Capitulo 13 - A dor do Deus parte 2
🚨Esse é um capítulo sensível, pois possuí uma cena de menção ao suicídio🚨
É uma continuação das lembranças do Hades, está em negrito.
Contém 3970 palavras.
Boa leitura 💜
Nunca realmente precisei conquistar alguém, mas não acredito que será tão difícil. Não sou soberbo ao ponto de acreditar que ela vai cair aos meus pés somente pela minha boa aparência, longe disso. Entendo o que ela quis com esse desafio: além de fazer valer sua vontade, ela quer saber se estou disposto a ter algo real com ela e ver meu esforço para isso.
Será fácil manter contato com Sarah, embora estejamos no mesmo lugar. Afinal, a área de Hécate também fica aqui, ainda que seja mais distante. Não que isso torne as coisas impossíveis, especialmente com o livre acesso que a deusa me concedeu. Mas não posso aparecer de supetão, sinto que, além de deixar Sarah furiosa, seria uma atitude grotesca que detesto.
Embora saiba disso, não me impedi de aparecer nos domínios de sua mãe, esperando vê-la.
A noite estava esplendorosa, iluminada por um céu salpicado de estrelas que dançavam em homenagem a Hécate. O reino da deusa, oculto no submundo, resplandecia com uma beleza sobrenatural. Torres majestosas de cristal negro se erguiam, refletindo a luz celestial, enquanto uma brisa suave trazia consigo o perfume de flores etéreas e ervas místicas. O castelo, construído com pedras escuras que pareciam absorver a luz da lua, era uma obra-prima da arquitetura mágica, com arcos altos e janelas adornadas por vitrais que contavam histórias de deuses e mortais.
Cada canto do castelo era adornado com velas que lançavam um brilho suave, criando sombras que dançavam nas paredes, como se sussurrassem segredos de antigos mistérios. No ar, havia uma sensação palpável de magia, como se os próprios elementos estivessem em harmonia com o domínio de Hécate.
Ao entrar no quarto de Sarah, sou imediatamente envolvido por uma aura de mistério e poder. A luz suave das velas e tochas lança sombras dançantes nas paredes de pedra, criando um ambiente que parece vivo com magia. Cada chama reflete nos espelhos antigos, como se fossem portais para outros mundos, e não consigo desviar o olhar.
As tapeçarias em tons de preto e roxo adornam as paredes, simbolizando sua profunda conexão com a noite e o submundo. Detalhes em prata e dourado brilham como estrelas, lembrando-me de sua sabedoria e do poder lunar. Cada objeto parece escolhido com cuidado para refletir a essência dela, formando um espaço que respira seu espírito.
Em um canto, vejo uma coleção de chaves antigas penduradas, cada uma representando um segredo ou caminho que só ela pode desvendar. As estátuas de cães, seus fiéis guardiões, parecem vigiar o espaço com uma presença silenciosa e protetora. Sinto uma mistura de respeito e fascínio por esses símbolos de sua autoridade.
No centro do quarto, um grande caldeirão repousa majestoso, cercado por frascos de poções e ervas mágicas. A mesa de madeira antiga está coberta de pergaminhos e livros de feitiçaria, suas páginas repletas de conhecimento arcano. Imagino-a aqui, mergulhada em seus estudos, desvendando os segredos do universo.
Plantas e ervas estão espalhadas pelo quarto, trazendo um toque de natureza e vida ao ambiente. O aroma de incenso e ervas queimadas preenche o ar, misturando-se ao seu perfume floral e apimentado, criando uma sensação de tranquilidade e poder. Cada detalhe, cada objeto parece pulsar com a energia dela. Então a vejo, perto de sua cama dossel, um vestido negro que envolve seu corpo como um abraço, evidenciando sua pele pálida e delicada. A visão dela me deixa sem fôlego, é a mulher mais deslumbrante que já vi. Seu cabelo escuro emoldura seu rosto com um brilho etéreo e, em um instante, meu coração dispara com a beleza que se revela diante de mim.
Fico escondido nas sombras, a expectativa pulsando dentro de mim, até que ouço seu sussurro suave.
— Revela tuam praesentiam.
Um sorriso involuntário brota em meus lábios, ela certamente não pensou que eu me tornaria tão fácil de ignorar.
— Mas o que faz aqui? — sua voz, uma mistura de surpresa e leve temor, ressoou na penumbra, quebrando a magia do momento.
