5
Eu não reconheço a voz que falava comigo, por isso o susto foi em dobro ao ser pega em flagrante. Sinto o suor escorrer pela minha testa. Se fosse o senhor Bauer, eu poderia dizer que procurava por Jason. O contrário, falaria que não encontrava o Bauer. Mas e quando não era nemum nem outro?
Engulo em seco e me viro para a voz feminino que me chamou e franzo o cenho ao encarar uma senhora baixa e gordinha, de cabelos grisalhos, grandes olhos azuis, bochechas cheias e rosadas. Ela me olhava com estranheza também, me examinando, a fim de saber o que faria comigo.
— Bah, eu não te conheço — ela diz se aproximando de mim. — Pelo menos não é a garota de antes. Mas explique-se, mocinha, o que fazia no quarto de Jason?
— Quem é você? — cruzo os braços por ter sido atrapalhada poruma senhora e ainda por cima estar sendo interrogada. Não fazia ideia oque meu grupo, principalmente Levi, acharia de mim em estar nestasituação. Por sorte, eles nunca saberiam. — Achei que não teria maisninguém nesta casa, além deles.
Ela ignora o meu comentário.
— O que pretendia fazer? — a mulher ergue uma sobrancelha paramim e abre um sorriso travesso. — Queria bisbilhotar o quarto de Jason,como a outra, para descobrir mais alguma coisa sobre ele? Se estátentando fazer isso, pode desistir, ele não deixa nada importante amostra.
Mas o que é isso? Quem é essa velha enxerida?
— Eu não estava fazendo isso — porque eu nem cheguei ao quartopara tal coisa... Eu não completo o pensamento. Mas ao escutar coisasem relação ao Jason, aquilo me deixou intrigada, pois pelo pouco contatoque eu tive com ele, o rapaz se mostrou bem reservado, além de briguentoe alcoólatra. Por isso, eu questiono, curiosa: — Quem é essa outramulher? A que você mencionou. A namorada?
— Jason está sendo concorrido e eu não fiquei sabendo? — elaexclama, animada, com essa ideia que tirou de sua imaginação, e maisuma vez, simplesmente não responde a minha pergunta. — Bah, quanto tempo eu fiquei longe daqui! Por falar nisso, você é a senhorita Shazy, aguria que o Roberto me informou que estaria hospedada?
Do que essa mulher está falando? Eu reviro os olhos, soltando umriso típico meu de incredulidade com as besteiras que sou obrigada aouvir e a julgo de cima a baixo. Seria ela a Silvana, cuja menção o senhorBauer fizera no café da manhã?
— Shazad — a corrijo. —E você é a Silvana?
Ela bate uma palma, mordendo os lábios, os seus olhos azuisbrilhavam pela forma que ela me olhava, eu até diria que pensava emalgo — possivelmente muito impróprio.
— Isso mesmo, minha querida — ela segura a minha mão e começaa me levar para longe do quarto de Jason, me guiando até a cozinha, eunão consigo interpretar se foi proposital ou não aquele movimento. —Perdoe-me pela intromissão, eu levei um susto, por nunca a ter visto e,também, nunca terem nos apresentados... Achei que era um ladrão oucoisa do tipo.
Eu faço cara de paisagem, pois ficou claro que ninguém mencionoude onde eu vim para ela por falar tal coisa. Solto um riso forçado ao terque retribuir o dela.Acreditava que o senhor Bauer tinha sigilo com os seus pacientes,mas até que ponto? Porque isso me fez questionar sobre até onde Silvanaconhecia do centro de reintegração.
A mulher desenrola o assunto sem eu ter respondido algo.
— Mas então, me conte tudo o que você gosta de comer. Às vezeseu também sou a cozinheira da casa. Até diria, por ousadia minha, serparte da família. Eu fui a madrinha do Roberto e ele o meu padrinho,quando eu me casei com o Frank. Uma pena você não ter conhecido oFrank, ele morreu alguns anos atrás, era um dos amigos mais próximosdo Roberto. Você teria gostado dele, porque ele sempre foi bem abertocom todos, simpático. Uma tristeza para todos nós, ele faz muita falta.Mas eu já estou bem.
