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Capítulo 4

Living after midnight, rockin' to the dawn

Lovin' 'til the morning, then I'm gone, I'm gone

I took the city 'bout one A.M, loaded, loaded

I'm all geared up to score again, loaded, loaded

I come alive in the neon light

That's when I make my moves right

Living After Midnight - Judas Priest

Naquele dia particularmente ensolarado, Leonardo chegou à escola com um sorriso no rosto. Claro; Era sexta-feira. O último dia de uma semana extenuante. Finalmente ele poderia descansar, se divertir um pouco, pensar em algo diferente das disciplinas escolares. Era a primeira semana na escola nova e ele já havia dado alguns passos importantes.

Ao cruzar o portão, cumprimentou Bruno, que rugiu para ele; Leonardo desconfiava que ele estivesse se tornando um animal aos poucos. A sua sala era logo no fim do corredor, caminho que ele percorria todos os dias. Não havia feito amizade com muitos, mas aquilo não importava; Ele teria o ano todo para isso.

Oi, Leo. 一 Disse uma voz singela atrás de si, e ele logo soube de quem se tratava.

Ao virar-se para trás, deu de cara com Ângela. Sorriu; Havia passado a semana inteira trocando mensagens com a garota. Hoje, ela estava mais produzida que o usual: Passara um batom vermelho nos lábios, trazia um laço no cabelo e o cheiro doce do perfume invadia as narinas do garoto.

Ela era realmente muito linda.

Ângela! 一 Respondeu ele, receptivo. 一 Como vai?

Ela soltou uma risadinha e se pôs a caminhar rente a ele.

Eu vou bem. 一 E pôs uma mecha de cabelo atrás das orelhas. 一 Escute, Leo, eu queria te propor... O que você acha de sair comigo hoje à noite?

Leonardo sorriu.

Claro! 一 Ele se sentia o homem mais galante do mundo. 一 Para onde vamos?

Eu... 一 Ângela coçou a nuca. 一 Não pensei nesse detalhe. Não achei que você fosse aceitar. Você parece ser tão requisitado, cheio de compromissos...

Coitada. Mal sabia ela que era o único contato da agenda de Leonardo.

Você tem alguma sugestão? 一 Continuou ele, sorrindo.

Talvez um cinema. Não sei. 一 Sugeriu. 一 Você gosta de filmes? Eu particularmente adoro!

Eu amo filmes! 一 Leonardo já tinha planejado em sua mente a noite perfeita. 一 O que acha de assistirmos Vingadores?

Ângela fez uma careta.

Eu odeio filme de super-herói. 一 Ela foi categórica. O menino levou um susto; Quem neste planeta odiaria super-heróis? 一 Gosto de filmes de terror. Pensei em procurar por algum em cartaz. O que você acha?

Filme de terror? Agora, quem estava desinteressado era ele. Apesar de não admitir, Leonardo era um tanto quanto covarde; Na última vez que assistira a um filme de terror (E ele se lembrava bem do título: Centopéia Humana.), demorou três semanas para voltar a dormir. Não, definitivamente, terror era uma péssima escolha.

Você não prefere romance? 一 Ele não era o maior fã de romance, mas melhor voltar diabético de uma sessão do que perder sua capacidade de pregar os olhos por tanto tempo. 一 Tem alguns bons passando, e...

Romance? Deus me livre. 一 Ângela simulou um vômito. 一 Eu não gosto, é muito meloso para mim. Por quê? Qual o problema com o terror? Você está com medo?

NÃO! 一 Ele tinha que manter a pose de machão. 一 Eu só... Acho que podemos decidir mais tarde, não é mesmo?

Sim. Temos o dia todo para isso. 一 Sorriu. E, em seguida, deu em Leonardo um beijinho na bochecha. 一 Até mais, Leo. A aula já vai começar.

E, como excelente aluna que era, Ângela entrou na sala e se sentou na primeira fileira. Leonardo não era tão dedicado assim, além disso, seus 1,80 metros não o permitiam estar longe do fundão.

O que era uma pena. Ele adoraria passar suas manhãs conversando com Ângela; No entanto, ela parecia dedicada demais para desperdiçar a aula dessa maneira.

Leonardo ajeitou-se no canto da sala, pendurou sua mochila na cadeira e tirou para fora o caderno. Era aula de história, a que ele menos odiava. Quando o sinal tocou, o professor já estava dentro da sala, e Leonardo soube porque ele dava aulas justamente de história.

O homem deveria ter vivido absolutamente TODOS os acontecimentos históricos da existência humana, porque ele tinha aproximadamente um milhão de anos. O rosto enrugado denunciava sua idade pré-histórica e os cabelos, que eram brancos como neve, também aparentavam as marcas do tempo.

Quando o professor abriu a boca, suas primeiras palavras foram a mais pura autopromoção; Aparentemente o senhor Evair de Mello era formado pela USP, havia trabalhado na faculdade de Labramar em 1993 e blá blá blá. Um monte de informação inútil que não interessava a Leonardo e nem à ninguém ali. Por pouco, muito pouco, ele não cogitou se deitar e dormir...

E teria feito isso, se o pensamento não tivesse sido interrompido por uma bola de papel que o atingiu diretamente na cabeça.

Ei. 一 Murmurou ele, tomando a bola amassada em mãos. 一 Quem fez isso?

Ao seu lado, ela acenou para ele. Claro, não poderia ser outra pessoa. Quem mais iria querer importuná-lo?

Helena. A garota rebelde que ele vinha evitando, tanto por recomendação de Ângela quanto por sua própria intuição. Ela era completamente maluca e um pouco sem-noção, o que assustava não somente a ele como a todas as pessoas normais daquela escola.

Helena. 一 Chamou. 一 Você quer alguma coisa?

Primeiramente, Maria-mole, bom dia. 一 Era irônico vê-la pedindo por educação. 一 Segundamente, como você está?

Eu? Estou como sempre, eu acho. 一 Respondeu ele. 一 Por que a pergunta?

Estava pensando em convidar você para sair comigo e meus amigos hoje à noite. 一 Lançou. 一 O que você acha? Eu não faço isso com todo mundo, então espero que se sinta especial.

Eu? 一 Eles não eram muito próximos. Era de fato uma proposta inusitada. 一 Por que eu sairia com seus amigos? Eu nem os co...

Nós vamos jogar videogame.

E, apesar de hesitante, aquilo despertou interesse em Leonardo. Video-game era um de seus hobbies preferidos, e o aparelho foi perdido quando ele se mudou. Como Leonor não via razão para comprar um novo, havia mais de dois meses que ele não jogava absolutamente nada.

Era uma oportunidade de ouro.

Eu... 一 Ele tentou ganhar tempo. 一 Não sabia que você gostava de jogos.

Tem muita coisa sobre mim que você não sabe. 一 Devolveu ela, com um sorrisinho. 一 Mas e aí? Vai aceitar ou não?

Apesar de muito tentado a dizer sim, ele não podia deixar Ângela nas mãos.

Eu já tenho compromisso hoje. 一 Foi obrigado a admitir. 一 Combinei de sair com a Ângela. Me desculpe, não vou poder ir.

E Helena abriu ainda mais o sorriso.

Que bonitinho! 一 Provocou. 一 Ele tem um encontro!

Foi a sua vez de revirar os olhos.

E o que você tem a ver com isso, hein? 一 Ele tinha sentimentos ambíguos por Helena. Por vezes, ela conseguia ser bastante divertida. No entanto, boa parte do tempo, ela era um tanto quanto inconveniente.

Nada, Maria-mole. Por mim está tudo bem, vá ver a Ângela. Espero que vocês transem. 一 Não era exatamente o que ele pretendia, mas se rolasse, não seria uma má pedida. 一 Mas, se por acaso você quiser vir mesmo assim, pode trazer a Ângela. Eu não tenho problema com gente se pegando do meu lado.

Ele levantou uma sobrancelha.

Posso?

Foi o que eu disse, não foi? 一 Respondeu ela. 一 Eu não sei se a sua namoradinha vai querer, mas os meus amigos não vão se importar. Eles gostam de conhecer gente nova.

Ela não é minha namoradinha! 一 Grunhiu Leonardo.

Ainda. 一 Piscou. 一 Mas eu preciso de uma resposta. Você vem ou não? Preciso avisar meus amigos.

Leonardo suspirou. Sair com Helena não era a melhor ideia do mundo e fazê-la participar de seu encontro era uma ideia pior ainda, mas ele estava com muita saudades de tocar num controle.

