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Capítulo 18

Eu vou te amar como um idiota ama

Vou te pendurar num quadro bem do lado da minha cama

Eu espero enquanto você vive

Mas não esquece que a gente existe

Eu vou te beijar como um idiota beija

Vou me preparar pro dia em que você já não me queira

Mas enquanto você não se cansa

Eu vou te amar como um idiota ama

Idiota - Jão

Uma semana depois do encontro com os amigos de Júlia, a cabeça de Leonardo ainda girava. Conviver com a dor de amar alguém que não o corresponderia não é algo fácil, e lidar com os sentimentos inflamáveis dentro de si também não.

Ele ainda sentia-se vivo quando encontrava com Helena e suas estripolias, mas agora o vazio no peito apertava. Questionava se deveria se afastar; Um dia, tudo ficaria pesado demais para suportar. E ele não estava pronto para lidar com as consequências de um amor não correspondido.

De qualquer forma, era melhor esquecer tudo isso. Com o gibi do Batman em mãos, Leonardo encarou o relógio que estava acima de sua cômoda e reparou que ele marcava uma da manhã. Havia gastado tanto tempo absorto em seus pensamentos que sequer se deu conta do tempo que passava, segundo a segundo, na frente de seus olhos.

Dando-se conta de que estava com sono, Leonardo bocejou, vestiu o pijama e se deitou, fechando os olhos lentamente e tentando contar carneirinhos enquanto os belos olhos castanhos de Helena não saíam de sua mente. Amanhã seria um dia cheio, e ele não iria querer parecer um zumbi.

Ele estava quase conseguindo pegar no sono quando sua tranquilidade e paz foi interrompida pelo barulho de uma pedra atingindo sua janela.

Leonardo bufou, levantando-se de mau humor. Quem seria o chato que estaria incomodando seu sono dos justos tão tarde da noite? Talvez um moleque chato querendo atrapalhar seu momento particular, ou talvez...

Ela mesma. Claro, ele deveria ter concluído antes.

— Oi. — Cumprimentou ela, assim que Leonardo abriu a janela do quarto, com o sorriso sapeca, os olhos castanhos e os lábios grossos que prendem o olhar de qualquer observador. Ela estava particularmente bonita com a camiseta regata do Obituary e a calça jeans rasgada, como sempre.
— Helena? — Um pouco grogue, Leonardo piscou duas vezes. Envergonhou-se um pouco de estar usando um pijama velho do mickey perto de sua paixão secreta, mas estava sonolento demais para se ater demasiadamente a isso. — O que veio fazer aqui?
Ela sorriu, tentadora, e apoiou o ombro na parede.
— Encher o seu saco. — E piscou.
Parcialmente confuso, Leonardo coçou a própria nuca. Poderia ficar bravo com ela por estar incomodando seu sono na metade da madrugada, mas ele a amava demais para isso.
— Está fazendo hora extra? — Ele perguntou, sorrindo com leveza e esfregando os próprios olhos.

— Vem. — Sem pedir permissão, ela se esgueirou para dentro do quarto do rapaz e o puxou pelo braço — Eu quero te mostrar uma coisa.

— Me mostrar uma coisa? — Leonardo não era um cara sortudo, então não tinha boas expectativas do que seria essa "coisa". — À essa hora?

Helena revirou os olhos.

— Se eu quisesse te mostrar mais cedo, eu teria te procurado mais cedo. — Ela o olhou com desdém por alguns poucos segundos. No instante seguinte, porém, ela estava sorrindo e fazendo um sinal para que ele a acompanhasse. — Vamos, nós não temos muito tempo.

— Nós... Nós temos aula amanhã. — Embora Leonardo não se preocupasse nem um pouco com seus afazeres escolares, ele não estava no clima de sair de casa à uma hora da manhã.

Ela revirou os olhos novamente.

— É. Nós temos. — Disse, não mais tão sorridente. — Mas, afinal, você vem ou não vem? Eu não tenho o dia todo.

E, por fim, Leonardo se rendeu.

— Eu vou trocar de roupa. — Assentiu. — Espere só um minuti...

Ela riu do mesmo jeito debochado de sempre e saiu correndo em linha reta, como uma criança levada fugindo da mãe. Bom, ela se parecia com uma criança levada, mas Leonardo não era nem um pouco parecido com uma mãe. Ou será que era o contrário?

Com isso, ela deixou claro que não iria esperar Leonardo se trocar. Ele pulou pela janela de uma só vez, descalço e com o pijama do Mickey, torcendo para que nenhum conhecido o encontrasse no caminho.

— HELENA! — Leonardo berrou, esbaforido. Se fizesse algum esforço, conseguiria ser um pouquinho mais rápido, mas ele estava cansado demais para isso. — PARA ONDE CARALHOS VOCÊ...

