24.
"I am afraid right now! What if I can't get out? What if I don't want to be saved? This is me afraid!"
Bruno e Rebecca
Garotos, comprem aqui os ingressos para o baile de formatura! Esse ano com a temática "baile de máscaras". Colação de grau, open bar e food e última festa como estudantes do Colégio Vértice! Você não pode perder essa!
*Respeitando a temática, os ingressos devem ser comprados pelos garotos e as garotas devem ser convidadas.
**Garotas, nós sabemos quando vocês estão disfarçadas.
***Alunos que não estão se formando só podem ir se forem convidados por um formando.
XXX
- Ah, cara... - Fabrízio suspirou ao lado de Eduardo, Daniel e Bruno. Os quatro olhavam para a barraca montada no meio do pátio, apinhada de pessoas. - Não tenho ninguém com quem ir nessa merda.
- Somos dois - Bruno fez uma careta. - Acho que eu vou chamar aquela gordinha da sala de história do Eduardo.
- Ei! Eu estava planejando chamá-la! - Eduardo olhou com o canto dos olhos para o loiro, que deu de ombros.
- Vou chamar a professora Guedes - Daniel comentou. - Ela sempre quis o meu corpo nu.
A banda ficou aproximadamente 15 minutos na fila. Quando chegaram no caixa, compraram 2 ingressos cada um e encaminharam-se para o prédio das salas de aula. Despediram-se na porta de suas respectivas salas e entraram para fazer a última prova de suas vidas.
XXX
Rebecca acabou a prova e saiu da sala. Colocou o seu maior óculos de sol para evitar que as pessoas a vissem com a sua típica cara de ressaca e saiu do colégio. Com um ingresso do baile no bolso - Juliano Dias, solista do coral da escola, fora o primeiro a convidá-la, e como ela estava sem saco para jogar o jogo do "quem dá mais", acabou aceitando, o que motivou a ira do resto dos alunos homens que estavam programando só chamá-la depois que o primeiro perdedor o fizesse e fosse recusado -, ela desceu a escadaria e deu de cara com João apoiado em sua moto.
Ele sorriu, o que fez o coração dela disparar - mas não de um jeito bom. De um jeito que fez seu cérebro aconselhá-la sabiamente com uma única palavra: corra!
Ela apressou o passo e passou por ele sem nem ao menos olhá-lo.
- Becca, por favor! - ele pediu, mas ela não se virou.
Como num passe de mágica, ele estava ao seu lado, segurando o seu braço com firmeza; os seus dedos estavam gelados.
- Eu só quero conversar, por favor - ele pediu, e Rebecca finalmente parou. Virou-se para ele e cruzou os braços. - Eu só quero pedir desculpas.
- Você tem 30 segundos - ela apertou o cronômetro do relógio. - Pode começar.
- Eu perdi a cabeça, ok? Eu vi o cara te beijando e fiquei louco! Por favor, me perdoa, vai! É que eu fiquei tão encantado por você que nem podia pensar na possibilidade de te perder, eu só...
- Acabou o tempo. Tenha uma boa vida, João - ela sorriu, dando-lhe as costas.
XXX
Essa foi a última prova da minha vida, Bruno pensou, enquanto guardava no bolso da calça a sua fiel caneta preta, único item que levou para o colégio durante os dois anos de Ensino Médio. Eu nunca mais vou ter que sentar a minha bunda em cadeiras desconfortáveis e ouvir fósseis falarem sobre coisas que eu não quero ouvir. Nunca. Mais.
Claro que os seus pais gostariam que ele fizesse faculdade, mas aquilo não estava nos planos do guitarrista. Bruno Borges seria grande. Bruno Borges seria uma porra de uma estrela do rock! Ele teria milhares de garotas aos seus pés, drogas e mais drogas, muito dinheiro e fama e tudo o que teria que fazer em troca era cantar sobre os seus sentimentos com uma guitarra nos ombros.
Com certeza não existia melhor emprego nesse mundo.
Claro que ele teria de abrir mão do seu anonimato e da sua vida normal para estampar as capas de revistas a qualquer espirro que desse, mas ele não se importava. Nem um pouco; queria viver seus 15 minutos de fama, e que esses 15 minutos se prolongassem pela vida inteira.
Ao sair pelos portões do Colégio Vértice, Bruno sentia-se mais animado. Aliás, ele poderia muito bem dar meia volta e convidar Marina Freitas, a segundanista mais gostosa do colégio, para o baile. Sem Carolina, sem Rebecca, sem drama: só ele e uma gostosa. Quem sabe ele não se daria bem no final da noite?
Bruno apontou nas escadarias e travou. Não porque seus pés não o obedeciam mais, mas porque ele não podia acreditar no que estava vendo.
