Capítulo 12- A dor do deus parte 1
As lembranças do Hades está entre aspas e em itálico.
Contém 3800 palavras.
Boa leitura 💜
Estar junto dela, apenas desfrutando de sua presença e conversando sobre trivialidades, era tudo que eu sempre quis. Conhecer seus gostos, mesmo os mais sutis. Apesar de já conhecer sua personalidade e seu jeito de ser, percebia que algumas coisas mudaram, ela não era mais a mesma de antes. O que mais me alegrava era saber que Sarah também estava curiosa sobre mim. Era divertido ver seu rosto ansioso, sempre querendo saber mais, especialmente sobre minha vida, enquanto o passado e nosso romance eram temas que não mencionávamos. Isso só aumentava minha curiosidade a cada instante.
O riso dela ecoou pelo ambiente, e eu ri junto, mesmo que não gostasse muito dos seus cunhados. Ela adorava escutar as histórias que eu tinha com meus irmãos, afinal cuidei deles desde que eram bebês. Apesar de ser apenas uma criança, embora fosse difícil, essas lembranças eram boas.
— E seus pais? — a pergunta me pegou desprevenido.
Meu pai foi morto pelo irmão mais novo durante a titanomaquia. Não era um assunto sensível, ele mereceu o que aconteceu. Só de lembrar do que fez meus irmãos passarem, meu sangue fervia.
Esse miserável não merece nem ao menos o título de pai, foi apenas quem nos passou os genes!
— Hades, se não quiser contar, tudo bem — ela murmurou, segurando delicadamente minha mão, com um sorriso suave no rosto.
— Cronos foi morto por Zeus. Não o considero meu pai, nem mesmo meus irmãos. Ele apenas nos passou os genes, o verdadeiro significado da palavra não cabe a ele. Já Réia fez o que pôde, não a culpo por ser um tanto negligente, afinal ela ainda nos ajudou, mas nunca se recuperou dele e acabou se entregando à morte — respondi, quase em um sussurro.
— Eles estão...
— Sim, no Tártaro. Mas não os vejo e nem quero. Cuidei dos meus irmãos desde crianças. Quando Damas... Adamantine nasceu, eu tinha oito anos e precisei aprender a cuidar dele sozinho. Réia me escondeu no Submundo, para evitar que Cronos me matasse. Não a via, apenas uma serva leal a ela, que foi morta quando meu pai descobriu que estávamos vivos, isso após a titanomaquia. Três anos depois do nascimento de Damas, Poseidon chegou, sempre sério e compenetrado desde bebê. Eu já era um pouco mais velho, mas ainda assim tive que cuidar dos dois. Nenhum deles me deu tanto trabalho quanto Zeus, esse foi um verdeiro pestinha desde criança — respondi isso com um tom de riso, e ela olhou para mim, como se já imaginasse.
— É lindo o amor que você tem por eles. Vejo o quanto são importantes na sua vida — ela murmurou, encantada.
— Meus irmãos são tudo para mim. Faria qualquer coisa por eles — respondi sem hesitar.
Esse amor foi o que me fez levantar durante anos, enfrentando centenas de titãs para protegê-los. Não me gabava disso, era apenas minha obrigação. A felicidade deles era a minha, assim é o laço fraterno. Um leve rubor cobriu meu rosto quando a vi olhar para mim com tanta intensidade. Era uma expressão intensa e protetora, essa era a sua marca registrada.
A conversa se estendeu por horas. Quanto mais eu falava, mais curiosa ela parecia. Respondia a tudo avidamente, mesmo vendo-a ser evasiva com algumas perguntas e até receosa em fazê-las. Mas, de tudo, ela não quis saber do nosso passado, sequer teve a curiosidade de perguntar sobre nós dois.
— Sarah, entre todas as perguntas que você já fez, me intriga que você não pergunte sobre nosso passado — olhei-a com curiosidade.
— Hades, já lhe disse que não sou a mesma. Se esqueci, é por um motivo — respondeu, com um tom arisco.
Seus olhos cinza faiscavam, e a raiva que ela emitia se tornava difícil de controlar. Eu entendia seu receio sobre querer saber sobre o passado, mas não queria deixar esse espaço em branco, especialmente depois da leve ameaça de Eros. Aquilo foi um aviso claro, não o deixaria escapar dessa vez!