Ela se virou para trás e, como se debochasse, levou um dedo aos lábios.

— Fale baixo. — Zombou. — As pessoas estão dormindo.

Após alguns metros forçando Leonardo a correr de pijamas por toda uma cidade adormecida, Helena se deparou com um beco sem saída e decidiu que era uma excelente ideia subir em cima de alguns caixotes e seguir caminho em cima das telhas de uma casa qualquer. Leonardo não teve dificuldade para subir pelos caixotes (ele estava se acostumando) mas ao se deparar com o telhado, lhe veio o pensamento de que as telhas poderiam ceder com o seu peso e quebrar.

Não é exatamente o melhor jeito de morrer.

— Tem certeza de que isso não vai quebrar? — Perguntou para Helena, ainda com o coração à mil.

Ela se virou para ele por uma fração de segundo e o presenteou com seu mais belo sorriso sapeca.

— Se você não comeu chocolate demais na última páscoa, não vai quebrar. — E piscou. — Te garanto.

Leonardo olhou receoso e pôs o primeiro pé. O telhado não quebrou, mas Leonardo conseguiu detectar alguns rangidos nada amigáveis.

Para dissipar a tensão, ele resolveu entrar no jogo:

— Quanto você pesa? — Provocou. Não era a melhor pergunta do mundo para se fazer à garota por quem você tem uma queda em segredo, mas ela já havia feito perguntas piores a ele. Até hoje Leonardo se lembrava do dia em que ela perguntou quantas vezes ele se masturbava por dia; Talvez ele realmente estivesse devendo uma ou outra alfinetada indelicada.

Helena repousou a mão no queixo e olhou para cima, pensativa.

— Não tenho ideia. Faz tempo que não me peso. — Respondeu. — Mas eu chutaria uns sessenta e cinco quilos. Por que a pergunta?

Relutante, Leonardo apoiou sobre o telhado o segundo pé. Apesar do barulho, ele não cedeu. Ainda bem.

— E qual a margem de erro? — Retornou a provocação

Ela riu e virou-se de costas para ele novamente.

— Ah, vá à merda.

Leonardo escorregou ainda três vezes no lodo das telhas, e Helena não perdeu a oportunidade de rir ao se deparar com suas tentativas desajeitadas de se equilibrar.

Ele pensou em xingá-la. Mas o garoto a amava demais para isso.

Como se soubesse o que estaria do outro lado, Helena desceu do telhado por meio de uma escada estrategicamente posicionada. Leonardo fez o mesmo, e quando seus pés tocaram o chão, seu martírio finalmente teve fim e ele pôde respirar em alívio; A parte ruim é que a adrenalina em seu corpo havia se esvaído, e ele voltou a sentir sono.

E ela notou o desconforto do garoto.

— O que você tem? — Perguntou ela, notando a rápida mudança de expressão do amigo.

— Sono. E cansaço. — Leonardo respirou fundo, tentando se concentrar. — Espere um momento, eu vou...

Ela o encarou com um olhar debochado.

— Você é muito fresco.

E, como qualquer pessoa hiperativa com cafeína injetada na veia, Helena disparou em direção às trevas do horizonte, deixando o garoto sozinho; Obviamente, ele ainda não estava pronto.

Ao segui-la pela imensa escuridão, Leonardo terminou de assinar seu atestado de trouxa. Enquanto ele corria atrás dela, a garota eventualmente lhe lançava um olhar desafiador de debochado, como se quisesse zombar do rapaz.

O suor já banhava sua testa e ele se sentia como se os seus órgãos internos fossem implodir. Sua velocidade já havia decaído consideravelmente, e ao olhar o mundo ao seu redor por alguns segundos, Leonardo se deu conta de que não sabia onde estava.

E, de fato, eles percorreram um longo trecho. Não seria possível dizer quanto, mas foram quinze ou vinte minutos de corrida ininterrupta. Por fim, a garota freou e prostrou-se de pé em algum ponto longínquo da escuridão, e os músculos de Leonardo agradeceram. Talvez fosse uma lição do universo para que ele não fosse mais tão sedentário.

Alcançando-a em poucos segundos, Leonardo se apoiou sobre os joelhos, respirando com dificuldade.

— Você... Quase... Me... Matou... — Ele falou, e por pouco não desabou ali, no chão arenoso. — Não... Dava... Para... Ir... Mais... Devagar?

Ele desviou os olhos para Helena e notou que ela também estava exausta, ou parecia estar. Só vinha a sua mente o quão maravilhosa ela estava com os cabelos ruivos colados no pescoço por conta do suor, e mais maravilhosa ainda com as bochechas rosadinhas.

Seus lindos lábios enfeitados com um piercing de argolinha sorriram para ele no mesmo exato segundo.

— Eu não queria perder nem um segundo... — Leonardo conseguia perceber as marcas do cansaço em sua respiração. — Dessa coisa linda.

O rapaz se virou para frente, apenas para poder vislumbrar o que Helena falava, e se deu conta de que também não queria perder nem um segundo do momento que estava diante de seus olhos.

Leonardo e Helena estavam numa praia. A areia do chão massageava os pés desnudos do rapaz e a leve brisa que soprava do mar o revigorava por completo, fazendo-o esquecer o cansaço que tomava conta de si; A lua incidia com toda a sua luz diretamente na água e o brilho enfeitava o mar à frente dos olhos de Leonardo. Quando as ondas quebravam, ele conseguia sentir o cheiro da vida.

Embora não fosse um grande fã de praias, o rapaz conseguia perceber a magia nesta bela obra da natureza, que ao mesmo tempo em que o fazia entender como o mundo pode ser belo, lembrava-o de sua pequenez. E o universo era mesmo lindo, decorando o mundo com obras de artes naturais que nem o mais habilidoso artista conseguiria replicar. Cada vez que Leonardo piscava, a luz da lua parecia dançar sobre as águas, fazendo desenhos cada vez mais belos. Era como se algum artista perfeccionista estivesse insatisfeito com a própria perfeição e tentasse remanejá-la para que ficasse ainda mais perfeita. Leonardo jamais havia visto nada parecido.

— Que incrível. — Ele se viu forçado a admitir. — Que lugar gostoso...

Helena sorriu, orgulhosa de si mesma. Levou o corpo cansado para a beirada do mar e sentou-se logo acima da linha em que as ondas quebravam. Leonardo fez o mesmo, mantendo pouca distância.

— Pois é... — Ela tirou os tênis e abraçou as próprias pernas. — Uma das melhores experiências que eu tive nessa cidade. Quando quero descansar, venho aqui para limpar meus pensamentos. É lindo, não é?

Leonardo assentiu com a cabeça.

— Nunca tinha prestado muita atenção em como o mar pode ser lindo. — "Tão lindo quanto você", ele pensou. — Mas por que você me trouxe aqui?

— Achei que você merecesse ver. — Respondeu. — Por quê? Você não gostou?

— Gostei. Adorei, para falar a verdade. — Agora, Leonardo estava certo de que não havia desperdiçado suas preciosas horas de sono em vão. — Mas... Não achei que você gostasse desse tipo de coisa.

— Por que não? — Ela afastou do rosto os fios de cabelo que lhe cobriam a cara.

— Eu... — Ele não sabia muito bem o que dizer. — Sei lá. Você é toda agitada, rebelde e inquieta, não achei que você curtisse sentar e observar o mar. Não é monótono demais para você?

Ela ergueu o olhar e riu baixinho, como se tivesse achado graça na fala do garoto; Naquele momento, ele teve certeza de que ela era a pessoa mais preciosa do mundo todo.

— Talvez, Leo. Talvez. — Helena manteve o olhar distante. Sua voz se perdia em meio ao som das ondas. — Mas, às vezes, as coisas tem muito mais significado do que você dá para elas.

— Como assim? — Ele perguntou, enquanto o olhar da garota era focado no horizonte.

— Leonardo... — Helena parecia alheia à presença do garoto, como se o que estivesse acontecendo à sua frente fosse muito mais importante. — Observe o mar... As estrelas... A lua... Tudo isso junto, o quanto a natureza pode ser incrível e criativa... Isso não faz você se perguntar quantos lugares assim existem no mundo?

Leonardo não respondeu, apenas se ajeitou no chão arenoso, deixando as palavras de Helena penetrarem em sua mente.

— Você nunca parou para se perguntar... Quantos lugares, quantas maravilhas, quantos espetáculos você já não perdeu... Simplesmente por estar preso? — Questionou. Leonardo não sabia o que ela queria dizer com isso, mas sentiu que não precisava perguntar; A resposta parecia estar debaixo de seu nariz. — Você nunca se deu conta do quanto o mundo é grande? Do quanto nós, seres humanos, somos pequenos? De tudo que eu, que você, que nós estamos perdendo, ao nos trancar nessa porção minúscula do mundo? Você não sente vontade de sair, de correr, de se libertar de suas amarras, de... De ser livre? E, sabendo que não pode... Sabendo que o mundo é muito grande, e você é muito pequeno... Pequeno e, sobretudo, com um prazo de validade... Você não se sente sufocado? Preso?

Ele não soube o que responder. Tudo aquilo era filosófico e profundo demais para seu pequeno cérebro comportar. De um lado, a Helena travessa e brincalhona. De outro, a Helena reflexiva. E era isso que a tornava tão especial: Sua habilidade de ser muitas pessoas em uma só. Ela era tudo e ao mesmo tempo nada, o possível e o impossível.

Leonardo refletiu por alguns minutos e, enfim, respondeu:
— Não. — Era o que ele poderia oferecer no momento.

Helena suspirou e repousou a cabeça entre os joelhos.

— Então você tem muita sorte. — Disse. — Pode parecer que não... Mas é tão estranho, Leo. É tão estranho quando você se sente grandiosa, e de repente se dá conta do quão grande o mundo é. Do quão insignificante nós somos, do quanto a vida humana é leviana. Leviana e curta. Porque um dia nós vamos morrer, expirar, deixar de existir... E o mundo vai continuar aí, igualzinho, como sempre foi. Porque nós não somos significativos para o mundo, somos como grãos de areia em uma enorme praia, somos partes de um todo muito maior. E um dia iremos embora. Isso não te incomoda?

Era muita coisa para ser processada ao mesmo tempo; O tamanho do mundo, a significância do ser, a morte e a existência humana... Certamente temas que poderiam muito bem ser discutidos numa aula de filosofia.

— Eu... Não. — Embora se parecessem em alguns aspectos, Helena e Leonardo eram totalmente diferentes. Ela queria viver, conhecer coisas novas, sentir, amar, aproveitar a vida da melhor maneira possível. Já ele preferia se manter em seu canto, longe de problemas, confusões, emoções. Leonardo se sentia muito bem em sua pequena prisão sufocante, sem se importar se sua existência seria significativa ou não. E ele jamais entenderia como esse sentimento a sufocava e a incomodava tanto. — Eu nunca pensei em mim mesmo como algo relevante para o mundo. Estou perfeitamente ok com o fato de que minha existência é supérflua e passageira. Você não?

É claro que não estava. Pelo simples fato de que a existência dela não era supérflua e passageira; Ela era Helena, um mistério indecifrável que o mundo jamais teria igual.

Mas, como a garota não acompanhava seus pensamentos, ela apenas soltou um suspiro sofrido.

— Leo... — Imediatamente, um sorriso voltou aos seus lábios. — Como você gostaria de morrer?

Aquela pergunta o pegou de surpresa. Como ele gostaria de morrer? Em verdade, ele preferiria não morrer. Mas isso não era exatamente uma opção.

— Eu... Não sei. — Admitiu. — Acho que quero morrer aos oitenta, noventa anos, sem sofrimento, tendo realizado bastante coisa, ao lado de meus filhos e netos... É, acho que é assim que eu quero morrer.

Sonhadora, Helena soltou as pernas sobre a areia, deixando a água do mar molhar os dedos de seus pés. Era a primeira vez que Leonardo a via assim, tão sensível e sentimental. Soava ligeiramente apaixonada, mas ele tinha certeza que não existiria ninguém na face da terra capaz de conquistar o coração de Helena. Leonardo não achava que existiria alguém com a capacidade de impressioná-la e fazê-la suspirar de amores, porque ela por si só era a pessoa mais incrível que o mundo poderia ter.

— Eu já imaginei que você diria isso. — Ela voltou seu olhar ao rosto do garoto. — É um bom jeito de morrer.

— Mas, se eu te conheço... — Quase como se fosse atraído por uma espécie de força magnética, Leonardo se aproximou. — Você discorda de mim, certo?

Ela riu, confirmando. E Leonardo estava certo de que aquela garota o fascinava.

— Eu não vejo propósito em viver quantitativamente. Seria legal viver aos oitenta ou noventa, mas não é isso que eu almejo. — Disse, com um brilho nos olhos. — Eu não vejo graça em viver por viver. Eu quero mudar o mundo, eu quero fazer a diferença. Eu quero lutar por um propósito, ou por alguém. Eu quero ser uma heroína, ou até mesmo uma vilã, mas quero ser alguém. Se eu morresse pela minha luta... Pelo meu propósito... Se eu morresse sabendo que fiz a diferença... Então eu morreria em paz. Você consegue me entender, Leo?

— Entendo. Eu acho que entendo. — Ela era a pessoa mais incrível que ele já teve o prazer de conhecer. — Eu apoio você. Eu admiro você. Eu... — "amo você", era o que ele queria dizer. — De certa forma, invejo você. Queria ter essa sua garra, essa sua vontade de ser livre. Mas eu acho que tenho medo demais de morrer para arriscar tudo dessa maneira.

— Ah não, não me entenda mal. Eu amo a vida. — Claro que ela amava. Ela era a própria vida, ao vivo e a cores. Helena mandava na vida, e não o contrário. Ela não era escrava das circunstâncias, as circunstâncias é que eram escravas dela. — Eu amo tanto a vida que quero dar um sentido para a minha. E, para mim, qualidade é mais importante que quantidade. Mesmo porque a nossa concepção de quantidade é irrisória. O que é viver muito? Cem anos? O universo já existe há bilhões, e vai continuar existindo por mais alguns bilhões, o que nos torna extremamente irrelevantes. Nós vivemos muito pouco para perder tempo tendo medo. Existem tantas coisas para ver, conhecer, lutar por... E eu, particularmente, tenho em minha vida três pessoas que me dão motivação para continuar.

Três pessoas? Ela disse três pessoas?
— Uma delas é o João, eu suponho... — Ele pensou. — A segunda... A Júlia?

Ela riu.

— Isso, a Júlia. Mas falta a terceira pessoa. — E ergueu uma sobrancelha. — Você tem trinta segundos para arriscar um palpite. Vamos lá, eu estou sendo generosa.

Ele tentou forçar a sua mente para lembrar de qualquer outra pessoa que poderia preencher essa lacuna; Nada. Além de João e Júlia, o que se passava na mente de Leonardo era um completo breu. Geralmente, era ela quem marcava a vida das pessoas, e não o contrário.

Vencido, ele balançou a cabeça em negação.

— Você, idiota. — Helena lhe deu uma cotovelada. — Quem mais poderia ser?

De início, Leonado pensou que ela estivesse simplesmente chamando-o de idiota; No entanto, seus neurônios não demoraram a fazer a sinapse que lhe esclareceu as coisas.

Era dele que ela estava falando. Ele, a terceira pessoa importante de sua vida. Juntamente com João e Júlia, estava Leonardo.

— Eu... Eu? — Ele chegou a achar que ela estava brincando. — Mas... Você... Tem certeza? Por que eu?

— Por que não você? — Ela afagou os cabelos do rapaz, sorridente. — Leo, você é atualmente o amigo que eu mais estimo. Não faz ideia do quão importante é para mim.

Ele começou a suar; Se deu conta de que suas bocas estavam separadas por pouco mais de alguns centímetros.

— Você precisa reconhecer o seu valor. — Ela respondeu. — Eu sei o quão difícil é entender que nós mesmos podemos ser importantes para os outros, mas você é importante para mim, Leo.

— Eu... Fico feliz em ouvir isso. — Era um pouco fora da compreensão dele entender que havia sido decisivo na vida de alguém como Helena.

Helena sorriu com leveza.

— E eu fico feliz que você não tenha levado a sério as coisas que falavam sobre mim antes de nos conhecermos. — Disse. — Porque, no final das contas, você poderia ter se afastado. Eu sei que você pensou nisso, com medo de que eu fosse perigosa. Mas, afinal, eu sou só uma pessoa comum. Comum e igual às outras.

— Você pode ser tudo... — Leonardo encarou um ponto fixo no horizonte. — Menos comum e igual aos outros.

Ela deslizou seus dedos pelos ombros do rapaz, fazendo com que a respiração dele ficasse mais pesada; Helena não tinha ideia do controle que exercia sobre ele.

— Sou especial para você? — Talvez ela já soubesse a resposta.

— É claro que é. — Ele respondeu, como se fosse óbvio. — Olha o que nós estamos fazendo. Refletindo sobre a vida na areia da praia, enquanto a lua ilumina o mar. Você acha que isso é passatempo de gente comum? Pessoas comuns são chatas. Eu sou uma pessoa comum. Mas você, Helena... Você é a pessoa mais incrível que eu conheço. Eu acho que nunca irei te conhecer completamente, porque você é incrível demais para isso. Você é especial. Eu... Tenho muita sorte de ter uma pessoa como você ao meu lado.

Depois de toda aquela enxurrada de palavras, Leonardo estava corado. Ele se deu conta de que havia praticamente admitido ser louco por ela ali, em palavras curtas; Embora Helena não tenha pegado a essência de seus sentimentos com aquelas confissões, elas certamente eram uma pista. E o constrangimento do garoto não colaborava para o contrário.

Ela estava tão satisfeita de ouvir aquilo que respondeu, do jeito mais singelo possível:

— Você é um anjo.

E Leonardo poderia ter se sentido lisonjeado se não estivesse mais preocupado em esconder seus próprios sentimentos.

A conversa se encerrou ali, com Helena curtindo a brisa fria da madrugada e Leonardo tentando fazer o seu constrangimento menos palpável. Embora o amor por ela doesse, ele tinha certeza que não teria escolhido se apaixonar por nenhuma outra pessoa.

O tempo passou. Ele não sabia dizer quanto, mas notava o brilho na água se movendo a cada segundo que se passava. Dado momento, Leonardo se deu conta de que estava acordado há muito tempo; Já deveriam ser três da madrugada, e ele apenas encarava o mar solitário no meio da escuridão.

Lhe bateu uma vontade louca de mergulhar na água salgada; Como um impulso involuntário e incontrolável. Ele quase pôde sentir seus pés vibrando, no anseio de atravessar o chão arenoso e mergulhar na água, deixando o corpo sob o controle do mar. Tudo aquilo, por mais louco que pudesse parecer, satisfaria seu eu interior. Por que? Como? Ele não sabia responder. Mas, como aprendera com Helena, algumas perguntas não precisam de resposta.

Contudo, as praias de Labramar eram especialmente frias, sobretudo às três da madrugada. Que tipo de pessoa se sujeitaria a isso?

— Engraçado... — Ele usou aquele pensamento bobo para quebrar o silêncio entre ambos. — De repente, me veio uma vontade de pular na água...

Ela se virou para o garoto.

— Por que não pula, então?

— Em... Em Labramar, as praias são muito frias. — Explicou-se; Contudo, estava certo de que ela sabia. — E são tipo, três da manhã. As águas devem estar congelando. Não acho que alguém seria louco o suficiente para pular aí.

Helena levantou a sobrancelha e lançou um olhar instigador.

— É mesmo? — Talvez ela estivesse insinuando alguma coisa.

— É. — Ele se voltou para frente. — Seria loucura.

Meio segundo depois, ele se deu conta do que havia dito. E percebeu que não poderia ter feito pior escolha de palavras. Sempre, sempre existiria alguém louco o suficiente para fazer qualquer coisa; E essa pessoa, nesse momento, seria...

Antes que ele tivesse tempo para olhar às suas costas, Helena já havia se livrado da regata preta e da calça jeans, correndo a toda velocidade em direção à água.

Leonardo não pôde dizer sequer uma palavra de protesto antes que sua maior paixão atingisse o mar com um tchibum vibrante. Respingos de água salgada molharam as costuras desbotadas de seu pijama do Mickey, e o garoto era incapaz de crer no que estava vendo.

— HELENA! — Ele se levantou de súbito, procurando o corpo ainda imerso da garota que amava. — HELENA! O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO?

De uma só vez, Helena emergiu de dentro do mar, linda, sorridente, como se as preocupações de Leonardo fossem irrelevantes. Seu reaparecimento foi uma das coisas mais gloriosas que ele já havia testemunhado e o coração deu uma cambalhota ao presenciar a criatura simplesmente linda que ela era.

Como uma princesa das águas, Helena sacudiu a cabeça e percorreu a mão pelo rosto, tirando a franja molhada do rosto. Ela era perfeita aos olhos do garoto; Cabelos ruivos colados ao pescoço, gotas de água salgada do mar escorrendo-lhe pelo corpo. Naquele ângulo, a lua conseguia iluminar perfeitamente as sardas que pipocavam em suas bochechas, e sem a camiseta ele conseguia ver a tatuagem de flores que ela tinha na região dos ombros. A caveira na coxa ele ainda não conseguia ver, mas ela enfeitava o seu imaginário. O rapaz também não pode deixar de ater-se ao sutiã encharcado, a peça de roupa que mal conseguia sustentar os seus belos seios fartos e redondos, quase pulando em seu rosto...

— Leo. — Ela chamou. — Para de olhar para os meus peitos. Pervertido.

O garoto ergueu o olhar repentinamente e fez o máximo para fingir que não sabia do que ela estava falando. Naturalmente, ela riu.

— Você... Você é louca? — Claro que ela era louca. Que dúvida. — Você... Cara, essa água deve estar geladíssima! Você vai morrer de hipermetropia!

Helena devolveu um olhar brincalhão.

— Hipotermia. — Corrigiu.

— Eu... Eu... — Era oficial: Os seios de Helena estavam bagunçando a cabeça de Leonardo. — Foi o que eu disse. Hipotermia.

Helena soltou uma risada gostosa, divertindo-se com a confusão mental do garoto.

— Vem você também. — E piscou. — Morrer de hipermetropia comigo.

E, naquele momento, Leonardo se viu completamente seduzido. Ela mexia com ele de uma forma indescritível; Era capaz até mesmo de fazê-lo mergulhar num mar gelado apenas por pedido dela.

— A água... A água... — Ele ainda tentou manter um mínimo de sanidade. — A água não está gelada?

— Está. Do jeitinho que você disse, senhor hipermetropia. — Se ele a conhecia bem, aquele seria seu próximo apelido pelas próximas semanas. — Mas está uma delícia mesmo assim. Acredite, você não vai se arrepender.

O garoto a encarou. Fitou seus olhos castanhos e seu sorriso provocador. Daquela maneira, tão linda, tão sensual, tão maravilhosa, Helena o lembrava uma sereia. Era tão bonita que sequer parecia real, como se o estivesse atraindo para uma armadilha. Veio-lhe à mente todos os mitos sobre mulheres metade peixe e metade gente, que conquistavam pescadores com sua voz única e beleza indecifrável, apenas para convencê-los a pular no mar... E jantá-los.

Leonardo tinha certeza absoluta de que estava louco.

E, a rigor de sua loucura, o garoto decidiu entregar-se à armadilha da mais bela sereia que tinha visto. Esquecendo-se de repente de todos os problemas e consequências, ele deu dois passos para trás, tirou a camiseta e correu em direção à água num só impulso.

Embora não soubesse por quantos segundos seu corpo se manteve em contato com o chão, Leonardo tinha certeza de que era uma das melhores sensações existentes. Enquanto corria em direção ao mar, o garoto sentia o vento gelado soprando-lhe a cara; Suas pernas, que antes pareciam doer tanto, agora estavam leves e soltas, movimentando-se como se voassem. Ele se sentia tão... Livre. Durante meio segundo ele entendeu o que Helena quis dizer, sobre estar presa, sufocada. Leonardo estava finalmente se libertando de uma prisão imaterial pela primeira vez. Ele era livre como um pássaro, leve como uma pena, poderia até mesmo voar. Voar!

Mas, ao se encontrar com o mar, a água fria o atingiu em um banho e dissolveu seus pensamentos agradáveis.

Naquele mesmo momento, todo o calor de seu corpo se fora e ele se sentia em um enorme freezer gigante, juntamente à garota por quem era apaixonado. Leonardo retesou seus músculos e encolheu-se em seus próprios braços, tremendo de frio, como se não soubesse que aquele seria o desfecho inevitável. Ele obviamente tinha que deixar seus sentimentos sobreporem a realidade, claro.

— O que você tem? — Helena lhe deu uma cotovelada no antebraço. — Morreu?

— Estou... Congelando... — O rapaz tremeu os dentes e esfregou os braços. — Por que eu ainda dou bola para você?

Helena riu novamente, e Leonardo quis emoldurar seu sorriso.

— Deixa de ser fresco. — Ela bateu na água com a mão e um jato de água gelada acertou Leonardo, deixando-o ainda com mais frio.

Embora o garoto tenha se protegido com a mão, sua tentativa de defesa foi um tanto quanto inútil, porque não impediu que a água gelada tocasse sua pele. Helena, que achava tudo aquilo bastante engraçado, continuou a espirrar água no rapaz.

— Ei! — Ele se virou de costas. — Para!

Helena aumentou o ritmo, deixando claro que não ia parar. Foi quando Leonardo decidiu entrar na brincadeira e fazer o mesmo jogo; Preparou sua mão, virou-se de frente e agiu. A única coisa que pôde ver foi uma esguichada de água saindo de si, na altura de seu pescoço.

A nuvem molhada passou de uma só vez e cessou a provocação de Helena. Ao olhar para seu rosto após o ataque, via-se uma franja lambida e algumas gotas salgadas que escorriam por seu queixo. Leonardo riu.

— Ah, então você quer brincar? — Seus lábios molhados abriram gradativamente num sorriso e Helena afastou a franja do rosto, revelando um olhar desafiador. — Tudo bem.

Antes que o garoto pudesse fazer qualquer pergunta, ela se lançou para cima dele e empurrou sua cabeça contra o mar.

Leonardo se embananou um pouco no processo do susto e acabou por inspirar debaixo d'água. Se engasgou, engoliu bastante água e se debateu, implorando para que Helena o soltasse. Depois de alguns segundos, ela assim o fez.

O garoto emergiu desesperado, tossindo água e se apossando do ar ambiental de maneira frenética. Embora estivesse ocupado para olhar ao seu lado, conseguia ouvir a risada debochada de Helena.

— Não tem graça brincar com você. — Ela disse. — Você perde muito fácil.

O menino não respondeu, ainda ocupado em tirar a água de seus pulmões.

E essa reação despertou em Helena um sentimento de culpa, porque seu sorriso desapareceu. Leonardo notou que ela estava preocupada, e aquilo lhe trazia um bem estar tremendo.

— Leo? — Helena mordeu o lábio. — Está tudo bem?

Ainda calado, tossindo, Leonardo engatinhou até a areia molhada e se pôs de joelhos, fazendo esforço para expulsar a água dos pulmões.

Apesar disso, ele não estava mais tão mal assim; Leonardo conseguiria até mesmo respirar normalmente. Sua carência, contudo, fazia com que houvesse uma espécie de prazer indecifrável em ver os olhos de Helena brilhando de preocupação.

Ela o acompanhou até a margem do oceano, onde as ondas quebravam contra a areia. Consciente de seu exagero ou não, ela se mostrou bastante angustiada com seu sofrimento.

— Me desculpe. — Murmurou, apreensiva. — Não fiz por maldade. Juro.

Leonardo forçou tanto a tosse que acabou por cuspir uma bola de catarro, o que era um pouco constrangedor e nojento. Aquilo foi o pretexto usado para explicar sua melhora repentina.

— Eu... Eu... — Ele pigarreou. — Estou melhor agora. Obrigado por se preocupar.

Ela sorriu, mas não o sorriso debochado com o qual Leonardo estava acostumado. Era um sorriso aliviado, um sorriso de gratidão ao universo, talvez.

— Que bom. — Helena dizia, com leveza. Leonardo nunca a havia visto daquele jeito, tão sensível. — Se algo acontecesse com você por conta de uma brincadeira idiota minha, eu jamais me perdoaria.

Envergonhado, ele riu baixinho. Ela o acompanhou na risada e os dois prosseguiram naquela troca de impulsos vocais desajeitados, até ele... Parar.

Leonardo pôs as mãos no pescoço dela, sem jeito. Percebeu que seus rostos estavam cada vez mais próximos. Não existiam lembranças exatas do que aconteceu depois de então, talvez ele tivesse perdido a consciência após encostar sua testa na dela.

Ele estava completamente desligado. O tempo pareceu parar para Leonardo, seu cérebro colidia aos sons dos batimentos de seu coração. Nada mais importava para ele, apenas aqueles belos lábios enfeitados por um piercing circular.

Foi quando um clique sacudiu sua mente. Leonardo nunca esteve tão próximo de beijar Helena, nunca a teve em seus braços daquele jeito. Era o que ele esperava desde o dia da festa, e aquela era sua grande chance.

Mas o rapaz não tinha coragem para tomar a iniciativa. Não tinha coragem para encostar seus lábios, entrelaçar suas línguas, demonstrar para ela o quanto a queria. Se Leonardo perdesse aquela oportunidade... Talvez não teria outra. Talvez ele jamais a teria em seus braços novamente, e Helena se convenceria de que o garoto era um grande pamonha que não merecia seus tão valiosos beijos. Ainda assim, mesmo sabendo de tudo isso, ele não conseguia. Tinha medo, medo de não ser o tipo de homem que ela merecia, medo de decepcioná-la, medo de transformar o primeiro contato romântico dos dois num completo fracasso. Leonardo tinha que se decidir, e essa decisão teria de ser agora.

Bem, em verdade, o garoto não precisou tomar decisão nenhuma, porque ela o beijou primeiro.

Helena levou sua boca à de Leonardo, entrelaçando suas línguas e tornando o espaço entre os dois rostos inexistentes. E ele não sabia como se sentir; Talvez ele estivesse surpreso, talvez apavorado, ou talvez... Talvez feliz. O coração palpitava dentro do peito e ele só conseguia pensar no quanto a amava.

Leonardo reagiu. Percebeu que aquele beijo era tudo o que ele queria. Entrelaçou suas mãos na cintura da garota e apreciou cada segundo, cada momento. Não havia mais tempo passando, não havia mais vento uivando, não havia mais nenhuma outra entidade visível que não fosse Helena. Ele e ela. Conectados por um beijo e pelo amor de Leonardo. Nada mais importava naquele momento.

Após algum tempo trocando um breve carinho romântico com Leonardo, Helena partiu o beijo e ambos se encararam, feito idiotas. No fundo, nenhum dos dois acreditava que aquilo realmente havia acontecido.

— Por que... Por que... — Leonardo não abriu os olhos. Ele só queria sentir o toque dela, a respiração dela, a voz dela, o corpo dela... Apenas ela. — Por que você fez isso?

E, mal havia proferido tais palavras, se xingou. Que diabos de pergunta era aquela? A garota que ele amava havia lhe dado um beijo e isso era tudo em que ele conseguia pensar?

Contudo, apesar de pergunta desajeitada, a resposta foi bastante satisfatória:

— Porque eu quis. — Havia um tom alegre e sapeca em sua voz. — Você não?

Leonardo sorriu, e em resposta lançou-se para cima de Helena com outro beijo.

Assim prosseguiram, durante muito tempo. Os beijos de Helena eram, para ele, maravilhosos, e eles não pararam até ver o rascunho do sol despontando atrás do mar azul. Cada segundo perto dela fora um presente, cada segundo tocando seus lábios fora o melhor segundo do mundo. O fogo que os mantinham acesos era intenso.

E, mesmo após chegar em casa, Leonardo não conseguia pregar seus olhos durante um segundo sequer do tempo de sono que lhe restava, porque ele não conseguia desligar sua mente do que acreditava ser a melhor noite de sua vida.    

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