Capítulo 6
Dia 16 do 11º mês do ano 111.
Hoje é véspera do aniversário da minha princesinha e mais uma vez passei quase o dia todo longe de minha filha cumprindo com as obrigações de uma princesa. Quando finalmente pude ir ao encontro dela, a sua tutora de etiqueta falava com ela como se minha filha estivesse para debutar em seu baile de dezoito anos e não prestes a completar apenas três aninhos de vida.
"Amanhã durante a festa, nada de rir muito alto e muito menos nada de correr e pular, alteza! Esse tipo de comportamento não é aceitável para a futura soberana de Fênix." Dizia ela a minha menininha que encarava a severa tutora com olhos amedrontados e lábios trêmulos tentando não chorar.
Contrariando todo o protocolo real, dei por encerrada a suposta aula e levei a minha filha para o mais longe possível daquela mulher.
Sei que faz parte de nossas obrigações seguir com primazia os protocolos reais, mas será mesmo necessário impedir uma criança de correr, brincar e sorrir apenas para seguir a risca protocolos criados em uma época há muito tempo extinta?
Quando aceitei esse casamento, eu sabia o que estava por vir.
Como membros da realeza, estamos cercados por inúmeros protocolos o tempo todo. Até mesmo escrever nas páginas desse diário faz parte do protocolo real. Embora eu tenha certeza que um diário a moda antiga escrito no papel e com caneta não era bem o que tinham em mente quando me informaram de mais essa obrigação como futura rainha.
Reconheço que *NAs de memórias multidimensionais são muito mais práticos, mas se é para seguir uma tradição, que seja à minha maneira. Afinal não há firewalls que não possam ser derrubados, sistemas que não possam ser corrompidos, dados que não possam ser copiados e roubados. Por outro lado, papel é algo tão frágil que pode desaparecer com uma simples chama...
Essa lição meu adorado marido fez questão de me ensinar pessoalmente, já que além de príncipe também tem como passatempo hackear sistemas de seu próprio governo nas horas vagas. Embora segundo ele, esteja apenas testando a segurança para saber se os funcionários do Ministério da Inteligência Cibernética estão fazendo por merecer seus altos salários pagos com os impostos da população.
Escrevo essas palavras enquanto observo a minha princesinha dormir e vê-la adormecida me preocupa. Ela não tem o semblante sereno como o de outras crianças enquanto dorme. Pelo contrário. Ela parece exausta e tensa. Adjetivos que nunca deveriam ser atribuídos a uma criança de apenas três anos, muito menos quando essa criança deveria estar embalada no doce mundo dos sonhos infantis.
Minha filha já nasceu com um fardo muito pesado em seus ombros. Será a primeira mulher a governar o reino mais poderoso dos cincos reinos da Ascensão e isso me causa muita apreensão.
Olho mais atentamente ao rosto de minha menina iluminado pela fraca luz do abajur e o meu coração se comprime de pavor.
Confesso que tenho muito receio pelo futuro de minha filha. Temo pelo tipo de adulta que ela pode se transformar ao crescer nesse meio que nos rodeia.
Não há meio termos na realeza. Ou a mimam em demasia satisfazendo todos os seus caprichos ou podam pela raiz seus sorrisos inocentes. E minha menina tem um sorriso tão doce...
Talvez eu esteja estragando a personalidade de minha filha ainda mais, porém ao fim de cada dia, quando seus tutores já terminaram com suas superestimadas lições, digo sempre a minha princesinha: "Ignore tudo que tire o sorriso de seus lábios, minha filha".
Se eu pudesse, encarregaria Nana como tutora principal responsável pela educação real de minha filha, já que ela é a única com bom senso por aqui. Entretanto, não posso pedir isso a ela, por mais que eu saiba o quanto Nana adora a minha princesinha. Como secretaria pessoal de meu sogro, Nana mal tem tempo para respirar com tantas atribulações demandadas pelo rei.
