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7 - Onda de brasas e gelo

Prosseguindo com sua rotina de todas as noites, Nélio apanhou os sacos de lixo e saiu da hospedaria, em direção à lixeira do beco.

Parou na metade do caminho ao ter o olhar capturado por uma luz afogueada. Deixou os sacos na calçada. Era um latão metálico; fogo queimava em seu interior. Os mendigos costumavam fazer aquilo para se aquecerem em noites frias e inquietas como aquela.

Nélio se inclinou; o alaranjado das labaredas comungava em reflexo com seus olhos.

— Elas te dizem algo?

O homem ergueu o queixo. À sua frente, atrás do latão e do fogo, havia uma mulher. O rosto dela estava completamente encoberto por um capuz, de onde uma capa escura escorria.

— As chamas te dizem algo, velho amigo?

— Crepitam a verdade que há muito tempo foi sufocada, quando o ar ainda não era tóxico, quando o verde cobria a terra, quando os pássaros rasgavam a liberdade dos céus.

— Está esperançoso?

Nélio soltou o ar em uma lentidão frêmita.

— Temeroso. Os corpos sem olhos são o arauto de que uma estrada possui duas vias, e uma via não existe sem a outra. O tempo é escasso.

Ela estendeu a mão, deslizando os dedos por cima das chamas; uma carícia suave, singela, certeira.

— O que é o tempo, para quem já esperou demais?

Nélio desceu a mão para o bolso, puxando dali uma pedrinha de vidro azul; ergueu-a, posicionando-a diante da única estrela que atravessava seu brilho pelo céu poluído.

— Tudo.


******************


Aram não acreditou quando o trem da SIO despencou no precipício como se fosse um pedaço de metal tragado pelas sombras nevoentas.

Comentários perplexos se espalhavam por todo o descampado.

Sua cabeça girava; a sensação nauseante era de que ainda estava capotando dentro do vagão. Colocou-se em pé, esfregando o peito. A neblina serpenteava na escuridão, derrubando as temperaturas. Era difícil enxergar alguma coisa em meio ao breu.

— Quem está machucado? — Uma agente correu os olhos por todos. — Venham comigo! Prestaremos os socorros!

Lanternas flutuantes foram acesas. Aram piscou ante a luz repentina.

— Os demais, em formação! — outro agente gritou. — Marcharemos até a cidade mais próxima. Sem perguntas agora.

Revirou os olhos. Filas eram chatas e tediosas. Só que não era o melhor momento para levantar suspeitas. Com um andar relapso, se colocou em posição como os demais. Protegia nas mãos o comunicador circular que Isaac lhe dera; nos ombros, levava a mochila.

Viu Lira se levantar, recusando a ajuda dos que estavam por perto, não permitindo que ninguém a tocasse. Ela andou com dificuldade até a fila. Esfregava o joelho direito com discrição, ocultando a dor embaixo de um semblante neutro, e em momento algum falou que havia se ferido.

Ele estranhou aquilo, mas decidiu ignorar. Afinal, ela tentara lhe roubar antes do acidente-ataque misterioso.

Em formação militar, deixaram o deserto dos trilhos para trás, marchando até os limites da cidade-satélite mais próxima, onde cruzaram as ruas permeadas de prédios altíssimos. Enormes telões virtuais, suspensos nos pontos estratégicos, brilhando em cores e luzes que poluíam a vista, exibiam as mais variadas propagandas, desde bebidas e acessórios tecnológicos até mulheres belas e seminuas. Aram sabia que a prostituição era o mercado mais lucrativo de muitas cidades-satélites.

Foram levados para um restaurante, e ele se viu sentado em uma mesa com bancos confortáveis, com Lira e Sara à sua frente. Cores fortes marcavam toda a decoração interior, e uma luz bruxuleante criava uma atmosfera amarelada e esfumaçada em volta deles.

— Refis energéticos. — Um garçom com braços robóticos colocou três latas sobre a mesa. — Cortesia para recrutas e agentes da SIO.

— Acho que vamos ficar aqui até conseguirem um transporte para todos nós. — Sara abriu a lata de refil. — Foi um ataque bizarro. Tenho certeza que foi arquitetado pelos rebeldes, que não possuem nenhum respeito pela SIO ou pela Global Octupus. Só queria saber como eles fizeram para congelar as janelas. Devem estar em posse de armas perigosas.

Aram ignorava cada uma das tediosas palavras que saíam da boca da recruta. Um cheiro de gordura oscilava no ar. A perna balançava, impaciente. Não contava com aquele atraso. E não sabia se seu pai havia mandado alguém atrás dele.

Notou como Lira parecia inquieta também, olhando para todos os lados, procurando por alguém, ao mesmo tempo em que perscrutava com uma curiosidade inocente cada um dos detalhes locais, como se fosse sua primeira vez em um restaurante como aquele.

— Qual o objetivo de vocês na SIO? Quero me tornar a maior estelar de todos os tempos. — Os olhos de Sara brilharam, e um risinho foi contido com uma mordida tímida no lábio que continha um piercing. — Bom, e, quem sabe, conseguir conquistar o grande amor da minha vida.

Sara esperou que eles perguntassem quem era o amor da vida dela.

Nenhum dos dois perguntou; o que não a impediu de falar.

— Eloy Matsumura. Sim. Sim. O filho mais velho da família chefe da Global Octupus. — Ela alargou o sorriso. — Coleciono todas as revistas digitais em que ele aparece. E a irmãzinha dele é adorável. Vocês já viram fotos da Yumi? E o senhor e a senhora Matsumura, nossa... São o símbolo de um poder sólido e incontestável.

Aram esboçou uma expressão ilegível. Esperou que nenhum sorrisinho irônico escapasse de sua boca. Ele estava indo para a Capital para matar toda a família Matsumura. Bom, assim que completasse todas as outras etapas da missão. Aquele era o último passo.

— As oito famílias da Global Octupus formam mesmo uma excelente organização. — Sara ingeriu mais um gole do refil energético. O colar octógono em seu pescoço balançava com seus movimentos. — Sim, sei que eles tiveram que tomar medidas mais drásticas no passado, mas foi para acabar com a guerra. Hoje vivemos melhor que nossos antepassados.

Uma ingênua sonhadora. Era só o que Aram conseguia pensar. Gente como ela não duraria um dia diante do exército Héscol.

Com o canto dos olhos, notou como o rosto de Lira estava ligeiramente arqueado para baixo. Os cabelos lisos e escuros caíam em torno dela, apagando qualquer marca do seu olhar. Por mais que ela disfarçasse, Aram via um discreto tremor em seus dedos, nos pulsos.

Ele se levantou de súbito, cortando a fala de Sara, e foi até o balcão onde os agentes mais experientes da SIO conversavam. Tinha um gosto amarrado na boca que queria arrancar, e estava irritado com alguma coisa que não conseguia descrever. Apanhou mais um refil energético; retirou o lacre e sorveu o líquido, fazendo uma careta de repúdio.

— Está quente — resmungou, soerguendo a lata para o garçom.

— Há um botão embaixo do refil. Ele ajusta a temperatura.

Bufou, apertando o botão. A bebida gelou instantaneamente.

Odiava contratempos. Já era para estar na Capital. Já era para estar cumprindo os primeiros passos na missão.

— Você foi admirável, Heitor — escutou um agente mais velho falar para outro mais novo. — Salvou inúmeras vidas esta noite. Eu e toda a SIO estamos muito orgulhosos de você.

Aram revirou os olhos; o líquido desceu arranhado pela garganta. Logo estaria ouvindo aquilo da boca do seu próprio pai. Só precisava se manter na linha. Precisava se controlar. Uma batalha com sua natureza.

Lançou a lata em um cesto de lixo e andou pelo restaurante, parando próximo à porta de saída. Outros agentes prestavam cuidados nos recrutas que haviam se machucado no acidente.

Pensou em sair um pouco, respirar, mas desistiu. Correu os dedos pelos cabelos, decidido a procurar uma mesa em um canto solitário. Virou. E se deparou com Lira à sua frente, querendo cruzar a passagem.

Poucos metros os separavam.

Viu como ela parecia hesitante, talvez esperando que ele a confrontasse sobre o quase roubo da adaga. E, embora os ombros dela estivessem retesados, na defensiva, algo mais arisco se pincelava pelos pontinhos claros dos olhos amarronzados; um eixo de ataque que só se insinuava ali, sob a meia luz do recinto.

Todos os sons em volta dele abaixaram lentamente.

Aram retorceu o canto da boca quando a moça deu mais um passo em sua direção, em direção à saída. Os vestígios foscos do semblante dela lhe sussurravam que ela estava testando seus limites, avaliando se ele a atacaria, tiraria alguma satisfação, como havia feito antes do acidente do trem.

No território Héscol, a atitude dela era digna de punição, segundo as pregações de seu pai e Altair. "A diferença entre ladrões e traidores é que um te arranca do poder pelas costas, e outro te golpeia pelas sombras". Era por isso que Eloane, que mesmo tendo crescido com ele e com seus irmãos, estava naquele momento aprisionada nas celas de Diamantina. Seja lá o que tivesse feito, havia sido julgada como traidora.

"Uma dinastia só se sustenta pelo respeito dos três pilares: impiedade, medo e sangue"; era o lema Héscol há décadas.

Quando viu que ele não se moveu, Lira avançou mais dois passos, rumo à passagem do restaurante. Pelo andar dela, o joelho ainda parecia machucado. Bastavam mais três passos para que ambos ficassem na posição de combate Héscol, a típica luta até a morte. Poderia puxá-la, atacá-la, sem dar-lhe chance de defesa. Ela só iria perceber o que acontecera assim que estivesse sem ar. Aquela era uma das formas como ladrões eram tradados.

Só que, ironicamente, ele era tão ladrão quanto ela. Talvez pior.

Aram soltou o ar, recuou alguns passos, apenas o suficiente para que não ficasse entre ela e a porta.

Os burburinhos no restaurante voltaram a crescer.

Lira passou por ele; não se tocaram, não encostaram um no outro, mas a sombra dela roçou na sombra dele, e foi como uma dissonante onda de brasas e gelo; Aram sentiu algo forte no sangue, frio, quente, desesperador, que quase tremeu por todo o corpo.

— Ei — ele disse para um dos agentes mais próximos, e só naquele instante percebeu como sua voz soou rouca —, ela machucou o joelho no acidente. Faça algo.

E agitou a cabeça, partindo qualquer contato visual, se afastando dali enquanto empurrava aquela coisa paralisante, magnética e dolorida que se embrenhava dentro dele, que surgira do nada e ameaçava se romper de súbito, ao ponto de fazê-lo se questionar se estava começando a enlouquecer.


*****************


Parada na porta que se abria para o lado de fora, Lira precisou sacudir a cabeça repetidas vezes.

O que foi isso?

Havia uma palpitação nas têmporas, uma febre fria por toda a pele.

Quase arriscou seguir com o olhar o caminho onde Aram se afundara. Mas não o fez. Ficou parada, encarando as frestas da porta. Um deslizar silencioso, como se um véu pairasse sobre o ar e dissolvesse suas formas sob um manto imperscrutável, ciciava sobre seus sentidos.

— Está ferida, recruta?

Ela fez um aceno de negação quase automático para o agente, que se afastou. A dor no joelho latejava; uma dor que o acidente não era o responsável. E qualquer um perceberia aquilo ao examiná-la. Não podia arriscar.

Mabel. Encontrar Mabel.

A sentença arrancou seu torpor, e Lira empurrou a porta, recebida pela nebulosidade como uma velha conhecida. As luzes eram círculos pequenos e brilhantes; meras fosforescências contra a noite fechada.

Olhou para o alto. Tinha a sensação de que os grandes prédios eram todos um amontoado de pedras e ilusão, e desapareceriam num vento horrível, deixando uma falha metálica na realidade que era a terra.

Localizou um pequeno grupo de agentes mais ao longe.

Lira se aproximou deles, feito uma sombra invisível nas sombras dos edifícios. Precisava achar Mabel, seguir o plano. Precisava chegar à Capital sem que descobrissem que ela usava uma credencial falsa.

Já escutava as vozes sussurrantes do grupo.

— Tenho certeza de que ela saiu viva de dentro do trem!

— E como isso aconteceu? Em que momento?

— Não sei!

Um deles se moveu, revelando um amontoado de cabelos espalhados sobre o chão úmido.

Conteve o grito que subiu por sua garganta em um arquejo.

O corpo de Mabel estava imóvel aos pés dos agentes. E, no lugar onde deveriam estar os seus olhos, havia duas cavidades escuras e vazias.

Tenso. Muito tenso. E agora?

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