Lá estava Rebecca, com os braços cruzados na frente do corpo, olhando para João, que falava sem parar, gesticulando. Bruno não podia ver o rosto da morena pois ela estava de costas para ele, mas o garoto parecia bem confiante. E ele segurava o seu braço com certa intimidade.
E então ela olhou para o relógio e depois para ele.
Um encontro. Eles estavam marcando um encontro! Te encontro daqui meia hora no meu apartamento. Nós podemos transar a noite inteira! Vamos comemorar o final das minhas provas com a sua língua em mim! ele a imaginou dizendo, e essa imagem fez o seu estômago se embrulhar.
Quase como se estivesse planejado, Bruno deu meia volta e entrou novamente no colégio, trombando com Carolina por não conseguir enxergar nada pelo efeito lusco fusco.
Esse só pode ser o meu dia de sorte...
XXX
Carolina estava com duas bolsas enormes e negras embaixo dos olhos. Passara a prova de trigonometria inteira chorando, assoando o nariz em lencinhos umedecidos e mascando chicletes sem açúcar.
Então Bianca a havia deixado, sem mais nem menos, depois de pedir para que elas se encontrassem no banheiro. Antes da última prova da sua vida. O quão maldoso fora aquilo?
Tudo o que ela precisava naquele momento era de... Bruno! E lá estava ele, com cara de apavorado, o queixo tremendo um pouco, franzindo o cenho por ter acabado de voltar da claridade.
- Bruno! - ela berrou, e ele coçou os olhos antes de responder, sem nenhuma emoção.
- Carol, e aí...
A loira/morena foi até ele e o abraçou com força. Antes que pudesse se dar conta, estava soluçando, e o loiro afagava as suas costas com certa relutância.
- Ah, Bruno... foi horrível... - ela disse, babando na manga da camiseta do guitarrista.
- O que foi horrível? - ele quis saber, mais por educação do que por curiosidade.
Com tudo o que havia acontecido nos últimos dias, Carolina era a última preocupação de Bruno, e ele não estava em um estado de espírito bom para aguentar as bipolaridades da ex-namorada. Claro que só a visão da garota mexia com ele, mas ele não sentia mais vontade de se matar toda vez que ela passava, sempre linda, cheirosa e gostosa... talvez ele tivesse se acostumado à presença dela. Ou, talvez, e algo no fundo do seu âmago dizia que aquela era a resposta certa, ele não sentisse mais por Carolina o que sentia no término do namoro.
Afinal, o tempo passa e com ele passa a dor, pois tudo passa, até o amor.
- A Bianca terminou comigo! - ela fungou, assoando o nariz em um lencinho que havia puxado do bolso da saia. - Sem mais nem menos!
- Mais ou menos como você fez comigo? - ele deixou escapar, e Carolina soltou o abraço, olhando para ele com mágoa. - Me desculpe, não quis ser... indelicado.
- Eu entendo tudo agora - ela ficou repentinamente séria. - Meu Deus, Bruno, estava embaixo dos nossos narizes!
- O que estava embaixo dos nossos narizes? As nossas bocas?
- Esse tempo que eu passei com a Bianca foi só para que eu pudesse descobrir que você é o meu verdadeiro amor! Foi o destino! - ela exclamou, puxando um dos convites para o baile que estavam no bolso da calça de Bruno e que ela estava de olho desde que os dois se encontraram. Ela colocou o pedaço de papel na frente do rosto do loiro e sorriu. - Bruno, sei que isso vai parecer estranho, mas você gostaria de ir ao baile comigo?
Bruno ficou sem reação. E lá estava Carolina, falando as palavras que ele mataria para ouvir há duas semanas. Mas, naquele contexto, elas não significavam mais o que significaram um dia. Eram só palavras jogadas ao vento.
Mas Bruno ainda tinha o seu orgulho. E reconquistar a sua garota mostraria a todos do colégio que ele era capaz de tudo.
Como uma tentativa de ser impedido, ele olhou de relance para trás, mas Rebecca não estava na porta, esperando o momento propício para se manifestar. Ela provavelmente estava no carro, indo para casa preparar-se para uma noite inteira de sexo violento e bizarro com o vampiro stalker João, e não havia nada que ele pudesse fazer para impedir.
A sua chance com a melhor amiga havia passado. O seu momento havia passado. Rebecca estava em outra, e ele teria que viver com aquele arrependimento pelo resto da vida.
- Diz alguma coisa, Bruno! - Cassadee sorria com certo nervosismo.
Ela não aguentaria ser rejeitada duas vezes no mesmo dia.
- Eu adoraria, Carol - Bruno respondeu, dando de ombros. - Eu te pego às 19h?