— Como você tem tanta certeza de que não é a mesma? — retruquei.
— Bom, para começar, eu jamais me mataria por alguém. Era provável que eu matasse você — ela respondeu, irônica, levantando minhas sobrancelhas.
Isso sempre me intrigou. O fato de ela ter pensado em atentar contra a própria vida era incompreensível. Sua raiva deveria ser direcionada a mim, e, apesar da tristeza, ela nunca cometeria um pecado desse. Não a minha Sarah, a guerreira formidável que enfrentava diversos deuses nas reuniões, apenas para dar sua opinião sobre a humanidade, escolhendo sempre salvá-los. Ela jamais foi mulher de fugir, o que tornou a sua morte mais dolorosa e traumática.
— Tirando essa parte — resmunguei, contrariado.
Os olhos dela fixaram-se nos meus por longos segundos, como se estivesse medindo minha reação. A magia ao seu redor começou a crepitar e entendi que entrei em um terreno perigoso, pois ela estava se irritando.
— Hades, você quer a mim ou o amor que perdeu? — perguntou, séria.
— Você e o amor que perdi são uma só — respondi, pegando suavemente sua mão. Ela revirou os olhos, contrariada.
Era engraçado vê-la assim, suas ações eram as mesmas de antes. Eu poderia apostar que ela cerraria os olhos para mim. E, como se estivesse respondendo aos meus pensamentos, ela fez exatamente isso, fazendo-me rir levemente. Era a minha Sarah, só um pouco diferente, mas sua essência permanecia a mesma.
Por que ela não vê isso?
— Posso provar a você — afirmei, com um sorriso brincalhão.
— Perguntas e respostas, sério? — ela perguntou, debochada, adivinhando meus pensamentos.
— Apenas coisas que nunca disse a ninguém — retruquei, olhando-a com intensidade. Depois de alguns minutos, ela assentiu.
Ela ficou em silêncio, como se procurasse algo profundo dentro de si. Seus olhos estavam focados em meu rosto sereno, e eu percebia cada linha de seu pensamento. Aquilo seria mais divertido do que eu imaginei.
— O que mais odeio na bruxaria? — ela perguntou em tom de desafio, sorrindo maliciosamente.
— Adivinhar o futuro, pois ele é imprevisível e as pessoas tendem a interpretar errado — respondi, um tanto esnobe, fazendo seu sorriso desaparecer.
Não disse que é a mesma?
— Meu animal favorito? — ela desafiou, fazendo-me rir alto.
— São vários, você respeita a todos, mas tem um com quem você tem uma ligação especial: um lobo negro que te acompanha desde sempre. Seu nome é Daemon.
O olhar perplexo dela, seguido do seu rosto pálido, me divertiu. Sabia que nem mesmo seus pais adotivos conheciam o lobo, que aparecia apenas para ela, provavelmente pela sua forma humana, apenas em sonhos. Eu o vi poucas vezes no passado, e após sua morte, o lobo começou a ficar perto de mim. Aquilo me reconfortava, pois sentia sua presença ali. Um dia, no entanto, ele sumiu, assim como todas as minhas lembranças dela.
— Mas o quê? Como sabe disso? — ela perguntou, perplexa, o que me fez rir novamente.
— Daemon foi dado a você quando era deusa. Ele cresceu com você e provavelmente nunca a abandonou. Aliás, ele costuma ficar muito com Hécate aqui no submundo, quando não está te vigiando — expliquei, achando graça do seu rosto aturdido.
Era provável que ela estivesse praguejando, pois eu via seu rosto vermelho de raiva. Mas eu a conhecia bem demais. Era preciso mais do que aquelas perguntas simples. Eu havia perdido a conta de quantas vezes ela reclamara que as pessoas queriam prever o futuro e depois se queixavam das previsões ou as interpretavam errado. Ela era a deusa da magia, intimamente ligada às bruxas, como sua mãe Hécate.
— Então, convenci você? — perguntei, divertido ao vê-la bufar.
— Certo, o que você quer tanto que eu saiba? — ela resmungou, contrariada.
