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Capítulo Único


Era uma noite de novembro e Natan estava jogado em sua cama, abatido. O dia de trabalho fora improdutivo e, como se não bastasse, no caminho de casa a seta esquerda de sua moto parara de funcionar. Depois de um banho demorado e um jantar bem pesado, o rapaz desligara a tevê na cara do Bonner e fora direto para a cama, onde agora esperava ansiosamente que o sono o roubasse daquele cansaço.

Mas, quando estava quase conseguindo dormir, algo estranho aconteceu. Natan escutou um gemido alto e, no mesmo instante, sentiu que alguém lhe puxava um dos pés. Antes que pudesse gritar, porém, ouviu sua própria voz dizer coisas que não saíam de sua boca:

- Não grite! Melhor, não faça nenhum barulho, se alguém te escutar estaremos num problema daqueles.

Natan relutou em abrir os olhos. Tinha certeza de que estava num daqueles sonhos em que o indivíduo ainda está consciente... Sentiu que a mão largava o seu pé e acendia a luz do quarto, com passos falhos de quem está mancando.

- Melhor não abrir os olhos ainda, concordo. Respire fundo primeiro e tente se acalmar. Depois, tape a boca e então sim, abra os olhos. E procure não se assustar com o que você vai ver, prometo que há uma explicação racional para isso.

Natan, após se convencer de que estava sonhando, sentiu seu medo se esvair e ser substituído pela curiosidade. Abriu os olhos.

Mas, afinal, não estava preparado para o que viu.

À sua frente, estava ele mesmo. Parecia apenas alguns anos mais velho, embora bem mais forte e musculoso, diferente do magrelo que ele costumava ser. Seu rosto era mais adulto e bonito, mas, ademais, exatamente o mesmo. Apenas os olhos estavam anormalmente inchados e vermelhos. Ainda assim, era como se contemplar em um espelho, daqueles que alteram ligeiramente a forma. Natan deu um grito rápido, que reverberou pela noite durante vários segundos.

- Silêncio! Não faça minha mãe, nossa mãe, vir aqui!

Sentindo um misto de aversão e fascinação pela figura à sua frente, Natan finalmente conseguiu falar:

- O que diabos é você?!

- Você, é claro. Oito anos mais velho.

- Ah - o rapaz repetiu mentalmente que era apenas um sonho maluco.

- E não, isso não é um sonho. Eu me conheço o suficiente para saber que é isso que você está pensando.

- É claro que isso é um sonho. Ou então enlouqueci. Das duas, uma.

- Você não está dormindo nem louco, prometo.

Natan ficou calado. Seu outro eu, parado no meio do quarto, observava-o com cautela.

- Vim aqui por um motivo e acho que devo falar dele logo... Então, por favor, pelo menos finja que acredita que sou real e escuta o que tenho a dizer.

Sem se levantar, Natan assentiu. Definitivamente não acreditava, mas queria ouvir as palavras do outro...

- Essa tarde a seta de sua moto parou de funcionar. Estou certo?

- Sim...

- Você precisa consertá-la imediatamente.

Natan ficou de boca aberta e piscou várias vezes.

- Você viajou no tempo só pra me dizer isso?

- Aham.

- Por quê?

- Pra começar, aquela seta estragada fará com que você se torne eu.

- Você? Como assim?

- Olha, eu me lembro bem dessa fase em que você está agora. Eu estava lidando, quero dizer, você está lidando com a sensação de fracasso constante, pois sente o tempo passar e todos os seus sonhos irem por água abaixo. Você agora torce por um milagre, pelo dia em que encontrará algo que te motive a ser quem você sempre quis ser. E, segundo meus cálculos, esse dia chega amanhã. - O outro fez uma pausa e sorriu. - Então decidi voltar aqui, e impedir que isso aconteça.

Ver a si mesmo lhe falando de seus anseios era assustador. Ver a si mesmo falando que voltara no tempo para impedir um tão sonhado futuro era ainda mais incrível.

- Por que quer me impedir de me tornar você?

- Porque eu me tornei quem sou pelo meio errado!

Natan fez cara de nojo.

- Ãh? Virei ladrão, político?

- Há uma mulher. Ela mudará sua forma de enxergar a vida, e vai te motivar a ser quem você sempre quis. É no amor dela que você vai confiar suas conquistas, e é através dela que você vai realizar seus sonhos. Ela será o alicerce sobre o qual você construirá seu futuro.

- Sério que essa mulher existe? - sorriu Natan, fascinado.

- Existe. E você não pode conhecê-la.