A mulher me segura na mesa e não para de despejar informaçõespara cima de mim, como se eu fosse uma amiga que ela não vai a muitotempo. Por acaso eu tinha cara de empática?
Ela não repara em minha falta de interesse e continua:
— É melhor falarmos sobre você, pois eu falo muito e daqui apouco já te contarei alguma história de minha vida e todas as fofocas dacidade. As pessoas me conhecem como fofoqueira, porém, eu diria quesomente repasso as informações com mais rapidez e eficácia do que osjornais e noticiários... — Silvana para de falar e sorri. — Está vendo?Justamente o que eu lhe disse. Perdi o fio da meada, onde estávamos...?
— Falando de comida, eu acho — respondo.
— Isso mesmo! Como eu te disse, às vezes eu sou cozinheira, todoselogiam os meus pratos, principalmente Jason. Contudo, eu nãoconsidero a opinião dele, pois eu o vejo como um neto, e parentes sempretendem a elogiar.
— Eu não tenho preferências — digo relembrando de tudo o queeu já comi com Levi e não encontrei nenhum prato chique ou exigenteem nossos almoços e jantares. — Comida caseira já me serve.
— Ah, que bom! Porque a outra... Eu vou te contar: umamulherzinha chata! Fica me pedindo coisas que eu nunca ouvi na vida...Por sorte, Jason não gosta dela e ela nunca mais pôs os pés aqui nafazenda, mas às vezes eu escuto as fofocas que eles se encontram nacafeteria onde ela trabalha. A cafeteria é do pai dela, por isso que elaconsegue manter o emprego, porque ela não tem muitas qualidades...
— Mas quem é essa, Silvana? — eu pergunto, mesmo sabendo quenão tinha correlação a mim e a minha missão de fuga, contudo, eu queriaconhecer o tipo de mulher se apaixonaria por um homem alcoólatra eagressivo, mas ele poderia muito bem esconder esses seus defeitos e semostrar um verdadeiro cavalheiro — coisa que ele não era.
— O nome dela é Carol, tem 23 anos e é apaixonada por meu Jasona muito tempo. Eles estudaram juntos, porque ela entrou adiantada naescola e até hoje são amigos e só. Ainda bem. Quem sabe você aconhecerá na cafeteria, é só pedir ao Jason.
Assinto, mas não afirmando que eu iria bisbilhotar uma garota,que não faz parte de meus planos. Seria perda de tempo. Silvana continuaa falar e, enquanto eu bebia água, ela me indaga, de repente:
— Então, Shazad, me conte: qual é o seu tipo de homem ideal?
Engasgo com a bebida, precisando bater em meu peito pararecuperar o fôlego. O que ela havia me perguntado? Eu não poderia terouvido corretamente...
— Perdão, o que você disse?
— Qual é o seu tipo de homem? Eu conheço todos os solteiros dacidade, e nessa idade já é boa para começar a namorar alguém, caso tenhasonhos para casamento. Você pensa nisso, Shazad?
Fico perplexa com o seu questionamento. No ramo em que eutrabalho não existia a possibilidade de me relacionar profundamente aalguém, ainda mais se essa pessoa nos traí e somos obrigados a matar.Lembranças ao Kevin, aquele urubu, que nos enganou e tentou roubartodo o dinheiro após roubos árduos, que fizemos em São Paulo anosatrás.
No entanto, Levi às vezes deixava o lado profissional e se envolviacomigo em seus lençóis. Em noites quentes como aquela, eu confundiao nosso relacionamento — porque ele nunca havia me prometido nadaalém de prazer momentânea e uma paz limitada. Depois de anos tentandodesapegar das memórias de minha família, Levi conseguiu um espaçoem meu coração com sua maneira bruta, possessiva e egocêntrica.
Ele sabia o que causa em mim, tanto os bons sentimentos quantoos maus e se aproveitava de minhas fraquezas para conseguir o queansiava, se satisfazia e, sem demora, me afastava, porque não confiavaem ninguém para ter os seus segredos. Estávamos anos juntos e eu nãosabia nem um terço de sua vida. Eu entendia que aquela brincadeira como meu coração, ele nunca assumiria a responsabilidade, por isso eutentava lutar contra as emoções que sentia por ele.
