um sorriso ladino se formando em seus lábios, quando voltou o olhar para Hades.
— Aura do desejo — escutei o sussurrar de Eros.
Meu corpo agiu automaticamente, protegendo Hades do ataque. Os olhos de Eros arregalaram-se em choque, como se não acreditasse na minha reação. Isso chamou a atenção de Hades, que me olhou de imediato e voltou o olhar para Eros.
Pensei que já tinha visto Hades furioso, mas nada se comparava a esse momento. A fúria dele reverberava pelo ambiente, seus olhos roxos brilhavam com uma intensidade feroz, como duas gemas pulsando em puro ódio. Sua aura estava tomada por uma ira devastadora, irradiando uma energia que fazia o ar tremer ao seu redor. Cada fibra de seu ser parecia concentrada em um único objetivo: Eros.
A cada instante, seus músculos se tencionavam, cada partícula de poder focada no Deus do Amor, transformando Hades em uma força da natureza incontrolável e implacável.
— Isso é teu — ignorei minha surpresa e joguei o presente na direção de Eros, que o pegou surpreso.
— Não teve curiosidade de abrir? — Eros perguntou, com a voz melodiosa.
Sua aura se aproximou, envolvendo-me como uma onda de calor. Senti meu corpo começar a esquentar, e minha mente ficou levemente nublada pela intensidade do desejo que exalava dele. A luxúria de Eros era quase palpável no ar ao meu redor. Ele mordeu os lábios, sorrindo ladino ao notar meu olhar em sua direção.
Pisquei, atordoada, tentando manter meus sentimentos e emoções sob controle.
Maldito! Não acredito que ele está usando seus poderes para me manipular, me influenciando dessa maneira!
Ele quer que eu sucumba ao desejo na frente de Hades!
— Chega, Eros! — resmunguei, brava, fazendo-o sorrir.
— Amor, sente desejo por mim e a culpa é minha? — Eros perguntou, divertido.
Idiota!
— O que queria com esse maldito presente? — retruquei, irada.
— Apenas agradar à minha amada — Eros replicou alegre.
Pela visão periférica, observei Hades mirando o bidente em direção a Eros, que sorriu debochado.
— Você é um maldito! Mandou isso diretamente a Hades para causar tudo isso? É assim que diz me amar? — perguntei furiosa.
— Não tenho culpa de que ele não permitiu que nada chegasse a você sem passar por ele! — Eros retrucou, perverso.
Ele...
Hades não faria isso!
Além disso, não tenho ninguém. Meus pais estão mortos e os únicos para mim estão no submundo, então como Hades poderia estar controlando tudo ao meu redor?
O sorriso de Eros cresceu ao ver a dúvida em meu olhar.
— Como se eu a controlasse! — Hades rosnou com raiva.
Eros ergueu a sobrancelha, sorrindo ironicamente.
— Você forçou uma união com ela, não uma, mas duas vezes, e ousa dizer que não a controla? — Eros retrucou, irado.
— Maldito! — Hades segurou fortemente seu bidente, mirando na direção dele.
— Não aguenta a verdade! — Eros apontou o dedo para Hades. — Você sempre quis os poderes dela, nunca a amou de verdade. Por isso, sempre esteve ao redor da coitada da Perséfone, que também foi enganada por você!
Olhei confusa para Eros.
— Acha que ele casou com Perséfone por não a amar? — Eros resmungou, irado. — Não, ela apenas não era útil para ele!
Hades não me contou completamente sobre seu passado com Perséfone. Nem ao menos sei se quero saber a profundidade de seus sentimentos, mas não consigo entender por que, dentre todas, foi justamente com ela que ele se envolveu.
Os poderes de Hades oscilaram, mirando em Eros, que se preparou para atacar. Meu corpo agiu sozinho, se colocando entre eles.
— Basta! Um movimento e eu acabo com os dois!
Meu cetro surgiu, a pedra ao centro sempre reage às minhas emoções e, naquele momento, por conta da raiva, estava completamente negra.
— Hades! — Seus olhos se voltaram para mim. Ele suspirou irritado diante do meu pedido mudo para sair dali.
Seu olhar era pura raiva em minha direção. Saindo furioso, ele simplesmente deu as costas e um alívio me percorreu.
Olhei para Eros, que mantinha o sorriso debochado, mesmo com a mão sob o peitoral, estancando o sangue que fluía. Sua pele estava mais pálida que o normal, parecia que a qualquer momento ele desmaiaria.
