Capítulo 14
O caminho que os pés de Laura tomou não foi o de volta para o quarto do segundo andar na casa de sua amiga Cinthia. Eles a deixou diante de uma fachada recentemente pintada onde descava o nome do homem por quem ela de certa forma havia entregado a vida.
— Laura?! O que faz aqui? Aconteceu alguma coisa com Cinthia?
— Ela está perfeitamente bem, eu já não sei. — Laura seguiu em direção a Samuel reparando que a oficina onde viveu estava completamente diferente, mal reconhecia aquele espaço onde se lançou nos braços de Thiago tantas vezes que já não saberia enumerar. — Preciso falar com ele.
— Ele não fica mais aqui.
— Quem diria que o dinheiro lhe fosse subir à cabeça para esnobar esse lugar.
— Sabe que não é por isso que ele não fica mais aqui.
— Eu não sei mais nada.
— O que você quer com ele?
— Desculpa, Samuel, mas é um assunto meu e dele.
— Laura ele tá casado agora...
— Eu sei que ele tá casado Samuel! — Laura abandona seu ar sempre contido e cospe aquelas palavras que há muito tempo as mantinha guardada. — Foi você que me deu a notícia que ele tá lá com a família linda e perfeita!
— Então porque estragar isso?
— Eu não vou estragar nada! Credo!
Samuel e Laura se encaram como se fossem pessoas indesejadas.
— Bom se ele não está aqui, está lá.
— Não faz isso Laura. Por favor! Não faz.
Laura ignora as súplicas de Samuel e parte porta a fora. Samuel corre até o escritório ligando para Thiago na outra oficina alertando que Laura o procurava que possivelmente ela apareceria por lá. De certa forma Thiago sempre soube que essa visita aconteceria. Acreditava que ela viria antes, na época em que seu casamento com Ingrid se tornasse público, e não veio, e por conta disso estava intrigado pela visita tardia de Laura.
— Laura?!
— Oi Ingrid. — Laura sorria constrangida para mulher confusa a sua frente. — Ele está?
— Está sim. Aconteceu alguma coisa?
— Não sei. Só preciso falar com ele, poderia chama-lo?
Ingrid não precisava Thiago apareceu a suas costas assim que ela fez menção em levantar da sua mesa e sentir o toque de suas mãos largas e quente no ombro.
— Pode deixar Ingrid, já estou aqui. Laura.
— Thiago, acredito que Samuel tenha te alertado.
— Vem comigo.
Ingrid o encarou confusa e ele retribuiu o olhar indicando que tudo estava bem. Laura o seguiu por um corredor até os fundos da oficina onde ficava seu escritório pouco usado. Thiago detestava a parte da papelada que ficava aos cuidados de Ingrid sua realização era estar debaixo de um carro.
— O que você está fazendo aqui?
Thiago despejou aquela pergunta assim que fechou a porta em suas costas, segurando a respiração para que ela não denunciasse o quanto estava ansioso com a presença de Laura. Naquele momento ele soube que jamais a esqueceria.
— Aconteceu alguma coisa? Está precisando de ajuda?
— Estou!
Laura respondeu ainda de costas a ele. Estava ainda mais confusa. Quando esteve com Bruno algo cresceu em seu peito e agora estava sentindo o mesmo ali com Thiago. O que esses homens tinham que a faziam duvidar de tudo? Era o que se questionava nesse momento.
Thiago diante de sua resposta e ignorando toda sua segurança se lançou de volta a escuridão e abraçou sentindo mais do que o calor daquele corpo como se deixando entorpecer pelo seu cheiro. Lembranças. Saudades. Dores. Tudo estava sendo reavivado.
— Ele me procurou.
— Ele quem? — Thiago entorpecido pela dor do passado não compreendeu a quem ela se referia.
— Bruno.
Thiago se afasta deixando evidente para ela a emoção que sentia quando seus olhares se cruzaram.
— Falei para aquele filho da puta te deixar em paz.
— Me conta a verdade sobre aquele dia. — Thiago novamente a encarou confuso. — Por que não me disse a verdade sobre o que ele fazia lá?
— De que adiantava. Vocês já tinham dormido juntos. Nada do que dissesse ia mudar só ia te causar mais mágoa. Não desejava que você soubesse que teve dois filhos da puta na vida, bastava apenas esse. — Thiago tocou em seu peito.
— Não fala assim.