Levi nunca me prometeu nada além de muito dinheiro e uma vidaagitada, tendo que fugir de lugar a lugar, às vezes ameaçar pessoas.Mesmo assim, me sentia doente por ele, impotente de viver sem ele. Meulíder se tornou o meu vício e remédio diário.
Sendo assim, eu compreendia que casamento ou até mesmonamoro não existia no vocabulário dele — e consequentemente, no meutambém não. Ele não era esse tipo de pessoa, seu único compromisso setornou o dinheiro e os amigos, ferramentas que ele poderia usar paraobter o que ele mais amava no mundo.
Não tinha um futuro com Levi, não esse que as pessoas sonham emter na juventude. Mas eu não trocaria essa vida, na qual eu já era tãofamiliarizada.
— Em casamento? — franzo o cenho na medida em que respondoem forma de pergunta.Para onde estava indo aquela conversa? Aquela senhora pareciamais uma casamenteira do que a faxineira.
— Isso, minha querida. Sabe, o Jason é um bom partido, porém, eunão sei se você se encaixa nos requisitos. Nada contra a sua pessoa, ésomente precaução. Não quero vê-lo de coração partido. Então, meconte, sem timidez. No futuro, você verá como eu sou boa em juntarcasal, exceto o coitado do Jonas, amigo de Jason. Ele sofre de amorespela Carol, aquela petulante! Ela sabe que o garoto tem uma quedinhadesde o jardim de infância, mas nunca tirou os olhos de meu Jason.Entende agora por que eu preciso saber? Não quero dividi-lo comqualquer uma.
— Hã... Eu... — eu não tinha palavras para aquele momento, nempsicológico! Nunca fui preparada para ser interrogada sobre a minha vidae gostos. Levi nos ensinava a arte de roubar, matar, mas aquilo que euestava passando? Ah, isso sim é uma verdadeira tortura! — Sou obrigadaa responder?
Jason adentra na cozinha, rindo de minha expressão provando queescutava palavra por palavra e eu o fuzilo.
— Por que não começamos com o Jason querido? Assim eledemonstra para mim como deve ser feito — cruzo os braços e provoco,conseguindo um olhar mais sério, de quem não gostou de ser chamadopara participar da brincadeira. — Aposto que ele adoraria contar comoele é um homem cavalheiro, que jamais ergueria a mão para uma mulher.
Silvana me olha, sem entender o meu comentário, porém, Jasonpressiona o maxilar, sentindo a alfinetada.
— Oras, Jason, não seja tímido e nos conte o tipo ideal de mulher.Mas eu já até sei como ela seria: muda que a confundiriam com umamúmia, sem graça...
Ele cruza os braços e demonstra estar sem paciência comigo, poisse entrega a minha provocação rápido:
— É mesmo? Acho que consigo adivinhar o seu estilo — suaarrogância ao meu respeito me irrita. Ele não me conhecia, porém, agiacomo se eu fosse um livro aberto para ele.
— Com base no que? Nas dez horas que nos conhecemos? — meutom não saiu mais um dos melhores, eu também nunca fui conhecida pelaminha paciência.
— Eu não precisei de tudo isso para saber — ele solta um sorrisotípico e eu me forço a não revirar os olhos.
— Deveria estar orgulhosa por você?
Ele caminha em minha direção, porém, permanecia em umadistância segura de mim.
— Fique tranquila, não tem jeito você ser meu tipo e, pelo visto,eu também não sou o seu. O seu estilo é mais garoto urbano, certo? Umhomem mais perigoso, fora da lei — ele fala de Levi como se pudesse, eaquilo me incomoda. Apesar de não ter tido muitas opções de escolhasobre quem me envolver, Levi sabia do que eu precisava e atendia asminhas necessidades, mesmo que ao seu tempo. Ele era o cara certo paramim e não precisava de alguém para me falar ou interrogar sobre aquilo.Por isso me enfurecia escutar as palavras de Jason com tanta ironia.