Droga! Ele pode morrer!
— Sana omnia vulnera tua — sussurrei, olhando para seu peitoral.
O sorriso dele aumentou ao ver suas feridas se curando. Mesmo sabendo que seus pensamentos estavam vagando pelo caminho errado, não alterei o semblante.
— Sabia que se importava — ele sorriu em minha direção.
— Eros, não me importo com você, mas com a sua posição — declarei friamente. Ao ver seu sorriso maroto, suspirei. — Mesmo desprezando os deuses, não posso negar que são especiais.
— Está mentindo! Sabe que eu possuo poderes para me curar. Mesmo assim, usou sua magia em mim. Se preocupa comigo porque gosta de mim! — ele retrucou, com um enorme sorriso. — Não precisa confirmar, sua atitude fala mais que suas palavras.
Revirei os olhos, tirando o bilhete do bolso do meu vestido e segurando-o até que ficasse na mira dele.
— Incende chartam istam — queimei o bilhete sob seu olhar curioso. — Não terá uma próxima vez, pois ao invés de papel, queimarei você!
— Não acredito que seria capaz de me ferir, meu amor — ele debochou, apontando para o próprio peitoral curado.
— Você não significa nada para mim. Não é porque seu trabalho é importante que hesitarei em me livrar de você!
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A culpa me atingiu de uma forma que eu não esperava. Por mais que quisesse negar, sei que Eros tem uma certa razão. Não preciso tê-lo curado, ainda mais depois do que ele fez, mas ainda assim o fiz. Isso pode aumentar a tensão com Hades.
Como posso controlar minha confusão?
Não posso mais adiar, chegou o momento de descobrir o que realmente aconteceu, mesmo que isso me deixe apavorada.
— Soube o que aconteceu, como está? — Hécate me puxou para seus braços em um abraço carinhoso e maternal.
— Preciso saber de tudo! — Apesar da certeza, minha voz soou um pouco trêmula.
Hécate se afastou, sorrindo tristemente.
Sei que ela tem medo. Eu também tenho, pois não sei qual será minha reação ao descobrir tudo.
Estou me apegando cada vez mais a Hades. Se ele estiver mentindo, isso destruirá meu coração.
— Daemon.
Ao escutar seu chamado, um enorme lobo com pelagem totalmente negra apareceu. Reconheci-o de imediato. Seus pelos eram tão escuros quanto a noite, e seus olhos, como rubis de sangue puro, fixaram-se em mim, fazendo um sorriso involuntário surgir em meu rosto. Senti sua falta, desde que vim para o submundo, ele não aparecia para mim.
— Você me abandonou, Daemon. Não o vejo desde que passei a morar aqui — me aproximei, acariciando seu enorme pelo macio.
Ele bufou em contentamento, quase rindo de mim.
— Pedi que ele não viesse. Os lobos, como familiares, atraem a intuição, e você não estava pronta para saber de tudo — Hécate explicou, se aproximando de nós. — Como tomou sua decisão, não vejo motivos para que ele fique longe de você.
Entendi seus motivos. Realmente, não estava com o espírito pronto para ver a verdade, especialmente quando cheguei aqui. Saber da minha ligação com uma deusa desde que nasci é uma coisa, agora, toda a bagagem de outra vida é algo completamente diferente. Mas agora estou mais forte, mesmo com medo.
Medo não é sinal de fraqueza, é simplesmente nosso instinto de sobrevivência gritando para recuarmos. Há um motivo claro para que esqueçamos da outra vida, com ou sem magia para ajudar.
Olhei para Daemon, que começou a andar, chamando-me para segui-lo. Atendi o pedido obedientemente. Um portal se formou, e ele o atravessou, esperando por mim. Embora entendesse, não conseguia frear meus pensamentos, minha mente estava completamente confusa, a razão gritando contra meus sentimentos.
Queria ter clareza para pensar corretamente!
— Não precisa de razão. Siga sua intuição — a voz suave dele ecoou.
O outro lado do portal não ficava longe daqui, ainda estávamos no submundo, especificamente nos domínios de Hécate. Era um campo vasto e enigmático, feito para expandir a mente e tocar o espírito. Sentia meu corpo e espírito mais leves, quase flutuando. Olhei fascinada ao redor, percebendo que cada detalhe exalava magia antiga. O ar pulsava com uma energia mística, e a atmosfera era impregnada por um poder arcano que mexia com a mente e o espírito. Flores brilhavam com luz própria, e árvores sussurravam segredos esquecidos pelo tempo. Os sentimentos novos e antigos se misturavam em mim, trazendo um pouco de caos, mas também uma sensação de pertencimento e reconhecimento.