- Quê?!

- Você não pode alicerçar sua vida por cima de uma única pessoa! Se esta pessoa se for, tudo que você tiver construído ruirá! E, além do mais, não seria um fardo muito pesado pra ela sustentar?

Um arrepio levantou cada um dos pelos de Natan.

- O que aconteceu no futuro? O que essa mulher fez a mim, ou... o que eu fiz a ela?

- Não posso dizer... Temo que, se eu descrever o futuro do qual vim, ele deixará de ser uma variável e se tornará uma constante. Não vou brincar ainda mais com o Tempo.

- Mas agora já sei que, daqui a oito anos, algo dará errado! Não acha que você já estragou minha segurança de futuro ao lado dessa mulher?

- Ah, não. Ao amanhecer, é provável que você se esqueça desse nosso encontro, e tudo isso pareça apenas um sonho opaco... Por isso te rogo: levante-se imediatamente, e vá consertar a seta.

- Onde a seta entra nisso tudo?

- Amanhã, a caminho do trabalho, você vai fazer uma curva arriscada; mas, sem poder sinalizar, acabará sendo pego pelo carro atrás de você. Um acidente violento, mas sem fatalidades. A motorista que te atropelou vai ficar preocupada e, depois, furiosa. Como vocês vão brigar! Será até difícil imaginar, naquele momento, que vocês um dia irão se casar... Só vão parar de brigar quando ela perceber que está sangrando.

- Ela será a motorista?

O outro assentiu, triste.

- Tudo começou com trauma. E tudo termina com trauma. Portanto, saia desse quarto, vá até a moto e conserte a maldita seta.

- Por que você mesmo não consertou, em vez de vir até mim?

- Eu tentei. Mas sequer consegui tocá-la. Eu vim de um futuro que ela criou, por isso não tenho poder sobre ela. Mas você tem. Conserte-a... Por favor... Agora...

Natan não sabia o que pensar. Que sonho louco era esse que estava tendo? Fechou os olhos brevemente, respirou fundo e os abriu outra vez. Levou um susto.

Ele desaparecera.

Olhou para os lados, procurou embaixo da cama, abriu o guarda-roupa, mas nada. Então se sentou e olhou para o relógio; era difícil acreditar que apenas dez minutos atrás estivera esperando adormecer! Agora era uma espécie de Ebenezer Scrooge pós-encontro com o espírito dos natais futuros...

Começou a pensar na tal mulher. O que ela lhe teria feito no futuro, ou, pior, o que ele teria feito a ela? Se ela o motivaria à realizar seus sonhos, por que impedir-se de conhecê-la? Afinal, pela aparência bem cuidada do outro Natan, não poderia ter acontecido nada tão terrível assim...

Deitou-se e fechou os olhos novamente. Talvez o melhor fosse dormir, e fugir dessa decisão maluca.

De repente, ouviu um grito e um puxão nos pés.

Ficou tão paralisado que até sua mente pareceu congelar. O grito que ouvira não tinha a sua voz, nem sequer parecia um grito de homem. Era obviamente o de uma mulher. E - isso também pareceu tão óbvio que o assustou - só podia ser o dela.

- Pô, Natan, essa cama ocupa o quarto todo. Quase quebrei a perna agora.

Ela falava com intimidade, como se o conhecesse a vida inteira. Era uma voz suave e, naquele instante, um pouco fraca. Ele abriu os olhos, o coração acelerado.

Uma linda jovem, apenas alguns anos mais velha do que ele, estava parada ao lado de sua cama. Seus cabelos eram louro-prateados e pareciam ter luz própria, assim como seus olhos castanho-claros. O rosto dela era uma das coisas mais lindas que Natan já vira, mas possuía uma peculiaridade: uma grande cicatriz, que descia da têmpora até o canto esquerdo da boca. Uma cicatriz que em nada subtraía sua beleza.

Natan sentou-se, amedrontado, sem falar nada.

- Você não me conhece, mas acho que acabou de ouvir falar de mim... Né?

O jovem permaneceu mudo.

- É tão estranho e, ao mesmo tempo, tão legal te ver desse jeito. Eu tinha até me esquecido de como você costumava parecer. Isso está me trazendo lembranças tão boas...

- Quem é você?

- Parte de um futuro que você não quer - ela suspirou. - Você também mudou minha vida, sabia? A gente rodou esse mundo junto e, afinal, não tem como ser a mesma pessoa depois disso - ela riu. Então olhou ao redor, analisando o quarto. Seus olhos pararam no relógio perto da cabeceira da cama.