Naquela altura da conversa já estava de pé e eu não sabia se eleconseguia ver a veia em minha testa pulsando de irritação, mas se ele nãovisse pela minha expressão, certamente pelo meu tom reconheceria osentimento.
— Não haja como se fosse o príncipe encantado, quando nossoprimeiro encontro você não foi nenhum cavalheiro.
— Mas você também não é nenhuma dama.
Solto um "Rá" de indignação e fúria, revirando os olhos e oolhando, abismada com o rumo do dialeto.
— Você estaria decepcionado se eu fosse uma.
— Que tensão é essa! — exclama Silvana, que até aquele momentoestava quieta apreciando o bate-boca, e nós não lembrávamos de suapresença. — Quando foi que vocês se conheceram e como? Essa fofocada garota nova na cidade eu estou por fora!
— Ah, por que não pergunta ao seu querido Jason? Acho que eleamará contar essa história. Por favor, não vá esquecer a parte principal:os detalhes mais picantes.
Lowdrell solta um resmungo baixo, passando a mão pelo rosto evolta a me encarar. Seus olhos negros eram o próprio céu tempestuoso,mas eu não temo pela tempestade que viria.
— Não compre essa guerra comigo. Não poderá ganhar.
— Não deveria estar preocupado comigo — eu me aproximo e faloem provocação —, eu sei me defender.
Ele solta uma risada debochada.
— Se soubesse mesmo, não estaríamos tendo essa conversa agora.
Eu imito a risada dele.
— Agora faz sentido porque é tão grosseiro. Viveu a tanto tempocom cavalos que agora pensa ser um.Silvana solta um ar de indignação pela minha grosseria, mas eu nãopediria desculpas.
— Está bem, o que foi que eu perdi? Pelo visto, vocês dois seconheceram em uma situação bem inusitada.
— Você nem imagina como... Posso listar todos os acontecimentosmalucos da noite em que nós nos conhecemos e isso fará a sua fé emJason se desmoronar.
Pela primeira vez, eu vejo uma veia de Jason se ressaltar de seupescoço e ele responder em um tom mais irado:
— Foi isso que você aprendeu com as pessoas que você chama defamília? — a insinuação de minha família fez as minhas veias arderemcom puro ódio. Ele se lembrava do meu grupo, das pessoas que eu tiveque deixar para trás.
— Ao menos eu tive uma. — Retruco sem nenhum peso em minhaconsciência.
Os narinas de Jason inflam, em cólera com o meu comentário, masele recua o corpo, como se eu tivesse acabado de lhe dar um soco. Aquelaseria a hora em que Jason revidaria a minha língua afiada na mesmamoeda, por isso, eu esperei pelo tapa. Esperei e ele nunca veio.
Por que não? Por que ele não fez como antes?
Eu me surpreendo por ele não bater em mim, questionando a suareação. Porque se tivesse respondido ao Levi daquela forma, meu narizjá estaria sangrando.
Mas aquilo não fazia sentido: no mês passado, sem ele meconhecer, Jason me atacou, porém, hoje, frente a frente com motivos, elenão movimenta nem mesmo um músculo sequer. Quem é JasonLowdrell, de verdade?
— Nunca mais fale de coisas das quais você não sabe — ele meadverte com a voz carregada de sentimentos frágeis e, como costume,desaparece de minha frente, não continuando com a briga pararesolvermos nossas diferenças na base de gritaria, a única forma que euconhecia.
O clima tenso na cozinha não se ameniza com a saída dele, poisSilvana me observava em uma melancolia por minhas palavras maldosaspara o seu querido. Cruzo os braços e volto a me sentar. A mulher limpaa garganta e relata para mim alguns fatos desconhecidos:
— Lembra que eu te contei sobre a morte de Frank? Eu sofri, masolha só para mim agora, estou bem, porém, alguns anos depois, a esposade Roberto veio a falecer. Foi um choque para todos, porque eles seconheciam desde crianças, eram vizinhos e como você se despede de suaalma gêmea?