— Queria apenas lhe desejar uma boa noite — respondi, revelando uma rosa negra, sua cor profunda quase hipnotizante.
Aquela flor, frequentemente mal interpretada, para mim representava não apenas beleza, mas uma conexão única que apenas nós compreendíamos.
— Linda! — exclamou Sarah, seus olhos brilhando enquanto pegava a rosa em suas mãos delicadas.
Ver seu sorriso sincero fez meu coração disparar ainda mais. Era como se aquela simples flor conectasse nossas almas em um laço invisível, uma ponte entre nossos mundos.
— Ainda não sei quais são suas flores preferidas, então trouxe a minha — declarei, levando uma das mãos dela até meus lábios, onde depositei um singelo beijo.
Com um gesto suave, me dirigi à janela, respeitando seu espaço, mas a sua voz logo quebrou o silêncio.
— Tulipas vermelhas. Adoro tulipas vermelhas, pois significam amor-perfeito.
Virei-me, a curiosidade despertando em mim, e a vi tão interessada, como se quisesse compartilhar um segredo precioso.
— E rosas negras, o que significam?
— Nobreza, amor, seriedade... e o desejo de ficar eternamente junto à pessoa... — Ela hesitou, suas bochechas adquirindo um tom suave de rosa, uma pintura encantadora em seu rosto.
A cena era pura magia. Aproximando-me lentamente, observei seu corpo se encolher, mas não de medo, era um convite sutil, um chamado que não conseguia ignorar. Quando nossos corpos se tocaram levemente, segurei sua cintura com delicadeza e me inclinei até seu ouvido.
— Pessoa amada? — perguntei, a voz rouca, carregando toda a intensidade do momento.
Um arrepio percorreu seu corpo, e eu soube que estava tocando seu coração. A alegria em seu acenar me deixou extasiado. Com ternura, depositei um beijo suave em seu pescoço, afastando-me logo em seguida, lutando para manter o controle diante da tempestade de emoções que ela despertava em mim.
༺۵༻
Meus pensamentos estão sempre nela, como se não conseguisse escapar desse encanto. O quanto estou apaixonado... é impossível esconder. Todas as noites, antes que ela percebesse, eu deixava rosas sobre sua cama, observando de longe, esperando o momento em que ela as encontrasse. E, em vez de aparecer, mantinha o mistério, mesmo que tudo em mim gritasse para me aproximar. Ela sempre reagia com aquele sorriso, um brilho nos olhos que fazia meu coração disparar.
Quando passei a deixar bilhetes, eu me escondia apenas para ver sua expressão. Aquela felicidade marota dela me deixava completamente dominado. Meu coração explodia de alegria a cada pequeno gesto, a cada sorriso que ela me lançava. Mas, no fundo, o medo estava sempre ali, porque não tinha certeza de como ela reagiria ao meu pedido. E se ela dissesse não?
Nunca senti medo de nada, mas pela primeira vez estou conquistando algo precioso: seu coração. Não quero perdê-la antes mesmo de tê-la!
Sarah tornou-se parte vital em minha vida, tanto que não consigo imaginar minha existência sem ela. Tudo que quero é passar cada segundo ao seu lado, amando-a e tratando-a como a joia preciosa que ela merece ser tratada, pois para mim ela é o ser mais importante de todo o universo. Sou capaz de qualquer coisa apenas por um sorriso seu.
Passei horas planejando cada detalhe do momento em que faria a pergunta. O nervosismo pululava em meu peito, uma mistura de ansiedade e expectativa que me deixava inquieto. Cada cenário possível passava pela minha mente, mas a dúvida persistia: e se ela dissesse não?
Para minha surpresa, até mesmo meus irmãos se ofereceram para ajudar. Zeus, com seu sempre carismático jeito, sugeriu ideias grandiosas que iam de um banquete em sua honra a um espetáculo de raios. Já Poseidon, com seu habitual ar de desdém, justificou sua presença dizendo que "a honra dos deuses estava em jogo". Eu ri ao ouvir isso, conhecendo bem meu irmão. Sabia que, no fundo, ele só queria estar ali por mim, mesmo que nunca admitisse. Ele poderia se comportar como um deus imperturbável, mas havia um calor em seu olhar que deixava claro que ele se importava.
