Capítulo 5
- Fale baixo! -Ânya implorou ao irmão em um fio de voz. - Não precisa fazer tanto drama!
- Drama? -não havia iluminação na sala depois que Layce os deixou levando consigo sua lanterna e Ânya agradeceu ao Criador por não poder ver a mistura de fúria e reprovação certamente presentes no rosto do irmão naquele momento. - Você me prometeu que nunca mais iria se esgueirar para o solo, Ânya! Além do mais, você se feriu! Pode estar contaminada!
- Se não me contaminei das outras quinhentas vezes que estive lá embaixo, não vai ser agora que algo irá acontecer comigo. -a garota desdenhou totalmente despreocupada. - Além do mais, só me machuquei depois, no Centro de Reciclagem!
- Quinhentas vezes? Você me disse que só desceu algumas poucas vezes!
- Foi apenas modo de falar, Lipe! -na verdade deviam ser umas mil vezes, pensou a jovem, mas achou melhor não entrar em detalhes.
- É sério, o que você tem na cabeça? Você quer morrer?
- Eu estou bem. -Ânya bufou irritada com a histeria do garoto mais velho. - Não há com o que se preocupar. -maldita hora em que se viu obrigada a confessar ao irmão que a maior parte das quinquilharias que vendia não vinha do lixão.
- Ânya, você comprou a galinha com penas do velho Omar, não é?
O velho Omar era um senhor que trabalhava no laboratório de clonagem animal, no setor de descarte, especificamente falando. Sua função era levar para a fornalha experimentos que deram errado, mas o velho conseguia um lucro extra vendendo a carne dos animais para quem estivesse disposto a pagar por um alimento fresco, mesmo que a procedência fosse duvidosa.
- Felipe Dantas, exatamente o que você está insinuando com essa pergunta?
- Você não encontrou a galinha lá embaixo, certo? -o garoto disparou a acusação disfarçada de pergunta com fúria embutida em cada palavra sussurrada entre os dentes. - Você deixar que eles deduzam que a galinha está contaminada por ser resultado de um experimento falho é uma coisa, mas expor a todos nós ao risco de uma contaminação real é...
Antes que o irmão dissesse algo que fosse se arrepender mais tarde, Ânya o calou com um forte safanão na cabeça.
- Ai! -a garota ouviu o irmão reclamando baixinho.
- Eu jamais iria expor vocês a qualquer tipo de perigo! -Ânya se defendeu um tanto magoada com a acusação do irmão mais velho. - É claro que eu comprei a galinha daquele velho carniceiro!
Era verdade que nunca nem tentou abater a galinha depois que a comprou, mas a ave realmente veio de um laboratório e não do solo.
- Ótimo, mas realmente acredita que está tudo bem se for você a se expor ao perigo? Acha que não nos preocupamos com você tanto quanto se preocupa com a gente? -Ânya achava que merecia um pedido de desculpas, mas decidiu se calar e esperar a continuação do sermão que estava só começando. - Você me prometeu que nunca mais iria voltar ao solo e quebrou a promessa, Ânya!
- Lipe, você sabe tão bem quanto eu que as pessoas não jogam objetos raros no lixo para simplesmente comprá-los depois. - a garota argumentou o óbvio. - Não há mais nada que dê para se aproveitar do lixo! Tenho que buscar as minhas mercadorias no único lugar que posso encontrar coisas que valham algum dinheiro!
- Ânya, você não precisa se sacrificar e muito menos deve se arriscar por nossa causa! -a aflição e desespero na voz do irmão a comoveu ao ponto de lhe causar um nó na garganta. - Ano que vem você irá para uma faculdade e...
- E acha mesmo que vou me conformar com isso? -ela o interrompeu furiosa. - Que vou frequentar a faculdade com tranquilidade enquanto os meus irmãos serão obrigados a serem meros operários porque não tivemos dinheiro para pagar estudo para todos?
- Você deveria ser grata pelo seu pai poder te pagar uma universidade e não se preocupar com a gente!
- Isso é o mínimo que ele poderia fazer já que não se deu ao trabalho de me criar! -a garota retrucou com amargura. - E quero que vocês tenham as mesmas oportunidades!
- Maninha...
Sua família atipicamente numerosa era o que tinha de mais precioso em sua vida. Era uma família incomum, era verdade. Ninguém nos dias de hoje teria tantas crianças para alimentar em sã consciência. Mas os tios não eram irresponsáveis como quem via de fora pensava. Muito pelo contrário.
Tia Dara já tinha o Lipe e a Day, que não era seus filhos biológicos, quando conheceu o tio de Ânya e assim como o tio era responsável por sua sobrinha, a tia cuidava dos filhos de seu falecido irmão.
Provavelmente foi essas tristes coincidências que os aproximou a princípio. Depois de casados tiveram a Layce e logo em seguida adotaram Allan, que era filho de um casal de amigos que partiram para uma rebelião contra o governo e nunca mais voltaram. As gêmeas tinham sido abandonadas ainda bebês dentro de uma caixa sintética na frente do apartamento da família e os tios não hesitaram em acolhe-las. Já o mais novo membro da família, tinha perdido a mãe, amiga de sua tia, para um terrível acidente na fábrica de produção de robôs.
Independente de não compartilharem o mesmo sangue, todos se tratavam como irmãos e os tios tratavam todos igualmente como seus filhos biológicos. Assim como todas chamavam os tios de Ânya de pai e mãe. A garota era a única que se dirigia a eles como tios. Ela tinha um pai no fim das contas e o tio também insistia que ela honrasse a memória de sua mãe que deu a vida por ela.
- Você é brilhante, Lipe! -Ânya repetiu pela enésima vez. - Você deveria estar cursando faculdade de engenharia mecatrônica e não fazendo aquele curso técnico idiota de lubrificação de robôs. E a Layce, ela ama animais e um dia deveria ter a oportunidade de ser uma geneticista animal e dar a eles o tratamento que eles realmente merecem. -a garota parou um momento para respirar antes de prosseguir. - A Day e sua paixão por imagens poderia criar dimensões incríveis um dia. O Allan com toda aquela lábia dele poderia até mesmo fazer parte do Parlamento. Assim como a Stefany e a Ludmila devem ter a chance de serem o que quiserem também. E o Dudu...
- O Dudu tem apenas um ano e ainda temos tempo antes de começarmos a nos preocupar com a faculdade dele. -foi a vez de Felipe interromper a irmã. - E mesmo as gêmeas ainda são muito novas! Ânya, você não precisa carregar o mundo nas costas! Você não pode mudar o Sistema!
- Posso não ser capaz de mudar o sistema, mas nada me impede de tentar mudar o futuro dos meus irmãos. -a garota cuspiu as palavras carregadas com sua revolta. - E já chega dessa conversa!
- Tudo bem! Pelo visto só há uma forma de impedir você de continuar descendo ao solo arriscando sua vida! -o tom do irmão não agradou Ânya nem um pouco. - Irei vencer essa maldita seleção e com o dinheiro que irei ganhar vou garantir o estudo de todos!
- Faça como quiser! -declarou a jovem afofando o travesseiro e dando as costas para o irmão. - Agora me deixe dormir, pois tenho que levantar cedo.
- Boa noite, Ânya.
Ânya ouviu o irmão se ajeitando no colchão fino e não demorou muito para ouvir o seu ronco.
Estava com sono e muito cansada, mas não era somente os roncos do irmão que a impediam de dormir. As palavras dele se repetiam sem parar em sua mente. "Você não pode mudar o sistema". Não havia nada que a garota odiasse mais do que o Sistema.
Desde que a Era da Ascensão foi instaurada, não havia mais universidades públicas. Não importava mais quão inteligente fosse um jovem, ele jamais poderia ter uma formação acadêmica se não tivesse dinheiro para pagá-la. Muito dinheiro. Restava as pessoas de classe baixa se contentarem com subempregos sem nenhuma perspectiva de terem a profissão dos seus sonhos e muito menos de poderem subir na vida.
Foi uma excelente manobra do governo, Ânya admitia para si mesma. Deixar a população geral com apenas o estudo básico, limitando e controlando o conhecimento para que aceitassem como certo e justo o que quer que o governo decretasse. Somente a elite endinheirada podia mandar seus filhos para excelentes escolas e dessa forma a classe alta se manteria por gerações e gerações no poder.
Sempre que Ânya não conseguia dormir devido aos roncos de Lipe, se imaginava criando um grupo de rebeldes que lutaria contra o sistema desigualitário do governo. Nesses sonhos onde se permitia tudo, iria em busca de outros que pensasse como ela, onde todos lutariam pelo direito ao conhecimento.
Entretanto Ânya realmente não podia se dar ao luxo de se preocupar com o mundo todo. Seus irmãos vinham em primeiro lugar sempre. Quando juntasse dinheiro o suficiente para pagar pelos estudos de todos, o governo teria que aceitá-los, mesmo a contragosto, do mesmo modo que foram obrigados a engoli-la. Seu pai podia ser ausente, mas pelo menos mandava dinheiro o suficiente para mantê-la em uma escola privada e já tinha lhe assegurado uma vaga em uma universidade. Ainda não tinha decidido qual curso escolheria, mas no ano seguinte estaria sim estudando em uma universidade. Ou melhor, isso se não...
Esse era um assunto que a garota definitivamente evitava pensar, mas volta e meia era onde seus pensamentos a levavam. Talvez não vivesse muito para cursar uma faculdade.
Ainda se lembrava quando estava com doze anos e um de seus vizinhos, Tes, um sujeito estranho, com uns dezoito anos talvez, se aproximou perguntando se ela queria ganhar um dinheiro extra. Ele tinha as mercadorias, objetos raros do passado, mas não tinha acesso aos ricos compradores. Ao contrário de Ânya, que convivia com os filhos dos ricos em sua escola. Ânya por sua vez conhecia Jasper, o filho de um proeminente negociador de relíquias. Logo se deu conta que mexer com quinquilharias era um excelente negócio. Embora fosse uma mera intermediária, apenas a sua comissão lhe rendia bons lucros.
Contudo, cerca de dois anos depois, Tes começou a ficar estranho, fraco, sempre cansado e ainda assim parecia incapaz de conseguir dormir. Um dia, quem apareceu para a entrega das mercadorias foi Ian, irmão mais novo de Tes. Ele apenas disse que o irmão estava doente e não demorou para Ânya ficar sabendo que Tes havia morrido de uma misteriosa doença.
Ânya seguiu trabalhando com Ian pelos dois anos seguintes, até que os mesmos sintomas estranhos do irmão começaram a surgir no garoto. Ian tinha se tornado mais do que apenas um grande amigo e quando parecia que não teria mais forças para sequer continuar respirando, ele disse que a levaria até a fonte onde conseguia as quinquilharias. Contou que o trabalho no Centro de Reciclagem era apenas um subterfúgio. Então ele a levou ao solo pela primeira vez. E ela nunca se esqueceria daquele dia enquanto vivesse.
Uns dias depois ela perdeu o seu amigo e parceiro. O seu primeiro e único namorado. Ficou com o seu posto no Centro de Reciclagem e passou a ser a fornecedora direta de Jasper.
Já fazia quase dois anos que estava nessa vida, que se esgueirava com frequência para o solo. E ultimamente não estava conseguindo dormir muito bem...
Não. Não conseguia dormia bem por causa dos roncos do irmão, pensou Ânya apertando forte os olhos e se forçando a dormir.
No dia seguinte, bem cedo, enquanto todos ainda dormiam, Ânya já estava para sair quando viu a encomenda do pai em um canto da sala.
Na ponta dos pés e com todo o cuidado para fazer o mínimo de barulho possível, Ânya pegou o pacote e o levou para abri-lo na estreita cozinha.
Tão logo abriu a caixa, um sorriso despontou em seu rosto. Havia dois pares novos de calças jeans, ou melhor, tão novos quanto poderiam ser peças que somente seriam encontradas em museus. A garota jamais entenderia como algo tão maravilhoso quanto o jeans tinha saído de moda há quase um século. Certo, reconhecia que as roupas de embrex possuíam inúmeras vantagens, mas o material sempre pinicava a sua pele. Só de lembrar, sentiu coceiras por todo o seu corpo. Se era algo psicológico ou não, era certo que Ânya passaria no banheiro antes de sair para trocar sua calça de embrex pelo seu jeans novo.
Quando tirou os jeans da caixa, a garota viu dois livros de papel esperando por ela e seus olhos brilharam de alegria. Como poderia ficar brava com alguém que lhe dava livros raros de presente?
Outra coisa que não conseguia entender, era como a sua geração poderia preferir livros digitais a livros impressos? Como algo tão mágico poderia ter se tornado obsoleto também? Não havia nada melhor do que cheirinho de livro e poder sentir suas páginas deslizando entre seus dedos.
Tudo bem que as árvores quase entraram em extinção e na atualidade elas eram meticulosamente cultivadas em laboratório de modo a se adaptarem as necessidades dos patamares, mas havia os papéis sintéticos. Não seria a mesma coisa, mas seria melhor do que terem abolido completamente os livros físicos.
Eram nesses momentos que Ânya agradecia a profissão do pai. Ele era um historiador a serviço de um famoso museu e viajava pelos reinos em busca de informações perdidas sobre a história do mundo. Informações deletadas, era o que Ânya acreditava.
Ânya também suspeitava que o pai fazia negócios ilícitos, pois o museu não pagava tão bem a ponto de ele poder sustentá-la em uma escola privada e muito menos poder enviá-la para uma universidade. Mas a jovem não se importava nem um pouco. Gostava de pensar que de certa forma ela e o pai trabalhavam no mesmo ramo de profissão, afinal os dois viviam de objetos do passado.
Além do mais, era graças essas viagens que o pai conseguia vez ou outra lhe presentear com seus preciosos livros de papel.
Com certa reverência, Ânya tirou os dois exemplares da caixa. Os dois eram mais raros do que pensava, pois eram de capa dura. Um deles era bem grosso, roxinho, com luas coloridas e uma ruiva intimidadora na capa. "Arco-Íris de Luas" dizia o título. A sinopse era muito interessante e Ânya não via a hora de começar a lê-lo. Com todo o cuidado o colocou na mochila, em uma partição diferente de onde estava o violino que daria de presente ao sr. Kim, para lê-lo no caminho.
O segundo livro, tão grosso quanto o primeiro, tinha uma capa maravilhosa com uma coroa em chamas durante a aurora e uma lombada vermelha com detalhes dourados. "Trilogia As Lendas de Atokad - O Véu do Tempo - Livro 1". A sinopse era mágica e Ânya iria começar esse livro tão logo devorasse o outro.
Demorou alguns segundos para algo ocorrer a garota. Livro 1? Ânya vasculhou a caixa a procura de mais livros e não encontrou mais nada. Como seu pai se atreveu a mandar apenas o primeiro livro de uma trilogia? Ele sabia que ela sofria de ansiedade crônica se tratando de seus amados livros.
Ânya pegou a caixa e a devolveu para o seu canto na sala com uma calça jeans ainda nela. Depois a colocaria em sua gaveta no guarda-roupas. Já o livro, o guardou na sua prateleira, junto com os outros que colecionava, ao lado da tela da TV. Um dia teria o seu próprio quarto e teria muitas prateleiras para enchê-la com todos os seus preciosos livros. Seus maiores tesouros.
Depois de se trocar, Ânya teve que correr para a parada do metrô. Teria um domingo cheio pela frente e ainda por cima teve que desacelerar um pouco seus passos, pois seu brinco vibrou em sua orelha alertando-a para uma ligação.
- Ativar tela e sensores de movimento. -Ânya deu o comando após pressionar o dispositivo em sua orelha.
A palavra "pai" surgiu na tela holográfica identificando a ligação.
- Aceitar chamada. -uma imagem totalmente distorcida e com listras pretas apareceu diante dos olhos da garota.
- Não é porque vive de quinquilharias do passado que tem que usar esses modelos antiquados de IComp.
- Bom dia para você também, minha querida Flor de Cacto! -veio a voz do pai carregada de estática e chiados do outro lado da linha. - E se eu comprar um aparelho novo, não me sobrará dinheiro para comprar seus preciosos livros! E só para constar, são valiosíssimos mesmo! Quase me custaram o olho da cara!
- Muito obrigada, pai. -suspirando pesadamente, já que continuava correndo, Ânya agradeceu. - Eu amei os livros de capa dura.
- Faço qualquer coisa para deixar a minha amada Flor de Cacto feliz.
Aparecer para uma visita também a deixaria muito feliz, mas Ânya achou melhor não desperdiçar palavras com o comentário.
- Então quer dizer que vai me conseguir os dois últimos livros da trilogia, senhor Cacto? -foi o que disse em voz alta.
Senhor Cacto e Flor de Cacto, eram apelidos secretos usados somente entre pai e filha. O pai de Ânya costumava dizer que a filha era tão linda quanto uma rosa, mas além de possuir muito mais espinhos, era muito mais forte e resistente que a delicada flor, portanto, era uma flor de cacto. A garota por sua vez sempre respondia que se era uma flor de cacto era porque nasceu de um cacto, que era ele.
- Sabia que ia me cobrar isso, só que não os encontrei. -o pai respondeu com pesar. - Mas prometo que irei continuar procurando, minha Flor de Cacto.
- Tenho que desligar, pai. Se continuar falando com você enquanto corro vou acabar tropeçando e perder o metrô.
- Aonde vai tão cedo em pleno domingo, Ânya?
- Irei fazer faxina na casa do sr. Dom, depois irei cuidar dos filhos da sra. Nancy, passarei para tomar um chá com biscoitos na casa da dona Amélia e por último irei com Lipe na casa do sr. Antony para consertamos alguma coisa eletrônica que não funciona mais. -respondeu de um folego só.
O pai era fisicamente ausente, mas gostava de saber tudo o que Ânya fazia, por isso já passou o relatório de seu dia de uma vez.
- Você é exatamente como a sua mãe. -apesar dos chiados, a garota tinha certeza que a voz do pai soou embargada. - Ela estava sempre ajudando as pessoas.
Ânya nunca sabia como responder a esses comentários do pai referente a mãe, por isso decidiu encerrar de uma vez a conversa.
- Tenho mesmo que desligar. -se apressou em dizer. - Amo você, pai.
- Também amo você, filha.
Sem perder mais tempo, Ânya encerrou a chamada.
O dia de Ânya foi mesmo atribulado, mas antes de voltar para casa e arrastar Lipe para arrumar o eletrodoméstico do sr. Antony, fez sua parada obrigatória de fins de semana na casa de uma de suas duas melhores amigas, Min Ah.
Assim que abriu a porta do apartamento que era ainda menor do que o que dividia com sua família, sua amiga de longos cabelos castanhos escuro e olhos puxados a puxou para um abraço caloroso.
- Acho que isso quer dizer que sentiu a minha falta durante a semana. -Ânya gracejou retribuindo com carinho o abraço da amiga.
- Essa semana nem tive tempo de te ligar. -Min Ah respondeu com um muxoxo triste. - Tenha sido tudo tão corrido.
Min Ah era uma garota tímida, mas muito doce e trabalhadora. No início do ano, seu avô, o sr. Kim, perdeu o emprego de monitoramento de circuitos devido à idade avançada e a delicada garota se viu obrigada a largar os estudos e se matar em três empregos para sustentar a casa e os gastos com remédios do velho senhor.
Ânya já achava exaustivo ter que estudar pela manhã e trabalhar no período da tarde no Centro de Reciclagem. Não conseguia nem imaginar como devia ser difícil ter que se dividir em três trabalho o dia todo.
- Onde está o sr. Kim? -Ânya perguntou se sentando no sofá surrado ao lado da amiga enquanto tirava o violino da mochila. - Olha o presente que eu trouxe para ele!
Os olhos de Min Ah se arregalaram de surpresa.
- Isso é mesmo um violino?
- Sim, quero dizer, pelo menos é o que disse o scanner. -Ânya gostava muito de ler, mas as descrições dos livros referentes a instrumentos musicais antigos não eram muito precisas.
- Você não pode dar isso ao meu avô. -não era bem essa a reação que a garota esperava da amiga. - Um artefato como esse deve custar uma fortuna, Ânya!
- Não há nada que valha mais que a alegria do seu avô quando puder tocar essa coisa novamente!
- Ânya, não acho que seria correto aceitar isso como presente quando...
- Vendam vocês se quiserem. -Ânya se viu obrigada a interromper a amiga. - Você ainda não me respondeu onde está o vovô Kim.
- Ele está descansando.
- Ah, que pena. Queria tanto ver a cara dele quando visse o violino.
Lágrimas inesperadas de repente transbordaram pelo rosto de Min Ah.
- Ânya, eu não sei o que fazer! Na última sexta feira uma assistente social veio aqui! Ela quer levar o vovô para uma casa de idosos.
Isso definitivamente não era uma boa notícia. Todos sabiam que idosos não duravam muito nessas instituições do governo. Idosos não passavam de humanos descartáveis que apenas geravam despesas desnecessárias na opinião dos parlamentares.
Min Ah deixou o choro correr livre e ver a amiga chorando partia o coração de Ânya.
- Não se preocupe! Nós não vamos deixar que levem o vovô. -garantiu sem ter a menor ideia do que faria para evitar que o governo se livrasse do sr. Kim.
- Eu já perdi os meus pais, Ânya. Não posso perder o vovô também.
Ânya amparou a amiga em seus braços mais uma vez enquanto ela derramava lágrimas incessantes em seu desespero. Odiava o fato que boas pessoas sofressem tanto por causa do sistema arbitrário do governo. Realmente odiava.
- Nós iremos encontrar uma solução, eu prometo, Min Ah. Eu prometo.
Ânya venceria a seleção e forçaria a mimada princesa e futura governante de Fênix a mudar algumas leis desse maldito reino de um jeito ou de outro.
Muito longe dali, em um dos cinco reinos da ascensão, um jovem recebeu uma forte bofetada disfarçada de tapa, mas se manteve firme em sua posição ereta diante de seu soberano.
- Nunca mais ouse me questionar. -ladrou o rei. - Você não deveria nem ter voltado depois do trabalho que tivemos para infiltrar você em Fênix! Eu a quero morta e você não precisa saber os motivos. Traga a cabeça da princesa em uma bandeja de ouro e você assumirá o trono no lugar do seu irmão quando eu morrer. Falhe em sua missão e será morto pelos meus homens por ser uma desgraça e vergonha ao seu pai.
- Eu não irei falhar, Vossa Majestade.
O rei dispensou o seu filho caçula com um mero aceno de seus dedos e o jovem príncipe se retirou após uma reverência formal ao seu rei.
Jamais iria se tornar uma vergonha e uma desgraça para o seu reino, jurou o príncipe para si mesmo. Iria cumprir a ordem que lhe foi dada e seria o futuro monarca no lugar de seu irmão. Se a morte da princesa de Fênix era o preço para que obtivesse a coroa e pudesse mudar as coisas em seu reino, assim seria. E ele não teria escrúpulos para ser bem-sucedido em sua missão na luta pela coroa e muito menos mediria esforços para obter o poder sobre o conhecimento de NYX.
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A pessoa aqui já está morrendo de sono, então me perdoem por não falar muito. Não se esqueçam a estrelinha ^_^
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