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3 - Chuva de fogo (Parte I)

— Não! Não, por favor!

O sentinela empurrou Lira para trás, enquanto outros dois arrastavam, sem piedade, a velha Mona para o campo aberto da ilha. Não demorou muito para que um aglomerado de escravos e vigias formasse um círculo em volta deles.

Lira tentou passar por entre as pessoas para chegar até a mulher e impedir o sentinela; de súbito, uma mão segurou o seu braço, impedindo-a. Olhou para trás, deparando-se com os olhos aflitos de sua mãe.

— Lira, não.

— Mas ela...

— Já perdi seu pai por causa disso. Não posso te perder também.

A garganta de Lira se fechou, e ela permitiu que sua mãe a segurasse com mais força quando o sentinela puxou o chicote retrátil preso ao cinto e o acionou com a leitura de sua digital. O som da arma ganhando vida na mão dele caiu sobre Lira feito um céu de vidro estilhaçado.

As primeiras chibatadas contra as costas da velha Mona fizeram a multidão arquejar. Havia uma languidez satisfeita no rosto do sentinela. Lira apertou a mão de sua mãe, sentindo o aperto ser retribuído de volta; se ela a soltasse, não sabia se conseguiria permanecer ali em pé, sem fazer nada. Perdeu a conta na trigésima chibatada.

O gosto tóxico da fumaça se misturava à umidade e ao calor. Ela tentou ficar com os olhos abertos, mas não conseguiu. O chicote cortava o ar, a carne; só que não arrancou um único grito da velha Mona.

Em algum momento, os escravos foram obrigados a voltar ao trabalho. Lira abriu os olhos. A mulher estava caída sobre o concreto, com as vestes ensanguentadas. Uma corrente forte correu por suas veias, uma vontade de agir e saber que não havia nada que pudesse fazer; e ela se sentiu imponente na vastidão daquela existência.

— Vamos voltar à colheita — sua mãe disse.

Lira negou, lançando um olhar à velha Mona.

— Mãe, não podemos deixá-la ali.

— Lira. É proibido.

Se alguém nos ver ou se der algum problema, assumo a culpa. É que... Se não fosse por ela, seria eu ali.

Um suspiro cansando saiu da boca de sua mãe. Ela olhou para os lados, gesticulando para a filha segui-la assim que os sentinelas se afastaram.

— Venha, me ajude. Temos que ser rápidas.


********************


— Mia, feche a janela.

A menininha obedeceu ao pedido da irmã mais velha. Antes que as janelas estivessem completamente fechadas, Lira conseguiu contemplar um pedaço do céu cor de chumbo. A noite se achegava junto de rajadas violentas de ventos, e algumas descargas elétricas já podiam ser vistas.

— É noite de Igneus Imber, não é? — a velha Mona murmurou embaixo de um gemido de dor. — Fogo choverá do céu.

Lira assentiu para a mulher, trocando o pano úmido que havia colocado em sua testa. O fenômeno do Igneus Imber acontecia uma vez por ano, marcado por uma tormenta anormal de ventos e raios. E, ao invés de água, uma espécie de luz caía junto aos raios, como se fossem estrelas de fogo despencando sobre a terra.

— Tudo vai queimar? — Mia se sentou ao lado da irmã, balançando as pernas. Uma sombra receosa marcava os olhos da menina de oito anos.

— Não exatamente. Este fogo não queima, pois não é como o fogo que conhecemos. — Lira olhou para o colchão duro onde ela havia deitado a velha Mona; era o melhor que podiam oferecer. Sangue manchava as cobertas. — Mas é bom não sair de casa. Os raios são perigosos.

— São os deuses. — A velha Mona tossiu; um ganido de dor escapou junto ao ato. — Ainda há marcas deles pela terra.

Lira meneou a cabeça, recolhendo os panos ensanguentados e se levantando. Ela sempre se surpreendia ao constatar que ainda existiam adeptos das velhas religiões pagãs, proibidas e extintas de Sycore há séculos com o fim das guerras, a ascensão da Global Octupus e a revolução tecnológica. Sua mãe, Soraia, não expressava verbalmente os pensamentos, mas Lira sabia que ela buscava conforto nas crenças.

Deixando os panos em um canto, foi até o reservatório comunitário e apanhou sua porção da refeição daquele dia. Por uma abertura, enxergava o céu. Cores sombrias o cobriam, e a ventania iluminada por relâmpagos era um sinal da chegada do Igneus Imber.

Enquanto voltava para o conjunto habitacional de concreto, Lira tomou cuidado para não chamar a atenção dos sentinelas. Ninguém podia saber que ela e sua mãe tinham resgatado a velha Mona. Entrou no quarto de apenas um cômodo onde ela, a mãe e Mia viviam e fechou a porta.

— Estou cuidando dela igual você, Lira. — Mia anunciou com um sorriso satisfeito, típico de uma inocência única.

O coração de Lira comprimiu. Por conta da alta taxa de mortalidade infantil entre os escravos, as crianças só iam para a colheita após os dez anos de idade. Mia ainda tinha dois anos antes de ser apresentada para o mundo em sua forma mais crua. Se houvesse como, faria de tudo para tirar a irmãzinha daquele lugar antes que algum mal lhe fosse feito.

— Aqui — disse, voltando para o lado da velha Mona. — Coma.

— É sua comida, sua porção do dia.

— Não tem problema. Pegue.

Com um aceno de agradecimento, ela aceitou o alimento.

A impressão de ouvir uma batida no teto fez Lira olhar para cima.

— Lira, para você. — Mia tirou do bolso uma pedrinha azul de vidro, rompendo sua concentração. — Achei na baía. Trouxe de presente porque é o seu aniversário.

— Mia, já falamos para você não sair daqui sem a gente. É perigoso!

A menina encolheu os ombros, chateada.

— Você nasceu no Igneus Imber — a velha Mona murmurou. — É seu aniversário e você não está feliz.

— Lira não sorri. — Mia cutucou a bochecha da irmã, fazendo um bico com os lábios. — Acho que a boca dela é congelada.

A velha Mona estendeu mão, acariciando os cabelos escuros da menina; mas era Lira que seus olhos buscavam.

— O passar dos anos, em um lugar como este, costuma congelar a nossa boca. — E começou a tossir outra vez, como se estivesse engasgada.

— Mia, pegue água.

Prontamente, a irmã se levantou. Enquanto Mia pegava a água, Lira a ajeitou na cama; temia piorar a gravidade dos ferimentos.

— Você me deu abrigo e alimento na noite do Igneus Imber.

— É o mínimo que eu poderia fazer.

— Talvez... Um grande ímã puxe nossas almas para a verdade. — Ela ergueu a mão, segurando a mão de Lira entre seus dedos trêmulos. — Esta era está acabando, enquanto o mundo está despertando.

Um lampejo pareceu cintilar nos olhos da velha Mona, algo que fez seu interior estremecer. Escutou o som das primeiras descargas elétricas do céu irrompendo do lado de fora. A mulher recolheu o braço, e Lira sentiu algo entre os dedos. Abriu a mão, franzindo o cenho e encarando o pequeno objeto que ela havia lhe dado.

— É um colar octógono. Você o roubou? Não serve para nada e... Espere. — Lira piscou junto de um arquejo, examinando melhor a joia metálica. — Não é possível. Ele está limpo, sem codificação. Nenhum batismo de sangue foi feito ainda. Como você...?

Olhou para a mulher imóvel na cama.

— Ei. Ei. — Lira a sacudiu, o desespero escalando seu interior feito videiras venenosas. — Não. Não. Não.

A velha Mona estava morta.

Pancadas secas voltaram a ecoar pelo teto, como se houvesse alguém pisando ou batendo ali.

Lira olhou para os lados, apertando o colar na mão.

— Mia, se esconda!

Uma rajada brusca escancarou a porta, ao som de um trovão, revelando a sombra de uma silhueta que se aproximava da entrada.

Parte I do capítulo 3

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