Não conseguia entender por que ela era tão resistente a isso, especialmente quando queria contar a verdade. Pensei que ela insistiria no assunto, mas, pelo contrário, ela nunca falava nada e sempre trocava de assunto rapidamente. Era algo que eu não conseguia entender.
— Por que você evita tanto o passado? — perguntei, confuso.
— Já pensou que eu posso odiar você ao invés de amá-lo ao saber a verdade? — ela respondeu, arrogante, fazendo-me bufar em resposta.
— Não tenho medo disso. Quero que me conheça por inteiro, assim como quero conhecer você.
— Pensei que já conhecesse — retrucou, esnobe, fazendo-me sorrir fracamente.
— Sarah, sua essência é a mesma, mas não sou idiota ao ponto de não ver que você mudou. Milênios se passaram, agora você é mais forte, tanto física quanto emocionalmente.
— O que você quer que eu lembre? — perguntou, rendida.
— Quero falar sobre como nos conhecemos, como te conquistei e como tudo acabou. Posso? — perguntei, olhando-a com cautela. Depois de refletir, ela assentiu.
— Vou usar um feitiço para acessar suas memórias, você pode escolher as que quer mostrar — resmungou, mas eu neguei.
— Pode olhar à vontade.
— Tem certeza? — ela perguntou, hesitante.
— Quero que saiba de tudo. Não tenho nada para esconder.
— Aditus ad memoriam.
"O Olimpo se tornou um lugar tranquilo e sem guerras, embora não tanto quanto o Submundo. Desde que assumi o reinado ali, raramente subia até os céus, não é necessário fazer vista grossa, apesar de idiotas e fanfarrões, meus irmãos sabem comandar corretamente o lugar. Quando ia até o Olimpo, era apenas por questões de suma importância, visto meu trabalho constante. Embora isso aumentasse a saudade dos meus irmãos, mesmo eles negando, também sentiam o mesmo, visto que costumavam a me visitar com frequência.
Após um tempo da Titanomaquia e Gigantomaquia, a calma reinante é um alívio imenso, não apenas por saber que meus irmãos estão seguros, mas pelos problemas finalmente terem cessado. Embora admita que me sinto solitário a maior parte do tempo, ao menos posso me distrair com o trabalho constante.
Apesar da solidão, recusei os diversos convites de Zeus para suas inúmeras festas, preferindo a calma de Helheim. Dessa forma, evitava dores de cabeça, visto que deuses diversos com problemas em concordância sempre davam em uma pequena disputa, a qual virava um caos maior. Sempre que saía, era apenas para resolver um problema entre meus irmãos, pois o Submundo é um problema inteiramente meu. Apesar de obedecer a Zeus como meu soberano, meu reino é à parte, os problemas aqui são resolvidos por mim, sem a interferência do Olimpo.
Talvez todos pensem que sou eremita!
O som de passos despertou meus pensamentos. Meu olhar voltou-se para o servo que se prostrou à minha frente, segurando um pequeno bilhete. Reconheci de imediato o selo, sabendo que comemorei cedo demais a tranquilidade.
— Senhor Zeus, mandou, é de extrema urgência — anunciou o servo, colocando o bilhete em minhas mãos antes de me deixar a sós.
Suspirei e rompi o selo, a curiosidade crescendo em meu peito. As palavras dançavam na página enquanto eu as lia. Levantei-me e segui em direção à conferência que pedia a presença dos irmãos do Olimpo. Era uma reunião especial, sempre que um deus importante nascia, algo assim acontecia. E, apesar de a deusa mencionada já ter alguns anos, parecia ser um assunto mais sério do que apenas sua presença.
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O caminho até o Olimpo foi rápido. Não precisei andar muito até a sala de reuniões e, ao entrar, escutei os resmungos de meus irmãos sobre o assunto. Ao me verem, notei seus olhares se voltarem para mim. Pareciam os mesmos, apesar do tempo.
— Hades! — exclamou Zeus, animado, me envolvendo em um abraço caloroso. Sorri diante de sua empolgação.
— Você não mudou nada, maninho. Calma aí — respondi, retribuindo o abraço.
Me soltei e me virei para Adamantine, que me olhava sorridente. Eles sempre foram os extrovertidos. Sorri ao puxá-lo para um abraço, senti a falta que ele também.
Uma leve tosse interrompeu nosso momento. Não precisei olhar para saber que Poseidon estava com o semblante amarrado. Era sempre assim, mesmo que não demonstrasse, seu ciúme em relação aos irmãos era evidente, e a atenção sempre tinha que se voltar para ele.
Quantas disputas não tive que aguentar conforme eles cresciam, visto que sou a figura paterna dos três?
— Vamos logo com isso! Não vim aqui para ver essa demonstração excessiva! — resmungou, contrariado, o que me fez rir.
— Também senti sua falta, maninho — respondi, bem-humorado, e o vi revirar os olhos.
Sentei-me à mesa, seguido por eles, e olhei intrigado para Zeus, que mantinha um semblante neutro, enquanto os outros pareciam ansiosos.
— Por que essa reunião? — perguntou Adamantine, olhando para Zeus.
— Hécate me pediu para falar com vocês três. Ela tem uma filha, a deusa da magia, como sabem, o comunicado do nascimento dela foi um tanto sigiloso. Hécate é muito protetora com ela. Seu nome é Sarah, ela é extremamente habilidosa como a mãe e possui uma beleza que faria Afrodite se sentir invejosa, visto que a própria a abençoou em seu nascimento — começou Zeus, deixando-nos em choque.
Conhecíamos seu nome, mas nunca a havíamos visto. Hécate sempre foi muito protetora com ela.
— A beleza dela começou a despertar a atenção dos outros, ela começou a seguir os passos de sua mãe, está trabalhando junto a ela. Houve um ataque enquanto Sarah estava na fronteira com o Olimpo, um Deus menor se apaixonou por ela e tentou pegá-la, mas ela se defendeu, mas isso atraiu a atenção dos demais. Hécate teme isso, pois sua filha possui um poder imenso.
— Ela é tão poderosa assim? — perguntou Poseidon, intrigado.
— Sim. Hécate mesmo confessou que o poder dela pode superar o dela. Com essa beleza, ela se torna um alvo, qualquer Deus ganancioso pode querer usá-la para seus próprios fins — revelou Zeus.
A compreensão começou a se formar em minha mente. Outros deuses poderiam visá-la para obter mais poder. Um amor poderia ser uma grande arma, se usado corretamente, e era isso que Hécate temia. Sua filha, sem experiência em relacionamentos, não conhecia os perigos que a cercavam.
— Qual é o plano de Hécate? — perguntei ao irmão mais novo, que olhou seriamente para nós.
— Ela quer dar a mão da filha a um de vocês três — respondeu Zeus, com seriedade.
Eu já imaginava que seria algo assim. A deusa pertencia ao panteão grego, então era lógico oferecê-la a um deus desse panteão, garantindo sua proteção. Ninguém se atreveria a tentar contra nós. Olhei para os irmãos, que pareciam surpresos e um tanto relutantes.
Claro, Damas e Poseidon são mulherengos natos, não querem perder isso agora.
— Ela é a deusa da magia, combina melhor com o Hades — comentou Adamantine, fazendo-me erguer a sobrancelha, incrédulo.
Filho de uma gárgula!
— Os poderes dela se complementam perfeitamente com os seus. Ela poderia viver no submundo, ao lado de Hécate, mas em um espaço seguro. Além disso, não estou interessado em casamento, e não quero que a pobre seja infeliz com Poseidon. Imagine o inferno que seria estar casado com esse idiota — explicou Adamantine, risonho.
Contive o riso ao ouvir sua última fala, especialmente ao ver o semblante irritado de Poseidon. Senti que, a qualquer momento, ele partiria para cima do mais velho. Olhei-o com advertência, não estava com paciência para suas brigas infantis. Poseidon suspirou, resignado, e virou-se para o lado, sem dizer mais nada.
Analisei cuidadosamente a proposta. Casamento era um assunto sério, não algo a ser tratado levianamente. Não negaria a proteção à filha de Hécate, mas não via necessidade de estar unido a alguém sem amor. Não queria um casamento como o de meu irmão mais novo.
— Acredi...
