Tudo daria certo na minha vida, foi o que pensei quando o conheci. Recém divorciada, com uma filha e estando no início de uma doença que me levaria a paz para sempre.

Eu mal falava o básico do espanhol e ele não falava português, então optamos por conversar através da escrita e de um site de aprendizado, começamos nossa jornada através do MSN.

Todos os dias acordava bem cedo, pois entrava no trabalho as 6:30 da manhã, mas acordava tão feliz que mal dava para controlar, pois sabia que iria falar com ele. Passávamos o dia todo falando frivolidades e rindo de muitas coisas juntos.

A partir desses inúmeros assuntos nasceu uma amizade que se tornaria base para tudo o que eu passaria. Passei a contar tudo para ele, ele era o meu apoio, minha base, minha força para aguentar cada dia que passava.

Não tenho como descrever a felicidade e confusão que senti ao ouvir a voz dele pela primeira vez, eu mal o entendia, mas a melodia suave de sua voz me deixava em êxtase.

Muito tempo se passou nessa mesma rotina, até que finalmente chegou o momento, eu iria para Madrid, iria vê-lo, falar com ele, ver seus traços e dar um grande abraço que eu tanto ansiava e necessitava.

Combinamos o encontro na frente de um bar chamado Gambrinus, fui até lá com o coração saindo pela boca. Cheguei cedo e tive que esperá-lo, os minutos pareciam eternos. Foi quando o vi, ele parou na minha frente perguntando se era eu mesma. Assenti mas fiquei paralisada pelo nervosismo e não conseguia falar. Fui tentando relaxar, conversamos timidamente o tempo inteiro, tomamos uma Coca Cola e nos despedimos, sem o abraço que eu tanto queria.

Esse abraço me atormentou durante as noites e me tirava do sério durante o dia, mas somente depois de um ano pude voltar para Madrid e dessa vez eu não poderia cometer o mesmo erro, não poderia ser vencida pela timidez novamente.

Marcamos no mesmo lugar e novamente meu coração estava descontrolado, o vi se aproximar com passos firmes e eu fui ao seu encontro decidida. O abraço chegou, antes de qualquer palavra dita... sim, o abraço.... aquele abraço aconchegante que eu sonhei por tanto tempo.

Me desmanchei nos braços fortes dele e me senti acolhida, os sentimentos guardados dentro de mim vieram como um furacão, uma explosão. Senti minha alma sair do corpo, me sentia vivendo a música ​Bohemian Rhapsody, e senti como se o início da música, naquela bonita balada, fosse toda a minha espera até esse momento e o abraço chegou na mesma hora em que Freddie Mercury cantava com tanta emoção ​Sometimes wish I'd never been born at all seguida com a mesma explosão de sentimentos no solo da guitarra de May em um dos melhores solos de todos os tempos.

Hoje esse abraço se resumem nas vozes de Freddie Mercury, Roger Taylor e Brian May em um coro nas tessituras média, aguda e grave. Abraço e vozes que sustentam a vida cheia de demônios que querem me levar.

Não pense com isso que éramos um casal apaixonado, éramos apenas dois amigos que sabiam sentir um a vida do outro.

Já se passaram anos, hoje quase não nos falamos, ele está muito distante com uma família linda, vivendo a sua vida do mesmo jeito que eu vivo a minha. Mas esse abraço, esse inesquecível abraço, junto com a lembrança de sua doce voz e todo o carinho que pude sentir por todo esse tempo continuam me acalmando como no final da música:

Nothing really matters
Nothing really matters to me

Anyway the wind blows

"Nada realmente importa, nada realmente importa para mim, vou para onde o vento me soprar" vou para junto desse mágico abraço que mudou a minha vida para sempre.