- Ah. Quase no dia.

- Que dia? O do acidente?

- Sempre suspeitei que você desejava nunca ter me conhecido... E, sabe, você tinha toda a razão.

- O que aconteceu? Lá, no futuro?

- Você percebeu uma verdade.

- Não entendo...

- "Não entendo"... - ela gargalhou. - Desculpe, nunca tinha ouvido essas palavras sair de sua boca antes.

- Tá dizendo que no futuro eu sou arrogante?

Ela riu e começou a andar pelo quarto, inquieta.

- Um pouco.

- Aném!

- Sabe, quando a gente estava se conhecendo ainda, eu te disse que odiava gente arrogante - então ela piscou. - Eu estava mentindo.

Natan riu, e se repreendeu por isso. Não lhe agradava a possibilidade de estar gostando da loucura.

- Fale-me mais sobre amanhã... A gente se machucou muito?

- Mais com palavras do que com o acidente. Pensa na briga! No mais, ganhei essa cicatriz. Horrenda, né?

Ela se calou e, de repente, o silêncio reinou. Então ela parou e disse, baixinho:

- Acho que devo ir.

- Aonde? Embora? Mas você acabou de chegar!

- Sinto muito. Vim apenas me despedir.

- Despedir? Por quê?

Novamente o silêncio. Então ela se virou para uma parede e ficou fitando-a, como se esperando ver uma porta se materializar ali.

- Lembro que, no início, você me dizia que eu mudei sua vida, que te motivei a conquistar todos os seus sonhos. E isso me assustava, pois eu tinha medo de que, um dia, você percebesse que eu não era tão incrível quanto você imaginava, mas apenas uma mulher qualquer, com uma cicatriz horrível na cara.

A jovem apontou para o rosto.

- Nenhuma cirurgia plástica conseguiu remover isso. Quem quer uma mulher com o rosto assim?

- Do que você está falando? É a mulher mais linda que já vi!

- Ah é, você costumava dizer isso. Mas, com o passar dos anos, as viagens a serviço foram tomando o seu tempo, até chegar ao ponto em que eu mal te via. Então entendi que, na verdade, você estava me evitando. Só podia ser isso. O encanto dos primeiros anos tinha cessado, e você agora me enxergava pelo que eu realmente era: uma mulher comum, pior ainda, desfigurada. Incapaz de inspirar alguém. Talvez até se arrependesse de ter me conhecido.

- Você entendeu errado...

- É tudo minha culpa. Falhei as expectativas que você colocou em mim. Queria que você estivesse lá, naquele último momento, para eu dizer que sentia muito... Deixei uma carta... Espero que você tenha lido...

Ela se virou e acenou um adeus, desaparecendo pela parede do quarto como se estivesse sendo sugada. Mas houve tempo suficiente para que Natan visse, em seu pulso, um risco vermelho.

Natan ficou imóvel por muito tempo, a marca vermelha gravada em suas retinas. E repentinamente ele entendeu tudo. Soube exatamente o que o fizera voltar no tempo, o que tinha acontecido .

Em poucas horas, num acidente causado por ele mesmo, conheceria a mulher de seus sonhos. Mas o mesmo acidente que a traria à sua vida deixaria um grande trauma na vida dela. Além disso, o rapaz jogaria nas costas dela um peso tão insuportável que ela, um alicerce fragilizado, não aguentaria. Tudo isso se somaria e, oito anos depois, culminaria no fim daquela mulher.

Agora ele tinha que escolher.

Consertar a seta, e continuar levando essa vidinha abatida de sempre; ou não consertar, encontrar a mulher que daria vida aos seus sonhos, mas com isso sentenciá-la à morte.

Agora que a conhecera, contudo, era incrivelmente difícil imaginar sua vida sem ela... E se conseguisse fazer diferente? Mesmo que ele não se lembrasse dessas visitas amanhã, talvez a lição ficasse gravada em seu subconsciente. E ele saberia que não deveria sufocar aquela mulher, negligenciar o casamento com ela, deixar o trauma dela ser alimentado. Talvez esse futuro que conhecera hoje fosse apenas uma variável, e pudesse ser alterado...

A madrugada foi longa e repleta desses debates internos. Mas, aos poucos, uma decisão foi ganhando vida...

-

Horas depois, quando ligou a moto para ir trabalhar, Natan pouco se lembrava da noite anterior. Tudo já era apenas um sonho incerto, inclusive os debates da madrugada.

Mas uma coisa era certa.

A seta da moto continuava sem funcionar.


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