Não estava entendendo o que ela queria me dizer com aquilo, elaprossegue, sem esperar por algum comentário meu:
— E depois veio a morte de Rose, a filha deles, outro choque atodos. Ainda mais por causa de Jason, que era uma criança na época. Nósnos perguntamos: com quem ele ficaria agora? Roberto o acolheu, maseu te digo, ainda bem que ele tomou as rédeas da vida desse rapaz, porquese fosse deixar com aquele...
Repentinamente ela para de falar e solta um suspiro profundo
— Nem todos têm escolhas da família que possui.
O que foi que ela disse? A mãe de Jason morreu? Oh, droga! E eua insultei de ter fugido com algum amante ou abandonado o filho,provoquei-o dizendo que não tinha família! Que burra, Shazad! Mandoumuito mal.
— A mãe de Jason... — limpo a garganta e tento mais uma vez,porque agora a minha consciência estava pesada pelas palavras ditas aosenhor Bauer. — Quando ela morreu?
Silvana para pôr um segundo de me olhar, me solta e coça a cabeça.
— Hã, deixa eu pensar... Se Jason está com 24 anos, a senhoritaRose faleceu 9 anos atrás, neste ano fará uma década.
O meu coração se aperta por eu conhecer aquela dor. Foi por issoque ele ficou tão mal por ver as roupas em mim. Será que ele tinha algumarrependimento guardado? Talvez isso explique o fato de beber tanto —usava a bebida como forma de escape de suas lembranças — e a outraforma era bater nos outros para não lidar com a perda e focar na raiva,assim não precisaria lidar com a dor.
A voz da senhora fica mais séria e baixa, quase um sussurro,quando ela me pede mais uma vez:
— Por favor, não comente sobre Rose com os meninos e cuidadocom os seus comentários — os olhos se desfocam dos meus, e elapressiona os lábios, parecendo triste. — Nessa casa eles enfrentarammuitas batalhas desde que Rose se foi, e no fim, essa guerra ainda nãoterminou... Sabe, o Roberto ele pode parecer um homem bem distantedos outros, talvez frio por sua postura toda certinha, mas ele é um dospoucos homens com um grande coração por aqui. E Jason, no fundo, eleé quem mais sofre com toda essa situação, porque as pessoas nãoentendem o que ele passou.
— Por isso ele acolhe pessoas estranhas para morar em sua casa ecuidar como se tivesse responsabilidade por elas? — pergunto, a fim detirar mais informação sobre o lugar que estou.
— Mais ou menos isso... — concorda me olhando atentamente. —Mas eu não sei muito bem do pacientes de Roberto, caso quisesse saberdisso. Mas esse homem teve uma perseverança, quando entrou na justiçapara conseguir a guarda de Jason. Roberto não é de desistir de ninguém,ele luta até o fim com a pessoa, se ela quiser. Foi assim com o Jason, elequem foi o seu primeiro paciente e, após perceber essa vocação, começoua distribuir o que tinha dentro para os outros. Uma ação muito linda egenerosa, apesar de não ser pega na mesma moeda...
Então Roberto sabe sobre Jason e a bebedeira e as agressões?Porque, o que eu vi naquele dia, eu diria que o rapaz ficou fora decontrole!
Mas a culpa me acerta mais uma vez e eu remoo a besteira quetinha feito, esquecendo dos julgamentos a respeito de Jason. Silvana olhao meu rosto vendo com clareza o que eu pensava, porque eu não tivetempo de mascarar o meu arrependimento. Ela me indaga:
— Por que falou aquilo para o Jason? Não vou te criticar, porqueele é um menino difícil de se entender no primeiro momento, mas quandoconfiar nele, ele lutará por você. Jason puxou esse jeito de Roberto, emquerer resplandecer o brilho que existe em nós.
Eu não queria explicar as minhas ações para uma estranha,contudo, ela tinha uma energia que te fazia se sentir acolhida em seusfalatórios.
— Ah, eu não sei, eu fiquei irritada com ele e tendo a falar sempensar...
— Ah, minha querida, não fique assim. Todos nós já falamospalavras maldosas sem entendimento do assunto. Eu mesma já fiz isso!— Silvana segura a minha mão, me confortando. — Frank amava essahistória, porque eu fiz no dia em que conheci toda a família dele. Foi umavergonha que eu nunca esquecerei. Mas no final deu tudo certo.
— O que você fez de tão ruim? — eu não deixo de perguntar, umtanto curiosa.
— Chamei a mãe dele de moradora de rua. — Eu não conseguisegurar a risada por não entender como isso poderia acontecer. Silvanase defende: — Mas não foi minha culpa! Ela estava bem na hora que eucheguei mexendo no lixo e a roupa estava toda suja... eu me confundi efalei para ele e todos na família que tinha um morador revirando o lixo,até dei detalhes da roupa, cabelo... Imagine a minha surpresa e pavor aovê-la passando pela porta da frente e se apresentando como minha sogra.
— Isso foi terrível!
— Bah, isso porque essa é uma das histórias! Você não ouviu nada,ainda! — me avisa, lançando uma piscadela. Ou seja, quandoestivéssemos juntas de novo, poderia até preparar a pipoca, pois a55conversa iria longe. — A propósito, essas roupas eram da donaRosângela?
— O senhor Bauer me entregou essas roupas ontem, após chegarna fazenda. Se eu soubesse de quem seria, não teria aceitado...
Ela segura as minhas mãos e diz olhando para bem dentro de meusolhos:
— Na verdade, você fez bem em aceitar. Ele nunca mexia em nadado que pertencia a ela, por isso estou surpresa em reconhecer as peças.Isso mostra que ele está, de pouquinho em pouquinho, lidando com a dorde sua maneira e seguindo em frente.
Abro um sorriso recordando de minha mãe, uma mulher guerreira,que enchia o mundo de cores e luzes. Fazia tanto tempo que eu nãopensava nela, que meus olhos ficam embaçados com as lágrimas. Eupisco para livrar da sensação de abandoná-la.
— Como... — pigarro, mais uma vez, afastando meus pensamentosde meu coração, para eu não esquecer de quem eu me tornei. Quem Leviescolheu a dedo para ser seu braço direito. Ter aquelas emoções somenteatrapalhavam meu foco. Termino a minha pergunta: — Como ela era?
— Uma mulher cheia de alegria e esperança. Sabe aquela pessoaque chega no lugar e chama a atenção para si por sua beleza,graciosidade, generosidade, simpatia... E todas as qualidades que vocêpensar! Rose era assim. Todos queriam estar perto dela, ser amigo dela.A pureza que ela carregava contagiava os vizinhos. Ela tinha um enormecoração e sempre estendia a mão a quem precisasse — ela vai mecontando sobre essa mulher que eu nunca vi. — Deve ser de família, logovocê perceberá isso.
Quando chega à noite, Silvana vai embora após ter ficado a tardeinteira comigo. Jason passa em meu quarto e entrega as compras, queBauer o havia pedido. Eu não agradeço, mas ele também não fica noquarto esperando aquele meu reconhecimento.
Minutos depois, eu escuto o som de sua moto e eu olho pela janelaele sumir dentro da escuridão. O meu anfitrião se recolhe após a janta eeu também, mas não durmo. Minha mente ainda vagava pelas respostasque Jason me dava.
Ok, ele pode não ser de brigas, porque desde o momento em quepisei aqui, fora o episódio da tesoura — por ser mais umaresponsabilidade minha —, ele nunca tentou me agredir ou me assediar.Isso provava que ele não era violento, contudo, eu não risquei ainda dalista a possibilidade de ele ter ido de embriagar para esquecer esse diamaluco, ainda mais depois de descobrir que a mãe dele faleceu a quaseuma década e ele poderia carregar inúmeras cicatrizes.
Decerto, está bêbado por aí, tropeçando em suas próprias pernas.
De madrugada, eu acordo com o barulho da moto e espio pelajanela para vê-lo e ter a minha conclusão, mas ele não parecia cambalearpara os lados e não tinha atitudes de bêbado. Se ele não bebeu, o que elefoi fazer a essas horas na cidade?
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