30.
"Who do you think you are runnin out and leaving scars?"
Bruno e Rebecca
- Você por acaso viu a Ana por aí? - Daniel segurou pelo braço a primeira pessoa que lhe pareceu sóbria.
Ou talvez menos bêbada.
A música de fundo fazia o chão tremer e o guitarrista estava tão louco que sentia como se fosse sair voando a qualquer instante. Com a roupa completamente molhada do banho de cerveja que havia tomado da loira, ele não desistia da sua missão de procurá-la e achá-la.
Ele estava apaixonado, e não desistiria nunca.
- Ana? Que Ana? - o garoto de porte médio e cara de gangster perguntou, fazendo um movimento com as mãos que deixavam na cara que ele tinha consciência de que parecia um pequeno bandido da periferia e fazia questão de usar aquela imagem, mesmo com seu iPhone 6S guardado no bolso e o seu boné de 300 reais na cabeça.
- Loira, alta, olhos verdes... - o guitarrista começou a descrevê-la, mas o garoto parecia não conhecê-la.
Características marcantes, dê a ele uma característica marcante, pensou Daniel. Então sorriu e voltou a perguntar.
- Cara de psicopata, sempre séria e...
- Ana Anderson! - o garoto berrou antes mesmo que Daniel pudesse terminar a descrição fiel da loira. - Ah, ela passou por mim há poucos instantes... não deve estar longe! Deve estar por aí planejando o assassinato de alguém, cara!
- Valeu Eminem! - Daniel acenou com a cabeça antes de reiniciar a sua pequena busca particular.
XXX
- Eu realmente não posso acreditar que estou fazendo isso - Rebecca revirou os olhos dentro da máscara, segurando com mais força a cintura do garoto misterioso com quem dançava.
- Isso o que? Beijando um estranho? - ele quis saber, falando bem próxima da sua orelha.
Aquilo a arrepiou tanto que ela teve que esperar alguns segundos antes de responder a pergunta sem gemer.
- Não - a morena murmurou, adorando a sensação do tecido da calça do garoto contra a sua pele. - Dançando ao som de Justin Bieber!
O garoto riu alto e colocou parte do cabelo da morena atrás de sua orelha.
- Você é mesmo especial - ele comentou, beijando a sua testa. - Será que você gostaria de...
Então ele parou, mordendo o lábio inferior, como se ponderasse continuar a frase.
- Gostaria de...? - Rebecca o incentivou, olhando para seus lábios vermelhos de tanto beijá-la.
- De ir para o reservado comigo?
Rebecca arregalou os olhos.
- Não vou tentar nada com você! - ele correu para se explicar, um pouco afoito. - Eu só preciso... bom, eu preciso te contar uma coisa...
- Me contar uma coisa? Mas você nem me conhece! - ela exclamou desconfiada.
Depois de João, ela deveria andar com os dois pés atrás... não queria outro maluco atrás dela.
- Mas é importante. Eu juro que é importante! - o garoto a segurou pelo rosto. - Por favor?
Foi a vez de Rebecca morder o lábio inferior, na dúvida mortal.
O que um garoto não fazia para transar, não é? Ele estava ali, praticamente implorando para que ela fosse com ele ao reservado. O temido reservado. Todos os casais da festa estavam lá, "conversando em um lugar mais calmo". Não era aquela a desculpa que todos os homens davam para arrastar as meninas até lá?
Mas ela sentia que o garoto misterioso era diferente. Sentia que ele tinha alguma coisa boa dentro de si...
Ela só não sabia dizer o quê.
Mas era mais que o suficiente para convencê-la. Afinal, havia transado com outros por bem menos que aquilo.
- Tudo bem - Rebecca enfim respondeu, fazendo o garoto sorrir. - Vamos lá.
XXX
- Você viu Ana Anderson por aí? - Daniel perguntou para uma garota de costas para ele. Quando ela se virou, ele se deu conta de que era Carolina. - Carol! Oi! Você viu a Ana por aí?
- Não, eu não a vi - ela respondeu emburrada, tomando um longo gole da sua cerveja quente. - E você? Por acaso viu o Bruno por aí?
- Hm... não. Pensei que ele estivesse com você.
- Ele não está - ela respondeu, apertando o copo de plástico entre os dedos. - Ele sumiu!
Merda, Daniel pensou. Bruno faz a merda e eu recebo a bronca. Aonde eu fui me meter?
- Bom, provavelmente ele se perdeu de você! Sabe como é, ninguém está se reconhecendo com essas máscaras...
- Você está inventando desculpas para ele! - ela berrou, jogando o copo agora vazio em cima do guitarrista, que conseguiu desviar do objeto por um triz. - Vocês são uns merdas! Todos uns merdas!
A ex-namorada do seu companheiro de banda marchou para longe de Daniel empurrando todas as pessoas ao seu redor.
- Foi uma prazer conversar com você também, Carol - Daniel murmurou para si mesmo, antes de voltar a procurar por Ana.
XXX
- Chegamos - Rebecca comentou assim que o garoto misterioso fechou a porta atrás de si. O lugar estava enfeitado com algumas máscaras e um puff vermelho se encontrava intacto no chão. Eles esperam que nós façamos sexo em um puff?, ela pensou antes de continuar. - O que queria me dizer?
Sob a luz forte do reservado, o garoto agora estava loiro e andava distraído pelo cubículo, pegando as coisas e colocando-as de volta no mesmo lugar. Parecia nervoso e ansioso.
Rebecca sentou-se no puff e olhou em volta. O que ela estava fazendo? Trancando-se em uma área menor que a de um lavabo com um estranho?
Ela havia perdido o juízo de vez?
Então começou a imaginar o que Bruno diria se a visse naquela situação.
Qual é, Becca! Você consegue ser melhor que isso! Um cara mascarado? Mesmo?
Ela riu sozinha. Sentia muito a falta dele, por mais que não quisesse admitir.
- Rebecca - o garoto misterioso disse, mas Rebecca teve a nítida impressão de que aquela era a voz de Bruno.
Quando ela olhou para cima, deu-se conta de que o estranho também tinha o cabelo de Bruno.
Ela estava ficando louca. Só podia ser isso.
- Sim? - ela tentou sorrir, mas a sua boca não se mexeu.
O garoto então ajoelhou-se em sua frente e começou a desfazer o laço da máscara atrás da cabeça.
O que ele pretende com isso?, ela pensou, curiosa. Será que ele é cheio de cicatrizes e vai pedir para ser o meu fantasma da ópera?
Mas nenhum dos seus pensamentos engraçadinhos a prepararam para o que ela viu quando a máscara do garoto misterioso encostou o chão.
- Bruno? - ela sussurrou horrorizada.
XXX
- Daniel Azevedo está te procurando! - Ana foi avisada pela terceira vez ao sair do banheiro feminino.
- Eu sei, ok? Já tô sabendo - ela respondeu, revirando os olhos.
Estava prestes a voltar para a pista de dança quando avistou o guitarrista abordando um grupo de amigos. Ela pôde ler perfeitamente os lábios dele. "Vocês viram Ana Anderson?"
Puta que pariu, ela pensou, voltando para o banheiro. Vou passar minha festa de formatura inteira aqui dentro?
XXX
- Rebecca, me escuta antes de sair correndo, por favor - Bruno pediu, segurando as duas mãos de Rebecca entre as dele. Ela olhava para o guitarrista, incrédula. - Eu te amo. Ok? Eu te amo! Eu te amo, eu te amo, eu te amo! E eu só percebi isso quando vi aquele cara te empurrar no hall do seu apartamento. Meu Deus, eu quis matar ele! Eu quis que ele sofresse uma morte lenta e dolorosa! Mas como você pôde ver, eu não fui forte o suficiente para matá-lo. Não fui forte o suficiente nem para ganhar a briga... acho que eu deveria começar a malhar...
Rebecca continuava em silêncio, em choque.
- Mas então você me mandou aquele bilhete e eu soube que você havia voltado com aquele babaca... tudo bem, eu não te julgo! Depois de tudo o que eu fiz você passar, qualquer babaca é melhor do que eu! Mas hoje eu te vi na pista, dançando... e eu não consigo suportar a ideia de não ter você comigo - Bruno enfiou os dedos entre o cabelo e o jogou para trás. Ele parecia desesperado. - Eu sempre dizia para mim mesmo que nós nunca daríamos certo porque éramos diferentes demais, mas, no fundo, eu sempre soube que o que eu sentia de verdade era medo. Medo de me envolver com você e acabar magoado.
Bruno levantou-se e jogou as mãos para cima, num ato de desistência.
- Por favor, olhe só para você! Você é a garota mais linda do colégio inteiro! Por que diabos você ficaria comigo e só comigo? - Bruno não olhava mais para Rebecca, andando em círculos pelo cubículo, como se recitasse um monólogo ensaiado. - E você é tão... intensa! Eu sou só um garoto do interior com grandes ambições e nenhum futuro.
Bruno ajoelhou-se novamente, apoiando-se nas pernas da morena, que o olhava impassível.
- Rebecca, a nossa primeira vez... não se passa um dia sem que eu me lembre dela. Se eu fechar os olhos, eu posso até sentir as minhas mãos nas suas costas, eu posso até coreografar os seus movimentos... - o loiro começava a perder a confiança frente aos olhos gelados da morena. - Me desculpe... por favor, me desculpe por tudo o que eu te fiz passar... eu só...
- Você é um filho da puta. É isso o que você é! - Rebecca finalmente quebrou o silêncio, levantando-se com um salto. Antes que pudesse impedir, já chorava copiosamente, a voz saindo mais aguda do que o normal. - Um filho da puta de merda! Quem você pensa que é para ficar brincando com o coração das pessoas, eim?
- Becca, por favor...
- Cala a boca! - ela berrou, jogando longe a máscara que usava. - Cala essa merda dessa boca imunda! Você tem ideia do que me fez passar nos últimos dois anos? Tem? Eu chorei todas as noites até dormir durante seis meses depois que você me dispensou! Eu era obrigada a te ver todos os dias sem poder dizer nada, porque eu não queria parecer fraca perto de você! Eu aguentei a porra do seu namoro, eu te dei conselhos, sempre ao seu lado, esperando você entender que eu era a garota certa para você! Você me beijava na boca como cumprimento, caralho! Sabe como isso me magoava? Eu via você olhar para aquela vagabunda com amor, com devoção, sendo que ela nunca fez um terço das coisas que eu fiz por você!
Bruno estava mudo, sentado no puff com cara de desolado. Sabia que se começasse a responder, começaria a chorar também, e a última coisa que faria naquele momento seria chorar. Ele estava bêbado e magoado, mas ainda era homem. E homens não choravam.
- E então, quando ela destruiu o seu coração de vez, o que você fez? Me pediu conselhos para reconquistá-la! - Rebecca agora ria como uma maníaca. - Sério! Foi isso o que você fez! Sabe o quanto isso é cômico? Você tirou a minha virgindade, para depois dizer que foi um erro, para depois começar a namorar o pior tipo de garota no mundo, para depois de dois anos vocês terminarem e você vir me pedir ajuda!
É, provavelmente eu não deveria beijá-la agora, o loiro pensou, mas ele só conseguia prestar atenção na boca da morena enquanto ela falava. Seus lábios estavam vermelhos e um pouco inchados; perfeitos para serem beijados.
- Então você pega as suas desculpas e enfia bem enfiado no meio do seu cu, seu filho da puta! - Rebecca abriu a porta irada. - E nunca mais me procure!
Ao sair do reservado, Rebecca esbarrou com Fabrízio, que corria em direção a saída da balada. E Bruno só os observou, embasbacado. Ele esperava todo o tipo de reação da morena, menos aquela.
Como diabos ele iria reconquistá-la agora?
Será que ele deveria pedir conselhos para Carolina?
XXX
Rebecca saiu correndo da balada, chorando e ofegando. O segurança tentou chamá-la de volta, mas ela só correu mais rápido ainda em direção ao estacionamento.
E, ao chegar lá, ela se viu sozinha em meio a um mar de carros. Descontrolada, pegou um cigarro de dentro da bolsa e o acendeu depois de diversas tentativas frustradas. Estava muito frio e as lágrimas que escorriam pelo seu rosto só pioravam a pior sensação que ela já tivera na vida.
Assim que tragou pela segunda vez o cigarro, a morena sentiu como se alguém se aproximasse por trás. Como se uma sirene disparasse dentro do cérebro, Rebecca se preparou para correr, mas foi impedida antes que fosse possível. Logo, algo era pressionado contra o seu rosto. Um gosto amargo invadiu a sua boca e ela sentiu todos os músculos relaxarem.
- Eu estava te esperando, linda - João comentou como um lunático. - Mas pensei que só fosse te ver mais tarde... melhor para mim, menos testemunhas para despistar! O que você acha de nós darmos uma vol...
E então tudo apagou.
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