XXX
Rebecca ouviu alguns xingamentos virem de João e logo depois o barulho do motor da sua moto. Em poucos instantes, o lugar estava silencioso, e ele não estava mais lá.
Ainda atordoada pelo medo, Rebecca virou-se e olhou em volta. Nervosa, ela acendeu um cigarro e apoiou-se no corrimão das escadas. Cruzou as pernas e chutou algo que estava no chão. Olhou para baixo por instinto e encontrou um celular de última geração caído, um pouco trincado nos lados pelo tombo.
É o celular dele, ela pensou, arregalando os olhos.
Rapidamente, ela se agachou e pegou o aparelho. Com certo espanto, ela observou a sua foto de perfil do Facebook como proteção de tela, e então teve de se sentar ao entrar nas mensagens do celular.
Eram milhares delas, direcionadas a ninguém. Rascunhos e mais rascunhos, como uma agenda escolar. E o que mais assustava era o conteúdo das mensagens.
"8h30 - horário que costuma sair de casa".
"9h45 - intervalo, geralmente com o babaca do FletcherBorges. Sempre come um lanche natural no café em frente ao Colégio Vértice".
"São Paulo Ink Studio - retoca a tatuagem de 3 em 3 meses".
"Todas as terças ela faz as unhas".
"Compra cigarros sempre na banca do Lou, por serem mais baratos".
"Placa do carro: EQL 3410".
Rebecca leu todas as mensagens com o coração na boca. Ele sabia tudo sobre a sua vida, a sua rotina, as suas manias, conhecia os seus amigos, a sua família, os seus hobbies, os seus gostos... absolutamente tudo!
Muito assustada, ela decidiu entrar nas fotos, e quase não se impressionou ao ver que todas eram dela. Algumas do seu Facebook, algumas recortadas de redes sociais de seus amigos, algumas tiradas de longe, como se ele fosse algum tipo de paparazzi macabro. Na maioria das fotos, Rebecca estava ao lado de Bruno, só que ele havia sido recortado, ou, quando não era possível, aparecia com um X vermelho no rosto.
Tremendo, a morena pegou o seu próprio celular do bolso da calça e ligou para Luíza.
- Becca? - Luíza atendeu do outro lado, uma música alta indicando que ela estava no ensaio da peça de final de ano.
- Lu - ela falou tremendo, seu coração disparado no peito -, Lu, eu acabei de pegar o celular do João. Ele é um maldito stalker! Eu estou com medo do que ele pode fazer contra mim, mas mais ainda contra o Bruno. Ele parece ter um ódio irracional dele... ah, Lu, eu não sei o que fazer!
- Espera aí, Becca, como você pegou o celular dele? Aonde você está? O que aconteceu? - Luíza parecia preocupada, e agora a música não tocava mais tão alto, pois ela havia se trancado no camarim. - Vamos lá, com calma.
Então Rebecca contou sobre a tentativa de pedir desculpas de João, a sua fuga e o celular no chão. Contou sobre as mensagens e as fotos, e como ele parecia saber tudo sobre a sua vida.
- Ai, caramba... eu sabia que tinha alguma coisa estranha nesse cara do ponto de ônibus! - Luíza exclamou, apreensiva.
- Não é hora de falar "eu te avisei", Lu - Rebecca disse, impaciente. - Eu não sei o que fazer!
- Acho melhor você ir para casa e ficar o resto do dia lá. Amanhã é o baile de formatura, nós vamos e vamos aproveitar a noite. Depois, no domingo, vamos até a delegacia e vemos o que podemos fazer para te proteger. Fica tranquila, Becca, não vai acontecer nada com você. Não enquanto eu estiver do seu lado!
- Obrigada, Lu - Rebecca suspirou, sentindo-se realmente mais segura depois das palavras de conforto da amiga. - Você é a melhor amiga do mundo.
- Eu sei que sou - Rebecca ouviu uma gritaria no fundo e Luíza xingou. - Porra, eu preciso voltar. É a cena em que eu corro atrás do coelho.
- Mas a Alice corre atrás do coelho durante o livro inteiro!
- Exatamente. Nós vamos passar a peça inteira agora - Luíza comentou, fazendo Rebecca rir. - Vá para casa, Becca, e não saia de lá até amanhã!
- Pode apostar que eu não vou! Já tenho tudo o que eu preciso por lá. Cigarros, cervejas e até haxixe para comemorar o final das provas!
- Você não vale nada, Becca...
- Tchau, Lu. Obrigada mais uma vez. Bom ensaio de peça para você!
- Tchau, Becca. E não se preocupe, é para isso que servem os amigos. Bom final de tarde para você!
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