Rendido, ele fez que sim com a cabeça.

Ótimo. 一 Helena pegou um fone de ouvido de sua mochila. 一 Passo na sua casa às oito, está bem? Esteja preparado, porque eu não sou muito paciente.

E, encerrando a conversa, conectou o fone ao celular. Logo se pôs a ouvir a música alta de sempre e deixou Leonardo sozinho com seus pensamentos.

Incerto se havia feito a escolha correta, o garoto encarou o celular e, com seus dedos magros, teclou uma mensagem:

"Já sei onde nós vamos."

***

Leonardo estava bem aprumado. Vestiu sua melhor camiseta, passou perfume e arrumou os cabelos. Despediu-se de Leonor com um beijo, disse a ela que voltaria cedo (Promessa que ele não tinha certeza se iria cumprir) e esperou por Ângela no portão de casa.

Ela era bem pontual; O relógio marcou quinze para as oito e ela já estava lá, em cima de sua bicicleta azulada. Tinha fitinhas no cabelo, trajava um vestido vermelho e o rosto trazia uma maquiagem leve. Talvez houvesse preparado um penteado especial para a ocasião, mas o vento da estrada o havia desmanchado.

A garota desceu, prendeu a bicicleta em um poste perto da casa de Leonardo e seguiu em sua direção. Entretanto, diferentemente do que acontecera de manhã, ela não estava mais tão animada.

Você veio! 一 Leonardo a abraçou. 一 Estou muito feliz em te ver aqui, Ângela.

É... 一 Ela parecia um pouco emburrada. 一 Também estou.

No entanto, suas feições eram carrancudas. Havia algo de errado, ele notou. Cogitou por um segundo a possibilidade de ter estragado tudo.

Está tudo bem? 一 Ele não era estúpido. 一 Você não parece feliz...

Embora um pouco hesitante, Ângela se manifestou:

Quando eu te chamei para sair, esperava que nós saíssemos sozinhos. 一 Admitiu ela. 一 Só eu e você. Mas você convidou uma amiga...

Leonardo mordeu o lábio; Ela tinha razão. Aquele era um momento dos dois, só dos dois, e colocar Helena na história tinha sido uma péssima ideia.

Eu... Sou tímido. 一 Afinal, talvez aquela justificativa seria melhor do que admitir-lhe que ele só queria jogar videogame. 一 Acho que uma terceira pessoa pode tornar as coisas mais fluidas. Não acha?

Tá, talvez. 一 Ela não estava convencida. 一 Mas quem é essa amiga, afinal? Ela é bonita? Não estou gostando dessa história...

Por que quer saber? 一 Se o nome de Helena fosse mencionado, Ângela desistiria daquele encontro no mesmo segundo. 一 É uma amiga minha... Isso não é o suficiente?

Espero que ela não seja mais interessante que eu. 一 Enciumada, Ângela sussurrou para o nada, mas Leonardo captou suas palavras. A fim de acalmá-la, deu-lhe um abraço e um beijo na bochecha.

Nenhuma garota é mais interessante que você. 一 Não era exatamente verdade, mas ele precisava remediar a situação. 一 Estou muito feliz que estamos saindo juntos.

Pareceu funcionar; Ângela desmanchou a carranca e abraçou Leonardo de volta, encostando a cabeça em seu peito. O cheiro da colônia da garota era doce e suave, o suficiente para fazer o rapaz esquecer-se do mundo por um segundo e pensar nela, somente nela...

Até que uma buzina o tirou de seus devaneios.

MARIA-MOLE! 一 Ele conseguiu ouvir do outro lado da rua. Voltou sua atenção para o carro que ali estava estacionado e viu Helena sinalizando para ele por trás da janela.

A carranca de Ângela voltou.

Sua amiga é a Helena? 一 Ela estava brava. 一 Por que não me contou antes?

Você... 一 Ele estava atônito demais para bolar uma desculpa convincente. Somente lhe restava dizer a verdade. 一 Você não viria se eu dissesse.

Claro que não! 一 Ângela pôs a mão na cintura. 一 Imagine... Eu, saindo com Helena!

Ei, ela é legal, tá? 一 Na verdade, Leonardo não tinha muita garantia disso; Conhecia muito pouco a amiga para afirmar alguma coisa. Não sabia nem mesmo se eles poderiam se considerar amigos. 一 Dê uma chance a ela. Você não vai se arrepender.

Ângela bufou.

Tá bom. 一 No entanto, ela parecia cogitar seriamente dar meia volta e retornar de onde veio.一 Espero que seja divertido.

E, agora, Leonardo havia tomado para si a responsabilidade não só de fazer o encontro ser bom, mas também de fazer as duas se darem bem. Maravilha! Onde ele estava com a cabeça quando aceitou aquele convite?

Sinalizou de volta para Helena e, tomando as mãos de Ângela nas suas, atravessou a rua. Pediu licença, entrou no carro 一 Um gol usado. 一 E notou que havia outra pessoa no automóvel, no banco do motorista: Uma moça negra, gordinha, com os braços totalmente tatuados, cabelos crespos tingidos de rosa e olhos escuros. Estava tão bem vestida quanto Ângela; Um vestido preto, um colar de morcego e uma maquiagem gótica forte enfeitavam o seu corpo. Helena, ao contrário, estava bem mais despojada, com uma camiseta simples do Iron Maiden e os costumeiros calça jeans e tênis.

No carro, tocava alguma música que Leonardo desconhecia, mas com toda a certeza do mundo era Heavy Metal. Parecia a trilha sonora de sua ida ao inferno.

Olá, Maria-mole. Olá, Ângela. 一 Helena cumprimentou os dois. Ângela, apesar de receosa, aceitou o cumprimento. 一 Essa é a Júlia. Júlia, esses são Leonardo e Ângela. Estudam comigo.

E aí? 一 Júlia fez um hangloose.

Hã... Oi. 一 Leonardo mordeu os lábios. Ângela, irritada, apenas se manteve calada. 一 De onde vocês se conhecem?

A gente se viu pela primeira vez num show de uma banda cover do Metallica. 一 Contou Helena. 一 Eu pedi o contato da Júlia, porque queria ficar com ela. Para minha infelicidade, ela é hétero, mas hoje somos amigas.

Mas o seu negócio é homem ou é mulher? 一 Não que importasse, claro. No entanto, ele estava curioso.

Por que não ambos? 一 E piscou.

Uh... 一 Claro. Agora, parecia óbvio. Leonardo deveria ter descoberto isso antes. 一 Entendi. E para onde estamos indo?

Nós vamos para a casa do Douglas. 一 Desta vez, foi Júlia quem interferiu. 一 Ele é um pouco diferente da gente, você vai ver. Mas é muito gente boa.

Finalmente um homem... 一 Murmurou Ângela, consumida pelo ciúmes.

Douglas foi namorado de Júlia. 一 Contou Helena. 一 Hoje eles não namoram mais. Porém continuam amigos.

Júlia concordou com a cabeça, confirmando a informação.

E Ângela se mantinha calada, recusando-se a participar da conversa.

O que há com a garota? 一 A amiga de Helena notou o descontentamento de Ângela. Ela estava rabugenta, com os braços cruzados e os lábios comprimidos.

Acho que ela não gosta da música. 一 Mentiu Leonardo; Sabia que o problema não era a música, mas entrar em detalhes sobre isso seria constrangedor demais.

Não gosta de Death? 一 Então era esse o nome da banda que tocava... 一 Podemos mudar, se for do seu gosto. O que você prefere? Sepultura? Black Sabbath? Iron Maiden? Slayer?

Justin Bieber. 一 Na verdade, havia algumas bandas de rock que a agradavam, mas o objetivo da jovem era alfinetar as duas.

Não tenho músicas do Justin Bieber no meu celular. 一 Disse Júlia, gentilmente. 一 Mas, se você quiser, podemos conectar o seu ao meu rádio.

Deixa pra lá. 一 Grunhiu a menina, descontente, e permaneceu com os braços cruzados.

Naquele momento, Leonardo soube que seria uma noite difícil.

***

Júlia estacionou o veículo em frente a um portão cinza, parcialmente enferrujado. A casa era relativamente antiga, via-se as marcas do tempo nas paredes rachadas; Leonardo achou de péssimo gosto a combinação de amarelo com cinza na tintura. A garagem era bastante espaçosa, mas não havia carro nenhum por ali.

Chegamos. 一 Disse Júlia, deixando alguns de seus pertences no porta-luvas. 一 Douglas deve estar em casa. Acabei de mandar uma mensagem.

Leonardo, Helena e Ângela deixaram o carro. Tomando a frente, a ruiva bateu palmas em frente ao portão, à moda antiga; A casa de Douglas sequer tinha uma campainha.

O rapaz, entretanto, estava à postos. Poucos segundos depois do chamado de Helena, sua cabeça loura apareceu por fora da porta. Sorrindo, ele tirou um molho de chaves do bolso e cumprimentou as garotas.

Helena! Júlia! 一 Como havia sido mencionado, Douglas era visivelmente diferente de Helena e Júlia. Vestia uma camisa xadrez ao estilo cowboy, não tinha nenhuma tatuagem e seu sotaque era típico do interior. Um homem do campo, provavelmente. Além de seu estilo, o que mais chamava a atenção no garoto era o seu corpo forte e musculoso, seus cabelos louros naturais e a barba por fazer que lhe cobria o queixo. Era um pouco mais velho que o restante do grupo, talvez tivesse uns 20 anos. 一 Que bom que vocês vieram. Quem são os outros dois?

Ângela não se manifestou. Continuava emburrada, querendo sair dali o quanto antes. Leonardo teve que intervir por ambos:

Eu sou Leonardo. 一 E ofereceu sua mão a Douglas. 一 Ela é a Ângela. Acho que está um pouco tímida...

A contragosto, Ângela também ofereceu sua mão para o rapaz. Ele não desmanchou o sorriso; Como Helena havia dito, seus amigos gostavam de conhecer pessoas novas.

Sejam muito bem-vindos à minha casa! 一 Douglas apertou as mãos de ambos. 一 Meus pais só chegam de manhã. Eles foram passar a noite fora. Até lá, a casa é nossa!

Seria uma noite incrível com muito GTA e Call Of Duty, pensou Leonardo. Suas mãos suavam de ansiedade em encontrar um videogame novamente. Era um pensamento tão aprazível que ele quase conseguia relevar o desconforto.

Quando pôs os pés para dentro da garagem, o garoto ouviu um rosnado. Olhou para o lado e quase tomou um susto; Era um pastor alemão enorme fuzilando tanto ele quanto Ângela com os olhos.

Leonardo não tinha uma boa experiência com cachorros. Definitivamente, preferia gatos.

Que lindo! 一 Ângela, ao contrário dele, esqueceu-se até mesmo de que estava irritada. Apesar da carranca do cão, pôs-se a afagar seus pêlos. 一 Como ele chama?

Esse é o Saramago. 一 Então Douglas gostava de literatura? Quem diria... 一 Ele é um pouco mal-encarado com as visitas, mas não morde. Pode fazer carinho tranquilamente.

Leonardo, entretanto, duvidava um pouco que um cachorro daquele tamanho fosse completamente inofensivo.

Para a sua sorte, Douglas destrancou a porta da sala em menos de um minuto, permitindo a entrada dos quatro em sua casa. Ângela demorou-se um pouco acariciando o pastor alemão, mas por fim tomou o mesmo rumo dos outros. Enfim, estavam em casa.

Leonardo não era muito de reparar na bagunça, mas a sala de Douglas era extremamente limpa. Não havia um grão de poeira em nenhum dos móveis, o chão chegava a brilhar e tudo cheirava agradavelmente à lavanda. Era um nível de organização que nem ele e nem Leonor conseguiriam alcançar.

Se vocês quiserem, tem cerveja na geladeira. 一 Douglas apontou para a cozinha. 一 Sintam-se em casa.

Eu... 一 Acanhado, Leonardo acariciou os próprios ombros. 一 Eu não bebo. Mas obrigado.

Tem refrigerante também. 一 Uma coisa ele não podia negar: Douglas se esforçava muito para ser um bom anfitrião. 一 Você prefere coca ou guaraná? Eu pego para você.

Leonardo estava prestes a dizer que não precisava, quando ouviu um grito de Júlia da cozinha:

Droga, Doug. 一 Resmungou. 一 Só tem Itaipava?

Você é muito fresca, Júlia. 一 Retrucou Helena, reaparecendo na sala com uma latinha em mãos. 一 Cerveja é cerveja. E Itaipava é bom demais.

Leonardo e Ângela se entreolharam. Apesar dos esforços de Douglas, nenhum dos dois se sentia confortável ali.

Eu vou ver se Saramago está bem. 一 Ângela, que parecia levemente mais irrequieta que Leonardo, logo bolou uma desculpa: 一 Parece que eu ouvi ele latir.

Sério? 一 Douglas tomou de Helena uma latinha. 一 Eu não ouvi nada. Acho que é engano seu...

Com licença. 一 A garota não permitiu que Douglas interrompesse seu caminho. Antes mesmo que alguém pudesse questionar, ela saiu pela porta da sala e deixou Leonardo sozinho com os três desconhecidos.

Ótimo. Agora ele, que não gostava de gente nova e nem de cachorros, via-se em um beco sem saída.

Uh... 一 Somente uma coisa seria capaz de desfazer aquele clima ruim. 一 Quando vamos ligar o videogame? Eu estou ansioso.

Douglas franziu o cenho.

Videogame? 一 Ele parecia confuso. 一 Eu não tenho um videogame. Do que você está falando?

E, agora, Leonardo tinha certeza de que não estava entendendo nada. Como eles iriam jogar na casa de alguém que não tinha o aparelho? Devia haver algum engano... Alguma pegadinha...

No entanto, Helena interveio:

Eu menti para você. 一 Respondeu ela, envolvendo um braço nos ombros de Douglas. 一 Não vamos jogar videogame. Vamos ficar chapados e jogar conversa fora.

E aquilo deixou o rapaz extremamente irado.

MENTIU? 一 A raiva consumia seu corpo lentamente. 一 Como assim, você mentiu?

Ah, dá um tempo, Maria-mole. 一 Helena deu uma bebericada na lata de cerveja. 一 Se eu tivesse te dito a verdade, você não teria vindo. Júlia, você já bolou o beck?

É CLARO que não. 一 Ele estava prestes a explodir. 一 Você me arrastou até aqui com uma mentira.

Júlia entregou o baseado para Helena. Ela deu de ombros, tirou um isqueiro do bolso e o acendeu.

Já que você está tão bravo, pode ser o primeiro a dar uma tragada. 一 E entregou o cigarro para Leonardo. 一 Vai te acalmar um pouco.

Eu NÃO uso drogas. 一 Afirmou ele, categórico.

Helena ergueu uma sobrancelha.

Você toma café?

Tomo. Todo dia. 一 Respondeu Leonardo. 一 Mas essa NÃO é a questão, eu estou...

Então você usa drogas. 一 E, novamente, ofereceu o cigarro ao garoto. 一 Você deveria se sentir grato que eu estou compartilhando essa maconha de excelente qualidade com você.

Eu não quero isso daí. 一 Recusou ele. 一 Você é o tipo de amizade que minha mãe sempre disse para ficar longe.

Que bonitinho, ele fez proerd. 一 Vencida, Helena levou o baseado à própria boca. 一 Bom, se você não quer, não sou quem vai lhe obrigar.

E tragou. Segurou a fumaça por algum tempo e logo a soltou pela boca, entregando o cigarro para Júlia em seguida.

Leonardo estava irado. Não queria conversar com ninguém, queria se esquecer de que aquela noite havia existido. Cruzou os braços e se sentou em um canto isolado, enquanto os três compartilhavam o cigarro de maconha e se divertiam entre si.

Aquele era oficialmente o pior dia da sua vida.

Após cerca de quinze ou vinte minutos, Júlia notou que ele não iria desfazer a carranca. Já um pouco alterada, aproximou-se de Leonardo e puxou assunto:

Ei. 一 Seus olhos já começavam a ficar vermelhos. 一 Por que você está tão sério? Se divirta um pouco...

Eu não gosto desse tipo de rolê. 一 Grunhiu. 一 Quero matar a Helena...

Nah, você não quer. 一 Júlia deu um soquinho no braço do garoto. 一 Ela tem um jeito um pouco invasivo, mas é uma pessoa legal. Você vai ver.

Eu quero ir pra casa. 一 Murmurou ele.

Se você não mudar de ideia em vinte minutos, eu te levo, tudo bem? 一 A proposta de Júlia era tentadora. No entanto, ele duvidava que ela estaria em condições de dirigir dali a vinte minutos. 一 Só relaxe. Você não precisa fumar, mas tenta interagir com a gente. Somos legais, eu prometo.

Leonardo respirou fundo. Cogitou aceitar a sugestão de Júlia; Ele não tinha opção, de qualquer maneira. Tentou se aproximar de Douglas e Helena, mas quando se virou em direção aos dois, percebeu que ambos estavam se beijando.

De forma intensa, vale ressaltar. Helena estava sentada no colo do rapaz e os dois se agarravam loucamente, como se estivessem dentro de um quarto e não no meio da sala com duas outras pessoas olhando.

Meu deus. 一 Leonardo desviou o olhar no mesmo segundo. 一 Você viu aquilo?

Júlia levou seus olhos até Douglas e Helena.

Ah. 一 E tragou mais uma vez. 一 Eles estão se pegando de novo. Normal.

Normal? 一 Era um pouco difícil para ele entender que tudo aquilo estava acontecendo na frente dos olhos de Júlia e ela não se importava nem um pouco. 一 Você não acha esquisito que sua amiga esteja ficando com seu ex namorado?

Ele é meu ex, não meu atual. 一 Deu de ombros. 一 Eu não me importo nem um pouco. Por mim, que os dois se divirtam.

Como assim, não se importa? 一 No lugar dela, Leonardo estaria realmente ofendido. 一 Helena está beijando Douglas!

Na verdade... 一 Com o canto do olho, Júlia observava a cena. 一 Agora, eu diria que ela está mamando ele.

E o rapaz cometeu o terrível erro de desviar seu olhar novamente. Apesar de não conseguir ver todos os detalhes, percebeu que Douglas estava com o pênis para fora, e Helena, com a boca na botija.

Leonardo simplesmente queria deletar tal cena de sua cabeça. Era demais para ele.

Com licença. 一 Agora, até o pastor alemão parecia mais amigável que aquela situação lamentável.

Saiu pela porta da frente, sem se importar com o que Júlia diria. Deixou que o brilho das estrelas recaísse por cima de si e respirou fundo, inalou ar fresco, permitiu que a consciência retornasse ao seu corpo. Seus pensamentos estavam tão desorganizados que ele sequer notou o latido do pastor alemão à sua frente.

Acalme-se, Saramago! 一 Ângela afagou o cachorro. 一 É apenas o Leonardo. Ele é amigo.

Um pouco receoso, o garoto acenou para o cão.

Ele parece ter gostado de você. 一 Notou. 一 Você leva jeito com cachorros.

Ângela sorriu.

É... Parece que sim. 一 Respondeu ela, tímida. 一 Por que você veio? O que aconteceu? Os jogos estavam chatos?

Não tem jogo nenhum. 一 Leonardo guardaria mágoa disso para sempre. 一 Eles só queriam usar drogas e papear... Aparentemente, transar também.

Ângela reprimiu uma risada.

Que péssimo. 一 Disse. 一 Deve ter sido horrível descobrir que foi enganado.

Leonardo fez que sim com a cabeça.

Me desculpe por isso. 一 Ele acariciou os próprios ombros. 一 Eu te arrastei para um rolê péssimo. Não deveria ter confiado em Helena...

Está tudo bem. 一 Agora, ela parecia bem mais leve. 一 Não tinha como você saber, afinal. Helena é indecifrável, como eu já havia lhe dito.

Ele sorriu e se sentou ao lado dela em uma mureta. Tentou encará-la nos olhos, mas não conseguia; Sua atenção se voltava totalmente aos seus próprios pés.

Enquanto ele ponderava consigo mesmo se era burro ou estúpido, ouviu gemidos vindo da sala. Eram gemidos de Helena e de Douglas. Não restava dúvida de que ambos já haviam partido para o ato em si.

Espero que eles estejam usando camisinha. 一 Observou ele.

Ângela riu. O abraçou e roçou seu nariz no pescoço do garoto.

Deixa eles pra lá. 一 Passeou com seus dedos pelos ombros de Leonardo. 一 Pense que estamos finalmente sozinhos.

Leonardo devolveu o sorriso. Levantou o rosto de Ângela com o polegar e demorou-se algum tempo em seus belos olhos pretos.

Quando ele menos esperava, o beijo veio. As línguas de Leonardo e Ângela se entrelaçaram em um perfeito festival de emoções, fazendo com que aquela noite lamentável valesse a pena.

Ao terminarem, Ângela encarou Leonardo e Leonardo encarou Ângela. Ambos sorriam feito bobos e se sentiam no céu. Se beijaram mais uma vez, desta vez com mais voracidade, permitindo que o mundo ao redor desaparecesse. E, desta segunda vez, Leonardo se sentiu ainda mais ousado.

Ângela parecia animada também; Quando seus lábios se descolaram, ela levou a boca ao ouvido do rapaz e sussurrou, lentamente:

O que acha de imitarmos Douglas e Helena?

Qualquer garoto normal se sentiria incentivado por aquela proposta e levaria o pedido de Ângela à frente; Afinal, ela não era apenas bonita, mas também incrivelmente sexy. Entretanto, Leonardo sentiu um leve incômodo ao cogitar tal ato; Logo percebeu que não queria avançar com Ângela, ao menos não tão rápido.

Eu... 一 Ele não estava pronto. Não ainda. 一 Eu não quero fazer isso.

Ela não pareceu compreender.

Por que não? 一 Frustrou-se. 一 Eu sou feia?

É claro que não! 一 Leonardo logo se pôs a negar. 一 É que eu... Bem, eu sou virgem.

E isso era verdade. Poderia ser muito utópico, mas ele gostaria que sua primeira vez fosse especial, e não daquela forma tão apressada.

Eu também sou. 一 Admitiu Ângela. 一 Mas pra tudo tem uma primeira vez, não é?

Sim, mas... 一 Ela não parecia estar disposta a aceitar seu "não". Que situação! 一 Eu não me sinto pronto. Veja bem, estamos ao ar livre, não temos camisinha...

É só a gente entrar e pedir um quarto e um preservativo para Douglas. Ele deve ter. 一 Ela ainda insistia. 一 Não é tão difícil assim...

Ângela, eu não quero transar com você agora. 一 Se obrigou a ser direto. 一 Acho que é muito cedo para isso, tudo bem?

Obrigada a ceder, Ângela fez que sim. Contudo, ela não parecia estar tão animada quanto antes; Cruzou os braços, fez beicinho e evitou olhar para Leonardo. Se havia algum clima entre os dois, agora ele estava arruinado.

Para não se sentir tão culpado, Leonardo deslizou as mãos pelos cabelos escuros da garota.

Você não precisa ficar assim. 一 Consolou. 一 Eu só não estou no momento. Não é nada com você, ou...

Leo... 一 Ângela se voltou para o menino de uma só vez. 一 Para que time você torce?

Era uma pergunta um tanto quanto aleatória, ele tinha que admitir.

Eu? Palmeiras. 一 E coçou o couro cabeludo. 一 Por quê?

Não é isso. 一 Ângela balançou a cabeça horizontalmente. 一 Estou perguntando se você é gay.

O rapaz levou um susto. Não era a primeira vez que questionavam sua sexualidade, mas ele jamais havia recebido essa pergunta de forma tão direta.

Não. Eu acho que não. 一 Bom, ele jamais havia se atraído por homens até então. 一 Por quê?

Acha? 一 Insistiu ela.

É. Acho. 一 Ele tinha quase certeza, na verdade, mas nunca se sabe.

Não tem problema se você for. 一 Ângela continuou. 一 Não tem nada de errado em ser gay. Todos merecem respeito.

Eu sei. Mas eu não sou. 一 Por que ela não podia simplesmente aceitar a sua resposta? 一 Eu só não estou com vontade de transar o tempo todo.

Apesar de não parecer engolir sua resposta, Ângela concordou com a cabeça. Voltou a brincar com Saramago e não dirigiu mais a palavra a Leonardo.

Os dois se mantiveram no mais completo silêncio até Júlia pôr a cabeça para fora e perguntar se algum deles queria uma carona para casa. Ambos assentiram, permaneceram mudos a viagem toda e só tiveram paz quando chegaram em suas respectivas casas.

Leonardo tentou ainda conversar com Ângela pelo celular. Mandou uma mensagem simples:

"Desculpa por hj. Prometo te levar para lugares melhores :)"

Os tiques ficaram azuis, mas nenhuma resposta veio. Leonardo suspirou fundo; Então era esse o fim de sua pseudo-relação com Ângela Tanaka...  

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