E o bem estar emocional da minha filha não é a única coisa que me preocupa. Marcus e o meu sogro me garantem o tempo todo que ela é perfeitamente saudável, assim como Sheri me fez a mesma garantia da última vez que avaliou os exames de minha menina, mas a minha intuição de mãe diz o contrário. Como poderia estar tudo bem quando ela apresenta uma anormalidade tão significativa de...
Não! Não me deixarei abater por pensamentos pessimistas. E farei de tudo para garantir a felicidade da minha filha. Assim como irei me empenhar para que ela se torne uma rainha justa, honesta e acima de tudo para que se torne uma boa pessoa.
Em uma espécie de ritual, com dedos trêmulos o soberano de Fênix fechou as páginas do diário de sua falecida esposa com extremo cuidado e veneração. Aquelas páginas há tanto tempo escritas ainda continham o perfume de Audrei e o rei sempre se sentia grato por ela ter preferido algo tão rudimentar e obsoleto quanto o papel para registar suas memórias.
Nenhum *Nano Arquivo, com a mais alta tecnologia já criada, seria capaz de reproduzir sua fragrância com tamanha perfeição da mesma forma que meras páginas de um papel.
Sempre que via a letra graciosa e delicada de sua amada, era como se ela ainda estivesse ali com ele e o rei sentia um familiar aperto em seu peito que o fazia desejar pelo impossível.
Será que algum seria capaz de se perdoar por não ter sido capaz de proteger o amor de sua vida? Será que Audrei o perdoaria pelo que fez a filha deles?
O Rei Marcus ainda tinha dúvidas se tinha mesmo tomado a melhor decisão quanto a princesa. Como rei talvez ele tenha feito a coisa certa pela futura soberana de Fênix, mas como pai teria ele feito mesmo o melhor por sua filha?
- Nossa filha às vezes tem um gênio difícil, também é teimosa em certas ocasiões, mas a forma que escolhi que ela fosse criada e tudo o que fiz por ela, fará dela a rainha forte que esse reino precisa. -o rei disse em voz alta para a esposa de suas lembranças. – Você com certeza não concordaria comigo, mas tudo seria diferente se você não tivesse nos deixado tão cedo, meu amor...
Entretanto o rei não podia se permitir se perder nas memórias. Audrei estava certa em se preocupar com a filha deles.
A princesa era diferente. Possuía uma anomalia que ele ainda não sabia dizer se era algo positivo ou não. E ele escondia isso dela. Dizia a si mesmo que manter segredo sobre sua condição era pelo bem dela, mas sabia que chegaria o dia que se veria obrigado a contar verdade a princesa. E mesmo conhecendo a filha tão bem quanto conhecia, essa era uma questão em que se via incapaz de prever qual seria a reação dela diante de algo tão assustador.
Sua filha já havia sofrido tanto com a perda da mãe em circunstancias tão cruéis e tudo o que o rei queria era poupá-la de mais sofrimento. Entretanto agora a princesa também corria perigo e tudo por causa de NYX.
O rei tinha plena ciência que os demais monarcas queriam ver sua filha morta para poderem usurpar o trono de Fênix e acima de tudo terem o controle sobre o poder NYX. Arriscar a vida de sua única filha era um preço alto demais para um pai, mas como rei, ele deveria fazer o impossível para proteger NYX. E dessa vez estava preparado.
Se antes todos repudiavam a seleção de guarda-costas da Família Real de Fênix, agora todos saberiam o real significado da palavra atroz... Todos veriam com seus próprios olhos o que o Soberano de Fênix era capaz de fazer para proteger o poder de NYX.
E acima de tudo, todos veriam que ninguém deve ousar a mexer com a sua família novamente.
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Finalmente um capítulo novinho em folha!!!! Espero que tenham gostado de terem conhecido um pouco da rainha Audrei ^_^. Comentem a vontade, convidem os amigos e não esqueçam de votar . ^_^
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