Capítulo contém 1K de palavras.

Boa leitura 🩶

Distanciando-se cada vez mais da cidade, Blair estava aflita, era uma noite estrelada, no entanto, embrenhando-se na mata, não tinha sinal nenhum de uma alma viva, mas preferia assim, não queria ser surpreendida por ninguém, ainda mais no estado em que se encontrava.

Sua enorme barriga estava cada vez mais pesada e tinha dificuldade ao andar. O vilarejo onde vivia ficava mais ao longe dali, as pessoas a acusara de matar as crianças para que pudesse ter filhos, era uma bruxa, mas sua gravidez não se dava a esse fato, conhecera um rapaz muito belo que lhe prometeu casamento. Infelizmente, ele faleceu antes de saber que seria pai, deixando-a sozinha para cuidar do bebê.

Assim que soube de sua morte, partiu do vilarejo, não poderia dar oportunidade para que fizessem algum mal a ela ou ao seu bebê, pois ele era o único que mantinha o povo longe. Após sua morte, seria difícil se manter ali.
O destino mais de uma vez não fora bondoso consigo, mas não culpava as pessoas pelo seu medo, a ignorância que eles sentiam era o suficiente para que sentisse pena, afinal eles eram pobres de espírito e não lhe cabia o julgamento, os deuses ficariam encarregados disso, mesmo assim preferira fugir.

As dores que sentiu chamaram-na para a realidade, estava sentindo as dores do parto, parou de andar de imediato, pela fuga passou dias caminhando, o que antecipou o processo, sabia que não conseguiria sair dali, assim como era perigoso estar completamente só, estava exausta, mais que isso, as dores que sentia eram intensas demais, deitou-se à beira de uma árvore olhando para o céu estrelado, era muito devota da deusa Hécate, esta que jamais deixara seus seguidores na mão, fechou os olhos e começou a rezar para a deusa guiá-la no parto.

Uma leve brisa preencheu o ambiente, então o som de passos foi ouvido. Ao abrir os olhos, viu a própria deusa diante de si. Longos cabelos negros como a noite sem estrelas, olhos tão escuros e um sorriso amistoso em sua direção.

— Tenha força, sua dor será compartilhada comigo — A deusa parou ao seu lado auxiliando-a.

A presença dela fez seu medo sumir, sentia toda a dor sendo amenizada, como se fosse uma leve brisa que a cobrisse. Não demorou muito para o processo se acelerar, logo sentiu um alívio a preencher quando escutou o leve choro ecoar pelo local. A deusa segurou a pequena com um sorriso no rosto, tão sereno que seu coração se tranquilizou, sentia que seu bebê estava bem.

Hécate sorriu lindamente, olhando para a pequena com verdadeira adoração.

— Ela terá minha graça e minha herança, será minha filha, não terá que fugir como uma ladra, não terá medo da morte, pois lhe abençoei com a vida e ninguém irá contra minha palavra, terá imortalidade e nenhum Deus poderá tocá-la, seu nome será Sarah.

Uma linda luz preencheu o pequeno ser nos braços da Deusa, iluminando-a por completo, como se estivesse absorvendo as palavras ditas por Hécate, mas havia algo a mais, uma aura mais poderosa, os cabelos negros como a noite absorvia toda a escuridão e os olhos cinzas como a prata derretida, brilhando como faróis em meio à escuridão.

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O amanhecer clareou o local, antes completamente escuro, acordara percebendo que horas se passaram do parto, a pequena estava ao seu lado, dormindo tranquila, ficara aliviada ao perceber que mantas estavam em volta delas, como uma proteção, mantendo-as quentes, assim como percebera que a deusa cuidara para que nada se aproximasse enquanto dormiam, porém, o barulho de passos ecoando pelo local a assustou, não conhecia o lugar onde estava, embora estivesse segura pelos poderes de Hécate, não possuía forças para correr se algo acontecesse, tentou levantar para pegar a filha, mas seu corpo não se mexia, aquele instante entendeu o motivo das dores intensas que sentira, sua vida estava chegando ao fim, com todo o custo se movimentou, pegando a pequena em seus braços, aquela fruto de seu maior amor, olhou-a com todo carinho que possuía em seu coração, era sortuda por tê-la, mesmo que não pudesse fazer parte da sua vida.

— Que sua vida seja repleta de amor, estarei sempre ao seu lado guiando seus passos, um dia tornar-se-á uma linda mulher e uma maravilhosa bruxa, minha filha — desejou ao olhar nos olhos cinzas de sua pequena.

O som de passos foi ficando mais intenso, quando estava frente, estava preparada para lutar, até ver que se tratava de uma senhora.

— Pelos deuses! Querida, você está bem? — a senhora aproximou-se, olhando-a com cuidado.

Uma senhora na casa dos cinquenta anos segurando uma cesta de frutas colhidas da floresta preencheu minha visão, os cabelos castanhos gradualmente sendo tingidos pelo branco, os olhos claros, mas foi a aura encantadora que lhe chamou a atenção. Ela exalava uma bondade extraordinária, deixando-a mais tranquila, ao menos a filha estaria segura.

— Não tenho muito tempo, por favor cuide da minha filha, seu nome é Sarah — sua voz sairá um pouco tensa por sentir a presença da morte, mas não lutará contra, apenas sussurrou palavras de amor e partiu com ele de bom grado, pois sua pequena estaria segura.

A senhora olhou desesperada para a mulher desfalecida, sequer pensou ao pegar a pequena antes que ela caísse dos braços da mãe. Era tão pequena em seus braços, mas o olhar continha uma grande sabedoria, olhos tão cinzentos e encantadores, um amor preencheu seu coração, algo que não soube explicar, somente sentia.

Resolvera atender o pedido da moça, cuidaria da pequena como se fosse sua, tudo que sabia era que estava completamente apaixonada pelo bebê em seus braços, faria de tudo para protegê-la.

Mesmo notando que se tratava de uma filha de bruxa e o medo preenchesse seu coração, o amor se sobressaiu, não poderia abandoná-la. Infelizmente, os deuses não abençoaram ela e o marido com os filhos. Se os deuses a colocaram em seu caminho, somente agradeceram pela bênção, pois é a maior honra ser escolhida para cuidar de um ser tão especial.