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Capítulo 44

All the cameras watch the accidents and the stars you hate

They only care if you can bleed

Does the television make you feel the pills you ate

Or every person that you need to be

'Cause you only live forever in the lights you make

When we were young we used to say

That you only hear the music when your heart begins to break

Now we are the kids from yesterday

— The Kids From Yesterday - My Chemical Romance

— Você pode me falar um pouco sobre a sua relação com a família, Dominick? — Perguntou uma mulher alta, magricela, com ombros e dedos ossudos e um coque grisalho na cabeça. Mariângela era como se chamava. Por mais que parecesse esquisito no começo, o jovem havia se acostumado a vê-la toda semana.

— Bem... — Dominick encarou a chave do carro em sua mão. — Meu pai... Para ser sincero, ele sempre foi minha maior inspiração. Sonhava em ser como ele um dia.

— E sua mãe? — Insistiu a psicóloga.

— Nunca parei pra pensar nisso... — O garoto mordeu o canto da boca. — Minha mãe... Bom, ela sempre foi minha mãe. Acho que sempre a encarei assim: Minha mãe. Ela me criou, cuidou de mim... E quando me assumi gay, se tornou o meu maior porto seguro, porque meu pai não aceitou bem.

— Você acha que encarou sua mãe como um substituto do seu pai? — Mariângela ajeitou os óculos em seus olhos esbugalhados.

— Não. — E passou a mão pelos seus cabelos rosados, agora já desbotados. — Minha mãe nunca foi minha ídolo. Corri para ela quando me senti só, mas nunca fui verdadeiramente acolhido. Quem me acolheu de verdade foi Leonardo. Eu nunca senti que minha mãe amasse a gente de verdade, sabe? Me parecia que eu e Benjamin éramos subterfúgios para ela alcançar ascensão social. Não sei, tive essa impressão...

— Você se sente culpado por ter esse pensamento? — Tornou a questionar a mulher.

— Muito. — Admitiu Dominick. — Ela sempre fez o papel de mãe, a trancos e barrancos. Apesar de brilhar seus olhos quando vê dinheiro, ela fez de tudo para preservar nossa família, e... Bem, fez tanto que acabou morta.

— E o que você sentiu quando soube que seu pai havia matado a sua mãe?

Aquela era uma pergunta delicada. Dominick não queria remexer naqueles sentimentos, porque fora um verdadeiro choque. Afinal, quem queria ver um crime tão horrendo dentro da própria casa?

— Eu senti raiva. — Admitiu. — Raiva do meu pai. Não apenas porque ele tirou minha mãe de mim, mas porque ele destruiu a imagem perfeita que eu tinha. Mas, ao conversar com ele após o crime...

Dominick suspirou fundo.

— Eu entendi que foi para proteger Leonardo. E, por mais que tenha sido uma decisão impensada... — Alisou os braços. — Eu o entendo. Não faria o mesmo, mas entendo.

— Você perdoa seu pai? — Mariângela empurrou o óculos para cima com o dedo indicador.

— Perdoo. — Dominick fechou as pálpebras por um momento, sentindo as lágrimas abandonarem seus olhos. — Eu o perdoo.

***

Leonardo estava do lado de fora, aguardando Dominick enquanto recostava-se no carro caríssimo do irmão. O garoto não tinha carteira de motorista ainda, então apenas lhe restava admirar a obra de arte que Dominick havia adquirido antes de seus vinte anos. Às vezes, lhe frustrava o fato de não ter nascido em berço milionário; contudo, após o trauma que Dominick passou — Sendo obrigado a lidar com a morte da mãe, pelas mãos do próprio pai. — O garoto agradeceu por não estar na pele dele.

Embora ainda sentisse a falta da mãe, Leonardo tinha outras coisas mais urgentes para se preocupar. O namoro com Helena ia ridiculamente bem e os três — Ele, Raquel e a garota. — estavam felizes. Leonor não sabia que Helena mantinha relações com uma terceira pessoa, mas a Leonardo isso não importava; estava com a garota que amava e, de quebra, conseguira uma nova amiga. O jovem sorria ao se lembrar disso; não poderia estar mais feliz.

Embora fosse filho de Lourenço de Castro, Leonardo se contentava com uma vida mais modesta. Havia encontrado emprego na empresa da família de Dominick (Que agora era gerida por seu tio), como exportador, e ganhava pouco mais de um salário mínimo. Ele poderia conseguir mais, sendo filho do dono, mas os holofotes não lhe apraziam. Não, Leonardo estava bem sendo somente o ex namorado de Dominick de Castro. Nas horas vagas, desenhava quadrinhos e os guardava em um canto especial de sua gaveta, para serem retirados quando ele desejasse mostrá-los ao mundo. Sob o pseudônimo de Luiz Fernando Soares, Leonardo criava histórias de super-heróis, super-vilões, monstros e mocinhos. Aquele era o seu maior sonho; um dia, quando Dominick estivesse melhor, o garoto lembraria o meio-irmão da promessa em financiá-lo no seu sonho. Contudo, Dominick estava com problemas demais no momento. Leonardo esperaria aquele turbilhão passar.

Quando avistou o amigo deixando o consultório de sua terapeuta, Leonardo abriu um grande sorriso. Correu a abraçá-lo, com um grande sorriso nos lábios; O jovem castro, no entanto, estava tenso e pensativo. Tomava uma pílula de seu antidepressivo, que havia começado desde que o terrível incidente com sua mãe acontecera. Leonardo não entendia muito de medicamentos, mas o amigo-irmão lhe dissera que era sertralina. À noite, ele tomava um tal de clonazepam, porque depois do assassinato de Fabiana, ele não conseguia mais dormir.

— Como foi a terapia? — Perguntou Leonardo. Dominick, em resposta, suspirou fundo e tirou um cigarro do maço que carregava no bolso.

— Foi boa. — E acendeu o pequeno bastão com um isqueiro. — E o trampo, como foi?

— Ah, me tiraram sarro de corno porque estou em um relacionamento não monogâmico. — E revirou os olhos. — Odeio algumas pessoas. Mas, no geral, foi um dia bom. Estou muito feliz com o meu novo emprego.

Dominick tragou o cigarro mais uma vez e deixou que a fumaça escapasse por sua boca. O céu tomava um tom alaranjado, típico do final da tarde, e a temperatura em Labramar já começava a baixar.

— Eu fico feliz que esteja gostando do trabalho. — Respondeu. — Eu vou passar na cadeia agora, para ver o meu... Nosso pai. Você quer ir junto?

— Posso ir. — Assentiu o garoto. — Mas vou ficar do lado de fora, tudo bem? Não me sinto confortável para... Você sabe.

Dominick deu umas batidinhas no cigarro para que as cinzas se desprendessem do bastão. Ele entendia a razão pela qual Leonardo não queria visitar seu pai na cadeia; e ele não sabia de metade do que motivara o Castro a dar um fim na vida de sua própria esposa. Se ele, Leonardo, soubesse que havia sido o motivador principal... Certamente não saberia como lidar.

O jovem estudante de direito esperou que o cigarro se consumisse um pouco mais, apagou a bituca no capô do carro e o jogou no meio-fio, fazendo um sinal para que Leonardo o acompanhasse. Ele era um bom rapaz, e havia evoluído muito no último ano. Dominick estava feliz por ele.

Tirou um jornal do banco do passageiro, no qual a manchete era, em letras garrafais, LOURENÇO DE CASTRO É PRESO POR HOMICÍDIO. A foto de capa era do renomado empresário algemado enquanto saía de sua casa, com uma expressão completamente apática. Dominick se lembrava bem daquele dia; cogitou seriamente fugir para o México e nunca mais ser visto, porque além do abalo pela morte de sua genitora, a imprensa não o deixava em paz.

Mas, como sempre, passou. Tudo passa. Os abutres da mídia não o parasitariam por tanto tempo assim; Logo encontrariam outro furo de reportagem para perseguir.

— Ei, antes que eu me esqueça... — Dominick ligou o motor. — Você ainda está fazendo HQs?

Leonardo abriu um enorme sorriso. Aquele era o seu lugar confortável, o seu momento. Desenhava HQs desde criança, tanto em papel quanto virtuais. Sonhava em ser um grande quadrinista um dia.

— Estou. — Respondeu, com os olhos brilhando. — Por quê?

— Acho que já é hora de lançar um material seu no mercado, não acha? — Dominick sorriu com o canto da boca. — Não pense que eu me esqueci da promessa que fiz no ano passado.

E, incapaz de esboçar outra reação, Leonardo abraçou os ombros de Dominick, enquanto este atentava-se ao trânsito.

— Obrigado! — Os olhos do menino lacrimejavam. — Você é o melhor amigo do mundo.

— O melhor irmão, você quer dizer. — Corrigiu o mais velho. Leonardo exprimiu uma risadinha anasalada.

— Ah não, aí não. — Brincou. — Meu melhor irmão é o Benjamin.

Dominick riu baixinho. A amizade que havia construído com Leonardo era preciosa e, se dependesse dele, jamais se perderia.

***

O presídio era frio e solitário. Dominick aguardou pacientemente no parlatório até receber a visita de seu pai. Ouvia gritos, gritos de dor e de pavor, que invadiam seus ouvidos e o faziam estremecer. Por um momento, Dominick se perguntou quantas pessoas estariam ali aguardando julgamento, ou presas por um crime que jamais cometeram. Como estudante de direito, o rapaz sabia o quão injusta a lei poderia ser, mas jamais teve um contato tão direto com as cadeias ou os presidiários antes.

Suspirou fundo. Não se sentia mal pelo pai, sabia que ele estava pagando pelo crime que havia cometido; contudo, gostaria que ele estivesse ali consigo, para ouvir suas angústias e suas vitórias. Lourenço não era o mesmo desde que Dominick se assumiu gay.

Com o soar de um alarme, os presos deixaram suas celas. O jovem Castro se aprumou na cadeira e esperou pacientemente até que seu pai, que trajava uma roupa laranja, tomasse o interfone do outro lado da parede de vidro.

E lá estava ele, Lourenço de Castro: Cabelos grisalhos, olhos azuis, rosto cansado. Era perceptível seu emagrecimento; de um porte forte e musculoso, agora Lourenço estava mais fino que bambu. Contudo, ele não parecia abalado, apenas exausto. O homem já havia aceitado seu destino quando esfaqueou a própria esposa.

— Dominick? — Ele chamou, no interfone, sem emoção na voz. Dominick o atendeu do outro lado. — Como vai, meu rapaz?

— Bem, na medida do possível. — Muitas coisas haviam se passado naqueles dois meses, mas o garoto não queria entrar em detalhes. — E o senhor, pai?

Lourenço respirou fundo. Não tinha mais emoção naquele corpo.

— Estou triste já faz algum tempo. — Contou ele, ajeitando os cabelos desarrumados com a mão. — Porque decepcionei você, Dominick.

Dominick engoliu em seco. Jamais pensou que seu pai se importasse com isso; De Lourenço, o rapaz apenas esperava auto-congratulações e nunca um pedido de desculpas. Não estava em sua personalidade reconhecer o que havia feito de errado.

Contudo, algo parecia ter mudado.

— Você se arrepende? — Perguntou o menino. — De ter matado a minha mãe?

— Eu não disse isso. — Apesar de tudo, Lourenço não iria mentir. — Eu tomei a decisão que tinha de tomar. No entanto, Dominick, eu... Não tenho sido um bom pai para você. Não fui, neste último ano. E, ao deixá-lo órfão de mãe, causei mais um trauma em ti. Por isso, peço perdão.

Dominick piscou. Era isso mesmo que estava ouvindo? Um pedido de desculpas?

— Você se arrepende de ter me maltratado? — A morte da mãe era certamente um marco em sua vida; no entanto, a decepção de Dominick tinha raízes mais profundas. — Por ser gay?

— Sim, Dominick. Disto me arrependo. — E suspirou. — No fundo, eu queria que você seguisse os meus passos. Fosse igual a mim. Por isso me decepcionei, no início.

— E... — O garoto ergueu uma sobrancelha. — Não está mais decepcionado?

— Não. — Lourenço negou com a cabeça. — Eu sou uma pessoa horrível, um monstro. Uma pessoa que mata alguém e não sente remorso algum. Não quero que você seja igual a mim, de forma alguma, meu filho. Seja você, apenas você.

Silêncio. Dominick respirou fundo, deslizou a mão pelo cabelo cor-de-rosa. Precisou de algum tempo para digerir aquilo, talvez um minuto ou dois; O maquinário de sua mente estava formulando a pergunta perfeita, a pergunta que mostrasse a Lourenço que ele não era um monstro.

— Você... — Disse, aos poucos. — Amou Clara? A mãe de Leonardo?

Foi a vez de Lourenço se calar. Repousou a cabeça sobre o punho, pensativo. Havia cometido um crime para preservar o fruto desta união, então não se poderia dizer que era completamente alheio à viúva do coronel Paulo.

— Sim. — Afirmou. — E nunca amei nenhuma outra mulher na vida.

— Então, pai... — Dominick abriu um sorriso tenro. — Você não é um monstro. Você matou por amor. Fez coisas erradas, sim, mas... É capaz de sentir. De se afeiçoar. E eu, por muito tempo, achei que não fosse. Mas eu estava errado.

— Dominick... — Lourenço estava prestes a chorar. — Você me perdoa?

— Perdoo, pai. — Como ele gostaria de poder abraçá-lo... — Eu te perdoo. Por tudo o que você fez.

E, ainda que não pudessem se tocar, pai e filho trocaram um caloroso olhar. Poderia ser uma situação trágica, mas era mais significativa para Dominick do que seus últimos 21 anos perto de um pai que não conhecia totalmente.

Agora, apesar de tudo, ele sabia perfeitamente quem era Lourenço de Castro. E, ao contrário do que poderia imaginar, sentia alívio por isso.

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