Daemon parou mais ao longe, seu olhar paciente em mim, esperando pela minha decisão.
— Sei o que quero, mas ainda tenho medo — admiti, me aproximando dele.
Daemon indicou com o focinho que eu me sentasse na grama à sua frente, seus olhos rubros fixos nos meus.
— Para descobrir a verdade, você precisa deixar seus medos para trás. Encontre a guerreira que está escondida aí — sua voz suave ecoou.
Suspirei, sentindo os olhos pesados. Fechei-os e entrei em meditação, tentando esquecer qualquer sentimento negativo.
"Não é a primeira vez, mas ainda é estranho ver meu espírito flutuar pelo passado. Percorro o cômodo com interesse. É um quarto parcialmente escuro, salvo pela luz encantadora da lua. A iluminação prateada entra pelas janelas, banhando o ambiente com um brilho etéreo, enquanto as sombras dançam contra as paredes, criando quase formas vivas.
O espaço é ricamente decorado com símbolos arcanos e runas antigas, e as estantes estão cheias de grimórios, com frascos de poções alinhados nas paredes. O ar está impregnado com o aroma de incensos, uma mistura de lavanda, mirra e sálvia, conferindo ao ambiente uma aura tranquilizadora e mítica.
Estou completamente confusa, embora encantada, até que ouço sons vindos do canto do quarto, onde se encontra uma luxuosa cama dossel, adornada com tecidos ricos em tons de roxo e dourado. Hécate está deitada sob a cama, vestida com uma camisola fina, e em seus braços ela segura um pequeno bebê, enrolado em uma manta branca.
Apesar da pouca iluminação, reconheço-me imediatamente, ao menos sinto que aquela sou eu como deusa. A pele da pequena é mais pálida e seus cabelos, mais escuros, mas ainda assim consigo ver as semelhanças.
Outra presença surge, o perfume doce dela preenche o ambiente, misturando-se aos incensos. Hécate sorri e mostra o bebê. Afrodite se aproxima, sorrindo, com Eros pequeno em seus braços.
Então, Eros fala sobre a bênção de Afrodite... Nós nos conhecemos ali...
— Que sua filha seja bela e tenha uma vida repleta de amor — declarou Afrodite, enquanto suas mãos se iluminam com um rosa puro em minha direção.
— Linda! — Eros exclamou, sorrindo de forma meiga para mim."
Minha visão tornou-se um borrão até mudar de forma, agora, em vez de ser apenas uma mera espectadora, participava avidamente da cena.
"Estava decidida a me atrasar, apenas para irritá-la. Ainda não consigo acreditar na audácia de me arranjar um casamento. Já rejeitei inúmeros pretendentes, não há motivos para aceitar agora. Posso muito bem me defender sozinha!
Que ideia ridícula a mamãe teve!
Não deixarei que decidam meu futuro. Não caso obrigada, nem que precise lutar por isso!
Nada custaria à mamãe se ela me escutasse ao menos uma vez na vida. Não sou contra o matrimônio, mas não quero imaginar minha vida como uma prisão, ainda mais com esses deuses tão frívolos.
Uma leve dor se espalhou pelo meu corpo. Arregalei os olhos ao notar que trombei contra alguém, indo ao chão no processo, tamanha era a distração.
— Perdão, eu não pres...
A voz ansiosa ecoou, atraindo meu olhar. Quando nossos olhos se conectaram, ele parou abruptamente de falar.
O olhar dele tornou-se mais intenso, e seus cabelos curtos, em tom de vinho, pareceram brilhar mais, deixando-me completamente constrangida. Conheço esse olhar, já o recebi demais quando passei a chamar a atenção pela minha beleza.
Um impulso de vontade de me afastar surgiu, mas ao invés disso, observei agitada ele estender a mão em minha direção.
Quando sua palma quente e pegajosa encontrou a minha, um formigamento desconfortável percorreu meu braço. Senti um frio na barriga, como se o toque dele fosse um lembrete de algo que eu preferia esquecer. Sua aura oscilou ao meu redor, irradiando uma energia que me deixou vulnerável e exposta. A conexão era quase palpável, mas eu não queria isso, não queria ser puxada em sua direção.
Sua presença começou a intensificar, mas ao invés de conforto, senti como se uma sombra pairasse sobre nós, trazendo à tona sentimentos desconfortáveis. A cada segundo, o peso em meu peito tornava-se mais opressivo.
Não estou gostando de sua atitude.
— Eu que peço desculpas, estava estressada e nem te vi — respondi, constrangida. — Estava distraída.
Suas pupilas dilataram e um sorriso surgiu. Cada instante, minha intuição gritava para me manter longe, mas dessa vez resolvi ignorar. Não é como se ele pudesse fazer algo contra mim.
É apenas um idiota encantado com uma mulher bonita, tanto que nem consegue disfarçar a malícia em seu olhar.
Odeio esse tipo!
— Machucou-se? — ele perguntou, parecendo preocupado ao me analisar da cabeça aos pés.
Será que ele poderia ao menos controlar sua luxúria?
— Não se preocupe, estou bem.
Olhei ao redor, tentando buscar uma maneira de fugir de sua presença.
— Aceita tomar alguma coisa? — sua voz melodiosa chamou minha atenção.
Ele quer me levar para sair, sem nem saber quem sou?
Esse idiota nem ao menos perguntou meu nome!
— Acho que...
Espere um segundo! Talvez essa seja a oportunidade perfeita do destino!
Estou no Olimpo, qualquer um pode me ver. Além disso, provavelmente vou chegar atrasada à reunião e os deuses vão se irritar. Com isso, não acontecerá o casamento!
— Claro, por que não? — respondi, sorrindo.
Ao menos, posso usar seu interesse a meu favor. Se ele ousar fazer algo, será aniquilado sem alarde.
༺۵༻
Está ficando um pouco desconfortável, principalmente pelo olhar ardente que ele me dirige, parece um maníaco!
Desviei o olhar, admirando a vista do ponto mais alto do Olimpo. Além de linda, é o lugar mais longe possível do local da conferência.
— Nunca a vi por aqui. Qual é o seu nome? — ele perguntou, ansioso.
Não deveria agir impulsivamente, aceitando seu convite. Ele claramente está querendo algo, pode até ser um dos deuses a quem minha mãe quer proteger.
Droga! Esses idiotas só querem mais poder, e isso tem enlouquecido minha mãe.
Talvez eu devesse escutá-la, ao menos exigir algo vantajoso na união com um dos irmãos do Olimpo.
— Sarah — respondi, ocultando meus poderes.
Ao menos isso, a extrema proteção da mamãe serviu.
— Sou Eros.
Essa não era a resposta que esperava. Não imaginei que o Deus do Amor fosse tão desgrenhado, ainda mais considerando as lendas que falam dele como alguém sempre imponente.
Espere... é por isso que estou desconfortável em sua presença?
Ele está usando seus poderes?
Olhei-o com cuidado, mas não consegui segurar o riso ao vê-lo desgrenhado.
— Pensei que o Deus do Amor fosse diferente, parece mais o Deus da Guerra — respondi, debochada.
Ele franziu o cenho, sem entender, o que aumentou meus risos.
— Suas roupas — expliquei, apontando para seus trajes — Parece que você acabou de voltar de uma batalha.
Eros percorreu o olhar pelo próprio corpo, e um rubor cobriu sua face. Sem demora, ele usou seus poderes para ficar apresentável, aumentando minha diversão.
Ele pode ser estranho, mas ao menos conseguiu deixar minha tarde mais divertida.
— De fato, não está muito longe da verdade — ele respondeu, meio sem graça. — Estava no mundo humano.
— Sério? Nunca estive lá!
Sempre estive ao lado da mamãe, que é extremamente protetora, ela jamais me deixou pisar no mundo humano e, no Olimpo, nem isso. Confesso que nunca fui do tipo rebelde, sem curiosidade de conhecer o mundo humano, mas deve ser divertido ver lugares diferentes.
— Posso te levar quando quiser — ele ofereceu, galante.
Droga! Não deveria ter aceitado seu convite. Percebi seu visível interesse e agora ele provavelmente terá esperanças.
Não imaginei que fosse tanto, mas a malícia em seu olhar falou por si, parecia uma criança diante de um brinquedo novo.
Senti meu corpo arrepiar e uma sensação estranha de estar em um jogo.
Esse é exatamente o tipo que devo manter longe... a palavra não é apenas um incentivo.
Preciso de uma desculpa para sair daqui. Seus poderes estão ficando mais evidentes, seu perfume intenso exalou de forma tão chamativa que, mesmo à distância, as deusas olham animadas para ele. Provavelmente, Eros está tentando chamar minha atenção com seus poderes, funcionaria se eu não fosse protegida pela mamãe.
Meu coração só pertencerá a quem realmente o merecer...
O calor sutil da mamãe me envolveu, diferente das outras vezes. Não foi acalentador, mas irritadiço.
Oh! Acho que a irritei além da conta!
Dificilmente ela me chama através da nossa ligação.
— Preciso ir. Estou atrasada para um compromisso — retruquei, levantando-me rapidamente.
O brilho em seu olhar ascendeu e um sorriso malicioso surgiu, como se ele estivesse realmente entrando em um jogo.
Melhor manter distância dele..."
Os únicos sentimentos por Eros sempre foram estranheza, ele não me amou verdadeiramente, se apaixonou e me quis, mas não passei de um jogo para ele, onde quanto mais difícil, mais sua conquista ficava significativa!
"Sorri ao me aproximar dela, talvez assim sua ira fosse aplacada, pois conseguia senti-la a quilômetros, sem precisar da nossa ligação.
Hécate cerrou os olhos e me senti como uma criança que havia feito besteira.
— Sarah, eu sei quando você mente para mim. Não esqueça que sou sua mãe! — ela resmungou, com o rosto mais rígido. — Vamos, já deixamos eles esperando demais!
Suspirei, exasperada.
Pelo visto, não tenho como escapar disso!
Os olhos negros, antes raivosos, se tornaram gentis em minha direção. Claro que ela me entenderia sem que eu precisasse verbalizar meus sentimentos. Não a culpo por querer meu bem, afinal, ela é minha mãe.
Sorrio em meio a uma careta, sentindo suas mãos fazendo um terno carinho em meus cabelos.
— Querida, sinto muito. Apenas pensei na sua proteção. Mas, se não quiser, acharei outro jeito. Tudo o que não quero é perdê-la! — Sua voz ficou mais doce, enquanto seus olhos se encheram de lágrimas. — Pensei que, sendo esposa de um dos irmãos da Grécia, você ficasse segura, pois, infelizmente, muitos estão de olho em seus poderes.
— Mãe, por que querem meus poderes?
Hécate sorriu triste.
— Eu a gerei sozinha, e, com isso, seus poderes são o dobro dos meus. Com o tempo, você ficará mais forte que qualquer deus. Tê-la ao meu lado será um privilégio, nada é mais útil do que conquistar seu coração para isso.
— Poder e ganância! — resmunguei.
— Sarah, com seus poderes, você pode até mesmo destronar Zeus. Quem não quer ser o líder no Olimpo?
É irritante saber que não tive escolhas pela forma como fui gerada!
— Filha, você está apaixonada por alguém? — Hécate perguntou, olhando-me com ternura. — É por isso que está tão contra o casamento?
Como se não me conhecesse, mãe!
— Não estou apaixonada por ninguém. Apenas me irrita saber que não terei escolhas. Não concordo, mas entendo.
Hécate sorriu em entendimento, dando o assunto por encerrado."
Então, esse foi o motivo de Hécate desejar o casamento: puramente para me proteger, mas ela não tinha poder suficiente para isso?
— Hécate é notavelmente forte, tanto que até mesmo Zeus a respeita. Mas, se houvesse uma luta por você, naturalmente ela perderia — Daemon retrucou, provavelmente não apenas escutando meus pensamentos, mas também vendo as mesmas lembranças.
— É tão difícil acreditar nisso — resmunguei.
— Sarah, nessa época os deuses recém estavam em paz, mas ainda havia alguns conflitos. Adamanto, ou melhor, Adamantine, não estava satisfeito com o reinado de Zeus. Claro que ele ainda não tinha feito seu movimento, isso ocorreu alguns anos após sua morte. Mas, se quisesse, poderia tê-la usado como arma.
É difícil imaginar minha vida de outra maneira, como uma mera arma nas mãos de um Deus. Mas não posso julgar, se as coisas fossem diferentes, talvez eu pudesse mesmo chutar a bunda de Zeus.
Daemon riu ao escutar meu pensamento, e eu não consegui segurar o riso.
É bom tê-lo ao meu lado, torna esse momento menos complicado...
— Chegou o momento das memórias mais importantes. Não deixarei que você reflita até ver todo o seu relacionamento com Hades — Daemon declarou.
Certo... chegou o momento da verdade.
Sana omnia vulnera tua: Cura todas as tuas feridas.
Incende chartam istam: Queima esta carta.
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