— Você não tem ideia da merda que eu fui para você.
— A gente brigava...
— Eu bati em você Laura, mais de uma vez e não apenas isso. No fundo acho que você sempre soube.
— O que?
— Não me faça falar.
— Acontecia mesmo então.
— Quando você ia embora elas vinham...
— Para! Sabe de uma coisa? Tenho nojo de vocês dois! Se merecem! Deviam parar com essa idiotice e ficar amigos, iam se dar muito bem na canalhice. Tenho pena dessa mulher com quem casou. E tem o menino.
— Sabe o que aconteceu conosco me modificou de alguma forma, eu estou sendo um homem diferente para eles.
— Devia ter sido para mim.
— Eu sei. Desculpa.
— Vá para o inferno com suas desculpas!
Laura diz aquelas palavras aos berros e abandona a sala de Thiago como se um furacão a arrancasse do chão e era dessa forma que sentia como se tivesse perdido seu chão novamente.
— Sai de perto dele o mais rápido que conseguir! — Laura avista Ingrid e lhe despeja essas palavras sem imaginar que dizia para si. — Ele destrói vidas! Ele vai estragar tudo de bom que ainda existe em você e pensa no seu filho. Não o deixe transformá-lo nesse monstro!
Todos na oficia param o que estavam fazendo e escutam o que Laura berrava para Ingrid e novamente como um furacão abandonou de vez a oficina deixando para trás toda a sua destruição. Cacos e mais cacos que talvez não pudessem mais ser colocados. Ingrid correu de encontro a Thiago que chorava. Durante esse tempo juntos ela nunca havia visto dessa forma. Sem saber ao certo o que fazer o abraçou e Thiago permitiu o contato a apertando contra seu corpo. Ingrid sentia o tremor e o coração em descompasso.
— Escuta... — Thiago segurou o rosto dela entre as mãos. — Isso nunca mais vai acontecer, agora acabou de vez!
— Thiago...
— Vou entender se quiser ir embora eu não fui nada bom para ela e isso está me destruindo, mas se você permitir vou ser bom para você e João. Você me deu a família que eu sempre quis.
O choro voltaria forte para ele e novamente ele se agarrou forte ao corpo de Ingrid buscando ali a proteção que nunca teve.
— Ela me assuntou, me disse para ficar longe de você, que faria mal a João...
— Não tiro a razão dela. O homem que ela conheceu faria isso, mas já não sou mais aquele homem. Eu me mato antes de fazer mal aquele garoto.
— Nunca mais diga isso!
Thiago toma seus lábios selando ali seu promessa de continuar protegendo-os de todo mal que sofreu e que tinha dentro de si. Estava decidido não ser mais como ela, como sua mãe, iria ser o que sempre almejou ser e sentia que com Ingrid conseguiria ser.
Laura continuava mergulhada em seus conflitos e frustações. Sentia-se traída de todas as maneiras. Arrumou suas coisas na casa de Cinthia e se alojou em uma pensão e mergulhou em uma noite de insônia. Pensamentos conflitantes, ainda estava longe de qualquer conclusão ainda precisa enfrentar o último homem que lhe fez mal.
— Vim falar com Bruno Salles.
— Entendi da primeira vez senhora, mas sem hora marcada não posso deixa-la subir.
— Se você deixar de ser mal educada e pegar esse interfone e avisar que Laura Souza está aqui tenho certeza de que ele vai me receber.
— Quem está sendo mal educada é a senhora.
— Escuta aqui! — Laura alcançou seu limite e gritou com a moça da recepção, e esse era um comportamento que ela não tinha, por mais raiva que sentisse, sempre conseguia controlar, porém Laura já havia ultrapassado seus limites. — Se você não avisar que eu estou aqui vou embora e isso pode custar seu precioso trabalho, então pega a droga desse interfone e avisa que estou aqui!
A recepcionista encarou Laura com ódio e pegou o interfone, porém não foi para Bruno que ela ligou e sim para Marcos o seu braço direito, pensando se o melhor não teria sido chamar a segurança. De toda forma fora uma atitude assertiva, Marcos sabia sobre Laura. Bruno durante esse ano falaria sobre ela mais do que desejava e por conta disso veio correndo até seu encontro na recepção.
— Onde ela está? — Marcos questionava a recepcionista que ainda mostrava irritada com a presença da outra.
— Bem ali quase fazendo um buraco no chão de tanto andar de um lado para o outro.
Sem agradecer e a repreendendo com o olhar Marcos seguiu em direção a Laura que fazia exatamente o que a moça disse. Lembrava o comportamento de um animal enjaulado.
— Laura?
— Sim.
A resposta dita por ela ainda soava áspera demais para aquilo que Laura sempre representou.
— Meu nome é Marcos. — em um gesto de paz o homem lhe estendeu a mão que com ressalvas receberia a dela. — Vem comigo, vou te levar até a sala dele, tudo bem?
— Onde ele está? Por que não veio até aqui pessoalmente.
— Tenho certeza de que ele gostaria muito, mas ele está no meio de uma reunião importante...
— Isso vai demorar.
— Não, já deve estar acabando. Vamos?
Marcos indicou o caminho a Laura até os elevadores sobre o olhar desafiador da recepcionista. Foram segundos constrangedores para ambos. Laura sabia que tinha sido rude, mas não estava disposta ainda a pedir desculpas e Marcos não desejava ser inconveniente. Calados não seriam um problema para o outro.
— Deborah leve café até a sala de Bruno...
— Por favor, não precisa. — Laura interrompe Marcos. — É sério. Só preciso falar com ele.
— Está certo. Venha é a última sala.
Marcos deixou Laura sozinha e seguiu até Bruno do outro lado do prédio.
— Quero que fique calmo. Laura está aqui.
— Onde?
— Ela estava fazendo um escândalo na recepção coloquei ela na sua sala.
— Não consigo imaginar ela fazendo um escândalo.
Bruno sorria. Uma felicidade invadiu seu peito e ele largou os projetos que analisava sobre a mesa e seguia rumo a sua sala.
— Você não sabe muita coisa sobre ela, Bruno, vai com calma.
— O que importa é que ela veio. Ela voltou a me procurar.
— Mas ela não parece estar muito feliz. Pela sua aparência diria que passou a noite em claro.
— Obrigado Marcos.
Bruno apressou seus passos, em questão de segundos passaria pela sua secretária e pararia diante de sua porta fechada com o coração aos saltos.
Laura encarava a vista da cidade tomada pelas cores da primavera. Aquela era sua estação favorita do ano. As árvores tomada pelas flores e os pássaros em suas revoadas no final do dia. Suspirou com dor e encarou o escritório. Maior e muito mais elegante do que o que Thiago agora possuía. Sorriu com desdém. Não sabia ainda por qual deles ou até mesmo por ela. Caminhou até a estante. Encarou as molduras que continham algumas fotos. Fotos de família fabricadas com sorrisos falsos e comprados e um bebê lindo olhando direto para ela. Pensou em Thiago e não em Bruno naquele momento. Certamente ele nunca havia tirado uma foto sua bebê, mas o outro tinha uma ali enorme mostrando o quanto foi amado por aquelas pessoas.
— Eu era uma gracinha, não é?
Bruno havia entrado sorrateiramente e observou ela por um tempo encarando aquele retrato velho já sem significado.
— Lindo! Você foi... Na verdade ainda é muito bonito.
— Aposto que você foi muito mais.
— Nem perto disso.
— Mais muito mais do que isso!
— De toda forma não estou aqui para falar de como erámos quando bebês.
— Estou feliz que veio.
— Não fique. Não é uma visita amigável.
— Vamos nos sentar.
— Não precisa o que tenho a lhe dizer pode ser feito assim como estamos. Eu fui procurar ele.
— Imaginei que fosse. Como foi?
— Como você acha? Não sei qual dos dois é o mais filho da puta. Só vim dizer que... — Laura respira fundo fechando os olhos nesse ato e quando volta já não deseja lhe dizer mais nada.
— Pode falar eu mereço escutar.
— Quer saber vocês não valem nem isso. Não me procura mais, por favor.
Laura seguiu em direção até a porta, porém Bruno manteve-se à sua frente lhe impedindo a passagem.
— Me deixa sair ou vou gritar.
Bruno seguiu em sua direção ignorando aquela alerta. Laura não se esquiva e tão pouco grita, no fundo ela desejou o que veio a seguir. Os lábios deles contra os seus e seus braços a envolvendo e acolhendo seu corpo contra o dele. O que seguiria depois nenhum deles estaria no comando. Apenas Marcos se mostrava apreensivo do lado de fora daquela sala pedindo para que os funcionários voltassem a se concentrarem no trabalho e ignorarem o barulho vindo da sala do patrão.
Estavam descompassados, rápidos e ofegantes. Laura cravava suas unhas nas costas de Bruno por debaixo de sua camisa de homem de negócios, deixando sua pele marcada. Ele a tomava também com força marcando seus dedos em sua pele alva. E tudo chegou ao fim com um urro alto.
— Acabou! — Laura o repeliu afastando do seu corpo e retomando a sua compostura. — Nunca mais me procure. Acabou!
— Não fala isso! Eu preciso de você!
Laura ignora sua suplica e deixa a sala com a vergonha do seu ato estampada em sua cara.
— Laura!
Bruno grita por seu nome e se atrapalha vestindo suas calças quando consegue chegar até o hall o elevador já marcava os números em contagem regressiva, não pensaria duas vezes e se arriscou pelas escadas.
— Cadê a moça? Para que lado ela foi? Responde sua incompetente!
Pela primeira vez os funcionários o via aos berros e totalmente fora do seu controle. Correu até a rua, até o local onde se chocaram pela primeira vez. Respirou fundo. E soube para onde ir: a cafeteria.
A porta da cafeteria foi aberta e o corpo esguio de Bruno congelou. Laura estava lá, sentada na mesma mesa em que estiveram a mais ou menos um ano. Ela não viu quando ele se aproximou. Estava despedaçada com tudo que aconteceu naquele escritório. Sentia-se um lixo. O sexo não era para ter acontecido. A atração sentida foi mais forte. Como era difícil resistir aos seus beijos. Quando ele a beijava perdia a consciência. Talvez até mais do que isso, com Thiago nunca chegou a sentir dessa forma. Esse outro homem invadia a sua alma, tirava sua sanidade.
— Laura.
A voz dele. Aquela voz tão parecida e tão distinta. Os olhos de Laura fecharam em uma suplica. Pedia para o inconsciente terminar com aquela brincadeira.
— Laura.
A voz estava ali. Era real e Laura teria de encará-la.
— O que faz aqui Bruno? Já pedi para me deixar em paz.
— Só saio quando me perdoar e dizer que vai ficar comigo. Eu não vou desistir de você não depois do que acabou de acontecer.
— Como posso te perdoar? Você foi indecente e arrogante. Meu Deus o que fiz para merecer vocês, dois mentirosos e traidores. Sabia que aquele desgraçado me traia?
Bruno meneou a cabeça em discordância.
— Como saberia, nem o conhece.
— Laura o que te posso dizer é que ele acho que ele a amou, do jeito torto dele, mas amou. Se não ele não teria ido atrás de você lá.
— Olha que interessante isso, agora o defende.
— Não estou defendo, longe disso, o que estou dizendo que se ele não sentisse algo por você que não fosse perto de amor ele nem se importaria.
— Sabia que ele iria me pedir em casamento?
— Devia ter feito.
— Agora está tudo acabado.
— Vou te fazer uma pergunta e dependendo da resposta te deixo em paz e nunca mais volto a te procurar.
— Vamos acabar logo com isso.
— Eu sei que é ele que você ama e acredite isso me machuca. Mas sei que também sentiu algo por mim. Sua entrega me faz acreditar que sente, alguma coisa. Isso que sente você deseja ignorar?
— O que eu senti foi apenas desejo carnal.
— Não foi.
— Acredite no que quiser. Essa é a minhas resposta.
— Está mentindo, mas te prometi. A porta vai estar aberta eu não vou fechar, mas dessa vez eu vou fazer o que devia ter feito desde o princípio te respeitar.
Bruno deixou a cafeteria com as lágrimas escorrendo por sua face. O barulho do sino da porta despertaria em Laura aquilo que ela já sabia. Seria a sua vez de correr. De correr de encontro a sua felicidade.
— Bruno.
Ele estaca com um sorriso nos lábios.
— Eu sabia que estava mentindo.
Lentamente ele girou seu corpo de encontro ao dela.
— Eu não sei compreender isso, mas eu te amo e vou esperar o tempo que for para que me ame. Só me permita te fazer feliz.
— Eu não posso permitir isso. A felicidade é algo particular, só eu posso me fazer feliz e eu sinto que vou ficar mais próxima dela estando do seu lado.
Bruno se ajoelhou e Laura tremeu.
— Casa comigo?
— Você está louco e eu mais ainda! Sim! Sim! Sim!
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro