Capítulo 11
Era o segundo despertar em uma manhã de Bruno com Laura. Fazia muitos anos que isso não acontecia de ter ali uma mulher sobre seu peito depois de uma noite de sono. Não lembrava mais de quão boa era aquela sensação e por conta disso a puxaria mais perto.
— Bom dia!
A voz grave dele entraria feito música pelos ouvidos de Laura a tirando do seu torpor de sonhos agradáveis.
— Bom dia! — seus olhos abriam com relutância indo de encontro aos deles. Um olhar que ela conhecia em outro. — Já é outro dia.
— Sim! E precisamos levantar tomar banho, café da manhã.
— Temos alternativa?
Bruno lhe beijaria no topo da cabeça para logo em seguida abandonar a cama. Vestiu sua cueca rapidamente. Laura mal teve tempo de contemplá-lo como havia feito na noite anterior. Ele não estava mais lhe dando alternativa e ela naquele momento ainda não havia percebido que algo havia mudado em Bruno.
— Tome um banho. Vou arrumar algo para comermos.
Ele não lhe daria tempo para um protesto e tão pouco uma resposta, saiu do quarto com o celular em mãos com os olhos vidrados em sua tela. Laura encararia aquela atitude ao que ele significava como um homem de negócios que precisa ficar atento ao que acontece em sua empresa faria o que ele havia sugerido e seguiu para o banho.
Antes que pudesse terminar de lavar seus cabelos sentiu que não estava mais sozinha naquele banheiro imenso.
— Que susto você me deu! — Laura dizia com ar de diversão, mas não era assim que Bruno lhe olhava de volta.
— Acredito que teremos uma visita.
— Visita?
— Acabei de ler uma mensagem que minha mãe deixou. Ela me alerta sobre um possível encontro com o seu namorado.
Laura desligaria imediatamente o chuveiro ignorando o sabão que ainda estava acumulado em seu cabelo.
— Do que você está falando?
— Do seu namorado ter ido ontem até a mansão onde minha mãe vive atrás de você. Certamente achou que te encontraria lá comigo. De toda forma ele não estava totalmente errado, só errou o endereço.
— Bruno e você me diz isso assim tão calmo!
— Queria que te dissesse de que forma?
— Ele vai nos matar!
Laura cobria seu corpo ainda molhado com a toalha seguindo para o quarto em busca de roupas limpas e secas. Bruno permanecia encarando sua imagem no espelho como algo que lhe agradasse.
— Não é possível ele vir até aqui, não é? Ele não tem como saber onde mora.
— Não teria. — Bruno a encontra no quarto também buscando roupas apropriadas para cobrir seu corpo. — Minha mãe acabou cedendo às exigências dele e lhe deu meu endereço.
Laura o tornaria a encará-lo com espanto.
— Meu Deus! Ele vai nos matar! Preciso sair daqui...
— Laura! Por favor! Nada disso vai acontecer, você mesmo disse que ele te colocou para fora de casa.
— Mas ele ter ido atrás de mim na mansão mostra o contrário. — Laura tentava pentear os cabelos ainda com vestígios do shampoo. — E não é a primeira vez que ele volta atrás.
— Bom então que deixe que venha. Vai ser até bom.
— Bom? Para quem? Ele vai nos matar!
— Talvez ele se exalte e quebre alguma coisa, provavelmente será preso por conta disso...
— Preso?! Ficou louco! Ele não pode ser preso. Se ele for nunca mais sairá de lá. Como você pode ficar assim tão calmo.
— E de que adianta ficar histérico. — Bruno caminha até Laura segurando seu rosto entre suas mãos. — Ele pode nem vir querida. Minha mãe me mandou essa mensagem ontem se ele realmente fosse fazer algo desse tipo teria feito ontem não acha?
— Em se tratando de Thiago nada é previsível.
— Nos resta aguardar e tomar café da manhã.
Laura não conseguiria diante do seu nervosismo colocar nada dentro do seu estômago que seguia embrulhado. O que fez foi correr até a sua bolsa em busca do seu celular. Não havia nenhuma ligação perdida ou tão pouco mensagens. Estava no branco e aquilo a deixava ainda mais com medo. Digitou o número conhecido, o toque ia ficando cada vez mais alto à medida que esperava ser atendida. Uma esperava longa e quando estava quase desistindo uma voz conhecida chocou contra seu tímpano.
— Oficina Silva...
— Samuel! — Laura não deixaria que o braço direito de Thiago terminasse sua saudação costumeira. — Cadê Thiago?
— Laura? Onde você está?
— Chama ele, preciso falar com ele!
— Vai ser impossível, ele não está mais aqui.
Samuel quando chegou naquela manhã para seguir com seu trabalho em um dos carros não esperava encontrar Thiago daquela forma dormindo serenamente no sofá da sala de espera da oficina.
— Como passou sua noite? Espero que não tenha feito nenhuma merda.
— Aparentemente não. Tô aqui não tô? E estou precisando de um café bem forte.
— Vou fazer um para gente.
— Você vai ter de segurar as pontas aqui hoje de novo, tenho que arrumar a merda que fiz lá em cima.
— Ela deu notícias?
Thiago parou na porta, os outros rapazes começavam a chegar, alguns acenaram, outros decidiram que o melhor seria ficarem na deles, a cara o padrão não era de bom amigo, não depois da menção a Laura por Samuel. E foi ela que fez com que ele mudasse o seu rumo. Não subiria as escadas em vez disso subiu em suma moto e saiu portão a fora.
— Sabe onde ele foi Samuel? — Laura apertava a unha na palma de sua mão, estava a um passo de entrar em pânico.
— Não Laura.
— Obrigada Samuel.
— Onde você tá? Quer que eu vá te buscar?
— Não precisa Samuel, acho que em breve ele estará aqui, só torce para ele não fazer nenhuma besteira.
Laura desligou o celular e ficaria olhando a tela apagar enquanto do outro lado da sala Bruno lhe observava tomando seu dejejum calmamente como se a tempestade que estava por vir não fosse lhe alcançar.
— Não sei como consegue ficar assim. — finalmente Laura o encarou.
— Vem tomar café.
— Não está vendo o caos se aproximando? Eu não consigo comer nada.
— Você que sabe. — Bruno dá de ombros. — Só vou dizer uma coisa, não adianta em nada ficar assim, o que aconteceu já aconteceu, ele meio que previu isso e te jogou literalmente nos meus braços. Deixa que ele venha e acabamos logo com isso. E eu te prometo que aqui ele não vai te machucar.
— Você o subestima.
— Não querida, você que está dando mais importância do que o necessário.
Laura virou o rosto e tornou a encarar o visor preto do seu celular. Cogitou tentar contato com ele novamente, porém o barulho do interfone confirmaria sua aflição. Era tarde para voltar atrás. Ele estava ali. Só podia ser ele. Ela quase podia sentir o cheiro do ódio saindo dos seus poros.
— Respira senão você vai desmaiar.
Bruno passaria por ela atendendo o chamado. As palavras que saiam de sua boca eram incompreensíveis para ela.
— Ele está subindo.
— Como você pôde deixa-lo subir!
— E deixar que ele faça um escândalo lá embaixo, jamais. Recomponha-se e venha encarar os fatos.
— O que aconteceu com você? Está tão diferente. Tão distante.
Bruno não diria nada, apenas se limitou a sorrir e seguir até a sua sala onde aguardaria paciente a chegada do outro, Laura por outro lado se refugiou no terraço fixando seu olhar no prédio mais distante que suas vistas podiam distinguir.
Nesse tempo de espera o pensamento de Bruno foi guiado para doze anos no seu passado. Um passado que fora decisivo para torna-lo o homem que era hoje. Amanda surgiu diante dos seus olhos como um fantasma, a mulher por quem ele foi perdidamente apaixonado e a qual pedira em casamento. A cobertura onde estava era para ter sido o lar deles
— Ficou linda Bruno! — Amanda lhe abraçava pelo pescoço demonstrando toda a sua agitação de felicidade. Estava satisfeita consigo de ter conquistado um Salles e este ter colocado uma aliança em seu dedo.
— Mandei fazer tudo como pediu. — Bruno sorria também com satisfação. — Aqui estão suas chaves.
Amanda segurou aquele objeto dentro de sua mão sentindo o frio do metal lhe dizendo que era real. Tudo aquilo era real.
— O que acha de estrearmos?
— Ainda não! Quero que nossa primeira vez nesse apartamento seja quando você for minha esposa.
— Sério isso Bruno? — Amanda suspiraria demonstrando decepção. — Tem horas que seu romantismo me irrita. Já fizemos sexo tantas vezes que chega a ser ridículo.
— Não fale assim. Apenas quero que seja especial.
— Bom você já cortou o clima mesmo. Então melhor irmos, ainda precisamos ver mais algumas coisas para o nosso casamento. — Amanda tornaria a se dependurar no pescoço de Bruno. — E olha se comporta essa noite na sua despedida de solteiro.
— Não precisa nem pedir, sabe que só tenho olhos para você.
E Amanda sabia que ele lhe era fiel até o último fio de cabelo o que ele não sabia é que ela não era e que fazia dele um fantoche. Amanda além de bonita com aqueles olhos azuis de uma intensidade maior que a dele que contrastava com seus cabelos negros, no seu corpo malhado distribuído a perfeição nos seus quase um metro e oitenta também tinha de engenhosa e persuasiva. Foi muito fácil para ela conquista-lo e não somente ele, Silvia e Bernardo morriam de amores por ela, à modelo em ascensão.
De fato Bruno se manteve fiel em sua despedida de solteiro, mesmo seus amigos instigando ele a aproveitar seu último dia de solteiro. Bruno e Marcos seriam os últimos a saírem do bar com as pernas trançando.
— Vou chamar um táxi. — Marcos já seguiu para o meio fio dando sinal.
— Para você apenas. Eu vou para a cobertura, fica apenas algumas quadras daqui.
— Tem certeza?
— Tenho e, além disso, minha roupa já está lá.
— Fez tudo pensado!
— Sempre meu amigo. Te vejo daqui algumas horas na igreja.
Marcos acenou de dentro do carro e Bruno tomaria o sentindo oposto voltando para a cobertura. Respirava com satisfação o ar gelado da madrugada, estava muito próximo da sua felicidade ao lado da mulher que amava. Uma felicidade com o tempo contado. Com o virar das chaves e o fechar da porta ela viraria uma triste neblina em sua vida.
O som que vinha ainda não fazia sentindo no torpor de suas sensações prejudicadas pela bebida ingerida, a confirmação seria feita pelo contato visual. Sentiu como se seu corpo estivesse sendo arrastado para o inferno. Amanda e um dos seus melhores amigos enrolados e suados um contra o outro. O amigo que fora o primeiro a lhe dizer adeus naquela noite de festividade. O amigo com quem passou seus melhores momentos desde que era um garoto. Aquele amigo que considerava um irmão, agora possuía sua futura esposa bem diante dos seus olhos.
— Que porra é essa! — a voz de Bruno saia enrolada por conta da bebida.
Amanda e Cristiano afastariam um do outro em um salto. O homem se mostrava constrangido e assustado, a mulher se posicionou de forma diferente, demonstrou desprezo e indiferença.
— Acho que é óbvio o que estávamos fazendo. — Amanda puxaria o lençol contra seu corpo nu ainda arrepiado pelo prazer.
— Amanda! — Cristiano a repreende saindo em busca de suas vestes ao pé da cama. — Cara, me deixa explicar...
— Explicar o que Chris? — Amanda com arrogância se colocaria entre os dois. — Quer saber chega de mentira! — voltaria seu olhar unicamente para Bruno atônito parado na porta observando o descaramento daquelas duas pessoas que significam muito em sua vida. — Faz tempo que isso está acontecendo entre nós. E quer saber ele é muito melhor do que você!
— Amanda! — Cristiano grita com ela. — Pelo amor de Deus!
Bruno por um breve momento fecharia seus olhos, não para apagar a imagem que tinha visto, ele não desejava aquilo, a manteria sempre muito viva em suas lembranças para nunca mais cair no mesmo erro de se apaixonar perdidamente por outra mulher e assim manteve pelos anos seguintes, ele fechou os olhos para não cometer uma loucura. Quando os abriu daria meia volta saindo por onde entrou com Amanda em seu encalço aos berros lhe dizendo que era um covarde.
— Seria um se lhe desse uma surra! Você tem vinte quatro horas para sumir com suas coisas daqui.
— Ela é minha, não vou sair daqui!
— Não querida... — Bruno aproximou ficando cara a cara com Amanda com um sorriso sarcástico. — Seria só após assinarmos os papéis de casamento, mas como podemos ver não haverá mais casamento e não tem mais cobertura para você.
De dentro do elevador ele via o rosto de Amanda se transformando e novamente uma sensação de satisfação o invadiu e agora doze anos depois essa mesma sensação estava voltando quando viu o rosto do outro homem lhe encarando.
— Ela está aqui? — Thiago quebraria o silêncio diante daquele reconhecimento de faces. Eram tão iguais, mas ao mesmo tempo tão diferentes.
— Sabe que está. — Bruno deixaria o sofá dando alguns passos na direção de Thiago. — Ela está assustada com a sua reação. Pelo que estou vendo acredito que não teremos problemas.
— Não a culpo. Quanto tempo isso tá acontecendo?
— Não sou eu que lhe devo essa resposta, mas sejamos francos eu a quis no primeiro instante que a vi, acredito que foi assim com você. Eu só não esperava que você me desse ela de bandeja.
Thiago respirou fundo. Fechou os punhos com força e logo em seguida soltou. A vontade de dar um soco naquela cara estava ficando cada vez mais forte.
— Então aconteceu. Por que ela?
— Por que não ela?
— Ela é minha mulher!
— Ela não é propriedade de ninguém, elas nunca são, não importa o quanto você se dedica, faz suas vontades e desejos, elas fazem o que bem entendem e Laura esteve aqui por livre vontade você gostando ou não.
— O que eu fiz para você?
— Você não fez absolutamente nada. Eu não sinto nada por você, o remorso de meu pai que te trouxe para minha vida, mas isso não significa que irá permanecer.
— Chama ela.
— Ela está no terraço, pode ficar à vontade.
Bruno aponta o caminho para Thiago. Enquanto viu o irmão perdido caminhando em direção à mulher que amava tal como ele havia amado Amanda quase que sentiu empatia pela sua dor, uma dor que ele conhecia e que não desejava sentir nunca mais.
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