Antes que pudesse retrucar, um aroma floral e levemente picante invadiu o ambiente, como o doce perfume do paraíso, irresistível e hipnotizante. Instantaneamente, meus sentidos se aguçaram, e eu me voltei para a porta que se abriu levemente. Hécate entrou, acompanhada do ser mais deslumbrante que já vi. Assim que meus olhos se fixaram nela, o tempo pareceu parar, nada mais existia além daquela presença magnética. Seus cabelos, negros como a noite mais profunda e ondulados como um mar em fúria, caíam em cascata ao redor de seu rosto. Meu coração disparou ao encontrarmos os olhares, os dela eram de um cinza profundo, como o céu prestes a se abrir em tempestade.
Naquele instante, o universo parecia ter parado, e eu me perdi na imensidão de sua essência. Nada mais importava além de sua presença, que envolvia cada espaço ao meu redor como um manto suave e irresistível. Meu corpo reagiu de forma instantânea, deixando-me atônito e vulnerável. Nunca havia experimentado algo assim na presença de uma mulher. Embora não fosse um jovem descontrolado, senti como se um furacão de emoções avassaladoras tivesse tomado conta de mim. O calor subiu à minha pele, meu coração pulsava em um ritmo frenético, e cada fibra do meu ser estava em alerta, como se ela fosse a única coisa que importasse no mundo. A mistura de desejo, admiração e uma inquietante sensação de entrega me envolveu, e eu soube, naquele momento, que nada seria igual a partir dali.
— Espero não estar atrasada — ouvi a voz de Hécate.
Meu olhar não saiu dela. Fiquei completamente hipnotizado enquanto ela se sentava à minha frente. Meu coração disparou ao encontrar seu olhar, e o tempo pareceu parar por um instante. Naquele momento, percebi que não haveria outra, ela seria a minha esposa.
— Chegou na hora. Acabei de falar sobre seu pedido — respondeu Zeus, e Hécate assentiu.
Ao contrário da calma de Hécate, sua filha pareceu insatisfeita, sorri divertido ao vê-la revirar os olhos. Claramente, ela não estava animada com o assunto, e eu a entendia, as opções dela eram limitadas.
— Não está contente com o arranjo? — perguntei, curioso, fazendo-a suspirar.
— Claro que sim. Todas nós sonhamos em nos casar forçadas — Sarah retrucou, e não pude evitar uma risadinha discreta.
Ela tinha um gênio forte, e isso me deixou ainda mais admirado. Tudo ao seu redor parecia me puxar para ela de uma maneira inexplicável.
— Então, já decidiram entre si? — Hécate perguntou, chamando minha atenção. Desviei o olhar para ela, que nos observava com expectativa.
— Sarah será minha esposa — declarei, sentindo os olhares zombeteiros de meus irmãos. Sabia que ouviria comentários, mas naquele momento, não me importei.
— Oh!? Será maravilhoso, Hades! — Hécate comemorou, visivelmente feliz.
Sarah se levantou, brava, e voltei meu olhar para ela. Suas bochechas vermelhas me fizeram sorrir de maneira travessa. Eu podia ver a raiva transbordando de cada poro de seu corpo.
Como ela pode ser linda até brava?
— O que quero não conta? — perguntou furiosa, fixando seus olhos em mim.
— E o que você quer? — desafiei, curioso.
Os olhos dela faiscavam em minha direção, como se guardassem segredos prontos para serem revelados em uma batalha de vontades. Uma parte de mim esperava que ela se lançasse contra mim, e, em vez de medo, uma onda de excitação percorreu meu corpo. Em outras circunstâncias, eu teria reprimido essa atitude, mas com ela era diferente. A cada momento, eu me sentia mais intrigado, mais vivo, apreciando a ousadia que emanava dela. Nunca antes alguém ousou desafiar minha autoridade, todos sempre tiveram receio até de pronunciar meu nome. Mas ela? Ela se entregava ao jogo com uma confiança que me fazia querer mais. Era como se, pela primeira vez, eu estivesse sendo convidado a dançar com o desconhecido, e isso me animava de uma forma que eu nunca soubera sentir.
— Se quer que eu me case com você, então me conquiste. Tem até a próxima lua para isso. Se me conquistar, aceito o acordo feito, se não, ficarei solteira! — respondeu, pura provocação às minhas palavras.
Não consegui conter um sorriso malicioso, um sentimento de empolgação brotando em meu peito. Levantei-me suavemente e fui até ela, que mantinha um semblante alerta, como uma guardiã de seus próprios desejos. Ela não sabia nada sobre homens, e essa confiança ingênua apenas atiçou minha vontade de conquistá-la. Para mim, conquistar seu coração não seria um sacrifício, pelo contrário, era uma aventura que valia a pena, afinal, estávamos falando de uma vida eterna juntos. Quando o doce perfume floral dela preencheu o ambiente, mais intenso à medida que me aproximava, não pude resistir a me inclinar levemente para ela, admirando a força em seus olhos. Aqueles olhos, como um mar tempestuoso, refletiam determinação e uma beleza indescritível. A maneira como ela lutava pelo que queria me deixava fascinado, despertando um profundo respeito dentro de mim. Eu estava pronto para me entregar a esse desafio romântico, encantado com a ideia de conquistá-la a cada passo que dávamos juntos.
Era um deleite pensar em cada passo que daria para tê-la. Seria ainda mais prazeroso se ela desejasse estar comigo, um doce...
— Aceito o desafio. Será minha, dulce meum — murmurei roucamente, segurando seu queixo com gentileza.
Observei enquanto ela mordia os lábios, sentindo seu corpo levemente trêmulo. O pequeno ofegar que escapou dela me mostrou que minha presença a afetava. O desejo já estava ali, mas um casamento exigiria mais do que apenas luxúria. Precisaria construir confiança e conquistá-la, assim como ela conquistou meu coração desde o primeiro momento em que a vi.
As delicadas mãos dela cobriram as minhas, afastando-se abruptamente antes de sair em disparada pelo ambiente. Não consegui conter um sorriso mínimo em resposta.
— Não precisa aceitar isso. Sarah tem um gênio forte, mas eu falarei com ela — comentou Hécate.
— Eu a quero para mim, mas quero que seja a escolha dela. Não a forçarei a nada, mesmo se ela não quiser o casamento, estará sob minha proteção — respondi, dando o assunto como encerrado.
— Está bem, desejo boa sorte. Vai precisar — Hécate piscou marota antes de sair da sala atrás da filha.
Suspirei longamente. Milênios se passaram sem que meu sangue fervesse. Era mentira, meu sangue nunca tinha estado assim. Nunca me interessara por ninguém, e nenhuma de minhas amantes valia o esforço para conquistá-las.
— Vai mesmo fazer isso? — perguntou Poseidon, em tom debochado.
Olhei para ele por alguns segundos, sabendo que ele desprezava minha atitude. Também sabia que me julgaria por agir movido pelos sentimentos.
— Poseidon, se ele recuar, estará apenas mostrando a fraqueza que você tanto despreza nos deuses — interveio Adamantine, com um sorriso maroto no rosto. Vi a veia pulsar na testa do meu irmão mais novo e não consegui conter o riso, assim como Zeus, que parecia à beira de uma explosão de gargalhadas.
Poseidon lançou um olhar fulminante para Adamantine, que respondeu com um brilho travesso nos olhos, como se estivesse desfrutando de uma vitória antecipada. Era raro vê-lo sem argumentos, e a cena era pura diversão. Adamantine parecia quase saltar de alegria, a satisfação iluminando seu rosto, como se finalmente tivesse vencido uma batalha de intelectos contra o irmão.
— Melhor você ganhar, então! — resmungou Poseidon, a frustração transparecendo em sua voz enquanto suas mãos se cerravam em punho. O eco de sua indignação apenas aumentou nossas risadas, como se estivéssemos diante de uma comédia divina.
Era como se a única maneira de fazer Poseidon concordar com qualquer coisa que queríamos fosse jogar suas próprias palavras contra ele. Adamantine estava radiante, orgulhoso de ter superado o deus dos mares, e ali estávamos nós, em meio a uma batalha de intelectos onde o humor se tornava a arma mais poderosa."
Aditus ad memoriam: Acesso as suas memórias.
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