Adamantine, por sua vez, trouxe uma leveza ao clima pesado. Ele fez questão de lembrar que, independentemente da resposta de Sarah, o que importava era o que eu sentia. Suas palavras eram um bálsamo para minha insegurança, um lembrete de que o amor verdadeiro vale a pena, mesmo em meio a deuses e suas obrigações.
Enquanto me preparava, senti um calor subindo pelo meu rosto. Meus irmãos estavam ali, não apenas por dever, mas por amor. Isso me fez sentir querido, acolhido em um laço familiar que muitas vezes parecia distante. A pressão da expectativa dos outros se misturava à certeza de que eu não estava sozinho nesse momento crucial. Com a ajuda deles, a ideia de pedir Sarah em casamento se tornava mais palpável, uma possibilidade, ao invés de um fardo.
Respirei fundo, permitindo que a determinação se sobrepusesse ao nervosismo. Estava pronto para dar o passo mais importante da minha vida.
— Acho que está tudo perfeito!
Apesar de tentar disfarçar a ansiedade que me consumia por dentro, meus irmãos perceberam, sorrindo leve ao me deixar sozinho. Poseidon ficou por último, dedicando um olhar sério, mas sereno.
— Não tem como ela dizer não, somente um tolo não vê os sentimentos dela por você.
Suas bochechas ficaram vermelhas, antes mesmo que pudesse responder, ele saiu, deixando apenas a sensação quente em meu coração.
Maninho... até parece que não tem sentimentos!
A ansiedade sumiu ao ficar sozinho, o peso do pedido foi diminuído com as palavras de Poseidon. Se ele confia, é a verdade, pois ele jamais se dignaria a falar algo em que não acredita fielmente.
Os segundos se arrastavam, cada um pesando como se o tempo tivesse se detido. Meu coração disparava, ressoando em meus ouvidos, enquanto o nervosismo e a expectativa se entrelaçavam em meu peito. Havia combinado tudo com Hécate e, em um instante que parecia interminável, ela apareceria.
E então, como se invocada por meus pensamentos, lá estava ela. Linda e radiante, vestida com um longo vestido de seda que refletia o tom dos meus olhos roxos. Seus cabelos caíam em ondas suaves sobre as costas, capturando a luz de maneira mágica. Uma leve maquiagem realçava sua beleza natural, e seu olhar estava envolto em um brilho de encantamento ao ver o ambiente que preparei com tanto carinho.
O cenário era de uma beleza hipnotizante, decorado com pétalas de rosas negras e tulipas vermelhas, iluminado suavemente por lanternas que pareciam brilhar como estrelas em uma noite tranquila. A atmosfera era carregada de magia, como se o próprio submundo tivesse se transformado em um reino de amor. Quando ela se aproximou, senti meu coração acelerar ainda mais, e a gravidade do momento me fez ajoelhar-me, oferecendo-lhe o buquê que simbolizava tudo o que eu sentia: tulipas vermelhas para o amor-perfeito e rosas negras para a devoção eterna.
— A romã é um símbolo de amor e fertilidade — declarei, com a voz rouca, os olhos fixos nos dela, que brilhavam como dois lagos profundos. — Achei apropriado tê-la como testemunha.
Seus olhos, de um cinza doce e profundo, me encararam arregalados, e o rubor que coloriu sua face me deixou ainda mais cativado. Nunca a achei tão encantadora quanto naquele momento. Era como se a própria essência dela iluminasse o espaço ao nosso redor, tornando tudo mais intenso.
— Sarah... a troca da lua acontecerá hoje. Aceita se casar comigo? — perguntei, tentando manter a dignidade que um Deus deveria ter, mas por dentro, meu coração estava em pânico. Eu a amava loucamente, não havia mais espaço no meu coração para ninguém além dela. O simples pensamento de uma negativa me destruía por dentro.
A tensão do momento pairou no ar, e o mundo ao nosso redor pareceu silenciar. O tempo parecia estagnar, e tudo que eu podia ver era ela, tão perfeita, tão minha.
— Hades... Aceito — ela respondeu, sua voz doce como música, enquanto se atirava em meus braços.
O momento se transformou. Ao segurá-la, o calor do seu corpo contra o meu acendeu uma chama que eu não sabia que existia. Quando nossos lábios se encontraram, foi como se todo o universo se unisse em um único instante. Era um beijo de descoberta, um primeiro toque que prometia uma eternidade. Seus lábios eram macios e quentes, e eu senti uma onda de emoção varrer meu ser, como se cada batida do meu coração sussurrasse a confirmação de que ela era minha.
A paixão que eu guardara por tanto tempo explodiu em uma sinfonia de sentimentos: alívio, alegria, amor profundo. Era como se o mundo ao nosso redor tivesse desaparecido, deixando apenas nós dois em uma bolha de felicidade. O sabor dela, a suavidade do seu toque, tudo era novo e maravilhoso. Cada segundo daquele beijo parecia se estender, como se a vida tivesse se resumido àquele momento mágico.
E então, ao afastar-me lentamente, percebi que havia encontrado o amor da minha vida. A certeza de que nosso futuro seria repleto de promessas e felicidade me envolveu, e a felicidade que transbordava de seu olhar refletia exatamente o que eu sentia. Finalmente, ela era minha, e nada poderia se comparar à alegria que preenchia meu coração.
༺۵༻
Meus irmãos acharam precipitado deixar o casamento marcado para daqui a duas semanas, mas não podia esperar mais. Estávamos noivos há quase um mês, somente dei tempo para que ela planejasse tudo como sempre sonhou, afinal, é nosso momento, confesso que quero deixar tudo perfeito.
Já basta ela ter mudado a escolha de vestido, pois sem querer acabei vendo-o outra noite, por isso dei o ultimado das duas semanas. A minha defesa foi que queria lhe dar um colar, os diamantes apaziguaram a ira dela, mas ainda assim, o lindo vestido foi descartado. Sarah acreditava fielmente que não seria bom que eu o visse, queria uma surpresa, então simplesmente decidiu ter outro do zero.
Como se algo fosse me impedir de tê-la como esposa!
Casamos sob chuva de meteoros, mas não deixo de tê-la para mim!
A normalidade no submundo foi abruptamente interrompida com a gritaria dos servos, que adentraram na sala de reuniões. Eu me virei, irritado pela interrupção, mas a palidez em seus rostos me fez perceber que não era um assunto qualquer.
— O que aconteceu? — perguntei, sério.
— As almas do Tártaro foram libertas, estão soltas no mundo humano! — respondeu um dos servos, a voz trêmula de medo.
Logo hoje... finalmente teríamos um tempo nosso!
Suspirei, frustrado. Quanto mais rápido resolvesse o problema, mais cedo poderia voltar para ela.
༺۵༻
O caos que encontrei no mundo humano era inesperado. As almas fugitivas, aquelas condenadas por toda a eternidade, haviam escapado em um momento de fraqueza que me deixou irritado. Recuperá-las não foi difícil, mas o modo como haviam se livrado de mim... era intrigante e frustrante. Justo quando eu tinha um dia livre planejado para estar com Sarah.
Enquanto me afastava do tumulto, um grito ecoou pelo ar, cortando a tensão. Instintivamente, virei-me na direção do som, mas antes que pudesse entender o que estava acontecendo, algo atingiu meu peito. O impacto deixou meus pensamentos nebulosos, como se uma névoa tivesse se instalado em minha mente.
Então, em meio à confusão, a visão se tornou mais clara. Ajoelhada no chão, havia uma mulher de beleza estonteante, com um vestido que parecia brilhar à luz do sol. Meu coração disparou de pânico, mas não pela situação em que me encontrava.
— Perséfone! — gritei, a preocupação transparecendo em minha voz enquanto corria até ela, segurando-a com carinho.
Ela olhou para mim, um sorriso brincalhão dançando em seus lábios, como se a gravidade do momento não a afetasse.
— Estava indo visitá-lo, mas veja só... meu vestido me derrubou! — respondeu, como se nada fosse grave.
Suspirei, sentindo um alívio profundo ao vê-la saudável, mas quando seus olhos se encontraram com os meus, uma onda de emoções desconhecidas me invadiu. Era como se toda a irritação e frustração que eu sentia desaparecessem em um instante. O calor que emanava dela era irresistível.
Enquanto a ajudava a se levantar, percebi que a conexão que sentia era avassaladora. Os sentimentos por Sarah, que antes preenchiam meu coração, se esvaíram como fumaça ao vento. Tudo o que eu queria agora era estar ali, naquela fração de segundo, com Perséfone.
Era uma paixão instantânea, intensa e incontrolável, que parecia desviar toda a minha atenção. O que eu queria era resolver logo os problemas e voltar ao submundo, mas, de repente, a única coisa que importava era a presença dela. O sorriso dela, o brilho nos olhos, a leveza do momento... tudo parecia chamar por mim.
A luta interna que pensei que teria entre responsabilidade e amor se dissipou, e eu me vi completamente consumido pela nova emoção. O que deveria ser um retorno tranquilo ao submundo tornara-se um turbilhão de sentimentos, e, pela primeira vez, a ideia de Sarah parecia distante e irrelevante.
Afinal, ali estava a deusa que poderia iluminar minha eternidade. Perséfone, com seu jeito despreocupado e encantador, transformou o caos em beleza, e eu, naquele instante, sabia que havia encontrado algo completamente novo e arrebatador.
༺۵༻
Eu dispensei a todos. Nada mais importava além dela, mesmo vendo que Perséfone estava bem. Havia algo dentro de mim que exigia estar perto, que me prendia à necessidade de sentir sua presença. Ela sorriu na minha direção, um sorriso que sempre me desarmava. Sem dizer uma palavra, ela se sentou no meu colo e nossos lábios se encontraram como se fosse a coisa mais natural do mundo. O beijo foi intenso, cheio de volúpia, mas algo estava errado. Eu senti. Era um desconforto estranho, uma sombra se aproximando.
Ela se afastou suavemente, o suficiente para mordiscar meu ouvido de maneira provocante, como só ela sabia fazer.
— Amor, parece que alguém não obedeceu você... Temos visitas — ela sussurrou, e aquilo despertou uma irritação imediata em mim.
— Já disse que não quero ser incomodado! — resmunguei, furioso. Meus olhos ainda estavam nela, naquele sorriso doce que, de alguma forma, começava a me irritar.
— Querido, você precisa dizer a todos o que decidiu — ela murmurou, beijando-me de forma carinhosa, como se quisesse me acalmar.
Suspirei, olhando-a por alguns segundos. Como poderia ter esquecido? Claro que não me esqueci do casamento, apenas não havia comunicado a todos como deveria. Isso era um erro meu, uma falha que agora pesava.
— Casarei com Perséfone. Ela será a imperatriz do submundo. Agora, saia! — declarei, sem paciência, irritado com a presença que nos interrompia.
Ouvi os passos se afastando, mas aquilo não trouxe alívio. Pelo contrário, uma dor insuportável começou a se espalhar pelo meu peito, como se algo vital estivesse sendo arrancado de mim. Coloquei Perséfone de lado, afastando-a dos meus braços, e senti um vazio abissal.
— Querido, o que houve? — a voz dela não soava mais melodiosa, apenas distante.
Tentei responder, mas as palavras me escaparam. Então, um estrondo reverberou no ar. Hécate surgiu diante de mim, sua fúria transparecendo em cada passo.
O que estava acontecendo?
— O que pensa que fez, Hades? Por sua culpa, Sarah se matou! — ela gritou, e cada palavra era como uma lâmina afiada, cortando meu coração em pedaços.
Caí de joelhos, paralisado pelo choque e pela agonia. As lágrimas escorriam pelo meu rosto, mas eu não podia acreditar. Não, não era possível. Sarah... minha Sarah... ela não poderia ter feito isso.
A dor se transformou em um desespero insuportável. O que eu faria sem ela? Havia sonhado com o futuro ao seu lado, com um amor que parecia tão real, tão palpável. Agora, tudo isso estava desmoronando diante de mim.
Olhei para Hécate, que transbordava de raiva e tristeza. Eu reconheci aquele olhar. Ela também estava sofrendo, mas a culpa a consumia. E se eu tivesse estado lá? E se eu tivesse percebido o que estava acontecendo? O peso da responsabilidade me esmagava.
— Hécate, espere! Hades não tem culpa! — a voz de Afrodite ecoou, interrompendo meu tormento.
Virei-me para ela, com um coração dilacerado. Eros estava ao lado dela, seu semblante abatido. O que estava acontecendo? O que eles sabiam que eu não sabia?
— Hades subiu para resolver alguns assuntos, e Eros o flechou sem querer... Quando ele viu Perséfone, se apaixonou — Afrodite explicou, e cada palavra batia como um martelo em minha mente.
Uma onda de confusão e raiva me envolveu. Como isso era possível? Enquanto meu coração se despedaçava, a raiva começou a crescer dentro de mim. Como ele ousava brincar com os sentimentos de outros? Levantei-me, furioso, mas a dor me paralisava.
— Sem querer? Tem noção do que fez, maldito? — rosnei, avançando na direção dele.
O soco que lhe dei parecia pequeno diante da dor que sentia. Queria destruí-lo. Queria que ele pagasse por isso. Mas, no fundo, eu me sentia perdido, como se estivesse navegando em um mar de desespero, sem saber qual direção seguir.
— Se fosse minha noiva, eu não a trocaria por nada! — Eros gritou, arrogante, seus olhos cravados nos meus.
As palavras dele me atingiram como um soco no estômago. Meu amor por Sarah, que havia sido tão forte, agora parecia um eco distante. Eu estava em conflito, dividido entre a raiva e a confusão. Como isso poderia acontecer? Como eu poderia ter deixado isso acontecer?
— O que você disse? — Hécate perguntou, chocada.
A verdade começou a emergir, e eu me sentia afundar ainda mais. Eros havia feito tudo por egoísmo. Ele causou tudo isso...
— Então, você causou tudo isso... Por ciúme? Usou sua flecha em mim, e isso custou a vida dela! Esse é o amor que sente por Sarah? — perguntei, minha voz trêmula, um misto de raiva e desespero.
A dor de saber que havia perdido Sarah era insuportável. A ideia de que a vida dela poderia ter terminado por causa de um capricho de Eros me fazia querer gritar. Queria que a dor saísse de mim, mas não havia como escapar. Era como uma corrente que me puxava para o fundo.
— Hades, por favor, não mate meu filho! — Afrodite suplicou, chorando.
Eu olhei para ela, o ódio e a dor misturando-se em meu peito. Sabia que precisava de um alvo, alguém em quem despejar minha frustração.
— Sabia da trama dele? — perguntei, meu olhar mortal.
— Ninguém sabia! — Eros respondeu, ainda desafiador.
A raiva e o desespero queimavam dentro de mim, me consumindo. O vazio deixado por Sarah era insuportável. O que eu faria sem ela? Eu não podia continuar assim.
— Se me matar, me unirei a ela — Eros retrucou, sorrindo.
O perfume dela encheu o ar, e eu me senti enojado. Era um lembrete de tudo que havia perdido, de tudo que poderia ter sido. Soltei-o com brutalidade.
— Não vou matá-lo. Vai viver com o peso de sua culpa. Isso será pior do que a morte — declarei, minha voz fria, sentenciando-o à dor que eu mesmo estava enfrentando.
Mas mesmo enquanto falava, o desespero continuava a girar em torno de mim, como um vórtice sem fim. Eu estava perdido, preso entre a dor da perda e a confusão de sentimentos. No fundo, sabia que algo havia mudado para sempre. Sarah estava perdida, e eu havia me tornado uma sombra do que poderia ser, sufocado pela dor e pela ansiedade, em um desespero que parecia não ter fim."
Seu corpo deu um solavanco ao terminar de ver minhas memórias. O olhar incrédulo, sem acreditar no que viu, ela sabe que não foi sem querer que o Cupido fez de propósito!
— Sarah, você está bem? — perguntei, preocupado.
— Honestamente, não. Eros fez isso porque estava apaixonado por mim? — ela retrucou, completamente confusa.
— Ele não estava apaixonado. Aquilo não era um sentimento bom, sentimentos bons não fazem você sofrer. Por causa dos sentimentos dele, você morreu!
— Sim, tem razão. Mas por que me contar tudo isso?
— Sarah, você se lembra da nossa festa de casamento? Quando Eros veio nos cumprimentar?
— Sim.
— Ele não desistiu de você. Ele deu um aviso. Eu quis que você visse tudo com detalhes, para que soubesse que não escondo nada. Sou completamente honesto. Ninguém resiste às malditas flechas dele. Eu só soube de você quando ouvi seu nome. Naquele dia, não ouvi sua voz, só escutei Perséfone resmungando — expliquei, olhando-a com cautela.
— Confio em você — ela respondeu, aproximando-se de mim, sentando em meu colo. — Obrigada por me mostrar — suspirou, beijando-me suavemente.
Revela tuam praesentiam: Revele sua presença.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro